5-medo
Minutos se passam…
Assim que me acalmo, vejo meu irmão chegando de carroça.
Ele desce e me cumprimenta.
— Oi irmã, o que está fazendo no chão?
Ele pergunta curioso, me analisando por inteira.
Eu me levanto arrumando meus cabelos que devem estar bagunçados, e digo.
— Eu acabei de chegar, estava caminhando.
Ele diz dando de ombros.
— Como sempre, né? Por isso está tão corada, use protetor irmã, se cuide.
Eu assinto para ele, meu irmão continua.
— Bom, estava vindo para cá e um fazendeiro me pediu ajuda, quer vir comigo?
Eu concordo, mas digo ao me lembrar de meus pais.
— Vou avisar nossos pais primeiro.
Ele se aproxima estendendo algo em minha direção.
— Use isso.
Ele estende uma coisa estranha na minha frente. Fico sem entender.
— Como isso vai me ajudar a falar com meus pais?
Ele ri baixo.
— Esqueci que você nunca morou na cidade. Isso é um telefone celular, igual ao da fazenda, é pra ligar. Mas, esse é mais moderno, além de fazer ligações, dá pra você fazer várias coisas, depois te explico sobre isso. Vou fazer a chamada e você coloca na orelha e fala com a mãe. Ok?
Eu concordo. Ele aperta umas telhas no aparelho e me entrega.
Eu coloco no ouvido e escuto a voz da mãe.
— Filho, oi, como está? Está vindo nos ver??
Eu respondo.
— Oi, mãe, sou eu, Lua. O irmão passou aqui, mas quer minha ajuda, um fazendeiro pediu uma força, eu vou lá ajudar e voltamos, ok?
Ela diz:
— Certo, não demorem, pois logo vai escurecer.
Eu digo que logo voltamos. Entrego o celular ao meu irmão e ele diz:
— Então vamos, suba.
Eu assim faço e seguimos até a fazenda.
Minutos depois.
Chegamos e desço da carroça, e olho logo a frente vejo aquela fazenda que vi há alguns dias… daquele cara que ajudei… é sério?
Fico fitando a casa. Meu irmão diz:
— Vamos entrar, irmã. Você tá bem?
Eu olho para ele dizendo, forçando um sorriso.
— Estou, vamos.
Meu irmão abre a porteira e entramos juntos.
Escuto ele dizer.
— Oi Edmon, Junior, chegamos.
Edmon… é ele mesmo, tínhamos que nos encontrar justo hoje?
Caminho ao lado do meu irmão, vejo dois homens sair da pequena fazenda.
Edmon o homem branco de cabelos até a nuca, olhos verdes. É ele mesmo, ele me encara do mesmo modo que eu. Pois é, nos encontramos de novo.
Olho para o tal do Junior, ele é moreno e mais magro que Edmon, seus olhos são castanhos, ele sorri me olhando, e eu permaneço séria olhando para eles.
Meu irmão diz:
— Vim ajudar como prometi e trouxe minha irmã, ela ama ajudar também, ela se chama Lua.
Junior diz primeiro.
— Olá. Seja bem-vinda ao meu lar, sou Júnior e esse é meu irmão Edmon.
Eu sorrio de leve dizendo.
— Olá, obrigada, vai ser um prazer ajudar.
Edmon me olha sério dizendo.
— Olá, Lua.
Sua voz de certa forma me causa arrepios.
— Oi…
Fico olhando para ele por um momento e olho para meu irmão.
— Qual é o serviço? Temos que adiantar, nossa mãe nos espera.
Digo o alertando, e querendo acabar com aquilo logo.
Meu irmão sorri, dizendo.
— É verdade, não podemos nos demorar. Então vamos lá.
Meu irmão sorri para os outros dois ali.
Junior nos mostra o que fazer.
Ficamos algumas horas ali.
Ajudamos com o galinheiro das galinhas, algumas cercas que precisavam ser consertadas e ajudamos com as hortas deles.
Ainda bem que aprendi isso desde cedo, amo cuidar de fazenda, faço quase de tudo. Assim que terminamos, Júnior nos ofereceu café e bolo. Vou até o lavatório e lavo minhas mãos várias vezes, ainda bem que não me sujei muito.
Me sento com eles na mesa que eles têm na varanda. Me sirvo apenas de café.
Fico ao lado de Edmon, já que meu irmão se sentou ao lado de Júnior, os dois estão conversando como se fossem amigos, talvez sejam, não sei.
Eu respiro fundo, queria ir embora o mais rápido possível.
Tomo meu café e logo termino.
Olho para meu irmão que não para de falar com Júnior.
Me viro para Edmon que está terminando seu café.
Ele então, vira para mim me olhando. Esses olhos verdes me lembram o lobo, isso me causa um pouco de medo, confesso, pois presenciei uma cena intensa mais cedo, e seus olhos me lembram muitos os olhos da besta que estava pronto para me devorar.
Edmon então arqueia a sobrancelha dizendo.
— Você está bem? Parece pálida.
Eu não consigo parar de encarar seus olhos, um medo intenso me consome todo o meu corpo, não consigo fazer isso parar, meu cérebro não me obedece. E ainda tem esse cheiro dele, forte, selvagem, como o lobisomem, isso é coisa da minha cabeça ou é real?
Eu digo baixo, sentindo meus lábios tremerem.
— Deve ser… porque corri muito hoje, eu…
Paro de olhar para ele dizendo ao meu irmão.
— Não me sinto bem, irmão.
Minha voz então falha e tombo para o lado.
Sinto então as mãos de Edmon me segurando.
Estou apoiada em seus ombros, levanto minha cabeça devagar olhando para seus olhos verdes que por incrível que pareça parece preocupado comigo, será verdade?
Ele ainda está me segurando, caso eu caia.
Meu irmão se levanta dizendo.
— O que sente irmã?
— Senti uma fraqueza de repente. Vou ficar melhor se for para casa e deitar.
Meu irmão assente e diz.
— Vamos então. Bom pessoal até mais. Vou levar minha irmã.
Júnior diz.
— Claro, vai lá, melhoras para ela e obrigado por hoje.
Meu irmão assente e Edmon diz me olhando:
— Fique bem, Lua. Se cuida.
Ele me olha preocupado.
Eu concordo com a cabeça e ele solta meus braços, e um arrepio eu sinto por todo o meu corpo.
Meu irmão me puxa gentilmente pelo braço e me leva até a carroça.