Danna Dave (II)
- Oi, Danna. Irei jantar com Nadine hoje.
- Como assim irá jantar com Nadine?
- Sim, é isso mesmo. Convidei-a para jantar só nós dois. Ou vai dizer que queria jantar conosco? Saiba que tive que sair de minha própria casa para jantar com minha namorada porque não aguento mais a forma com a trata.
- Trato Nadine como ela merece ser tratada: uma pistoleira, papa-viúvos.
- Você está em casa?
- Como sabe?
- Mandei rastrear seu telefone.
- Isso é ilegal. Não sou de menoridade. Posso processá-lo por invasão de privacidade.
Ele riu:
- Pois o faça. E a próxima vez que chamar Nadine de pistoleira ou papa-viúvos, terei que tomar providências mais severas com você.
- Estou tremendo de medo.
- E eu cansado de você!
- Como pode dizer isto da sua própria filha? Qual o pai se cansa de falar com a filha? Qualquer juiz me daria ganho de causa... Estou sendo profundamente afetada psicologicamente com a forma como me trata.
- Qualquer juiz perceberia que você tem sérios transtornos psicológicos os quais se recusa a tratar. Sobre não ter ido na faculdade... Quer reprovar novamente este semestre?
- Estou me fodendo para isto! – Encerrei a ligação e joguei o telefone longe.
Deitei na cama e fechei os olhos. Eu odiava Nadine. Ela estava tentando tirar o meu pai de mim... E tomar o lugar de minha mãe. Será que aquela mulher não entendia que jamais poderia fazer parte da nossa família? Celli Davi era insubstituível.
Eu não me importei em jantar naquela noite. No meu pensamento só queria que Nadine se engasgasse com a comida e morresse sobre a mesa, junto de meu pai, para que ele carregasse a culpa da morte dela pelo resto da vida. Então ele entenderia o que se passava dentro de mim e perceberia que eu não era uma adolescente em busca de atenção... Eu era uma mulher, adulta, que nunca seria perdoada. Sabia que quando eu morresse iria diretamente para o inferno e pagaria por todos os meus pecados, principalmente o de ter matado minha própria mãe.
Mas eu não queria mais pensar naquilo. Já havia me martirizado e maltratado por muitos anos da minha vida. Aliás, tantos que já nem tinha mais lágrimas para chorar.
Quando percebi minha mente foi ficando longe e o sono tomou conta de mim. Então encontrei aquela árvore, estranha, de caule fino, magro, cinza claro. Sua folha era verdinha e tenra e quando eu a dobrava, a sensação de quebrá-la ao meio era estranha e ao mesmo tempo satisfatória. Tinha tantas folhas... Estreitinhas, mas longas, uma a uma agarrando-se aos galhos finos, que desciam como ondas até o chão, como se quisessem fazer uma cabana para que alguém pudesse morar dentro. Os galhos se balançavam com vento fresco... E conforme eu me afastava e a via de outro ângulo, a grande árvore parecia chorar...
Abri os olhos e sentei-me num sobressalto. De novo aquela árvore no meu sonho! Desde a morte de minha mãe ela costumava povoar meus sonhos vez ou outra. E eu não entendia o que aquilo queria dizer, tampouco consegui identificar que tipo de árvore era aquela, já que a descrevia na internet e vinham várias espécies, mas nenhuma a que eu via no meu sonho. Talvez eu jamais soubesse o que ela significava... Ou quem sabe ela era só a minha mãe que vinha me ver no meu subconsciente e acariciar-me... Seriam as folhas tão verdinhas e perfeitas os seus dedos macios que me faziam sentir uma saudade sem fim?
Apertei o botão do controle e as persianas começaram a abrir, mostrando que já o dia já estava amanhecendo. Pulei da cama, lembrando que tinha aula com Jax naquela manhã.
Fui ao meu closet e fui escolhendo vários looks que combinavam, incerta sobre o que usar. Acabei optando por um vestido preto DG, com um farto decote, acompanhado de uma meia calça preta e sapatos Jimy Choo. Por cima um blazer Dior, com detalhes brancos. Pensei em passar no salão antes e arrumar os cabelos, mas olhei no relógio e talvez não desse tempo. E como a aula de Jax era a primeira, não poderia me atrasar um minuto sequer.
Observei meus cabelos pretos lisos, iguais aos de minha mãe. Eu ainda lembrava que quando estávamos ao sol, eu dizia que os fios dela brilhavam. E ela sempre rebatia, orgulhosa: “Seus cabelos são como os meus”.
Naquele ano eu havia cansado do corte de sempre e optei por uma franja reta, para mudar o visual. No fim, gostei muito do resultado embora Moana insistia que o corte era ultrapassado e fora de moda e em nada combinava comigo.
Eu era bonita e raras coisas não combinavam comigo. Sobre moda, eu gostava de causar e não seguir estilos e tendências, exatamente para me diferenciar dos demais. Como meus olhos tinham uma variação entre o castanho e o mel, usava e abusava de maquiagens marcantes e coloridas e carregava no batom vermelho.
Quando cortei a franja, optei também por tirar um pouco do comprimento dos fios, deixando-os na altura dos ombros. Cheguei a ler algo nas colunas sociais do tipo “Danna Dave assassinou os cabelos”. Mal sabiam o quanto me diverti com os comentários maldosos, o que me fez ter muita vontade de cortar totalmente, deixando um visual mais moderno e retirando por completo o comprimento. Eu ainda estava pensando a respeito. “Causar” era o meu segundo nome. O primeiro era “Problema”.
Cheguei na faculdade cinco minutos antes da aula começar. Sentei-me próxima de Moana e assim que o professor Jax Gatti chegou, seu olhar dele foi direto na minha direção.
Pus a tampa da caneta entre os dentes, sorrindo de forma provocante. Conforme explicava a matéria, ele demonstrava segurança e seus braços fortes iam e vinham ao quadro branco, me fascinando.
Infelizmente eu não conseguia prestar atenção na aula dele... Porque focava completamente em seu corpo e em tudo que poderíamos fazer juntos... Neste caso seu pau e minha boceta. E nas aulas de outros professores eu também não conseguia focar porque minha mente continuava em Jax e o tamanho do que ele tinha entre as pernas, que roçava na calça enquanto ele se movimentava na frente da sala, com sua voz alta e clara, que me fazia ir para outro mundo... O mundo da luxúria, do prazer, do sexo.
Encerrada a aula, todos foram saindo da sala. Quando Moana aproximou-se de mim, mandei:
- Saia e tranque a porta por fora. Não quero ninguém aqui dentro a não ser eu e ele.
- Ok – ela deu de ombros – Só não quero confusão, Danna.
- Eu te tiro de qualquer confusão que der, não se preocupe. – Garanti, com segurança.
Moana saiu e aos poucos a sala foi esvaziando. Peguei meu notebook e fui até Jax, pondo sobre sua mesa:
- Tenho dúvidas. – Minha voz foi mansa.
- Deveria ter tirado sua dúvida quando eu perguntei se “alguém tinha alguma dúvida”. – Ele não olhou na minha direção enquanto colocava seus pertences dentro da mochila.
Suspirei e não me dei por vencida. Eu adorava a forma como ele tentava me afastar, certa de que era a sua maior tentação. Pus as mãos na mesa e abaixei levemente o peito, empinando a bunda para trás, deixando meu vestido justo se encarregar do resto.
- Você é pago para tirar qualquer dúvida que eu tenha... Não importa o momento.
Ele me encarou e respirou fundo, pondo a mochila sobre a cadeira:
- Qual sua dúvida, senhorita Dave? – Respirou fundo, demonstrando irritabilidade.
- O que achou do presente? – Sorri.
- Estou perguntando da sua dúvida sobre a minha aula.
- E eu estou perguntando sobre o presente que lhe dei... – Mordi o lábio, de forma libidinosa, me aproximando dele, que se afastou.
- Senhorita Dave, eu sou casado e tenho dois filhos. Sou apaixonado pela minha esposa e amo meus filhos. E acredite, você não conseguirá destruir a minha vida... Nem pessoal, tampouco profissional.
- Acha que ela lhe daria um carro? – eu ri – Sabe que o carro que lhe presenteei vale o equivalente e uns cinco anos de seu mísero trabalho? Eu posso lhe dar o mundo, Jax.
- Não me chame de Jax, pois não lhe dei tamanha intimidade. Para você, assim como para qualquer outro aluno desta instituição sou o “senhor Gatti”.
- Jax! – Provoquei – Eu não sou uma aluna como outra qualquer... Meu pai é um dos maiores colaboradores financeiros da porra desta faculdade.
- E eu não tenho nada a ver com isto.
- Ele paga o seu salário.
- Quem paga o meu salário é a Faculdade de Belas Artes e não o seu pai, senhorita Dave. Quanto ao carro, eu mandei devolver. E sobre o bilhete, rasguei e joguei fora.
- Mas sua esposa já sabe que tivemos uma noite perfeita! – Eu ri, com deboche.
- Ela acredita em mim. Temos uma relação sólida e com base na sinceridade.
- Foda-se a sua relação com a idiota da sua esposa e os pirralhos que vocês tiveram! – gritei – Eu lhe mandei a porra de uma chuva de pétalas de rosas!
- Pode me jogar dinheiro de um helicóptero... Ainda assim não me relacionarei com você. – Foi calmo e enfático.
- Você ainda vai ser meu, Jax. – Garanti, furiosa.
- Não haja como uma garotinha de 18 anos porque você não é. Não percebe que é uma mulher ridiculamente agindo como uma adolescente mimada? Eu não sou um objeto seu... E não estou disposto a fazer parte das suas conquistas frustradas e relações conturbadas. Não me envolverei com você, Danna... Não gosto de você, nem como aluna, sequer como pessoa. – Ele virou as costas e saiu em direção à porta.
- Ou fica comigo... Ou irei destruí-lo. – Me ouvi dizendo, batendo o pé no chão, com raiva.
- Faça o que quiser... Sou um homem casado, feliz e fiel. – Nem olhou na minha cara ao dizer aquilo.