Capítulo 6
O mundo está caindo sobre mim, mas a culpa foi exclusivamente minha. Outro momento.
-Sinto muito. Eu não seria um homem de palavra se não te despedisse. Este é o seu último dia. Depois disso, arrume suas coisas e vá para casa. Pagarei todos os dias de trabalho e deixarei boas referências.
Agora o que vou fazer com todas as dívidas que temos?
Terei que me prostituir?
Deus ajuda-me!
O que passou pela minha cabeça.
Gostaria de revidar, chorar na frente do meu ex-chefe, explicar para ele que não tenho como pagar as contas.
Contar para ele como vivo todos os dias, com medo de acabar na rua, com minha filha. Mas não estou em condições.
Você é estupido.
Isto é o que você merece.
"Ok, boa noite", concluo com a voz quebrada, torturando meus polegares.
Vou ao banheiro me trocar e as lágrimas caem em torrentes.
Eu falhei, como trabalhadora e como mãe.
Eu sou incompetente
Estou desperdiçando os melhores anos da vida da minha filha.
Vou terminar sozinho.
Um dia pior que este não poderia existir.
Minha filha e meu amigo mentiram para mim e perdi meu emprego em Paris.
Quando me aproximo da mesa para anotar meu pedido, sinto-me entorpecido.
Eu não sinto mais nada.
Eu não me importo mais com nada.
Meu peito dói e é como se eu estivesse carregando uma tonelada de pedra nas costas.
Ainda assim, minha expressão é impassível.
Luisa me liga várias vezes, mas eu a ignoro.
Não é para machucá-la, eu não conseguiria falar com ela.
Termino meu turno e me despeço mentalmente daquele lugar.
Eu não quero mais insistir.
Nem mesmo por um segundo.
Recolho minhas coisas e na velocidade da luz, saio.
Nem me viro para cumprimentar Luisa, hoje foi um dia de merda e já sei que o destino vai me trazer mais uma bela surpresa.
Espero alguns minutos no ponto de ônibus.
Até o frio não vale nada.
Foda-se tudo e todos.
E especialmente eu.
Entro no ônibus e sento.
O ônibus está quase vazio e as luzes da noite perfuram meu coração de tristeza.
A dor obscurece minha mente, esmagando todas as minhas tentativas de contê-la.
Quando chego à minha parada, desço.
Entro no prédio, pego o elevador e depois de alguns segundos estou na porta do nosso apartamento.
Insiro a chave e abro a porta.
Percebo que a luz da sala está acesa.
Na verdade, Arianna está sentada no sofá assistindo TV.
Eu seria uma boa mãe se a repreendesse? Ou a melhor solução seria descobrir o que está acontecendo?
Não há dúvida.
Acalmo a raiva e respiro.
-OLÁ-
"Olá", ele responde, mantendo o olhar para frente.
Pego o controle remoto e desligo a TV.
-Você sabia que houve conversas hoje?-
Ele assente, mas não diz uma palavra.
-A professora me disse que você é um dos piores alunos dela. Você nunca está atento e incomoda os outros. O que aconteceu?-
-Nada-
Permaneço em silêncio, esperando sua confissão.
-Vamos, querido.. Vamos conversar sobre isso-
Dou-lhe um beijo na bochecha.
Ele começa a soluçar e chorar.
Ela coloca as mãozinhas nos olhos para enxugar as lágrimas e eu instintivamente a levanto.
-Tesouro..-
Deixei que ele descansasse a cabeça no meu ombro.
-Mammaaaaaa- ele começa a gritar -Eu não queria...cheirar...decepcionar você-
Não posso culpar uma criança de seis anos.
-V-você está sempre... focado no trabalho e eu queria estar com você-
Suas palavras são a pura verdade.
Nunca passo tempo suficiente com ela.
Nem sempre estou ao lado dele como uma mãe deveria.
Mas é sobre o tempo, eu juro.
Se eu pudesse, ficaria feliz com ela.
Ela é minha garota e eu a amo mais do que tudo no mundo.
-Amor- Afasto seu cabelo que tomou conta de seu rosto e enxugo suas lágrimas.
Eu sorrio para ele e pego sua mão.
-Mamãe não pode ficar com você porque tem que trabalhar. Mas você está certo. Prometo que passaremos mais tempo juntos. Mas quero que você me prometa uma coisa. Você será bom na escola e deixará a mãe orgulhosa de você-
Seus grandes olhos verdes me dão ternura.
-Por que você diz aos seus colegas que os odeia?-
-Porque você sempre diz isso... Que garotos são maus. Papai nos deixou e por causa dele você sempre chora. É por isso que eu os odeio. -
-Nem todos os homens são maus, querido. Alguns são como você, eles têm um coração de ouro.
-Sério? Eu não acredito-
-Sim. Ontem havia um homem...
Ei, o nome dele é Gabriel, você sabe.
Por que estou lhe contando sobre Gabriel?
-Então?-
Ela é apenas uma garota, ela vai esquecer isso em pouco tempo.
-Ontem te deixei na casa da Luisa. Mas saí com a tia Aurora. Durante o jantar, saí por um momento e senti muito frio. Esqueci minha jaqueta. Este homem me emprestou o dele. Ainda está lá - indico a cadeira onde repousa a -memória- de Gabriel.
-Ele foi bom.-
-mh mh-
-Talvez você esteja certa mãe. No entanto, não quero que um homem parta seu coração. Tenha cuidado-
-Você vai me proteger?-
-Sim-
Ele me beija na bochecha e se levanta do sofá.
Ele desaparece por um momento e, claro, retorna com um livro de histórias.
“Branca de Neve?” ela pergunta com os olhos mais doces do mundo.
-E essa é a Branca de Neve.-
-É muito mal. Não tem gosto de nada, não compre – ouço uma voz feminina atrás de mim.
Eu me viro e é uma mulher (uma menina), com cerca de um ano de idade.
Ele usa shorts, com meias pretas e botas baixas.
Ele veste uma blusa preta e uma jaqueta vermelha.
Ele tem um pirulito na boca e continua chupando.
A primeira coisa que noto é a grande cicatriz na lateral da perna esquerda.
Seu cabelo está raspado, mas não completamente.
Seu rosto está fortemente maquiado com batom roxo e sombra lilás.
-Hum, você está falando comigo?-
-E quem devo contatar? Só estamos você e eu neste apartamento.-
Olho em volta um pouco e com certeza o corredor está deserto.
-Pede desculpas.-
Eu a ignoro por um momento, pegando o pacote de €, mas ela corre na minha frente.
¿Por que você não me deixa em paz?
“Sim, eu sei que é ruim, mas você acha que tenho dinheiro para comprar um melhor?” Eu a ataquei amargamente.
Ele tira o pirulito da boca e coloca a mão no meu ombro.
-Irmã, o que está acontecendo?-
Suspiro e conto a ele sobre o fracasso do meu relacionamento com Leonardo, a perda do emprego, as contas para pagar, o fato de nunca ter tempo para minha filha.
Sei que não deveria contar meus assuntos pessoais a um estranho, mas sinto que posso confiar em você.
Além disso, acumulei tanta raiva e frustração que preciso contar a alguém.
Ele me escuta com atenção e espera pacientemente que eu termine meu monólogo.
-Te entendo. Meu namorado também me traiu depois de sete anos de namoro. E também estou desempregado, então sei o que é não conseguir sobreviver.-
-Quero te ajudar. Conheço alguém que precisa de uma limpeza na casa.
Ele congela e tem vontade de morder a língua, mas continua falando.
-Ela é uma mulher muito rica e pode te pagar generosamente.
Você quer que eu deixe o número dele para você?
Finalmente um raio de luz.
Talvez nem tudo esteja perdido.
-Obrigado, obrigado, obrigado-
Ele tira o telefone do bolso e dita o número para mim.
O estranho é que ele parece se arrepender.
-Espere para me agradecer. Só estou dizendo que pode te ajudar, mas ninguém quer nada por nada. Você entenderá melhor quando começar a trabalhar lá-
-Que queres dizer?-
-Infelizmente não posso te contar mais nada. Ela me ajudou financeiramente e se estou bem agora também é graças a ela.
Mas ele pode pedir algo que você não gosta. Fiz isso por pouco tempo, para complementar minha renda. Agora não trabalho mais lá.
Mh, a situação está ficando cada vez mais estranha.
Por outro lado, parece-me a única solução possível.
-Eu entendo. Bem, vou tentar ligar-
-Boa sorte. OLÁ-
A garota vai embora.
Aí ele desliga, volta e me diz seu número.
-Vou te deixar o meu também... Nunca se sabe.
De qualquer forma eu sou Monica-
Que bom
-Obrigado mais uma vez, Mônica-
-Olá-
Desta vez desaparece para sempre.
Eu respondo balançando a cabeça.
Pego tudo que preciso e vou até o caixa.
Estou ansioso para ligar para esse número.
Apresso-me em pagar e, ao sair do supermercado, começo a discar os números que aparecem na tela.
Depois de alguns toques, uma mulher atende com uma voz calorosa e calma.
-Preparar? Saudações! Um ex-funcionário seu me deu seu número.
Ele disse que pode me ajudar. Parece-me que precisa de limpeza...
-Sim querida. Quantos anos tem?-
Essa pergunta me deixa um pouco desconfiado, mas responderei mesmo assim.