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Capítulo 4

Manu

Estava tudo correndo bem, até que... Recebi os uniformes.

Uma calça de corrida preta, uma camisa com o logotipo da Inter, e um maiô.

Seria perfeito, se não fosse o dobro do meu tamanho.

Eu tentei argumentar e conversar, mais me disseram que eles eram os menores que eles tinham e que eu precisava me virar com eles. Esse é o problema de toda baixinha e magrinha no mundo. Nada que é padronizado cabe em mim. Eu sempre tenho que diminuir. Não é a toa que tenho uma máquina de costura em casa. Foi assim com minhas fardas.

E os coturnos? Tive que me virar nos trinta para conseguir coturnos do tamanho de meu pé.

E como vou me virar agora?

Dobrar várias vezes a calça e por a camisa por dentro da calça. Melhorou? Nem tanto, um verdadeiro saco de batatas. Ainda bem que a calça é de cadarço e parou na cintura, porque senão, nem sei...

E o maiô serviu? Serviu...

Meio franzido e com um pouco mais de pano do que deveria, mais caí não cai, porque é Lycra né?

O jeito é fingir que tá tudo certo e com essa cara de pau que Deus me deu, esperar minha vez para avaliação.

Heitor

Foi duro, mais convenci Marcus tirar vinte minutos de seu tempo para vir assistir o treino de defesa pessoal da Manu. Ele e a Beth precisavam ver com seus próprios olhos. Não estavam muito satisfeitos com a minha insistência, mais eu não poderia esperar mais.

Fui impulsivo? Fui...

A entrevista foi gravada e ela já daria uma boa dimensão do que disse a eles. Mais não poderia esperar mais tempo para que eles vissem nossa menina.

Estávamos na cabine de observação, em cima das salas do balcão. Ela era usada para monitorar treinos, gravar e observar. Toda feita de vidro com Insulfilm. Quem estava dentro, não era visto por quem estava fora. Enquanto isso, Caio se aquecia junto com três professores de educação física.

Quando os recrutas entraram no balcão enfileirados uns atrás dos outros eu tomei outro baque. Mais este baque foi de raiva, pena e remorso.

No meio da fileira, ao lado da recruta Mariana, estava Manu. Com a roupa enorme no corpo. Parecia essas crianças que ficam nos sinais vendendo bala, com roubas doadas de um tamanho maior que o deles.

- Mais o que é isso? (Pergunta Marcus parado com a testa franzida.) -Heitor, chama o Filipe!

Chamei o Filipe pelo ponto.

- Porque deram roupas enormes para ela? (Beth pergunta com a testa franzida.)

- Eu não sei, estou tão surpreso quanto vocês. (Falo não acreditando em meus olhos.)

- É a MANU? (Beth pergunta baixinho.)

- Sim. (Falo num mesmo tom.)

- Como alguém tão frágil e pequeno, pode trabalhar como espiã Heitor? Aonde os chefes dela estavam com a cabeça?

Beth, com o lado materno gritando, argumenta com raiva nos olhos.

-Me chamou Senhor?!? (Filipe chega afobado)

- Porque a Recruta Manu está com um uniforme tão grande? Isso vai atrapalhar os movimentos dela na avaliação. (Diz Marcus olhando para o Filipe.)

-Desculpe Senhor, mais não temos uniformes que caibam nela. Nunca precisamos providenciar uniformes menores que o P. É a primeira vez que isso acontece.

- Mais isso é ridículo! (Diz Marcus injuriado se fazendo a mesma pergunta, que estava na minha mente. Como deixamos passar isso?)

- Filipe consegue uma tesoura pra mim e quero que você entre em contato com os fabricantes dos uniformes, e providenciem algo do tamanho dela, por favor. Isso não poderia ter acontecido. (Digo sério)

- Sim Senhor! (Ele sai na mesma hora, com o telefone na orelha.)

- O que vai fazer Heitor? (Beth pergunta sem olhar pra mim, apenas concentrada na imagem da Manu em pé no tatame)

- Vou cortar as calças e a blusa, para que ela não tropece nas próprias roupas, e explicar a situação. (Digo)

- Não seria melhor dispensar logo ela? Você acha que ela dá conta do treinamento e do serviço? (Ainda diz olhando para Manu)

- Se depender da garra dela, sim! Vamos saber agora com suas avaliações do que ela é capaz. Não te chamei aqui para dar uma de mãe galinha, te chamei pra observar. (Dou um suspiro e digo:) Depois conversamos...

Dou as costas para ela, não sem antes observar ela cruzar os braços e bufar.

Desci as escadas da cabine e fui até ela. Filipe já trazia a tesoura e me entregava.

- Olá Manu, queria te pedir desculpas pelo uniforme grande demais, eu já resolvi com a empresa que nos fornece e no final do dia irão tirar suas medidas e farão seus uniformes. Enquanto eles não chegam você está autorizada a trazer de sua casa, calças de ginástica e roupa de banho. Acho que as camisas dão para serem usadas mesmo estando grandes. Posso? (Mostro a tesoura pra ela e me ajoelho no tatame para cortar as barras das calças.)

- Claro. (Fala baixinho super constrangida com tudo. )

Corto as barras das calças deixando num cumprimento aceitável, e depois puxo a blusa para fora, cortando o excesso no comprimento.

- Melhorou? Pelo menos assim, não vai atrapalhar seus movimentos.

- Obrigada, mas não precisava.

- Precisava sim, não quero um aluno prejudicado por um erro da Inter.

Isso não vai se repetir.

Viro para o Caio e falo:

- Caio, pode continuar.

Dou o meu melhor sorriso, e me encaminho para a cabine novamente.

- Vamos lá pessoal, quero ver e avaliar o que vocês sabem, então dêem o seu melhor. Esses são os professores Magno, Ulisses e Esmeralda. Eles vão te ajudar com os movimentos. Podemos começar com você Manu? (Caio diz animado.)

Ela mexeu com a cabeça confirmando, e se posicionou. Esmeralda se posicionou na frente dela.

Caio disse:

- Ela vai te atacar e eu quero ver você se defender. Me mostre o que sabe, ok?

Ela balança a cabeça novamente e aí a mágica acontece! Manu consegui dominar a Esmeralda, que é muito mais alta e pesada que ela, e deu uma rasteira que a mesma caiu de bunda no chão.

Os recrutas aplaudiram e ela deu um sorriso tão grande, que iluminou todo um quarteirão.

Caio gritou:

- Muito bom Manu, soube usar seu tamanho a seu favor, demonstrou agilidade e habilidade, já que você não possui muita força. Arrasou! Vamos lá, quem será o próximo?!?

Eu olhei para o Marcus, e vi o brilho de interesse dele.

Olhei para Beth e disse: - Isso responde sua pergunta anterior?

Ela me olha e diz:

- Sim. Tamanho definitivamente não é argumento. Podemos ir? Tenho uma penca de relatórios para fazer, conversamos na hora do jantar.

Me deu um beijo no rosto e foi embora.

Marcus olha pra mim e diz:

- Isso não prova nada!

- Não mesmo, mais se planejarmos direitinho, pode dar certo...

- Conversamos em casa Heitor!

Vira as costas e começa a caminhar até a porta, antes de abri-la, vira e diz:

- Pelo amor de Deus, providencie roupas decentes para esta menina!

- Sim Senhor! (Digo olhando a menina toda feliz comemorando com a Mariana.)

Eu disse! Meu sexto sentido nunca falha!

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