Capítulo 7
Capítulo 7
Uma presença agradável.
Tiago se empolga em cada dedilhada e palavra cantada, fecha os olhos dando ênfase as palavras ditas com melodia.
A sequência das palavras, cada tom e ritmo não passa despercebido pelos ouvidos apurados de Luciana.
— Quem mais precisa desse amor, sou eu
Porque de nós quem mais sofreu, fui eu
Por isso mesmo é que eu te digo
Não tem sentido, eu sem você...
Como se tivesse sentido alguém às suas costas, para de tocar e olha para trás. Observa os olhos grandes e amendoados observando-o com muito interesse, algo neles não deixa desviar o próprio olhar.
Suspirando, consegue abaixar o olhar, contra sua vontade, pega a capa do violão para o guardar. Para quebrar o gelo que se formou entre os dois, é o primeiro a falar.
— Não consegue dormir?
— Não... — respondeu o seguindo até o canto da sala onde ele deixa o violão.
— Precisa de algo? Talvez conversar? — Tiago tenta não demonstrar que está um pouco instável por ter bebido, afinal não quer que ela se assuste com ele, principalmente por não o conhecer.
Luciana está envergonhada, pois a única coisa que quer é voltar a ficar abraçada com ele. Sentiu muita paz em seus braços horas atrás, gostaria de voltar a sentir a mesma sensação nesse exato momento. Sem perceber, fala o que lhe vem à mente.
— Eu... Eu preciso de um abraço... — começa a chorar antes de terminar a frase.
Tiago se comove com a dor e as lágrimas que descem pelo lindo rosto. Em segundos abraça ela pelos ombros a confortando como pode.
Feliz, dê um leve sorriso aceitando o abraço, e com os olhos fechados encosta a cabeça no peito forte.
Esse jeito dela se comportar toda vez que se abraçam, o faz pensar que tem o melhor abraço do mundo. Como isso a deixa confortável, aperta mais os braços ao redor de seus ombros fazendo ela se aninhar mais em seus braços.
Coloca o queixo no topo de sua cabeça, espera o corpo dela parar de sacudir e as lágrimas cessarem.
— Você precisa dormir um pouco...
— Não, me deixa ficar assim com você. Só mais um pouco...
O coração traiçoeiro do Tiago volta a errar as batidas. Fica ali no meio da sala com ela, novamente coloca o queixo em sua cabeça, o cheiro de seus cabelos invadem suas narinas.
Por impulso, ele passa a mão nos cachos perfeitos de sua cabeleireira, acredita que nunca viu cabelos tão lindos na vida.
Ainda abraçados, a leva para o sofá, fica ali por vários minutos até sentir a cabeça dela mais pesada em seu peito.
Levanta o queixo dela com a ponta do dedo, passa o dedão pela bochecha saliente, repara no lindo rosto, fica se perguntando o que ela tem que o deixou perturbado desse jeito.
Poderia muito bem se levantar e colocá-la na cama, mas continua ali abraçado a ela até acabar cochilando.
***
Às cinco da manhã se escuta os primeiros cantos do galo, Dito como sempre levanta primeiro que a esposa.
Para ajudar, resolve ir até a área gourmet colocar as jarras de água para ferver no fogão a lenha.
Coloca suas roupas de cowboy e sai do quarto, passa pela sala, mas seus pés grudam no chão quando vê Tiago abraçando a Luciana, ambos dormindo no sofá.
— Que é isso? — diz baixo se aproximando, dá uns tapas no ombro dele. — Ôh, cabra... Tá na hora de acordar.
Tiago abre os olhos assustado, olha para o Dito em seguida para Luciana que ainda está em seus braços.
— Tadinha da garota, vai acordar com torcicolo. Vou colocar a água pra ferver, para adiantar o café.
— Certo... Obrigado, Dito.
— Às ordens, patrão.
Olha para o rosto dela com carinho, não gostaria de acordá-la, a dor e o sofrimento vai voltar para os belos traços, os olhos que ainda estão inchados ficaram com olheiras mais profundas. Se pudesse fazer alguma coisa para acabar com o sofrimento dela, infelizmente sabe que só o tempo para acalmar a dor.
— Luciana... Acorde...
— Não... Me deixe aqui assim... — ela diz com os olhos fechados.
Mariza aparece na sala e se aproxima dizendo:
— Vocês dormiram no sofá?
— Sim, acabamos dormindo. Mãe, pode ajudar ela a se arrumar? - diz ao se levantar para tomar um banho.
— Claro.
Luciana sente falta do calor e abre os olhos, fica um pouco assustada por não lembrar de imediato onde está.
— Calma querida... Você pode levantar? Vamos até o seu quarto tomar um banho e passar um pouco de maquiagem para disfarçar as olheiras.
Com um acenar de cabeça segue Mariza até o quarto.
***
Após o banho, Tiago se veste com calça preta social e camisa social preta com os dois primeiros botões abertos.
Como não vai usar chapéu, passa gel no cabelo e faz um penteado diferente do dia a dia. Passa a colônia após barba no rosto e pescoço, coloca o relógio que ganhou de presente do seu último aniversário, foi o irmão que lhe deu.
Vai até o quarto e se olha no imenso espelho do guarda-roupa, da risada do resultado, está parecendo um filhinho de papai.
Antes de sair tenta colocar suas ideias no lugar, olhando novamente no espelho fica sério, horas atrás não queria ter a responsabilidade de cuidar da Luciana, mas agora seu conceito mudou.
Agora quer cuidar dela mais do que nunca, mesmo não a conhecendo direito, pretende ficar com ela na fazenda e ser seu tutor legal.
Ela fará dezoito anos em menos de dois meses, poderá ficar na fazenda o tempo que quiser depois disso. Se ela quiser mais liberdade tem a casa onde os pais moravam, mas por ele, ela ficaria no casarão.
O que seu coração traiçoeiro tem que a quer por perto dessa forma ele não sabe, mas não importa. Dará toda atenção que ela precisar, carinho, amizade, nada irá lhe faltar, não enquanto estiver por perto.
Tomada a sua decisão, pega o celular, o coloca no bolso e vai se encontrar com os demais na área gourmet.