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Capítulo 2

Gabriel Fernandes

Assim que passei pelas portas da Fernandes Advocacia e me deparei com o enorme fluxo de pessoas indo e vindo me fazendo constatar que seria um daqueles dias infernais e confirmei ao passar pela minha secretária em sua mesa e ela não perceber minha entrada. Albânia parecia conhecer os meus passos desde que as portas do elevador se abriam e quando estava atolada de trabalho sequer percebia minha existência.

- Sr. Fernandes podemos repassar sua agenda de hoje? - perguntou entrando em minha sala depois de me fazer ligar pra sua mesa com o ipad em mãos esperando minha confirmação e segundo depois ela já havia me deixado a par de tudo o que precisava fazer aquele dia.

- Preciso que envie flores para o endereço que estou te enviando agora - disse encarando a tela em busca do endereço da casa do meu pai

- Tem alguma preferência? - indagou curiosa

- Ela gosta de Orquídeas - respondi e voltei minha atenção ao trabalho,mas percebi a curiosidade em seu rosto ou surpresa talvez, Emma chegaria hoje de Milão e sabia que não poderia vê-la pelos próximos dias já que tinha uma grande audiência estava se aproximando e com isso estava propenso a ter pessoas a mando da oposição atrás de mim desesperados para que eu deixasse o caso de uma forma ou de outra.

Minha secretária às vezes era estranha e eu confirmava isso sempre que pedia para enviar flores para alguém, Albânia começou a trabalhar comigo a pouco mais de três meses e é muito eficiente apesar da pouca idade, pelo pouco que sei sobre ela é formada em direito e está em busca de uma oportunidade de estágio na área criminalista e mesmo não prometendo nada gosto de enviar alguns casos pequenos para ela e ver sua empolgação ao desvendar maneiras de foder a vida da acusação. Não me orgulho de ser um bom chefe e muito menos tento, sei dos comentários que correm sobre mim no escritório “o tirano chegou” “O solitário chegou” “o bastardo egoísta" em dias bons ouço apenas esses e sorrio internamente na maioria das vezes, eu pago o salário de cada um e não preciso ser um chefe legal no meio do caminho. Quando estava na faculdade aprendi que advogados devem ser isentos de sentimentos e não podem ter pessoas queridas ao seu redor principalmente no ramo em que atuo, elas seriam presas fáceis e usadas para me fazerem repensar nos meus passos.

- Gabe - disse Giordano entrando em minha sala me tirando dos meus devaneios - Sonhando acordado princesa? - brincou e sentou-se à minha frente

- Não sabe bater? - perguntei, ajeitando minha postura e ele negou - Então qual motivo da invasão?

- A investigação - disse me fazendo prestar atenção no que ele tinha a dizer - Encontrei isso e acho que você vai gostar de ver - entregou-me uma pasta com histórico médico e me deixou analisar com calma tudo - Era uma mulher completamente saudável - disse me fazendo paralisar

- Tem certeza? - perguntei folheando mais algumas folhas e ele assentiu

- Qual objetivo com isso Gabe? - pergunta curioso - Acha que tem mais por trás desse caso? - eu apenas assenti e vi ele fechando a cara com a minha afirmativa

- Você acha que se não houvesse mais por trás isso seria tão difícil de conseguir? - perguntei levantando os papéis em minhas mãos e ele assentiu

- Tem razão! - disse concordando e saindo da sala em seguida

Giordano era meu melhor amigo da época da escola, fizemos intercâmbio juntos e nos tornamos advogados juntos também. Ele já era parte da família e se torna insuportável quando se reúne com meu pai.

No segundo ano do ensino médio me esforcei até conseguir estar entre um dos 7 melhores da escola e fui contemplado com o intercâmbio para a Espanha e lá vivi os melhores meses da minha vida. Assim que me formei decidi que faria faculdade na espanha e mesmo não sendo medicina meu pai me apoiou em tudo, apesar de não concordar muito, assim que voltei ao Brasil já formado reencontrei meu amigo de travessuras no colégio e em sociedade abrimos a Fernandes Advocacia eu entrando com o capital e Giordano com os clientes que havia conquistado no escritório em que estagiava.

- Sim? - pergunto assim que atendo o celular me livrando do turbilhão de pensamentos

- Você vem hoje? - questiona a voz familiar

- Não sei, tenho um caso importante em mãos - respondo tentando evitar

- Gabriel Assis! - Exclamou meu pai - Te espero às 20h para o jantar

- Pai - chamei e ele desligou sem esperar um mais

22 anos atrás

- Essa é a Emma? - indaguei curioso assim que meu pai passou pelas portas do apartamento em que morávamos com o bebe conforto

- Sim, esta é a Emma - disse com um meio sorriso

- E a mamãe onde está? - perguntei depois que os meus avós passaram pela porta e me olharam com pena e mesmo sendo pequeno sabia que minha mãe havia me deixado naquele momento. Os minutos seguintes e a pequena conversa que meu pai teve comigo aquele dia me despedaçaram mesmo eu tendo prometido para minha mãe que seria um homem forte e bom.

- Mamãe! - gritei assim que passei pela porta do quarto e ela saiu do closet com aquele barrigão enorme e sorrindo me abraçou

- Como foi seu dia? - perguntou sentando-se na cama comigo e afagando meus cabelos

- O professor de espanhol me disse que estou melhorando cada dia mais - disse e ela sorriu orgulhosa

- Talvez em alguns anos você possa fazer um intercâmbio - disse me fazendo erguer uma sobrancelha - Um intercâmbio é morar em outro país por alguns meses para praticar o idioma com pessoas que moram lá - completou me fazendo entender

- Você vai comigo? - perguntei curioso e ela sorriu

- Você vai querer a mãe velhinha ao seu lado? - perguntou gargalhando e eu sorri - Acho que você vai sozinho e quem sabe até encontrar uma namoradinha - brincou e fez uma careta

- Você está bem mãe? - indaguei e ela suspirou profundamente

- A mamãe precisa conversar com você - disse e eu me ajeitei em seu colo - Quando a Emma nascer talvez a mamãe não volte pra casa - disse e me olhou esperando que eu entendesse

- Porque? - indaguei curioso

- Porque eu posso virar uma estrelinha - disse e eu fiquei de olhos arregalados

- Mas eu não quero isso mãe, quero você aqui comigo - retruquei irritado

- Querido - chamou e segurou meu rosto entre seus dedos - Você promete ser forte e cuidar do papai e da Emma? - perguntou me observando esperando uma resposta

- Prometo - falei e ela sorriu - Eu te Amo - disse e vi seus olhos encherem de lágrimas

- Eu também te amo Gabriel, sempre vou amar - respondeu e me abraçou me mantendo em seus braços.

-Sr. Fernandes… - chamou minha secretária me fazendo voltar a realidade - O sr. precisa de mais alguma coisa? Estou indo almoçar. - completou

- Pode ir - respondi passando a mão no rosto e peguei meu blazer pendurado na cadeira - Que merda de passado! - sussurrei para mim mesmo.

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