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4

Melissa Alpes Narrando

Eu chego alguns minutos antes no bistrô e encontro ele sentado em uma mesa bebendo e fumando.

- Não está cedo? – ele pergunta – está querendo ganhar hora extra? Vai perder o seu tempo.

- Eu queria ver se poderia usar o computador da cafeteria para fazer uma pesquisa rápida – eu falo sorrindo para ele.

- Pode -ele fala.

Eu me aproximo do caixa e ligo o computador, ele demora para ligar. Eu tinha passado a noite toda pensando em Joana tento achar alguma rede social dela, mas era impossível não tinha nada sobre ela, todos os vestígios dela desapareceram, até mesmo da sua família que era tão falada.

- Você deve estar com calor – Ele pergunta e eu olho para ele.

- Estou bem – eu respondo

- Você só usa roupa de manga comprida – ele fala – tem medo de mostrar os braços? – ele questiona

- Nunca gostei de mostrar meus braços para ninguém – eu falo para ele.

- Você é estranha – ele fala

- Você também e eu não te questiono isso – eu falo

- Está morando na pensão? -ele pergunta

- Sim – eu respondo

- Como você veio parar em Paris, onde você estava antes? – ele pergunta – as vezes sinto que você guarda segredos.

- Todo mundo guarda – eu falo – até mesmo a pessoa mais transparente guarda segredo.

- Profundo – ele fala enchendo o copo com cachaça.

- Não acha que está bebendo muito? – eu pergunto – você ainda tem uma noite longa de trabalho.

- Pode deixar que eu me cuido novata – ele fala passando para a cozinha.

Eu desligo o computador e suspiro.

Eu fico pensando como eu vim parar em Paris, foi algo bem estranho o meu último dia na clinica.

Flash black onn

Hoje era dia de visita e mais uma vez eu estava ali sentada na aquela sala vendo qualquer filme de auto ajuda.

- Senhorita Melissa podemos conversar? - Doutor Trompson me chama.

- Claro - Eu falo , acompanhando ele até seu consultório.

Eu passava todas às minhas tardes com ele, as vezes ficamos um olhando para a cara do outro e nada era dito, mas eu preferia mil vezes ficar dentro do seu consultório silencioso e com um cheiro bom do que lá fora com todas as outras garotas que olhava para mim e me julgava.

- Você gostaria de conversar hoje Melissa - Ele me encara.

- Não - Eu respondo e ele assente com a cabeça .

- Então eu posso falar? - Ele pergunta

- Pode - Eu respondo

- Você sabe que sou casado - Ele fala e eu assinto - Pela segunda vez, no total tenho seis filhos, um do primeiro casamento e depois dois casais de gêmeos do segundo, mas só tenho contato com os casais.

- E o outro filho? - Eu pergunto

- Ele foi embora - Ele fala - Eu acho que não fui um bom pai suficiente para ele.

- Tenho certeza que foi - Falo vendo sua angústia.

Escuto algumas vozes e olho para fora vendo algumas pessoas se abraçando.

- Se hoje eu liberar você, Você tem para onde ir? - Ele pergunta - Eu sei que você não conheceu seus pais, mas, você recebeu a visita de alguém, essa pessoa te ajudaria?

- Sim - Eu respondo mentindo para ele.

- Por hoje você está liberada - Ele fala e eu assinto com a cabeça.

Eu saio de dentro da sala do médico e vejo as pacientes com as suas visitas e meu coração se aperta, eu nunca recebi uma visita.

- Melissa a vem jogar - Bruna me chama e eu nego com a cabeça. Olho para o lado e vejo um médico novo me olhando, as meninas todas estavam caindo por ele, Ele não era feio, ele era bonito.

Mas não fazia o meu tipo.

- Você e muito chata - Bruna fala para mim - Deveria querer criar amizades com a gente.

- Eu não gosto de jogar - Eu falo

Elas eram legais, Bruna sofreu abuso do pai, tinha a Raquel que ficou doida depois que a mãe morreu, e tinha a Laura que estava aqui à muito tempo e o que diziam era que ela nunca iria sair. A verdade era que eu não sabia como ser amiga delas e nem de ninguem.

- Boa noite - O novo médico fala se aproximando de mim - Meu nome é Caio, sou o novo psiquiátrico, o seu deve ser Melissa, certo?

- Sim - Eu falo olhando para ele - Mandaram você para tentar me fazer falar? - Ele sorri

- Você vai ser liberada - Ele fala me olhando - Você cumpriu o seu tempo aqui - Eu o encaro - Confesso que depois que eu li todo o seu caso, Eu fiquei contra a sua liberação.

- Você acha que eu sou uma ameaça para as outras pessoas? - Eu pergunto para ele - Você acredita no que tá escrito lá? Aquelas pessoas pagaram para que eu ficasse aqui.

- Eu não me preocupo com as outras pessoas você seria incapaz de machucar alguém - Ele fala - A não ser você mesmo.

- E você tirou todas essas conclusões em me observar e ler o meu histórico médico? - Ele balança a cabeça e me encara.

- Você sai amanhã pela manhã - Ele fala me entregando um cartão - Se precisar de algo, pode me procurar. - Eu olho para ele que insiste que eu pegue o seu cartão e eu pego.

Logo depois senhor Trompson pediu para que eu fosse até a sua sala Falou que ia ganhar alta amanhã de manhã, me mandou diversas receitas de remédios. Eu recebi ajuda da enfermeira da clínica que me deu uma passagem para Paris e um pouco de dinheiro.

- Você precisa mesmo ir? - Bruna fala me olhando - Você vai ficar bem?

- Vou - Eu falo e ela me abraça forte

- Se eu sair, eu posso te procurar? - Ela pergunta

- Claro - Eu respondo e ela sorri

- Vou te deixar na rodoviária - O motorista da clínica fala para mim e eu assinto com a cabeça.

- Antes eu quero passar em um lugar – eu falo para ele

Flash black off

Eu saio dos meus pensamentos quando o pessoal do bistrô começa a chegar para trabalhar na mesma hora eu vou para cozinha para começar ajudar Sebastian, ele não estava na cozinha.

Então eu começo a preparar todas as coisas sozinha acreditando que ele voltaria, mas os clientes começam a chegar e os pedidos começam a ser tirados na mesa e nada do Sebastian.

- Cadê ele? – Suzana pergunta

- Eu não sei – eu respondo

- Meu Deus está ficando lotado o bistrô – ela fala – ele só pode estar por ai bêbado.

- Eu vou atrás dele – eu falo – está tudo arrumado, tenta cozinhar – ela me olha com aquela cara de quem nunca cozinhou na vida.

Eu pego a bicicleta de Suzana e ando pela cidade, mas não encontro ele em lugar nenhum, então sigo as instruções e vou perguntando para as pessoas do bairro onde ele morava e chego até a sua casa que era uma casa bonita, uma casa branca com uma fachada antiga, as janelas de vidros com as cortinas entre abertas, me aproximo da janela olhando para dentro e vejo que tudo dentro da casa está revirado.

Eu vou andando até chegar em uma porta a mesma está encostada quando eu entro eu sinto um cheiro forte de bebida e um cheiro forte de fumaça dentro da casa, uma musica alta vinha do segundo andar e eu vou subindo lentamente pelas escadas, até que encontro ele sentado na cama bebendo e com um pó branco em cima de um prato no lado da cama.

- Você não deveria está aqui novata – ele fala.

- O Café está cheio e o nosso chef sumiu – eu falo – o que falo para os clientes que foram comer a sua comida?

- Que eu morri – ele fala – é isso que eu quero.

- Porque? – eu pergunto para ele – Morrer não é a solução para nada Sebastian, se você não resolver os seus problemas em vida eles vão te assombrar na eternidade.

Ele levanta seu olhar para mim.

- Vai embora – ele fala.

- Você não está bem – eu respondo – não vou te deixar aqui.

- Eu disse para você ir embora! -ele grita – eu não preciso de ninguém muito menos de você novata.

Eu o encaro sem reagir, eu não ando para frente e nem para trás, eu olho para o redor daquele quarto e vejo alguns cacos de vidro caído no chão, ele continua gritando e me mandando embora e eu cruzo os meus braços, eu olhava para os cacos de vidros no chão e para ele alterado me mandando ir embora e pensando o que eu fui fazer vindo até aqui.

Flash black onn

Assim que tiro a minha roupa e entro de baixo do chuveiro, sinto a água escorrer pelo meu corpo e arder pelas minhas cicatrizes, eu olho para aquele banheiro todo branco me fazendo lembrar que agora estou dentro de uma clinica psiquiátrica e sem a minha melhor amiga , assim que saio do banho e coloco uma roupa que a enfermeira Ariel tinha trazido para mim, abro a minha mochila e vejo o meu Kit lá, ele estava vazio, alguém deve ter esvaziado ele, o kit que Joana me deu e eu levava comigo sempre. Vejo um vaso de plantas encima da cômoda e quebro ele, e reponho alguns vidros no kit, junto do esparadrapo. Eu não conseguia viver sem meu Kit, por mais que eu tenha prometido para mim mesmo que eu jamais iria usar ele, eu precisava ter ele ali perto, porque me trazia segurança. Eu sei que com ele ali nada estava perdido E que eu ainda tinha uma saída para fugir de todo o meu sofrimento, de tudo que eu já passei na vida, porque eu sentia Joana perto de mim.

Flash black off

- Eu mandei você ir embora – ele fala tentando se levantar e acaba caindo.

Eu me aproximo rapidamente dele saindo dos meus pensamentos e esquecendo os vidros caídos no chão.

- Você precisa da minha ajuda – eu falo

- Me solta – ele falai

Ele estava se segurando nas coisas para não cair, eu o levo a força para o banheiro e ligo o chuveiro enfiando-o de baixo da água gelada, ele resmunga, mas ele sabe que não tinha condições de impedir isso.

Meu celular no bolso toca e era Suzana pedindo cadê ele, eu apenas respondo em mensagem que hoje ele não teria condição de voltar porque ele estava muito mal.

Eu o deixo embaixo do chuveiro e jogo a sua droga fora e a bebida também, ambos pela janela do quarto, depois ele sai sozinho do banho e se deita molhado na cama pegando no sono de uma vez só.

Eu penso em ir para o bistrô para ajudar mas fico com medo de deixar ele ali, então eu vou andar pela casa e vejo que era tudo uma zona, uma bagunça, era tudo revirado, muita coisa quebrada e entro dentro de um quarto vendo várias guitarras dele, fotos da banda e até mesmo discos pendurados na parede, todo mundo disse que eles eram uma banda de sucesso e uma pesquisa rápida a gente conseguia ver isso, eu encontro em cima de uma cadeira alguns jornais velhos e vejo que era sobre o acidente, seu rosto estampado em todos os jornais e revistas apontando ele como o assassino, como se ele quisesse ter matado os companheiros, mas todos estava na mesma condição, drogados e bêbados, não existe apenas um culpado, a única fatalidade foi que Sebastian foi o único a sobreviver o acidente.

Eu acabo adormecendo no sofá da sua casa e acordo com o sol na minha cara e com passos na escada, eu olho para trás vendo ele descer e ele me encara.

- Como você veio parar aqui? – ele pergunta.

- Eu te ajudei – eu falo

- Eu não preciso da ajuda de ninguém – ele fala

- Tem certeza? – eu questiono para ele – porque você não parecia nada bem ontem a noite.

- Eu estou bem – ele fala – eu só exagerei na bebida.

- Você deixou bistrô na mão – eu falo – Suzana não deu conta e muitos clientes foram embora – ele passa a mão pela cabeça e parecia pensativo.

- Isso não poderia ter acontecido – ele fala. – como achou a minha casa?

- Quem tem boca vai a roma – eu respondo – no caso a sua casa – ele me olha – você está melhor?

- Apenas com uma dor de cabeça horrível – ele resmunga.

- pode tomar um café vai ajudar – eu falo e ele olha para sala – eu espero que você não ache ruim eu ter organizado a sua sala.

- Você adora organizar minha bagunça, não é mesmo? – ele pergunta.

- Acho que sou boa em organizar a bagunça da vida dos outros – eu o encaro – mas não consigo organizar a minha.

- Obrigado se é isso que você quer ouvir antes de ir embora – ele fala

- Você está me mandando embora? – eu me levanto – Ok, vê se não bebe demais e perde mais um dia de trabalho hoje a noite.

Eu saio da sua casa e resolvo dar uma volta pela cidade, Suzana falou que tinha uma igreja aqui perto que eu conseguiria pegar algumas roupas na parte da doação, o dinheiro que eu ganhei da enfermeira era pouco e deu apenas para pagar a pensão.

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