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6Melissa Alpes Narrando
A pensão onde estou morando não estava incluindo as refeições pelo preço que eu pagava, então eu me virava como conseguia. Eu não sentia vergonha disso, eu sabia desde que eu estava na clínica que quando eu saísse, eu iria passar por dificuldade, que eu iria ter que enfrentar esse mundo sozinha, a clínica foi como uma preparação para o que eu iria encontrar aqui fora, até mesmo as pessoas que eu conheci lá dentro me serviram para isso.
Flash black onn
Vinha muitos gritos dentro do corredor e eu tentava tampar os meus ouvidos.
- É assim todos os dias – a menina que dividia o quarto na clínica comigo fala – é a sua primeira noite aqui por isso você está assustada, mas você vai ter que se acostumar com os barulhos, com as outras meninas jogando as comidas e objetos longe na hora das refeições e atividades.
- Eu não quero ficar aqui, eu preciso fugir – eu falo. – Encontrar a minha amiga.
- Impossível – ela fala – ninguém sai daqui sem ser com alta e até você ganhar alta pode levar muito tempo – eu a encaro – Meu nome é Bruna e o seu?
- Melissa – eu falo olhando para ela pensativa com as suas palavras.
Flash black off
Eu vi tanta coisa lá dentro que nada me assusta.
Assim que saio do café, já era 22h da noite,a cidade estava vazia, e minha barriga estava roncando e eu já não tinha tanto dinheiro e como Sebastian saiu cedo, ele não preparou a janta e como ninguém falou nada, eu fui embora.
Conforme ia andando naquela noite escura e quente, Eu via alguns grupinhos de adolescentes fumando e bebendo em um canto. Eu nunca consegui ter vícios em bebida e drogas e olha que eu já morei durante muito tempo na rua. Joana usava maconha ela dizia que era o jeito dele de se refugiar de todo o sofrimento que ela teve, eu não julgo, eu tinha achado um jeito de me refugiar nas minhas cicatrizes com ajuda dela.
Entro em um pequeno túnel escuro e vejo algumas caixas de verduras e frutas ali jogadas, Vou até elas e começo a remexer para ver se tinha alguma coisa que eu poderia comer ali, quando sinto alguns barulhos e olho para trás naquele túnel escuro, uma pessoa com uma lata de cerveja na mão quase caindo andando em minha direção e fazendo um som muito estranho, saio correndo da ali na mesma hora com medo de que algo pior pode acontecer, não suportava pensar que eu poderia ser abusada de novo.
Eu entro dentro da pensão e todos já estão deitados, o café tinha fechado cedo por causa do pouco movimento e com certeza deve ter sido por causa da noite anterior, eu entro dentro do meu quarto e só consigo lembrar da imagem daquele homem vindo em minha direção e novamente eu lembro do jardineiro Chico se aproximando de mim a noite.
" O jardineiro Chico tinha saído do meu quarto, eu estava toda suja e imunda com o seu suor e seus espermas, Eu me encolho na cama e começo a chorar, Eu tinha vontade de morrer, de sumir, olho para o chão vendo os estilhaços do vidro do xarope que eu joguei nele, ali estava a minha salvação para todo o meu sofrimento "
Eu abro a minha caixinha ela está vazia, eu lembro que tinha colocado vidros nela , eu começo a procurar algo que eu consiga quebrar e olho para o espelho que tinha, eu abro a porta dos corredores vendo que não tinha barulho nenhum e que com certeza todos estão dormindo, eu pego a minha escova de cabelo e começo a quebrar o espelho, fazendo com que os vidros do espelho vai caindo aos poucos e eu coloco dentro da caixinha.
" - Eu vou te entregar a sua mochila - Ele fala me olhando - Você vai ter que caminhar com as suas próprias pernas agora - Ele pega a minha caixinha da felicidade - Ela está vazia e para você conseguir se recuperar de todo o passado ela precisa continuar vazia "
Eu fecho os olhos e me vem Joana na minha cabeça.
Flash black off
- Sabe como faço para apagar todos os meus problemas? – ela fala indo até a cômoda do seu quarto e eu estava chorando muito depois de ter desabafo e falado tudo sobre a minha vida, todos os meus traumas, abusos e a perda do meu pai.
- Com isso – ela fala com uma caixinha na mão e me entrega – é sua, pode abrir.
- O que é isso? – eu falo abrindo e vendo esparadrapos e cacos de vidros.
- Quando você entender que uma cicatriz em seu corpo pode levar toda a dor da sua alma, você vai se libertar – ela fala me olhando e eu a encaro – confia em mim Melissa.
Flash black off.
- Aaaaaaaah – eu dou uma gemida de dor enquanto passo pelo meu braço, começa a escorrer o líquido vermelho pelos meus braços e eu começo a chorar muito.
Eu fecho a caixinha e jogo ela longe fazendo cair de baixo da banheira que ficava exposta no quarto. Eu pego uma blusa e rasgo as mangas amarrando em meu braço para estancar o liquido vermelho que escorria, eu sentia dor mas ao mesmo tempo parece que minha angustia tinha passado. Depois que eu aprendi que uma cicatriz levava toda a minha dor, eu nunca mais parei.
Quando eu fui culpada por Joana tentar se matar e parar no hospital entre a vida e a morte, tudo que eu queria era ter feito o mesmo e que tivesse sido com sucesso, mas os policiais, os médicos da clinica chegaram antes, as luzes batendo na janela do meu quarto me assustaram me fazendo recuar e quando pensei em fugir, todos estava dentro do meu quarto me culpando, apontando o dedo e me levando a força para um lugar que eu ainda não sei explicar se foi pior ou se foi a minha salvação. Eu ainda queria entender o porque de tudo isso está acontecendo na minha vida , por te perdido meu pai, minha melhor amiga e a minha mãe também, porque posso considerar que a perdi quando ela deixou de me amar e de cuidar de mim.