06
A CORUJA
Eu fiquei acompanhando de perto cada movimento em volta do porto. Porém, pelas câmeras instaladas, eu só tive acesso a uma visualização melhor quando eles se aproximaram dos contêineres, já o desgraçado e o resto dos abutres, seguiram para o lado direito, que dava acesso à rampa onde o navio iria atracar. Enquanto isso, uma segunda janela foi aberta na tela do meu notebook e a imagem de Irina apareceu no visor do aparelho, no entanto, a mulher que tinha uma expressão apreensiva assim como eu, logo mudou as suas feições quando um som estridente reverberou no espaço, rasgando o silêncio e toda uma movimentação tomou conta do ambiente assim que uma das quatro laterais de cada caixa de metal foi derrubada e nosso pessoal saiu para o combate, encurralando todos os ratos dentro da ratoeira. O barulho de tiros ecoava por todos os lados, as balas iam em direção aos alvos e os infelizes pareciam que haviam ingerido algum veneno, mostrando-se desorientados e entorpecidos. Contudo, meu corpo inteiro paralisou por alguns instantes, assim que uma explosão terrível se fez presente e as chamas começaram a envolver o lado direito, enquanto uma neblina de fumaça tomou conta do ar e os corpos dos miseráveis foram lançados, caindo direto na água, apressadamente meu dedo foi de encontro ao mouse tentando entender o que havia acontecido e era como se tudo tivesse em câmera lenta, pois todos no lugar ficaram assim como eu, perdidos, exceto pelo homem que se encontrava com o lança chamas na mão. E ao ver que a explosão foi provocada por um dos nossos homens, uma gargalha diabólica dada por Irina atingiu os meus tímpanos, a felicidade da mulher não passou despercebida, assim como um sorriso triunfante tomou conta do meu rosto.
— Façam uma péssima viagem, malditos. Que o caos seja o seu novo lar, desgraçados — digo satisfeito.
Todavia, um calafrio atravessou a minha espinha assim que novamente ouço outro som estrepitoso tirando todos do estado de paralização e o maldito que estava com o lança chamas, novamente foi o responsável pelo disparo, tirando todos do estado de paralisação.
— Chefe!
— Que porra está acontecendo? — perguntou Irina e foi exatamente no momento que os corpos dos nossos inimigos que estavam no chão e pareciam sem vidas, começaram a se mover.
— Senhor embosc... — sua voz falhou quando o causador do barulho puxou o capacete da cabeça e pude ter a visão do seu rosto — Maldito Alex.
O barulho de disparos de tiros fizeram meus batimentos ficaram descontrolados e a raiva tomou conta de mim e eles se sobressaiam aos meus gritos. Olhei para as Labaredas de fogo e o sangue começou a fervilhar em minhas veias, fazendo um ódio descomunal apoderar-se de todo o meu ser quando o diabo ressurgiu em meio às chamas.
— Não! Não! Não! — depois de tudo que fizemos esse desgraçado não pode escapar — gritou Irina, descontrolada.
— Matem esse maldito, porra — berro no microfone colocado em Michael e antes que ele viesse a dizer algo, o seu rosto empalideceu, seus olhos se arregalaram como se fosse saltar do rosto e pelas portas do inferno não passou somente Celikkol, como todos os conselheiros fortemente armados e do lado esquerdo, dezenas dos seus soldados saindo de dentro da água. Dali em diante só conseguia ver e ouvir os corpos caindo no chão e os gritos de desespero, meus homens tentaram reagir, mas estavam em desvantagem, pois ele tinha o triplo de soldados e todos estavam com sangue nos olhos. Como se fossem leões que estavam meses sem comer e estavam diante de um verdadeiro banquete, tiros e mais tiros se faziam presente, as balas percorriam um trajeto que dificilmente dava escapatória para os nossos soldados, minha raiva era tanta, que minha garganta se fechou e o ar me foi roubado, eu já sabia que o fracasso havia sido total, e quanto mais olhava para o maldito, mais eu sentia como se meus órgãos internos iriam parar de vez.
— EU ODEIO ESSE MALDITOOOO — completamente possuída, Irina começou a jogar tudo que estava em sua frente no chão. E, quando a calmaria reinou no campo de batalha e os infelizes da Cosa Nostra entraram em festa, meu olhar ficou cravado no homem que começou a caminhar rumo ao lugar que Michael estava, dava para ver que havia algo de errado, pois seus passos estavam lentos e arrastados, o que renovou as minhas esperanças.
"Nem que eu tenha que tocar fogo na Casa Branca e sacrificar todos os meus homens, eu irei exterminar aquele infeliz."
Esse foi meu pensamento enquanto olhava para o desgraçado que saiu triunfante mais uma vez, ciente de que havia perdido uma batalha, mas não a guerra. Esta só havia começado.
BARAN CELIKKOL
— Maldição!
Por mais que eu pudesse ser mais forte que a dor, o estrago em minha perna acabou sendo mais intenso do que eu imaginava. Mas, para vencer uma batalha, sacrifícios devem ser feitos, deixo os pensamentos de lado quando vou me aproximando de Michael e ao ficar centímetros de distância, sua voz se fez presente.
— Como esses desgra... — antes que ele viesse a terminar a frase, fechei minha mão direita em punho e reunindo toda minha força, o golpe foi desferido de encontro ao centro de sua barriga, fazendo o desgraçado soltar um rugido abafado de dor.
— Você achou mesmo seu traidor, que dessa vez sairia ileso? — movo novamente o braço, o segundo soco foi dado no seu queixo e o ruído que saiu da sua boca foi estrangulado. O filho da puta tossiu colocando para fora três dentes, enquanto o sangue começou a jorrar de sua boca e entre sussurros, o infeliz disse.
— Isso foi um engano, eu sempre fui leal aos interesses da nossa organização — suas palavras me deixaram ainda mais possuído e desta vez deixei o braço de lado e minha perna direita fez um movimento rápido e preciso para trás e assim que a movi para frente, o chute foi direto na cabeça do verme que acabou indo de encontro ao chão.
— Vou refrescar a sua memória antes que você faça companhia para os seus amigos. Confesso que todo esse tempo você fingiu muito bem, ao ponto de ser digno de um Oscar, porém, não se pode enganar o diabo por muito tempo e desde a morte de Massimo, eu fiquei atento a cada movimento a minha volta e, ao entrar naquela sala de reuniões, eu senti algo tão forte, que tudo que veio em minha frente foi uma escuridão sem fim. E segundos depois, em meio a todos os presentes, só conseguia ver o rosto de duas pessoas e uma delas era você. Embora eu saiba que Estêvão, na escolha do sucessor de Al Capone, não me tinha como preferência e sempre bateu de frente em querer me confrontar, entretanto, eu o mantive vivo porque tinha plena certeza que de todos os conselheiros, ele seria o primeiro a desejar morrer ao ter que trair a Cosa Nostra, sendo assim, era você a erva daninha e só bastou passar algumas informações que eu sabia que o traidor faria chegar até os nossos inimigos. E só bastou passar a informação aos demais e deixar um passe livre para que seus aliados viessem a acreditar que estavam no comando da situação, além de contar com um submarino que estaria transportando nosso pessoal, eu acompanhei cada movimento que aconteceu no porto desde a troca dos funcionários, até os que se esconderam dentro das caixas. Contudo, seu rato de esgoto, você vai me dizer quem é a coruja e quem sabe eu permita que você faça uma viagem rápida para um lugar que vai ser a prisão da sua alma podre para sempre.
— Vai à merda seu maldito.
A raiva explodiu dentro de mim e minha fúria tornou-se incontrolável. O infeliz que estava ainda no chão, parou longe assim que um chute pesado e duro atingiu suas costelas e os ruídos de dor deram lugar aos sussurros.
— Eu sempre tive ódio de você e a minha alma pode queimar nas chamas do purgatório, mas saber que em breve iremos nos encontrar, eu já não me importo.
Assim que avanço até ele, o maldito levou uma das mãos até o ouvido e vocifera.
— Nos encontramos junto ao fogo ardente.
Antes que fizesse alguma coisa, um estrondo terrível se fez presente. E, no mesmo instante meu corpo foi arremessado de encontro ao chão. Há muito tempo não sabia o que era sentir dor, mas uma terrível atravessou todo o meu corpo devido ao forte impacto com o concreto. A minha cabeça pesou e minha vista escureceu, eu já podia sentir as labaredas do inferno me consumindo antes dos meus olhos se fecharem.
LISA EVANS
Baran! Não! Não! Nãooooo...
Acordei agoniada, com os pulmões funcionando aos espasmos, meus olhos se abriram de imediato, meu coração estava agitado, causando-me uma forte inquietação. Desvio o olhar, para o lado e ele ainda não havia voltado. O medo tomou conta de mim e me fez prender minha respiração. Senti o acelerar dos batimentos do meu coração, assumindo um ritmo frenético assim que as lembranças do maldito pesadelo começaram a tomar posse da minha mente. Lembro-me que todo o corpo dele estava banhado em sangue, seu rosto completamente deformado, e suas órbitas sombrias se mantinham abertas, porém, sem vida. Respiro fundo levando o ar para dentro de mim, mas o nó em minha garganta estava me sufocando, aquela sensação ruim começou a queimar-me por dentro, minha boca ficou seca, então resolvi me levantar. Com passos largos me movi até a porta e instantes depois, já estava no imenso corredor, que se encontrava na penumbra, dei mais algumas passadas e parei próximo da porta da cozinha, porém, o silêncio que antes pairou no ambiente, foi quebrado quando ouvi sussurros vindos de dentro do cômodo.
— O que aconteceu Alex?
Ela ficou concentrada na voz do outro lado da linha e segundos depois voltou a se manifestar e os meus sentidos ficaram direcionados para aquela informação, fazendo a minha garganta se fechar, e, o pânico apoderou-se de todo o meu ser.
— A explosão atingiu o Baran?
Senti um calafrio diante aquelas palavras. Um sentimento totalmente desconhecido por mim dominou-me e uma dor dilacerante penetrou meu peito, a sensação era como se uma lâmina afiada tivesse atingindo o meu coração.
ALEX
Assim que vi a expressão de Baran quando adentramos a sala de reunião, fiquei totalmente em alerta, pois eu conhecia aquele olhar obscuro e sabia que algo havia acontecido. Quando retornamos, para não levantar suspeitas, um encontro foi marcado na mansão Celikkol. Com a presença de Natasha, Dimitri e Albert. Ele nos repassou o que tinha por trás da sua mente brilhante e diabólica, o combinado era que o meu irmão viesse para linha de frente, enquanto o gênio do Albert ficaria encarregado do monitoramento via satélite do porto, enquanto eu e a minha mulher estaríamos prontos para proteger Lisa, Mel e Fernanda.
Todavia, sendo melhor que Dimitri em manobrar uma arma de alta potência, uma troca foi feita e ele assumiu o controle dos soldados que estavam no submarino. Natasha cuidaria de tudo sozinha já que era melhor que qualquer homem que estava fazendo a segurança da Casa Branca e para chegar até as três, o inimigo teria que antes passar pelo anjo da morte que estava disposta a tudo para não fracassar em sua missão.
Com o plano minuciosamente articulado e com o restante dos conselheiros querendo encurralar o Judas, eu tinha uma missão e sabia que seria algo em que um deslize colocaria a vida de todos em risco, principalmente daquele a quem jurei proteger. Infiltrar-me entre os homens que estavam vestidos como funcionários normais do porto, foi a parte mais fácil, porém, o plano consistia em esperar o momento exato em que os roedores sentissem o cheiro do queijo e saíssem do esconderijo. Feito isso, enquanto eles, que supostamente estavam em maior número, partissem para o ataque, atingindo o nosso pessoal que estavam equipados com coletes a prova de balas, eu causaria uma explosão que para todos seria o fim dos monstros da Cosa Nostra, mas seria somente para tirar a concentração dos idiotas e assim eles iriam presenciar o que realmente era um ataque surpresa.
Tudo saiu como planejamos, embora o chefe tenha sido atingindo antes de cair dentro da água, mas nem o rei do caos era capaz de deter o homem que estavam com os olhos faiscando de ódio e ver tanta determinação era o combustível para os soldados da nossa organização partir com tudo para o confronto, só não esperávamos que o insidioso do Michael quisesse ter companhia em sua viagem para o inferno e o desgraçado não hesitou em acabar com sua própria vida, causando uma explosão terrível que estraçalhou o seu corpo inteiro.
Entretanto, o pânico e o desespero tomaram conta do espaço quando o corpo de Baran foi arremessado à distância. Todos correram em direção ao corpo que estava paralisado sobre o chão, e com cuidado o removeram do lugar, trazendo para perto de um dos veículos e foi quando Natasha me ligou. Achando que algo pudesse ter acontecido na mansão, atendi e ela acabou escutando quando Estevão falou que Baran estava ferido e desacordado, depois de contar o que havia acontecido e ciente que todos os Capos e o Don estavam vestidos em trajes antibomba que foram feitos com uma camada interna de tecido balístico e uma camada externa de tecido resistente a fogo, eu tive a certeza que ele estava inconsciente pelo impacto com o concreto, o que foi tão forte que acabou causando um corte em sua cabeça e era o motivo do sangue está descendo pelo seu rosto, já que a perna, esta foi machucada momentos atrás, pois para que todos acreditassem por alguns minutos que ele estava morto, o chefe deveria ser o meu alvo principal e o que acabou sendo mais afetado pelo estouro.
Deixo os devaneios de lado quando ouço a voz de Estevão.
— Ele acordou.
— Podem ficar sossegados que do paraíso fui expulso ainda criança e o inferno tenho certeza de que Lucífer sabe que se eu chegar lá, acabará o seu reinado e o caos estará feito.
As diversas galhadas tomaram conta do espaço. A única coisa que eu tinha certeza nessa vida é que até a morte já havia desistido de levá-lo para as profundezas da escuridão. Baran Celikkol, ainda tinha um longo legado pela frente e sendo tão poderoso, ele iria se mantiver implacável, pois o preço poderia ser cobrado de todas as formas possíveis.
IRINA PETROV
Porra! Droga! Maldição!
Toda vez que lembro que por causa daquele desgraçado, o único homem que amei na vida já não está ao meu lado, sinto uma raiva imensa e avassaladora. Sendo capaz de fazer os meus pulmões arderem e meu coração funcionar num ritmo fora do normal, provocando algo que está me corroendo por dentro, semelhante a um maldito câncer. Eu estava ansiosa pela chegada do grande momento, embora Kira parecesse ainda mais focada no seu treinamento, pois segundo ela, o confronto final ainda estava longe de acontecer. Ignorei suas palavras, pois tudo foi bem planejado e a menos que o maldito tivesse pacto com capeta ou não fosse alguém desde mundo, seria a única forma de sair ileso do campo de batalha.
Quando ocorreu aquele estrondo, eu senti um prazer imensurável apodera-se de cada fibra do meu corpo e ao olhar para o quadro que tinha a foto de Serguei, em meio à saudade, o meu coração parecia explodir dentro do peito de tanta felicidade ao saber que todos os responsáveis pela sua morte tinham sido envolvidos pelo sono do esquecimento e o fogo eterno iria transformar os seus corpos em cinzas, enquanto suas malditas almas jamais sairiam do purgatório. No entanto, a fúria iluminou os meus olhos, o sangue do meu corpo gelou, para depois esquentar num nível tão alto, que minha pulsação era frenética, minha mandíbula chegou a travar e em seguida começou a doer, tamanha foi a cólera que me atingiu.
Possuída e indignada ao ver o próprio diabo próximo ao fogo que deveria tê-lo consumido, mas parece que não surtia efeito contra o facínora, eu acabei me descontrolando e num impulso comecei a quebrar tudo que via pela minha frente. Segundos que se transformaram em minutos de enfurecimento e quando ouvi os gritos do The Owl, meu olhar ficou cravado na imagem do corpo do homem esparramado no chão. Michael sabia que com Celikkol o seu destino seria a morte e por esse motivo já estava preparado e disposto a ceifar a sua própria vida e assim causar o maior estrago possível atingindo quem estivesse próximo a ele.
Momentos de êxtase me atingiram, mas que duraram apenas alguns minutos, pois novamente o infeliz voltou das profundezas do érebo, como se o próprio inferno o rejeitasse.
Minha respiração ficou pesada, meu coração errou algumas batidas. Eu estava sufocando e tudo começou a se transformar em borrões coloridos, mas tive que me controlar para não ser envolvida pelo estado de inlucidez, pois, ele pode ter ganhado a batalha, mas a guerra está longe de acabar. Agora tudo vai depender daquela que não importa os obstáculos, seguirá adiante, pois o sentimento que a mantem viva é a vingança e a minha pequena pode ser pior que uma cobra traiçoeira, pronta para dar o bote.