Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

4

Preferimos nos alimentar dos sacos do que diretamente dos humanos. Faz-nos sentir menos... culpados, digamos.

Ouço passos se aproximando cada vez mais até que a porta de ferro se abre. Diante dos meus olhos aparece a figura alta de Mora, que assim que ergue os olhos e me nota, sua expressão muda.

Ele parece perpetuamente chateado, e quando me vê, parece ainda mais chateado.

- Por que eu encontro você em todos os lugares? - ele bufa.

- Não finja que está arrependido. - Eu pisco para ele.

- Obtenha menos varas. - Ele diz .

- Você tira a vassoura da sua bunda. - Eu respondo.

Mora me lança um olhar ameaçador, mas não diz nada. Ele sobe as escadas e passa por mim, indo se sentar em um muro baixo.

- Este é o meu lugar. - Digo.

Ele tira um maço de cigarros do bolso e pega um.

- Agora é meu também. - Ele dá de ombros.

Ele acende o cigarro e leva-o aos lábios.

- Os lobisomens não odeiam fumar? -

- E onde você ouviu essa merda? -

- Fofoca... -

Quando termina de fumar, ele apaga e esconde a guimba em um lenço, antes de enfiá-la no bolso.

Ele olhou nos olhos dela. A diferença de cores que tem é incrível.

- Não me diga que você é um acumulador de cigarros apagados... - Estou tirando sarro dele.

Ele faz uma cara.

- Idiota - começa, amigável como sempre. - Vou jogar fora assim que encontrar uma cesta. -

- Você é um bom menino! - Eu continuo brincando com ele.

Estou me divertindo demais para parar.

Só agora noto o ferimento sob o olho esquerdo.

- Você bateu em uma árvore? - Te pergunto.

Ele coloca a mão no local ferido, estremecendo.

- Não é assunto teu. -

- Guarde seus segredos, então.

Ele suspira.

Ele pega outro cigarro e o leva aos lábios.

Sinto o celular vibrar no bolso, sinal de uma nova mensagem. Eu o tiro e desbloqueio a tela.

De Aloysio:

Onde você está? Esperamos por si no local do costume.

Levanto-me e, antes de sair, dou uma última olhada na direção do marrom.

- Nos vemos. - Digo.

- Esperemos que não. -

Viro as costas para ele e escondo um sorriso, apesar de seu tom mal-humorado, não posso me sentir mal por isso.

Eu me junto aos meus amigos e deixo Al me contar mais sobre a festa.

Ser um vampiro entre muitos humanos nem sempre é fácil.

Há momentos em que é mais difícil se conter, especialmente se você está no meio de um grupo de pessoas e é forçado a aturar o cheiro delas.

Eu sinto a veia no pescoço do garoto ao meu lado pulsar enquanto seu corpo se move ao ritmo da música que eles estão tocando pela sala.

- Vamos endoidecer! - Aloysius exclama, indo em direção ao corredor.

A casa é muito grande e espaçosa, a sala abriga um grande número de adolescentes, que dançam e se embebedam sem pensar duas vezes.

Al sorri para uma garota, e enquanto ela caminha até nós, eu vejo seus longos cabelos castanhos se moverem a cada passo.

- Ela é a garota que eu te falei. - ele sussurra em meu ouvido e posso ouvi-lo apesar do volume alto da música, graças ao meu ouvido vampírico.

Os dois começam a dançar e o loiro tingido logo se esquece da minha presença.

- Apostamos que ele a mata antes que a festa termine? Arkell sussurra em meu ouvido. Eu posso ouvi-lo perfeitamente, apesar da música alta.

- Não sejas tolo! Eu exclamei, olhando para ele de soslaio. - Seu irmão mudou, você sabe... - Será mesmo assim?

- Você o superestima demais. -

- Deixe-o se divertir. -

Ele não parece muito convencido, sendo seu gêmeo ele o conhece muito bem, mas no final ele concorda.

Caminhamos entre os corpos dançantes e tento não pensar no gosto de sangue. Começo a me mexer até que uma garota de cabelo roxo se aproxima de mim. Ele começa a dançar comigo e sorri para mim. Seus lábios são levemente esticados e o batom vermelho destaca os dentes brancos.

Eu sorrio de volta.

A garota se vira e me rebola.

oh

Viro a cabeça por um momento e vejo uma figura me observando de longe. Eu tento focar meus olhos naquela pessoa, mas algumas pessoas invadem minha visão e me impedem. Depois de um tempo, enquanto a garota dança em cima de mim, vejo Mora me observando de longe. Então era ele.

Ele tem um copo cheio de líquido vermelho na mão e olha para mim com uma sobrancelha erguida.

Dou-lhe um sorriso que espero que ela possa ver e coloco minhas mãos nos quadris da garota, tomando cuidado para não tocar sua pele nua, mas o tecido de sua camisa.

Eu a ouço rir, enquanto a alguns passos de nós duas outras garotas nos filmam com seus celulares.

A certa altura, a humana se vira e coloca as mãos nos meus ombros. Ela começa a me beijar, mas eu a paro a tempo.

Olho em volta e depois de lhe dar um olhar divertido, sussurro: - Sou gay -.

Ela pisca e me encara, talvez tentando descobrir se estou falando sério ou não.

- Eu gosto de peixe. - digo então.

Ela ri e coloca uma mecha colorida de cabelo atrás da orelha.

- Briguei com meu namorado e quero fazer ele pagar, pode me ajudar?

Penso em.

Devo ajudar uma humana a escolher seu namorado?

- Estou à sua disposição! - Eu sorrio.

Somente humanos podem criar esses dramas.

Eu pensei que ele só queria me abraçar, em vez disso ele me pega desprevenida e tenta trazer seus lábios aos meus novamente. Desta vez eu vou deixá-la fazer isso. Eu espero até que as duas garotas terminem de tirar uma foto nossa e me afasto, então limpo minha boca na manga do meu moletom.

- Obrigada. - pisca para mim.

- Foi um prazer. -

Não tenho tempo de sair da sala quando uma mão agarra meu ombro.

- Você mudou de lado e não me diz? - Série.

- Não seja tonto! Você sabe que eu estou apaixonado por você! - Piada

Aloysius pisca e lambe os lábios.

- Sou irresistível, eu sei. -

A garota com quem ele estava dançando mais cedo se junta a ele e os dois se esfregam novamente.

- Estou indo, não se preocupe. - Os dois nem me ouvem.

Vou até a cozinha e pego uma garrafa de vinho deixada na mesa. Eu encontro um copo limpo e o encho.

Atrás de mim ouço alguém rir e uma pessoa com um cheiro familiar entra na sala.

- E então... oh, Chantall, adeus! -

Viro-me para a pessoa que me cumprimentou e aceno para Cameron quando o reconheço. Levo o copo aos lábios e engulo tudo em um gole, enquanto ao seu lado, Mora evita meu olhar.

- Está se divertindo? - Cameron me pergunta.

- Muito. -

- Essa era sua namorada de antes? - Pergunta

Agora Mora está olhando para mim.

Percebendo a peculiaridade de seus olhos, não posso deixar de pensar em ontem, quando havia lua cheia e conheci um lobisomem.

Mesmas cores idênticas.

Esta manhã, quando nos encontramos no telhado da escola, não pensei na possibilidade de que pudesse ser ele, mas agora... olhando melhor em seus olhos, a dúvida me assalta.

Eu mudo meu olhar para Cameron, deixando esse pensamento de lado por um momento. - Porque está pergunta? - Olho o humano diretamente nos olhos, sentindo o olhar límpido do lobisomem fixo em mim.

- Só estou curioso... Desculpe, devo cuidar da minha vida. -

- Você deve. Mas não importa, a curiosidade faz parte de nós seres humanos. - Tento não rir do absurdo das minhas próprias palavras.

- Correto. Cameron sorri para mim. Há um brilho estranho nos olhos escuros, provavelmente causado pelo álcool.

Mora não abre a boca.

- Para responder à sua pergunta, não. Ela não era minha namorada. Você veio com alguém? -

- Eu vim com alguns amigos, mas perdemos contato... então conheci James e começamos a conversar. -

James. Então esse é o nome dele... na verdade eu já tinha ouvido durante a chamada na aula, mas estaria mentindo se dissesse que já estou prestando atenção nas aulas da madrugada.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.