Capítulo 2
O vento frio me atingiu e pensei, pensei em voltar correndo e deitar na cama, esperando que o sol frio de Londres saísse e esquentasse um pouco as ruas.
Comecei a caminhar, liguei meu celular, aumentei o volume e desci a rua.
Sempre que podia, eu corria até o parque do condomínio e ficava sentado por um tempo, mas não hoje. Não havia corrido nem três minutos quando percebi algo se movendo em minha direção.
Pensei ter visto um bebê dinossauro correndo em minha direção. Fechei os olhos e os abri novamente, poderia ter sido a adrenalina me fazendo ver um animal daquele tamanho e, espumando pela boca, o animal correu em minha direção e colidiu comigo, tanto que pensei que ele tinha morrido e voltado à vida em segundos. Fiquei deitado de costas até ouvir passos correndo em minha direção.
- Menina. - Continuei onde estava. - Senhorita? Desculpe-me, a senhorita está bem?
- Senhorita? - Tirei meu rosto do chão frio e úmido.
- Desculpe, sou nova aqui. Ele me soltou e eu achei que ele não estaria tão bravo e...
- Eu entendo, eu entendo, mas você não precisa dizer mais nada. - Lavei minhas mãos e me levantei lentamente, cada canto do meu corpo doía. - Eu só acho que aquela coisa deveria ser amarrada com correntes.
- Aquele se chama Harry, - não me importei em olhar para ele, especialmente porque meus cotovelos pareciam um ralador. - Ele não fez isso porque quis!
- Ainda bem, senão você estaria recolhendo meus restos mortais agora em vez de me incomodar com a ideia do seu mini dinossauro. - Finalmente, terminando a parte mais importante, decidi olhar para o estranho.
O estranho tinha uma aparência que eu não sei, não podia comparar com a dele, cabelos pretos, naturais, sem coloração e olhos azuis, ao redor dos olhos os cílios eram tão grossos que parecia que ele estava aplicando lápis preto. Fiquei muito pouco impressionada com o sorriso, sim, como o do pegador, sabe, aqueles caras que sorriem e fecham um pouco os olhos, enquanto a boca expressa um sorriso torto.
Tentei não ficar impressionado, mas porra, o cara era perfeito, ou quase, se ele não começasse a rir de mim, rindo e colocando a mão na barriga.
-- O que aconteceu? Você acha engraçado o que seu animal de estimação fez? Eu poderia ter chamado a polícia, sabe, e ter lhe dado um grande processo. - Confesso que estava soluçando pelo nariz. Ele continuou a rir ainda mais. - Continue rindo, mas não se surpreenda quando seu monstro não voltar para casa.
Eu não conseguia parar de rir. Eu poderia até rir também, se não fosse pelo fato de estar todo arranhado e esmagado por dentro, com o cabelo cheio de folhas e a tela do meu celular novinho em folha rachada.
Fui mancando até minha amada casa e bati na porta. Não precisei me olhar no espelho para saber por que estava rindo tanto. Eu havia perdido meus chinelos do pé esquerdo, minha calça estava rasgada e dava para ver que minha cueca era rosa e meu rabo de cavalo também estava torto.
- Que pena. - Tirei os outros chinelos e fui direto para o banheiro.
*******
-Bom dia.
- Só se for para você. - Peguei uma xícara de café e coloquei-a na boca.
- Nossa, por que você está tão amargo? Você caiu da cama hoje?
- Muito obrigado a você, Benjamin. - Juntei minhas coisas e peguei as chaves do carro.
Ok, dirigir por meia hora com o pé inchado foi horrível, houve momentos em que chorei de raiva, mas cheguei bem. Benjamim, como um bom amigo, estacionou o carro para mim; na verdade, ele fazia isso desde os tempos de universidade. Somos amigos há sete anos, nunca pensamos em sair, acho que somos do tipo amigo fraterno, ninguém nos entende, nem mesmo meu pai. Ele é bonito, no estilo londrino, alto, loiro e de olhos verdes, com bochechas rosadas e um pouco forte. Já houve um beijo entre nós antes, mas foi estranho, desde então nunca mais tentamos.
- Vamos para o meu carro. - Ele deu um passo à frente e abriu a porta para que eu passasse. - Deus me livre de entrar em um carro com você dirigindo. Além disso, quero saber por que você está tão irritado hoje.
Ainda bem que o elevador ficava bem em frente ao meu escritório, não precisei me esconder muito para que ninguém me visse mancando. Como de costume, nos esprememos no estacionamento e depois percorremos todo o caminho em silêncio. Eu realmente não gostava do estacionamento subterrâneo, tinha a impressão de que estava sendo observado e que a qualquer momento algo poderia saltar sobre mim.
A porta de seu carro estava aberta, para emergências, disse ele. Pulei no banco e me afundei o máximo que pude.
- Vamos com essa senhora estressada. - Benjamin apertou minha bochecha. - Assim que o carro passar pelo segurança, você me conta suas novidades e eu conto as minhas.
-Fechado. - Dei um tapa em sua mão.
O carro nem passou pelo portão com o segurança e eu dei meia volta e abri o jogo, contei tudo para ele até chegar dentro de casa, e para minha surpresa ele riu também, não tanto quanto o idiota, mas eu ri muito. Quando acabou, notei que Benjamim estava um pouco tenso, só quando chegou à quadra é que resolveu se abrir.
- Tenho um compromisso hoje. - Ele desligou o carro e olhou para mim.
-Isso é bom, Ben, de verdade. - Eu o peguei pelo ombro. - Mas por que você está inseguro?
- Não fui eu quem discou. Foi ela.
- Quem é ela?
- Melissa, ela... ela, ela me encurralou, eu sei que sofri um pouco com ela. - Eu estava perturbado.
- Um pouco? Ela fez você passar por muita coisa. Aquela garota namora todo mundo, você não merece isso, Ben, de jeito nenhum. - Juntei minhas coisas e abri o carro, mas ele me impediu.
- E se eu não for?
- Ela vai espalhar isso para todo mundo.
- Mas eu não posso, não sinto nada por ela. - Ele me abraçou com mais força.
- Então você gosta de alguém?
- Sim, eu gosto.
- Então diga a ela, diga que você gosta de outra pessoa e pronto. - Eu deixei para lá.
- Não tenho certeza dos meus sentimentos", tremi um pouco. - Deixe para lá, o julgamento já deve ter começado, e você tem razão, vou contar tudo a ele, tudo.
Ainda bem que acabou por aí, ele poderia muito bem dizer coisas que mais tarde acabariam com nossa amizade.
Ele era alto, com cerca de 1,80 m, eu me afastei, mas Ben segurou a porta e entramos juntos.
- Puxa vida. - Senti minhas pernas enrijecerem.
- Você está no tribunal, sabe, pode ser preso por dizer algo assim. - Ben falou em meu ouvido.
- Ben? Lembra o que eu disse? - Ele me empurrou para o banco mais próximo.
- Sim. O garoto - ele parou. - Não, não me diga que é ele.
- Mmmm - confirmei.
Bastou um pequeno movimento de minha parte para afirmar a história e o homem se virou para mim. Seus olhos se arregalaram por um momento e, a essa distância, vi uma risada se formar no canto de sua boca.
- Ouvi dizer que ele foi transferido para cá por causa de um julgamento na próxima semana. Dizem que ele é irlandês e que é o juiz mais jovem que já tivemos. Acho que seu nome é Nicolas Olivar. Também disseram na empresa que ele é muito rude pessoalmente, extremamente sarcástico. Tem certeza de que é ele?
- Absoluta. - Ele olhou para mim mais uma vez.