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Capítulo 9

Às nove horas, Gabriel entrou na sala da minha casa, perfeitamente vestido com seu terno de grife. Calça clara e camisa pólo azul clara. Elegante, mas casual.

"Bom dia, amor", ele me cumprimentou com um sorriso quando me viu descer as escadas. Assim que eu estava na frente dele, ele se inclinou para me beijar nos lábios, mas eu desviei seu caminho e fiz com que ele me beijasse na bochecha.

-Bom dia Gabriel…- Forcei o terceiro sorriso naquela manhã. Dizer que ele queria sair naquele momento não era exato. Eu teria ficado feliz em casa, mas já tínhamos nos organizado. Tivemos que ir ao shopping porque Gabriel precisava comprar um presente para sua mãe, mas precisava de alguns conselhos femininos. Eu não pude dizer não.

“Está tudo bem?” ele perguntou, ignorando minha evitação.

-Sim... só dormi pouco...- Procurei a primeira justificativa que me veio à cabeça naquele momento.

"Ok," ele sorriu docemente, me dando uma mão para segurar, "vamos ir?" ele perguntou gentilmente.

-Claro...- Peguei ele pela mão e o segui para fora do apartamento. Não foi a primeira vez que saí, mas ainda não me sentia confortável. Era como se as pessoas estivessem me julgando, como se soubessem de tudo. Foi apenas uma impressão, mas não pude deixar de pensar nisso.

Chegamos em pouco tempo ao shopping que, como era de se esperar, estava lotado. Perfeito...

Começamos a percorrer as diferentes lojas. Obviamente Gabriel não estava muito convencido sobre os possíveis presentes que eu e os vendedores da loja tínhamos mostrado a ele, então continuamos andando por uma boa hora.

Eu estava folheando casualmente algumas roupas caras e elegantes que nunca poderia usar, quando uma voz muito familiar chamou minha atenção. Olhei um pouco em volta até que meus olhos pousaram em um casal não muito longe de mim que estava se divertindo muito.

Não sei se foi a insistência com que olhei para eles, mas eles logo perceberam que eu os encarava por uns bons cinco minutos.

“Sara?” Chris exclamou, franzindo a testa surpreso ao me ver.

Eu queria fugir naquele momento. Exceto que, por razões óbvias, imediatamente ficou em segundo plano como opção.

Foi ainda pior do que eu pensava. A garota que atendeu meu telefone há um tempo atrás era... ela era linda demais. Ele era meu oposto. Se eu fosse baixo ela era alta, se eu fosse ruiva ela era morena, se ela tivesse olhos escuros eu tinha olhos claros. E quanto mais ela se aproximava de Christopher, mais eu simplesmente me sentia como uma pequena baleia inútil na frente dela. É claro que ele não queria ouvir falar de mim. Agora ele conseguiu.

-Chris…- Suspirei quando eles estavam na minha frente. Olhei de um para o outro envergonhado. Ele não poderia fingir que não me conhecia?

-Ah sim... Essa é Shelley, Shelley é Sara- ela rapidamente nos apresentou enquanto aquela garota que naquele momento eu não pude deixar de odiar, estendeu a mão para mim.

-Prazer meu!- ele sorriu alegremente para mim enquanto eu retribuía o gesto hesitante.

-Eu também...- Sorri envergonhado.

Eu estava prestes a sair quando alguém atrás de mim me agarrou pela cintura e passou um braço em volta do meu corpo o máximo que pôde.

"Olha quem você vê", Gabriel comentou um pouco irritado. Já era hora de ele voltar, ele ficou fora por meia hora.

“Você está com ele...” Chris disse, olhando para nós com ceticismo.

“Christian, certo?” Gabriel perguntou sem que suas palavras o arranhassem, “quem é você?”

-Christopher...- corrigi, um pouco irritado com seu comportamento. Ele odiava quando as pessoas fingiam não se lembrar de um nome só para irritar outra pessoa.

-De qualquer forma, sou Shelley!- a morena se apresentou, estendendo a mão em direção ao meu pseudo-namorado.

-Gabriel, muito feliz- ele sorriu… cacamorto?! Estamos brincando?

Limpei a garganta, interrompendo a troca de olhares.

-De qualquer forma você me surpreendeu Christian, Alfred me disse que eu era um perdedor antes de Sara, agora ela... sonha alto para ganhar das favelas- ele disse maldosamente com um sorriso irritante pintado em seu rosto.

"Gabriel, pare com isso", eu o adverti, observando Chris ficar nervoso. Ela não podia falar com ele daquele jeito. Ele não tinha o direito de fazer isso.

“O que eu disse de errado?” ele então perguntou com uma expressão inocente. Revirei os olhos sem dizer mais nada sobre isso. De qualquer forma, era inútil discutir.

-Christopher, posso falar com você um momento?- perguntei, marcando bem o nome dele para gravá-lo na memória de Gabriel.

Todos olharam para mim por um momento surpresos com o meu pedido, mas eu precisava falar com eles.

"Só..." especifiquei, olhando primeiro para Shelley e depois para Gabriel, que franziu a testa surpreso.

"Não acho que haja nada que você precise falar que não possa dizer na frente dos seus respectivos namorados", disse a loira resolutamente, forçando um sorriso.

"Será apenas um momento, Gabriel", enfatizei sem olhá-lo nos olhos. Ela sabia que ele não concordava, mas na frente de Chris e da namorada dele ela nunca diria nada. Eu tive que me preocupar depois.

"Então vamos deixar você em paz", Shelley interrompeu com um sorriso envergonhado. Gabriel olhou para mim um último momento antes de segui-la. Ele estava muito zangado, embora nunca admitisse isso.

"Bela camisa de qualquer maneira..." ouvi a garota dizer para Gabriel enquanto eles se afastavam.

Fiquei em silêncio. Queria contar tantas coisas para ele: como estava indo a gravidez, que estava esperando gêmeos, que corria um grande risco de levar até o fim, mas não tive coragem. Ele provavelmente nem se importava se algo acontecesse comigo. Depois de todos aqueles dias, só poderia ser assim.

-Nesse tempo? O que você queria me dizer? - Ele me questionou já que não mencionei abrir a boca.

Olhei para cima para encontrar seus olhos castanhos calmantes, mas quando comecei a abrir a boca para falar, nada saiu. Eu não sabia o que dizer! Eu estava confuso e assustado. Eu não poderia esperar nada dele naquele momento. Não com Shelley a uma curta distância de nós. Então eu disse a primeira coisa que me veio à mente.

-M-meu pai continua insistindo para que assinemos os papéis da adoção- e enquanto ele dizia essas palavras eu vi aos poucos como a expressão de Chris escureceu.

-Ah...- abaixei a cabeça olhando a ponta dos meus sapatos, -e?-.

"V-você deveria vir até minha casa para... assiná-los..." Continuei, começando a andar pela loja com Christopher ao meu lado. Nenhum deles teve coragem de olhar nos olhos do outro, era melhor inventar um bom motivo.

-É tão urgente? Será que não temos tempo de mudar de ideia até o último momento? - perguntou confuso, voltando o olhar para mim, que no entanto não tive coragem de encontrar. Ele mudou de ideia?

-S-sim, mas segundo Sebastián ainda temos que mostrar vontade de entregá-lo para adoção - ou neste caso entregá-los para adoção. Eu estava tão confuso. Eu deveria ter contado a ele? Mas com que propósito então? Eu nunca entenderia por que não poderia ser mais fácil.

-Bem então...-. Houve um momento de silêncio. Tínhamos parado no meio do departamento infantil sem fazer isso de propósito. Foi apenas sorte para nós dois.

Estávamos em frente a uma barraca de roupas de bebê. Foi totalmente embaraçoso e fora do personagem. Não poderíamos ter acabado, não sei, no departamento de roupas íntimas femininas? Teria sido menos constrangedor!

“Oh, que lindo casal!” exclamou uma voz feminina atrás de nós. Chris e eu evitamos olhares um para o outro. Não me senti muito confortável naquele lugar principalmente com o marrom. Não era para acontecer.

Ao ouvir as palavras da mulher, não sei como, mas imediatamente nos sentimos envolvidos e nos voltamos para ela. A mulher ficou na nossa frente com um sorriso cheio de dentes. Ela era uma senhora mais velha, mas com grande vitalidade pelo que parecia.

-Com licença?- Pisquei várias vezes para entender se ele estava realmente bravo conosco.

-Vocês realmente são um lindo casal! Você me lembra meu George e eu quando éramos jovens! - Ele exclamou entusiasmado com um olhar sonhador, - Diga-me querido, há quantos meses você está grávida? - Então ele perguntou, colocando a mão no meu ombro.

-A-quase sete…-. Já são sete meses. E muita coisa aconteceu principalmente com o menino que estava ao meu lado.

-Ah, que beleza! Não se preocupe, agora você terá medo e não se sentirá preparada, mas verá que depois das dores do parto e ao ver a criatura maravilhosa dentro de você, entenderá que valeu a pena. - disse ele alegremente com um sorriso de quem já sentiu o mesmo. Eu, por outro lado, só pude sentir que meu coração doía com a sinceridade daquela mulher desconhecida. Ele estava me descrevendo algo que eu nunca teria sentido, tanto por medo quanto por inadequação. Ele parecia muito feliz em me contar sua experiência e eu estava cada vez pior. Eu nunca teria sentido o que ela sentiu. Pelo menos não com os gêmeos que ela esperava na época. As dele eram apenas palavras ao vento.

-Adele, meu Deus! Você não está incomodando esses jovens? - perguntou um homem ao lado da mulher. Deviam ter mais ou menos a mesma idade e pelo que a senhora dissera deviam estar juntos há muito tempo.

“Eu estava conversando com um jovem casal”, disse ele inocentemente com um sorriso.

-Sinto muito, mas minha esposa tem que entrar em uma loja sem passar pela maternidade ou infantil. “Nossos filhos são mais velhos e moram longe, sofrem um pouco de saudade”, explicou o homem, passando o braço na cintura da esposa.

-Não se preocupe, acho que é normal- Sorri um pouco envergonhado pela situação surreal que estávamos vivendo. Chris e eu não estávamos juntos e já me parecia estranho que nenhum de nós tivesse tentado refutar as palavras da mulher que começavam com “jovem casal”. Certamente éramos jovens, mas certamente não éramos um casal. Embora... mudar como casal para mim foi como se meu coração começasse a bater mais rápido do que o normal. Será que realmente parecíamos assim visto de fora? Talvez tenha sido só por causa da nossa gravidez que fomos confundidos com um casal.

-Ah...- George ficou sério por um momento olhando para minhas mãos que ele estava torturando terrivelmente.

Chris e eu olhamos para ele confusos. O que aconteceu?

-Sem fé…- ele se explicou com ceticismo.

-Mas George, eles são meninos! Hoje em dia não é preciso casar para constituir família - disse a mulher tentando convencer o marido.

“Mas com um anel no dedo é mais difícil o fim dos casamentos”, comentou o homem, suspirando baixinho.

-Bem, você verá que esse jovem lindo em breve dará um anel de noivado para essa garota maravilhosa- a mulher sorriu confiante, pegando a mão do marido e sem fazer de propósito deixei meu olhar pousar novamente em suas alianças. Eles eram tão fofos. Eu gostaria de um dia ter um marido que me amasse como George amava Adele. Porque você podia ver a um quilômetro de distância que eles se amavam. Ele olhou para ela com admiração e ela pareceu se acalmar com sua presença.

"Sim, você provavelmente está certo", ele sorriu novamente e depois se virou para Chris, que permaneceu em silêncio ao meu lado, sem negar nem negar suas palavras. "Tome cuidado, garoto, garotas lindas como as nossas são fáceis de tirar de nós", ele piscou para mim e eu imediatamente corei, envergonhado.

Naquele momento eu esperava que Christopher finalmente contasse a verdade aos dois mais velhos, mas não foi o caso.

- Vou seguir seu conselho. “Eu nunca iria querer que um homem rico a cavalo levasse embora a mãe do meu filho”, ele sorriu, agradando os dois que imediatamente responderam com alegria.

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