03
Horas depois...
ENZZO DEMISOVSKI
— Maldição!
Continuo andando de um lado para o outro, totalmente incrédulo e indignado pelo ocorrido de horas atrás. Como pude deixar que os desgraçados chegassem tão perto das minhas princesas, meus tesouros, por quem eu daria a minha vida só para mantê-las em segurança.
Se não fosse pela travessura de Ethan em querer dá um susto em Cecília, o pior teria acontecido. O que era para repreender o garoto pelo ato que poderia resultar no acidente, fez dele o herói, não só daquela que já lhe foi prometida a ele, como da pequena Ana, mantendo assim o acordo feito entre as duas organizações. Enquanto Ana ficou em choque, a fúria me dominou ao ver o rosto de Cecília mais vermelho que um tomate.
Aqueles dois infelizes, dois malditos abutres que vivem escondidos nas sombras, mandando terceiros fazerem o trabalho sujo, mas, algum dia, eles sairão do buraco sujo e asqueroso em que vivem e terei todo prazer em enviá-los direto para as profundezas do inferno. Meus pensamentos foram atrapalhados quando ouço a voz da minha mulher.
— Elas já estão dormindo.
O que era para ser motivo de comemoração, depois do ocorrido, não tinha mais clima para continuar com a festa. As duas não paravam de chorar, e, Dusan também, ao ver o estado do filho, que parecia ainda em transe, acabou por achar melhor levá-lo para casa.
— Nunca iria me perdoar se algo ainda pior tivesse acontecido.
Helena deu alguns passos e ao ficar a centímetros de distância, seus braços envolveram a minha cintura e o som da sua voz repercutiu dentro do ambiente.
— Calma, amor, você sempre foi o melhor pai do mundo, protetor e carinhoso.
Quando eu estava prestes a beijá-la, a porta do nosso quarto foi aberta e meus olhos caíram sobre o pequeno anjo e algo dentro de mim vibrou intensamente com as palavras que foram ditas por ela.
— Papai, eu quero que o senhor me treine para ser forte, não quero ter mais medo.
Durrês (Albânia) – Alguns anos depois...
CECÍLIA DEMISOVSKI
D
epois da sessão de ioga, me levanto do chão e caminho até a banheira que já estava cheia com água morna, pois a mesma ajuda a segurar a respiração, enquanto a fria, faz a pessoa perder rápido o fôlego. Entro dentro do objeto e deixo água tomar conta do meu corpo inteiro, submergindo por completo.
O silêncio debaixo d'água e em todo ambiente é predominante a minha volta, em minha mente, só há um único pensamento, já que precisava superar o tempo da semana passada. Quanto mais tempo conseguir ficar sem respirar, o meu pai disse que isso seria fundamental para minha sobrevivência.
Segundos e minutos, tudo acabou se transformando em uma eternidade, porém, a calmaria foi quebrada pelo som da voz de Ana, atrapalhando a minha concentração.
— Vamos viajar amanhã e você continua com esse treinamento ridícul...
Segurei o máximo que pude, enquanto ela continuava falando sem parar e quando os meus pulmões já não estavam mais aguentando, emergi das profundezas da banheira. Respirei profundamente, enquanto os olhos dela estavam cravados em mim, assim que recuperei um pouco de fôlego, levando o ar de volta para os meus pulmões, o som da minha voz ecoou dentro do cômodo.
— Você sabe que não gosto que atrapalhem a minha concentração.
— Daqui a dois dias será o seu casamento e você continua agindo como se fosse um garoto. Se fosse eu, teria passado o dia todo em um Spa.
Comecei a sentir uma revolta incontida, algo que cresceu e se transformou em raiva. Tudo isso já estava enchendo a minha paciência, pois, mais de quatorze anos se passaram e ao longo deles, eu ouvi por incontáveis vezes a mesma ladainha. Se fosse ela, iria ver aquele homem todos os anos. Ela jamais, pegaria em uma arma ou ia ter seu corpo suado diante do treinamento que o meu pai impôs, era muito melhor ir ao shopping e fazer um monte de compras e se ela tivesse nascido primeiro, teria sido a escolhida.
Aquilo que parecia uma birra de criança acostumada a ter tudo que queria, acabou se transformando em uma obsessão. Quando seus lábios se moveram, antes que algum som saísse pela sua boca, num pulo, me levantei e peguei a toalha, enrolando-a em volta do meu corpo e saí de dentro da banheira.
— Ainda que nós duas sejamos fisicamente iguais, temos personalidades muito diferentes, totalmente o oposto. Então, irmã, já chegou a hora de parar com essas comparações. Eu não sou você e mesmo que não seja da minha vontade, serei eu quem vai se casar com Ethan Borislav, e, depois que isso acontecer, não vou aceitar que você continue falando dele como se não fosse o meu marido.
Suas feições logo mudaram, seu rosto ganhou um tom avermelhado e sua respiração ficou pesada, indicando que não tinha gostado do que eu havia dito.
— Você sempre teve tudo.
— Nós duas sempre tivemos tudo, a única diferença é que eu por ser sua irmã, jamais desejei algo que fosse seu. Sempre fiz suas vontades, por ser a mais velha, porém, tem coisas na vida que não se pode dividir e sendo ruim ou bom, Ethan, se inclui nessa exceção.
Assim que eu terminei de falar, ela deu de ombros e começou a caminhar para fora do ambiente. Se não fosse um acordo onde o meu pai deu sua palavra, eu mesma já teria desistido e ela poderia ter o que tanto desejava, mas por outro lado, tudo isso é justamente porque é algo que ela não pode ter.
Deixando os pensamentos de lado, caminho na direção do box. Amanhã iremos para Belgrado, pois, lá acontecerá a cerimônia de um casamento que será uma gaiola na qual estarei presa pelo resto dos meus dias.
New York
ETHAN BORISLAV
Hoje, olho para trás e vejo o quanto o tempo se passou rápido, quase quinze anos para ser exato. Ora, o que são quinze anos? Embora seja pouco para muitos, pois, acreditam que não se pode escrever uma história em um período de tempo tão breve, na minha vida e de todos ao meu redor, muita coisa mudou. Todavia, nos dias, meses e anos que se passou, a família cresceu com a chegada de Luana e Alice, aquelas que fizeram com que o meu pai se tornasse ainda mais protetor. Ayla e Clara trilharam caminhos diferentes e se mostraram ter a inteligência dos Borislav.
Boris e karen ficaram ainda mais grudentos com a chegada da pequena Sophia, e, por pouco não matei aquele a quem tenho como um irmão ao descobrir o seu envolvimento com Ayla. Eu sempre fui desconfiado de que havia algo entre eles, mas depois de ter jogado tantas indiretas em forma de ameaças, achei que o medroso não fosse adiante. No entanto, ninguém melhor que ele para cuidar da minha irmã e depois da minha união com aquela fedelha, assim que terminar a residência médica que Ayla está fazendo, os dois irão se casar.
Falando na pirralha, durante todo esse tempo, eu só a vi quando ainda tinha 12 anos, desde então, passei a focar exclusivamente nos ensinamentos do meu pai e nos estudos. Sempre ouvia o mesmo discurso de como ela e a mini Barbie, estavam cada vez mais bonitas e, embora ela já tenha feito 18 anos desde o ano passado, tive que reconhecer que a insolente era muito mais inteligente do que eu pensei. Ela terminou a educação básica com apenas 15 anos e devido a isso, ficou decidido que o casamento só aconteceria, após os seus 19 anos, quando já tivesse concluído a faculdade.
Deixei os pensamentos de lado quando cheguei ao corredor 666, meses atrás, depois de se mudar de vez para Belgrado, o meu pai me entregou toda responsabilidade, não só do bordel, como de todos os assuntos em New York. Continuo andando enquanto observo algumas modificações que foram feitas e assim que chego ao meu destino, abro a porta e meus olhos passearam em volta do lugar que ficou conhecido por muitos durante o legado do temido Dusan, como: "A sala do desespero", mas, hoje, depois de toda reforma que fiz, terá um novo nome: "A fonte do meu prazer", o lugar onde aquela atrevida aprenderá que entre quatro paredes, a sua submissão e a sua dor, podem me proporcionar ainda mais prazer. Hoje deixarei esse lugar rumo a Belgrado e quando retornar em sua companhia, ela conhecerá a sua gaiola dourada.
— Ethan!
Saio do estado de devaneio que me encontrava quando a voz de Luccas ressoou a minha volta. Os anos passaram-se, mas algumas coisas nunca mudam, assim que ganhou minha total atenção, voltou a proferir algumas palavras.
— Todas já estão no salão.
No instante que assumir o controle do lugar, fiz totalmente o oposto do que o meu pai fazia quando vinha para New York, onde as prostitutas só saiam daqui mortas, no entanto, as mulheres que já estavam com idade avançadas, foram dispensadas, porém, antes todas foram avisadas que se algo fosse dito por elas do que aconteceu dentro desse lugar. Eu mesmo iria atrás de cada uma e nem que fosse ao inferno, as acharia, só para ter o prazer de mutilar o corpo delas até arrancar o coração com minhas próprias mãos.
Muito mais prazeroso que matá-las, foi ver o medo em seus olhos quando ouviram as minhas palavras, isso sim fez os meus demônios internos ficarem em êxtase. Afastei as lembranças e ao lado dele, segui para fora do ambiente, alguns minutos depois, já estava me aproximando das portas duplas que davam acesso ao hall.
De repente, todos os órgãos dentro da minha caixa torácica começaram a funcionar num ritmo alucinante. Minha mandíbula tremeu e por alguns segundos, meus olhos arderam como se estivesse em brasas e, quando o desconforto passou ao entrar no salão, meus olhos repousam sobre a mulher de beleza exuberante.