Capítulo 7
Verônica
Entrei no apartamento, tentando fazer o menor barulho possível, mas não teve jeito, minha prima apareceu do nada.
— E aí, me conta como foi! — Ela disse, cheia de curiosidade.
Eu sabia que ela não ia sossegar até obter uma resposta.
— Bem! Agora é só torcer para que agrade o professor Elliot. — Eu fingi demência e fui para meu quarto.
Ela me seguiu, determinada a saber o que havia acontecido.
— Não se faça de boba! Você sabe muito bem do que estou falando. Vi vocês conversando lá embaixo.
— Isabella, por favor, não enche!
— Ah não… você não pode fazer isso comigo! Me conta, por favor! — Ela pulou na minha cama. Eu sabia que ela não ia me deixar em paz.
Mas que merda!
— Ele me convidou para comer, mas eu não aceitei. — Falei e seus olhos fixaram em mim.
— Você está louca? Por que não aceitou?
A indignação estava estampada em seu rosto.
— Porque não! Eu sei muito bem quais são as intenções dele. Só está querendo me levar para a cama. — Respondi, enquanto guardava minha mochila.
— E qual é o problema? Você bem que está precisando.
Eu a olhei com reprovação e voltei ao que estava fazendo, mas ela não sabe o que significa a palavra “limite”.
— O que foi? Eu só disse a verdade. Além disso, vocês dois são solteiros, e não há nada que os impeça. — Ela chegou um pouco mais perto e baixou o tom de voz, como se fosse contar uma fofoca. — E aqui entre nós… dizem que ele tem uma ótima resistência física… você deveria experimentar!
Agora sim ela conseguiu me deixar perplexa! São muitos absurdos em uma única frase!
— Hoje ainda é segunda-feira e você já andou bebendo? Ou está drogada? Não fale besteiras, Isabella! Esse cara não faz meu tipo. Nem em sonhos eu ficaria com ele, e além disso, você sabe muito bem que ainda não esqueci o Miguel.
— Então pode ir providenciando um jeito de esquecê-lo, gatinha, porque Miguel está morto e você não pode parar sua vida por causa de uma fatalidade. Cadu é quem está bem vivo aqui, te convidando para sair! Sem contar que você está mesmo precisando de umas boas horas de sexo… liberar estrógeno fará bem a sua pele! — Ela falou e saiu gargalhando.
Eu joguei um travesseiro nela.
Esperei pacientemente até minha prima adormecer, pois não estava com disposição para continuar ouvindo suas loucuras. Então fui até a cozinha preparar uma xícara de chá e comer alguns cookies. Quando terminei, deixei a louça na pia e decidi tomar um banho para relaxar.
Enquanto a água quente caía sobre mim, as palavras de Isabella ecoavam em minha mente. Ela havia falado sobre a resistência física de Cadu, mas não no sentido que se esperaria. Ela falava de resistência durante o sexo, e infelizmente, eu não consegui não me imaginar na situação. Por um momento senti uma sensação estranha de atração, mas logo me repreendi: por que eu estaria pensando naquele idiota? Entrei de cabeça debaixo do chuveiro, na esperança de que a água levasse esses pensamentos para o ralo.
Envolta na toalha, peguei o secador de cabelo. Afinal, já era tarde e eu não queria pegar um resfriado.
Enquanto o ar quente soprava nos meus fios, me lembrei do tempo que passei na biblioteca com Cadu. Não foi tão desagradável quanto eu imaginava. Por um momento, me perdi em pensamentos, sorrindo ao lembrar do elogio que ele fez ao meu desenho e do convite para lanchar. Mas fui despertada de meus devaneios quando, distraída, encostei o bico do secador no meu pescoço e acabei me queimando.
— Aí! — Eu murmurei, tocando o local da queimadura, e desliguei o secador. — Eu preciso prestar mais atenção no que estou fazendo. — Disse a mim mesma, balançando a cabeça.
Terminei o que estava fazendo e fui me deitar. Apesar de já passar da meia noite, eu não estava com sono. Liguei a TV e fiquei assistindo, até que acabei adormecendo.
***
— Verônica, acorda, acorda… você está atrasada!
O som da minha prima entrando no quarto, me fez saltar da cama. Abri os olhos e percebi que a TV ainda estava ligada, e meu celular, desligado. Esqueci de conectar no carregador.
— Droga, meu celular descarregou e o despertador não tocou. — Reclamei, já me despindo para tomar um banho rápido.
— Se arruma logo, vou fazer um café.
— Não precisa, não vai dar tempo.
— Tem certeza?
— Sim, depois eu dou um jeito! Só coloca meu celular para carregar, enquanto me arrumo e tenta um táxi urgente. A essa hora o ônibus da universidade já passou.
— Tudo bem. — Ela concordou.
Eu fiz um coque no cabelo e corri para o banheiro.
Me arrumei o mais rápido que pude. Peguei a pasta com o trabalho, a mochila e saí do quarto.
— E aí, conseguiu um táxi? — Perguntei, vendo minha prima concentrada no celular.
Ela balançou a cabeça negativamente.
— O mais próximo só chega em trinta minutos.
— O quê? Não posso esperar trinta minutos. A aula do Elliot começa em quinze, e eu tenho que apresentar o trabalho. — Fiz uma pausa enquanto pensava no que fazer. — Vou descer e tentar encontrar algum táxi na rua. Me deseje sorte!
— Boa sorte, prima… qualquer coisa me liga!
Desconectei o celular, mandei um beijo para ela e desci correndo.
Fiquei parada na frente do prédio, mas todos os táxis que passavam estavam ocupados. Olhei no relógio e já haviam se passado dez minutos.
Que droga! Vou ter que ir andando. Vai demorar o dobro do tempo, mas é melhor do que ficar aqui parada.
Antes que eu começasse a caminhar, meu celular tocou. Olhei na tela e vi o nome de Cadu. o que ele quer agora?
— O que foi, Cadu? — Atendi, já irritada.
— Onde você está? Temos que apresentar o trabalho na primeira aula.
— Não sei se vou chegar a tempo. Estou tentando conseguir um táxi, mas não garanto nada. — Ele deu uma risada sarcástica do outro lado da linha.
— Você só pode estar brincando! Você está com o trabalho e isso vale nota!
— Olha aqui, Cadu…
— Não, olha aqui você! Estou indo te buscar!
— Nem pense nisso! Eu vou dar um jeito.
Mas ele é teimoso.
— Já estou indo. Me espera em frente ao prédio.
Ele desligou sem me dar tempo de responder. Fiquei parada, sem saber o que fazer, seguindo suas instruções, mesmo sem querer.
Que ótima maneira de começar o dia!