Capítulo 8
Sem carro, minha opção era pegar o dele, dirigi o mais rápido que pude, não conseguia conter as lágrimas. E chorei ainda mais quando percebi que talvez nossa amizade mudasse para sempre.
Ele morava a poucas quadras da minha casa, tinha as chaves e acesso livre à segurança, Ben tinha tudo para ser um ótimo namorado, mas eu perderia um amigo.
O carro dele era preto, muito elegante, eu também não sabia dirigir, quer dizer, sabia muito pouco.
Fiz o possível para estacionar aquela coisa enorme na entrada da minha garagem. Acionei o alarme e caminhei pela entrada da garagem até a porta dos fundos. Algo estava errado, olhei em volta mais uma vez.
Ele estava encostado no capô do meu carro, segurando uma lata contra a boca.
- Jesus. - Eu tive um ataque cardíaco. - Você não sabe bater na porta?
- Eu a engravidei. Mas você não estava lá, então eu não tinha nada para fazer, então decidi esperar por você aqui. Na verdade, você deveria estar em casa, não acha?
-Não. - Ela deu seu famoso sorriso. - O que você quer?
- Precisamos conversar, filha. - Nicolas passou por mim e abriu a porta da minha cozinha. - Mulheres primeiro...
oito anos...
- O que você quer dizer com isso? - O sorriso em seu rosto desapareceu. - Como você pôde deixar isso acontecer?
- Ah, me desculpe, não lhe contei que a cegonha veio me visitar, ele errou de casa, mas como não pôde voltar, me deixou o pacotinho.
- Não é hora de brincar, Manuela. - Eu sentia David cada vez mais distante de mim.
- Hoje eu fiz o teste e deu positivo, o que vamos fazer, David? - A frieza deu lugar ao puro constrangimento.
- Eu não posso... - Ele se afastou. - Eu... eu pensei que você estava tomando remédio.
- Você me disse que não se engravida na primeira vez, lembra? Eu tenho quinze anos, David, não tenho idade suficiente para tomar essas coisas. - Ele tremia copiosamente, enquanto eu me recusava a derramar outra lágrima.
- Eu... eu não posso. Tenho um futuro pela frente, minha mãe poderá me pagar a faculdade, eu... - Eu estava em pânico. - Acho que é melhor terminarmos.
- Terminar o quê? Você tem alguma ideia do que está acontecendo? Você fez um filho em mim! - A água havia me encharcado até a alma. - Este não é mais um simples namoro!
- Não posso perder meu tempo com isso, - ele apontou para minha barriga. -Minha mãe ficaria louca.
David não era como eu, coitado. Ele tinha uma bela casa, um quarto maior do que o meu quarto e o quintal juntos, videogames de todos os tipos, uma piscina só para ele e a promessa de ser médico como sua mãe.
Eu o conheci quando estávamos na escola primária, ele era do tipo rebelde, filho de uma mãe solteira, que engravidou de um médico velho e casado, e seu pai lhe dava tudo, menos amor e atenção.
- A mãe dele? Você está morrendo de medo, com o rabo entre as pernas. Eu cresci, David! Temos a mesma idade. Como será meu futuro? Você tem dinheiro, seu velho pai casado sempre o sustentará, e eu? Não tenho mãe, não tenho casa, não tenho dinheiro. Tudo o que tenho são minhas coisas e meu pai, e agora essa criança.
- Se você quer dinheiro, tudo bem, você terá uma renda mensal, o dinheiro pode sustentar você, seu pai e a criança, mas não me peça para ser pai. Eu não quero.
- O dinheiro pode atingir seu traseiro branco e rico, e você não precisa se preocupar, ninguém saberá que você está tendo um bebê. Agora ouça com atenção minhas palavras. - Cerrei os dentes e olhei para ele. - Haverá um dia em que você desejará ter o poder de voltar no tempo e mudar seu passado, você verá seu filho, mas ele não o reconhecerá. Você não sabe o que é crescer sem um pai. Ou sem uma mãe.
- Isso é tudo? - Ele riu.
- Não. Eu me esqueci de desejar que ele seja treinado como médico. - Seus olhos brilharam. - Que ele tenha tudo ou, mais precisamente, menos felicidade.
As lágrimas não estavam mais caindo, nem as minhas, suas lágrimas começaram a escorrer mesmo com o rosto molhado, seus olhos se encheram de lágrimas e transbordaram até se encherem novamente.
Lembrei-me de um filme que vi com meu pai, desejei ter o poder de fazê-lo pegar fogo ali mesmo.
E novamente caminhei para casa, mas dessa vez foi na chuva e à noite, minha casa ficava nos fundos de uma microempresa em uma rua deserta cheia de outras empresas, os únicos que dormiam lá éramos meu pai e eu. Às vezes, eu tinha medo de que alguém me denunciasse, mas não hoje.
Vi minha casa e corri para o pequeno portão, atravessando-o a tempo de ouvir meu pai parar o carro. Ele deve ter visto David e, se usasse seu olhar intimidador, saberia o que estava acontecendo.
-Manuela! - Ele caminhou com um passo firme. - Manuela, venha aqui agora! Manuela?
Tentei me esconder, mas onde? Eu morava em um quarto. Saí do meu canto e fiquei na frente dele.
- Sim, pai.
- Você sabe que horas são? -
- Ele olhou para o relógio. - Já é meia-noite, eu o segui até a porta daquela área, cheia de adolescentes fedendo a cerveja barata. No caminho, conheci o cara com quem você está saindo, e adivinhe?
-Ele contou a você. - Apertei meu vestido molhado.
- Sim, Manuela, ele me contou, o rapaz era como uma barata tonta. Ele me contou tudo, só precisava dos meus olhos e pronto. - Pela primeira vez em minha vida, vi meu pai ficar muito bravo. - E agora? - ele gritou comigo. - Você sabe o que é criar um filho sem a ajuda de um homem?
- Eu cresci sem minha mãe e isso não significa que ela tenha morrido! Sei que estou sozinho nisso.
- O que você vai fazer para vestir essa criança? Por que eu vesti você até hoje! E não me venha com essa desculpa de ter sido criado sem sua mãe. Ela o deixou quando você era pequeno. - Eu estava tremendo.
- Eu parei de estudar, arrumei um emprego em qualquer supermercado, eu... eu... - Eu não conseguia dizer mais nada, eu estava certa, eu era uma criança gerando outra.
- Ah, não, não é a mesma coisa. Não é a mesma coisa, se aquele merdinha quer ser alguma coisa, você vai ser alguma coisa também!
Meu pai pegou as chaves do carro e agarrou meu braço.
- Se ela quiser ter um futuro, ela terá. Mas sua mãe vai descobrir sobre esse garoto.
Durante todo esse tempo, meu pai me repreendia por ter sido tão estúpido ao acreditar na palavra de uma criança e por saber como é criar uma criança sem dinheiro. Eu não tinha certeza do que aconteceria quando visse meu pai dirigindo como um louco. E não parou por aí, ele saiu do carro gritando, a rua inteira ficou em silêncio, ou seguiu até pararmos na casa chique.
- David! - Ele bateu na porta e gritou como um louco.
Havia gritos dentro da casa, alguém estava correndo. Mais gritos, até que a porta se abriu. Sua mãe estava de camisola, David atrás dela parecia um cachorro amuado, seu rosto estava vermelho, como se tivesse sido espancado. Rita, no entanto, estava ainda mais calma.
- Boa noite. - Ela estava serena, calma.
- Só se for para você. - respondeu meu pai. - Eu vim lhe contar o que seu filho fez?
- Já ouvi falar do que nossos filhos fizeram, Sr. Eduardo, e sei que ele já teve o que merecia. - Ele estendeu o braço. - Por favor, vamos entrar.
Por alguns minutos, tentei identificar onde ficava a porta da frente da enorme casa cor de pêssego. Ele nos conduziu pelo jardim e parou na entrada. Um homem alto abriu a porta e nos deixou entrar.
Davi me ignorou o tempo todo, mesmo quando estávamos sentados um ao lado do outro.
- Vou ser muito franco com você. - Ela olhou para nós. - Vocês dois ainda são inocentes, mas já têm essa responsabilidade. Minha decisão é que vocês venham morar aqui. Pelo menos até que tenham idade suficiente para fazer algo a respeito....