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O casamento

A manhã seguinte chega muito mais rápido para aqueles que não dormiram, como a ansiosa Elisa.

-Tem certeza de que está bem, pai? -pergunta ele.

Pedro sorri nostalgicamente, sabendo que essa menina nunca mais será a mesma, então ele estende os braços e a abraça com força, sob o olhar de todos os outros.

-Parece que tudo deu certo. Estou pronto para me preparar, filha, e oferecer um pedido de desculpas à rainha. -Ele responde, convencido de que isso é algo que ele deve fazer pelo bem de sua filha e da família dela.

Anna fica surpresa com isso, porque agora que seu pai se resignou, ela não terá ninguém em quem se apoiar; mas ela sorri para Elisa, que a olha, também sem saber se deve sorrir de volta ou não.

-Silenciosa, agora você é uma princesa! -Martina diz a Elisa e interrompe as palavras de Anna.

-Senhorita Elisa, temos que seguir o protocolo", anuncia Maria.

-Eu sei! Eu sei! Vou me casar! -ela grita animada, e toda a família fica chocada. Vou me casar com o príncipe!

As horas passam como segundos no decorrer dos preparativos. Logo a família Moguer, que foi levada para casa, vestida com seus trapos humildes, desce da carruagem e se depara com o mais belo dos cenários. O palácio real está totalmente decorado para a ocasião, com o jardim adornado com rosas vermelhas e lírios brancos em arranjos monumentais em todos os cantos do jardim.

Os caminhos de pedra polida os levam até o altar, onde fileiras de cadeiras estofadas e de veludo dourado já estão, em sua maioria, ocupadas pelos convidados. E ali, em um canto do pequeno local onde Elisa e Rodrigo logo estarão de mãos dadas, música ao vivo da orquestra favorita da rainha.

-Estamos sonhando? -Martina pergunta, seus olhos brilhando como os de todos os outros.

-Nossa filha vai se casar, Pedro...", grita Dolores enquanto o marido segura sua mão, também em choque.

O mordomo os orienta a se sentarem, apenas duas fileiras antes da comitiva real, incluindo o Duque e a Duquesa e a família distante do Rei Edward VI.

Anna procura vestígios do príncipe em todos os lugares, mas para quando seu olhar encontra o da rainha, que está usando um vestido de cetim marfim, o cabelo amarrado para trás, aquela capa vermelha que cria autoridade nela junto com a coroa e aquele olhar profundo de uma garota bastante irritada.

A intensa conexão de seus olhares é interrompida quando a trombeta real é tocada. Todos os convidados se viram para ver as carruagens escoltadas por guardas em uniformes resplandecentes, anunciando a chegada do príncipe e da futura princesa. Os murmúrios da multidão se dissipam quando uma melodia suave começa a ser tocada. E é aqui, quando Anna sabe que perderá sua chance para sempre.

Com porte majestoso, Rodrigo caminha pelo caminho de pedra escoltado por sua guarda real, parecendo radiante em suas vestes bordadas com símbolos ancestrais de sua linhagem real. Seu olhar, embora reflita determinação para alguns, para Anna só pode refletir dor, pois ela sabe como ele realmente se sente, então ela olha para a irmã antes que alguém perceba suas lágrimas amargas.

No entanto, essas lágrimas aumentam ao verem a beleza radiante e a elegância de sua irmã mais nova, Elisa, que está usando seu opulento vestido de renda e seda, balançando suavemente contra o vento.

A cada movimento deles em direção ao altar, a garota de cabelos negros sente seu coração se despedaçar cada vez mais. E ela não se dá conta nem do discurso, nem da música, nem do cheiro de flores que está aumentando, apenas das batidas tristes de seu coração. Até que finalmente ouve da boca do arcebispo o que para sua irmã é o momento mais esperado, e para Anna, o mais doloroso.

-Você, senhorita Elisa Marie Moguer Villanueva, aceita o príncipe Rodrigo Nicolás Fernández de Córdoba como seu legítimo esposo?

-Sim, eu aceito! - ela responde sem hesitar, mais do que empolgada.

-Você, príncipe Rodrigo Nicolás Nicolás Fernández de Córdoba, aceita a senhorita Elisa Marie Moguer Villanueva como sua legítima esposa?

O príncipe quer falar, mas novamente suas palavras não saem como na noite passada, quando ele vê Anna saindo. Então, ele procura desesperadamente por ela no meio da multidão, sabendo que, se a encontrar, não poderá dar uma resposta.

Ele vira o rosto para o lugar onde ela deveria estar sentada, mas não encontra o olhar dela, bastaria um gesto de Anna para que ele desistisse do erro que está prestes a cometer. Mas ele não a encontra, não encontra o brilho em seus olhos. O padre insiste em repetir a pergunta:

-Príncipe Rodrigo Nicolás Nicolás Fernández de Córdoba, aceita a senhorita Elisa Marie Moguer Villanueva como sua legítima esposa? -Rodrigo sente o cotovelo de sua noiva batendo nele com insistência. É então que ele finalmente responde que sim, o que acabará definitivamente com a chance de estar ao lado da mulher que ele realmente ama.

-Sim, eu aceito!

Enquanto isso, Anna tenta respirar longe da multidão que se levanta para aplaudir os recém-casados. Ela não podia, não podia testemunhar o momento em que seu príncipe se casou com sua irmã mais nova, não podia ficar e assistir enquanto os lábios dele beijavam os lábios que não eram dela. Teresa e Martina se olham nos olhos, elas sabem o quanto sua irmã pode estar se sentindo arrependida.

-Pobre Anna! murmura a garota de cabelos castanhos claros.

-Sim, coitadinho! -Martina responde.

Enquanto todos os convidados se dirigem ao salão principal onde será realizada a grande festa, Anna caminha pelo luxuoso castelo, pensando em seu triste destino e em seu amor por esse homem.

-Você está bem? -Ele ouve a voz de uma mulher e se vira para ela, é Maria, a empregada particular de Elisa.

-Sim, acho que sim", ele limpa o rosto com o lenço que a moça lhe entrega.

-É por causa do príncipe? -Embora Anna quisesse negar, seus olhos brilhantes a denunciaram. Ela acena levemente com a cabeça.

-Pude ver como ele olhou para ela quando estavam jantando ontem à noite. Trabalho com meu pai há anos, desde que minha mãe morreu, e ouso garantir que nunca vi aquele brilho nos olhos do príncipe quando ele a vê.

-Há coisas que, embora desejemos com todo o nosso ser, nos foram negadas.

-Eu sou Maria! -Ela estende a mão e Anna sorri.

-Eu sou, Anna! -ele aperta a mão da bela criada, cujos olhos lhe são familiares.

-Acho que você deveria voltar para a sala de estar, é melhor que sua irmã não veja que você está triste. Acredite ou não, eu sei como é amar alguém em silêncio e não ser capaz de gritar esse amor em voz alta.

-Você está apaixonada por alguém do palácio? -Maria apenas acena com a cabeça, sem ousar dizer o nome desse homem socialmente proibido", Anna acrescenta: "Bem, acho que temos muitas coisas em comum.

-Podemos ser amigos! - ele sugere e Anna sorri animada.

Uma amiga, uma confidente, era disso que ela precisava. Apesar de ter três irmãs, Anna era muito reservada em relação às coisas, especialmente em relação aos seus sentimentos, com medo de ser julgada por qualquer uma delas. Ela havia aprendido a guardar suas emoções para si mesma.

-Eu aceito! -Maria ficou surpresa, pois nunca havia recebido um abraço tão reconfortante e carinhoso antes.

Anna retorna à sala de estar, pronta para seguir em frente com sua vida e enterrar aquele amor proibido no fundo de sua alma. Assim que Rodrigo a vê entrar, ele sente o fogo em seu peito queimar incessantemente. Ela, por sua vez, aproxima-se da irmã e, com um beijo no rosto, sussurra: "Você conseguiu, é a princesa mais linda do mundo".

Elisa fica comovida com o comentário da irmã e sorri para ela. Anna olha para o príncipe e faz uma reverência:

-Parabéns, Vossa Majestade, você fez a melhor escolha de todas.

A música começa a tocar e todos se reúnem no centro da sala. Antuam se aproxima de Anna e se oferece para ser seu par inicial. Ela aceita, franzindo levemente os lábios, tentando esconder a tristeza em seu coração. Ele pega sua mão delicadamente e, ao ritmo da valsa "Nessun dorma", eles começam a dançar. A garota de cabelos vermelhos gira, gira querendo que tudo ao seu redor seja diferente, gira esperando que, quando parar, tudo tenha passado e seja apenas um sonho ruim.

Ao ver que ela parece encantada na companhia de seu conselheiro, Rodrigo se enche de ciúmes, ciúmes de que Antuam, seu bom amigo, esteja perto de sua amada, que ele possa se arrepiar com o perfume que emana de sua pele. A dança continua e, se o destino é caprichoso, os casais começam a se alternar até que, finalmente, Anna é deixada em seus braços.

Rodrigo a segura com firmeza, apertando sua cintura e acariciando seu corpo com aspereza. Anna tenta se afastar dele, mas não consegue.

-Você gosta do abraço dele? -ele pergunta, enrolando suas palavras sarcásticas e fingindo um sorriso.

-Vossa Majestade, sou uma mulher livre, ao contrário do senhor, que é um homem casado", ela sorri de forma gentil, evitando que Elisa ou o resto dos convidados percebam a tensão entre eles.

De seu trono, a rainha observa atentamente tudo o que está acontecendo, levanta a mão e, com um gesto, interrompe a música. Ela pega seu sino de cristal e anuncia o brinde ao belo casal recém-casado, deixando Anna angustiada mais uma vez.

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