Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 1

Ainda me lembro do dia em que, na escola, a professora nos passou uma redação cujo dever de casa dizia “o que quero fazer quando crescer”.

Meus colegas queriam ser astronautas, presidentes dos Estados Unidos ou estrelas do rock famosas; Algumas crianças, que mantinham os pés no chão, escreveram que queriam ser veterinárias, dançarinas e policiais.

Decidi que queria ser médica. Claro, não é tão divertido quanto ir à lua ou subir ao palco diante de milhões de pessoas, mas é o que eu queria fazer.

Obriguei meus pais a se deitarem na mesa, peguei uma colher de chá e usei como estetoscópio, ou fiz furos em minhas bonecas usando a ponta de um lápis como agulha, fingindo injetar algo que as salvaria.

Era isso que eu queria fazer: salvar vidas.

Naquela época eu ainda não sabia que seria médica, mas também policial, bailarina e às vezes até fada. Eu não sabia que seria aclamado como uma estrela do rock e que as pessoas pagariam para me ver no palco.

Meu nome é Chloe, ou melhor, sou C.

Só C, porque quando você é stripper ninguém liga para seu nome, sobrenome ou idade. Ninguém pergunta como você está, simplesmente porque ninguém se importa como você está. Você é um corpo, uma letra, um objeto.

Naquele momento, naquela sala de aula que cheirava a cola e marcadores, eu não sabia que minha vida seria significativamente diferente do que havia planejado quando tinha oito anos.

Porque? Bom, simplesmente porque não contei com o destino. E deixe-me dar um conselho: não planeje sua vida nos mínimos detalhes sem levar em conta o destino. O destino é capaz de mudar qualquer coisa.

— Acorda Chloé! — Ouço gritos e abro os olhos tendo que piscar diversas vezes devido à forte luz artificial que invade o quarto, — Você também vai se atrasar hoje à noite! —Amanda me sacode pelo ombro, depois arranca o edredom para me revelar e me obrigar a desistir de mais alguns minutos de descanso.

—Eles estão aí, eles estão aí. —Anuncio, erguendo as mãos em sinal de rendição, e então me forçando a sentar e permitir que minha irmã saia da sala.

Pego novamente o cobertor para manter o frio, as pernas cruzadas aquecidas e fico alguns minutos olhando para a parede à minha frente, pensando na tarde infernal que me espera. Certamente está muito frio lá fora, provavelmente alguns graus abaixo de zero, e a julgar pelo barulho que vem de fora, também está chovendo.

Olho para o relógio na mesa de cabeceira que marca onze e meia, me xingo por estar deitado preguiçoso na cama e me entrego à ideia de que nunca poderei estar no trabalho à meia-noite. Eu me forço a levantar e finalmente consigo colocar meus chinelos e ir ao banheiro. Prendo o cabelo em um coque para lavar o rosto e os dentes, depois entro no chuveiro para me ensaboar e enxaguar rapidamente. Vestindo o roupão macio, tento cobrir as olheiras com um pouco de corretivo e aplico uma leve camada de base. Uma linha fina de delineador sobre a sombra marrom. Vou pedir para Sharon me ajudar com os cílios postiços e o batom.

— Chloe, faltam dez minutos! — Amanda me leva para fora da sala, reviro os olhos e visto uma camiseta branca, depois pulo pela sala e visto meu jeans skinny, talvez skinny.

- Estou pronto! — Comunico-me com satisfação assim que chego à minha irmã que está assistindo a um reality show na televisão, confortavelmente deitada no sofá com os cabelos castanhos presos para trás em um penteado bagunçado, — Não é hora de ir para a cama? -

— Não tenho três anos, amanhã nem tem escola. — ela bufa irritada, sem prestar atenção especial em mim.

Dou-lhe um beijo rápido e carinhoso na testa que ela parece não gostar, pego minha bolsa e saio de casa, depois desço as escadas correndo.

Como era de se esperar, está muito frio, mas felizmente não chove mais. As ruas não estão movimentadas, as lojas estão fechadas e as luzes da casa estão apagadas.Minha mãe me perguntou o que uma menina está fazendo sozinha a esta hora da noite em um bairro ruim. Reviro os olhos com esse pensamento e continuo andando rapidamente esperando não encontrar ninguém. Algumas vezes encontrei traficantes e encapuzados e desde então sempre tive um pouco de medo.

Posso finalmente ver a placa brilhante "Paraíso" e respirar aliviada ao passar por uma rua estreita em direção à entrada secundária.

Cumprimento Oscar, o segurança, que me deixa entrar com um sorriso amigável e, sem fôlego, caminho rapidamente pelo corredor até chegar à última porta, a dos camarins.

—Onde diabos você estava? — Jennifer me repreende assim que entro e corre em minha direção com um olhar aliviado, — Achei que tinha que subir no palco no seu lugar! -

- Eu teria gostado de ver você. — Brinco e imito-a fazendo movimentos descoordenados com os braços, fazendo-a rir o que relaxa os músculos faciais.

— Chloé! — Sharon também me cumprimenta, se aproximando para me abraçar, ela já vestiu seu terno brilhante e está segurando sandálias de salto vertiginoso. Seu cabelo loiro liso balança a cada movimento que ela faz e seus olhos azuis se destacam graças à ousada sombra preta.

— Tive um dia ruim, me ajude com a maquiagem, por favor. — imploro e tiro a calça, jogando-a em uma cadeira no canto da sala grande e pouco acolhedora.

"Então você ficará feliz em saber que não tem quartos esta noite." — Jen me conta com um alfinete na boca, decidida a fazer algumas mudanças no figurino da recém-chegada, uma russa com forte sotaque.

— Não tenho quartos? — repito com entusiasmo e meus lábios imediatamente se curvam em um sorriso feliz.

— Que sorte você tem, eu estou com o quarto vermelho. —Sharon reclama com uma careta enquanto me diz para fechar os olhos e depois passa um pincel na minha pálpebra.

—Você quer ser um anjinho ou um demônio esta noite? — Jen pergunta na minha frente, segurando o cabide com a fantasia branca em uma mão e a vermelha na outra.

— Me dê o branco, por algum motivo estranho ele me dá mais dinheiro. — Decido apontar para ele com meu dedo indicador laqueado.

— Homens gostam de garotas doces e inocentes. — Sharon zomba e coloca os cílios postiços muito irritantes, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Felizmente não para todos, caso contrário não teríamos emprego. — brinco e Jen prende meu longo cabelo castanho claro em um rabo de cavalo alto, tentando domar os cachos, e então me entrega um par de botas até o joelho feitas de um material barato que com certeza vai me dar coceira.

Coloco-os e, quando Sharon termina de passar batom pegajoso em meus lábios carnudos, passo um pouco de óleo por todo o corpo, deixando pequenos brilhos em minha pele macia.

Olho meu corpo esguio no reflexo do espelho de corpo inteiro, ajeitando o sutiã e a calcinha de couro sintético branco que revela minhas nádegas redondas e firmes.

—Chloe, está na hora. — Jen sinaliza para eu me apressar, me jogando uma faixa dourada e pegando seu microfone na mão, antes de sair da sala e caminhar pelo corredor com as suaves luzes vermelhas comigo.

Embora já trabalhe aqui há quatro longos anos, cada vez que ando estes poucos metros sinto uma sensação estranha e difícil de explicar, uma dor incómoda no estômago, uma pontada no peito que me causa dor. Aí subo cinco degraus e, de repente, esvazio completamente a mente, deixo de ser Chloe e me torno um anjo, um demônio, uma policial, às vezes uma fada, uma estudante preguiçosa e, no Natal, um Papai Noel sensual. assistente. É como se eu não fosse mais eu.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.