Capítulo 1
“E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.
Gênesis 6:1,2”.
O dia estava perfeito para deitar na grama verde e ficar observando o céu, mas não era isso que eu faria. A caminho do café onde eu trabalhava, me perdi em pensamentos lembrando dos meus amigos e dele. Dois anos tinham se passado, mas eu ainda não havia me recuperado por completo. Não do jeito que deveria ser. Apenas pensava em como tudo teria sido diferente se ele não tivesse tomado a decisão de partir. Eu sabia que tinha sido um castigo por eu ser diferente das outras pessoas. Sempre buscando mais que todos e querendo o melhor para mim. Não tinha pretensão de ser melhor que eles, mas eu era ambiciosa o suficiente para conseguir seguir meus sonhos. O problema era que os meus sonhos haviam sido adiados para que eu pudesse dar conta de outra coisa, talvez a mais importante da minha vida. No final, tudo desmoronou bem na minha frente. Desde então, perdi a fé que possuía e resolvi seguir atrás de um balcão, servindo café durante seis dias na semana, trabalhando meio período pelo resto da minha vida.
O relacionamento com a minha família mudou. Já não conseguia mais olhar na cara dos meus pais da mesma maneira. Tudo ficou mais difícil e eles sempre davam um jeito de colocar a culpa em mim, mesmo eu não tendo. Meus pais não entendiam que a minha vida era diferente da deles, que sempre foram evangélicos, tementes a Deus. Então, resolvi que era hora de mudar da casa deles, por isso o emprego. Aluguei uma pequena casa, bem distante de Noah e Gracy Chandler. Não pensava mais nele – não como antes –, e nem em como ele me deixara.
Todos os dias eu me levantava, tomava meu banho, vestia o uniforme cor de abóbora e seguia para o trabalho. Nada mudava minha rotina. O céu poderia pegar fogo e eu ainda estaria a caminho do meu trabalho. Mas não havia um dia sequer em que eu não desejasse que algo diferente acontecesse em minha vida. Eu já estava perto de completar vinte e um anos, e não é que eu quisesse um príncipe montado em cavalo-branco e sua armadura reluzente, me pegando e me levando para o seu castelo... Não, eu não queria isso. Eu queria alguém diferente dele. Um amor que não machucasse minha alma e que não tomasse a última gota de alegria que eu ainda possuía. Um amor que me completasse tanto por fora quanto por dentro. Meu pobre coração já havia se despedaçado o suficiente e precisava que alguém que colasse os pedaços.
Kate e Joe eram os donos do café. Eram pessoas muito simpáticas e um dos motivos pelos quais eu ainda estava naquele lugar. Ela e o seu marido Joe não tinham culpa pelo que me acontecera. Não tinham culpa pelo erro cometido pelo filho deles. Por isso, ainda os amava. Sabia que, lá no fundo, Kate e Joe sentiam que me deviam algo. E eu não me cansava de afirmar, sempre que possível, que eles não me haviam feito mal algum. E que não me deviam nada.
— Bom dia, Lili. — Kate me cumprimentou quando entrei no café.
— Bom dia, Kate. — sorri para ela. — Joe já recebeu o leite?
— Já sim, querida. — ela veio até mim e me abraçou carinhosamente, como todos os dias. — Por que não começa a servir o café para os clientes e eu vou adiantando as tortas?
— Ótima ideia. — disse-lhe. Sabendo que eu era uma negação na cozinha, Kate não tinha outra opção além de preparar as tortas.
— Eu sei, querida. — balançou a cabeça, sorrindo, e entrou para a cozinha.
Eu estava começando a servir os clientes quando ele entrou.
Não sei explicar o que aconteceu realmente, mas sabia que era ele, o meu príncipe. Só existia um problema: ele tinha cara de quem gostava de uma confusão. Bem no estilo bad boy. Não sei se foi pela altura, ou pelos músculos cobertos pela jaqueta de couro surrada preta, ou por tudo que tinha nele. O homem que havia acabado de entrar possuía traços rudes, que me fizeram ficar hipnotizada, a ponto de esquecer que estava servindo café.
— Lili! — reclamou Peter, que todos os dias sentava na mesma mesa para tomar café antes de começar seu dia na loja de ferragens.
— Desculpe, Peter. — pedi sem graça, entregando a ele um guardanapo para que pudesse se limpar. — Não sei onde eu estava com a cabeça.
— Tudo bem. — disse ele irritado, voltando a tomar seu café da manhã enquanto tentava diminuir meu estrago. Seria um milagre Peter acordar de bom humor todos os dias...