"Todo o poder do mundo, não pode mudar o destino."
Logo estávamos na porta do quarto 806, que eu conhecia tão bem. Era o meu quarto de hotel todas as vezes que eu ia a Paris. Eu sabia que Leona, por diversas vezes esteve neste mesmo quarto com o Dimitry. Mas todas as vezes que eu estava neste quarto, eu fazia festas regadas aos mais caros champagnes e fodia várias mulheres, tentando exorcizar aquele sentimento unilateral por Leona, a garota da minha adolescência, o meu desejo proibido. Eu sempre ficava neste quarto quando não estava ocupado e desta vez não era diferente. Isto significava que a interpol já sabia muito de mim.
Mantive a calma. Mesmo não sendo formado em direito eu sabia me defender e tinha conhecimento na área. E sabia exatamente que eles queriam algo além de me prender e culpar. E como um bom homem de negócios, eu deveria escutar a proposta e fazer minhas exigências.
Um agente armado até os dentes abriu a porta. Adentramos o local e um senhor de meia idade nos esperava.
- Buon giorno Signore DiSantis.Sono Enrico Botti responsabile generale della sessione anti-droghe e Mafia, interpol.
* Bom dia Senhor Di Santis. Sou Enrico Botti responsável geral da sessão antidroga e máfia, da Interpol*
Seu italiano perfeito, sem algum sotaque americano, me levou a crer que ele era italiano assim como eu. Pelo sotaque regional da Itália, um verdadeiro Napolitano.
- Buon giorno. Cosa volete da me? Andiamo diretto al sodo.
* Bom dia. O que querem de mim? Vamos direto ao ponto. *
Apontando a poltrona a sua frente para que eu me sentasse, ele prosseguiu:
- Acredite Lucca, não tenho interesse de enrolar. E sei que você já entendeu que queremos algo de você. Por isto está aqui e não em um distrito da polícia. Queremos te fazer uma proposta. Você cometeu alguns crimes bem graves, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e assassinatos. Apesar deste último, não ser tão grave a meu ver, por que eliminou um pouco da escória do seu submundo, consequentemente livrando o mundo desta gente de merda.
Ele está tentando me deixar confortável para falar e concordar com tudo. Mas além de ser formado em gestão administrativa em Milão, eu segui um curso sobre direito penal. O resto a vida se encarregou de me ensinar. Eu respiro fundo e o encaro sem mover um músculo do meu rosto. Ele então prossegue:
- Te vigiamos por muitos anos, direi _ele coloca uma pasta aberta cheia de papeis e fotos minhas sobre a mesa e continua_ sabemos muito sobre você, sobre sua família. Os assassinatos de seu pai e irmão. Descobrimos tudo. Sei que matou alguns dos espanhóis antes de chegar no Dimitry. Eu lamento por sua perda de verdade.
Para aliviar minha tensão respondo sarcasticamente:
- E não fizeram nada para impedir que eu arrastasse todos para o inferno? E o pior, não evitou o que Dimitry fez com aquela mulher? Vocês não deveriam manter a paz? Proteger inocentes?
O sorriso no rosto dele desaparece. Ele faz uma longa pausa, se levanta e caminha de um lado para o outro na minha frente e me diz:
- Você tem razão, deveríamos ter impedido as agressões que ela sofrera. Mas não teríamos você, se o fizéssemos. Pois você não teria necessidade de entrar em ação. Mesmo assim, concordo com seu ponto de vista. Muitas vezes somos falhos como corporação, pois infelizmente temos policiais corruptos. Mas disto, você já sabe. Com certeza vocês possuem os números de muitos deles. E quanto à senhorita Leona, sei que você pesquisou muito sobre ela e que a conhece desde sua adolescência. Ela está no hospital agora, se isto te tranquiliza. Ela não viu nada do que houve ali. Ela foi sedada dentro do carro por Dimitry. Foi tudo o que me foi informado até agora.
Eu congelo sobre as informações sobre Leona. Ela nunca soube quem eu era na adolescência e devia continuar assim. No meu submundo não tinha lugar para ela. Não entendia como ela tinha se casado com Dimitry, naquela época um futuro boss da máfia Russa. Assim que ela terminou a faculdade onde conheceu aquele bastardo, eles se casaram. Eu cursei a faculdade em Milão, mas por vezes desejei ir para Nova Iorque, assim estaria perto dela. Mas eu nunca entendia esta necessidade de estar com ela. Eu fazia sempre o contrário do que eu desejava quando se tratava dela.
O homem a minha frente respira fundo e como se buscasse forças, ele me olha e dispara o que necessita me dizer:
- Lucca, precisamos de você. Sei que você é um boss da máfia. Mas observamos seu submundo por muitos anos e você dentre todos estes criminosos, se mostrou ser inteligente e até mesmo indignado com certos crimes cometidos ao seu redor. Sabemos que se recusa a lucrar mil vezes mais com tráfico humano, com a prostituição, com tráfico de órgãos. Você não é um anjo, é a porra de um demônio quando atravessam seu caminho. Mas sei também que seu lugar não está totalmente dentro do submundo da máfia. Você tem muitos negócios que estão te deixando milionário de uma forma limpa. Mesmo que o início você tenha dado partida com um pouco de dinheiro sujo. Você possui muitas empresas em várias partes do mundo, isto sem falar na vinícola dos DiSantis. Então proponho deixar você seguir sua vida e perdoar os crimes na sua ficha. Em troca, preciso que me ajude a desfazer esta rede de tráfico humano que vem da Romênia. É claro, que me ajude denunciando alguns de seus desafetos e alguns policiais corruptos. Isto reduzirá significantemente o tráfico internacional de drogas. Sabemos que a máfia jamais deixará de existir no mundo. Mas se conseguirmos diminui-la, podemos conviver e eu posso receber uma gorda pensão quando me aposentar em breve, junto com as honras que tanto lutei para conquistar.
Eu penso comigo, sempre quis sair disto. Mas não como um traidor. Mas era impossível que eu saísse sem eliminar alguns do caminho. Eu calmamente respondo:
- Eu concordo em partes. Ajudar a pegar e destruir a máfia romena é algo que eu sempre quis fazer. Denunciar alguns dos meus desafetos e concorrentes, e seus policiais corruptos está dentro das possiblidades. Mas meus negócios e minha família têm que ficar fora disto, quero proteção e discrição. Não os quero na mira de vocês e nem mesmo que saibam que eu sou um colaborador. E o principal, quero Leona fora disto também, tenho certeza de que ela é só mais uma vítima do Dimitry. Ela precisa ser protegida! Outra coisa, ela não deve saber o que houve e nem que fui eu quem o matou. E eu não usarei porra de escuta alguma. Eu não sou marionete de nenhum policial. Vão ter que confiar em mim e nas minhas informações.
O velho sorri com a minha rendição patética. Mas eu já não queria mais arriscar os que amo desta forma. Eu queria apenas ter minha vida de uma maneira mais tranquila do que tinha sido até hoje. Tenho sangue demais nas mãos e isto não vai mudar. Mas eu preciso proteger minhas sobrinhas que desde que o pai morreu, as enviei para crescerem longe. E agora eu poderia conseguir proteção para Leona, que já sofrera muito neste submundo nas mãos de Dimitry.
Ele então se aproxima e me diz:
- Vou montar uma equipe para estar sempre à sua disposição para informações e proteção. Estarão por todo lado. Na Itália, tenho um amigo de confiança na polícia, que ajudará você. E quanto à senhorita Leona, considere feito. Mesmo ela tendo contratado um sicário para matar o falecido marido, você fez o trabalho.
Eu finjo não estar abalado, quanto ela sofrera para cometer este ato desesperado. Eu olho para ele e continuo minha fala:
- Quero ela fora de tudo isto, perdoada. Quero todos os meus homens livres. Inclusive Pietro!
Ele faz uma pausa. Pensa e me responde:
- Eu os libertarei aos poucos. Seu fiel escudeiro já está no quarto ao lado. Depois você pode decidir o que dizer ou não ao seu fiel amigo protetor.
Ignoro a ironia dele e contínuo:
- Você não me disse quanto tempo temos para fazer toda esta operação.
- Temos muita informação, mas existem elos faltando, os quais acredito que você possa ajudar. Mas isto levará tempo. Dois, três anos talvez. Vai depender do que você conseguir. E no caso de você estiver fingindo, coisa que duvido, afinal você possui muito mais a perder, deixo avisado que seu dossiê ficará suspenso até você mostrar utilidade neste tempo.
Eu dou um sorriso cínico:
– Eu realmente não morro de amores por trabalhar cercado por policiais. Mas como você mesmo disse, a proposta é razoavelmente boa para ambos.
- Ótimo. Eu vou deixar você aqui no seu quarto preferido Senhor Lucca. Você tem bom gosto. E quanto à mulher, fique tranquilo, ela não saberá que você matou o marido dela e nem mesmo que você fez tudo para salvá-la. Ela deve ser importante para você e fico feliz que a tenha salvado. Passe bem, senhor DiSantis. Entraremos em contato.
Ele sai. Me deixando ali sentado na poltrona pensando no que esta oportunidade proporcionaria para minha vida e das minhas sobrinhas, e Leona estaria a salvo. Dei um respiro aliviado por ter me vingando do cretino do russo. E confesso que, saber que ele jamais encostaria de novo em Leona me deixava em êxtase.
Caminho até o banheiro. Tiro minhas roupas encharcadas de sangue, nem uma gota do meu sangue e sim daquele imbecil do Dimitry. Escolho uma cápsula de perfume e introduzo na válvula do chuveiro, deixo o jato quente escorrer pelo meu rosto. Apoio minhas mãos na parede e deixo a água escorrer pelas minhas costas, levando a tensão e trazendo a lembrança de Leona. Quantas vezes Leona esteve aqui, quantas malditas vezes desejei estar com ela, dentro dela, a fazendo minha. Inúmeras foram às vezes que fodi de maneira animal as mais diversas mulheres bem aqui, desejando, a imaginando. Mesmo quando eu não queria, ela invadia meus pensamentos. Porra era patético para mim. Lucca DiSantis, que podia ter lindas mulheres, quantas e onde quisesse, ficar feito um adolescente desejando alguém que jamais tocou. Tudo começou na adolescência quando ela aceitou dançar comigo na escola. Nenhuma conversa longa, nenhum beijo sensual, apenas um beijo casto. Perdi a conta de quantas vezes eu me masturbei desejando-a. Eu estava louco. Obcecado talvez.
Assim que eu pudesse me aproximaria ao menos por uma noite. Eu transaria com ela, a conquistaria para uma foda e ela sairia da minha mente! Afinal, ela já não era de outro Boss da máfia e eu podia queimar todo este desejo, a fazer gemer, chorar meu nome sob mim. Eu precisava seguir e eu o faria principalmente agora, tendo a chance de ter uma vida mais segura.
Leona, vou conquistá-la mesmo que seja por uma única foda. E adeus. A deixarei seguir, viver a vida dela. Desta vez, fora deste submundo ao qual ela nunca pertenceu. Afinal, aprendi que dói mais ter algo e perdê-lo, do que nunca o ter. Eu precisava esquecê-la urgentemente.
"Todo o poder do mundo, não pode mudar o destino."