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♱ Capítulo • 6 ♱

♱ •⋅ 1750 A.C ⋅• ♱

Ele ainda estava lá quando eu acordei, e ainda estava lá na noite seguinte e seguinte.

Ele sempre estava lá quando meus olhos se abriam, seus dedos tocavam minha pele com um cuidado quase teatral. Era diferente da história, era quase o completo oposto e eu conseguia me lembrar perfeitamente das palavras de Asra.

"Ele não veio me ver naquela noite e na seguinte, também não apareceu. Depois de Azrael vir até meu quarto e levar Calisto com ele, eu não vi o rei por muitos, muitos dias. Ao menos até caminhar pelo jardim e me deparar em uma noite de lua carmim com ele e uma linda moça, conversando em frente a fonte de sangue.

Ele estava sorrindo".

Aquele foi o momento em que Asra soube que havia perdido Calisto. Que nada o faria voltar para seus braços, porque Elaine podia dar a ele algo que ela não podia: um amor além de toque físico. Um amor como o de sua primeira esposa.

Puro, amigável e que o impulsionava a ser alguém melhor.

Mas Asra jamais conseguiria algo assim, afinal ela era a amante do rei, do imperador de todo o submundo. Nada mais que isso, nada mais que alguém que ele procurava durante as noites onde se sentia solitário.

Calisto tinha lhe dito: ele nunca a amaria, porque a única que foi capaz de amar, foi a mãe de seu filho e ele pretendia que assim fosse por toda a sua existência.

Bom, deve realmente ter sido doloroso quando ela o viu dando o amor que tanto negou para Elaine. Ainda assim, eu não consegui odiar Calisto, porque entendia que o amor que sentiu por sua esposa, também foi o que causou sua morte e amaldiçoou o seu filho. Calisto não queria amar, mas ainda assim não podia evitar de amar a Elaine. A amou tanto que morreu por ela.

Grunhi sentindo meu corpo dolorido, uma dor fraca e particularmente gostosa.

Calisto não tinha ido até Asra após aquele dia porquê estava com Elaine, porquê tinha ficado ao lado dela enquanto decidia se deveria ou não tortura-lá para conseguir informações, mas em meio a isso, Elaine conheceu o filho dele e a criança que era adorável e débil graças a maldição antiga, tomou o coração de Elaine, abrindo as portas do castelo para que a santa, a filha do Deus que desejava a morte de Calisto, entrasse e tomasse para si o único ser com quem Asra havia se importado. Mas dessa vez não foi assim, dessa vez ele estava lá. Ele veio a mim e sua voz rouca murmurava em meus ouvidos todos os dias o quanto ele tinha ficado preocupado.

Não pude evitar de me perguntar o quanto Asra não teria gostado de ouvir aquelas palavras.

"Eu me importo com você".

Senti os lábios de Calisto deslizando por minhas costas e o ar gélido do inferno me fazia desejar os cobertores fofinhos que estavam espalhados por minha cama, mas sabia que se dependesse do demônio que agora beijava delicadamente meu pescoço - isso não iria acontecer.

— Bom dia... — murmurei afundando o rosto no travesseiro que estava impregnado com o cheiro dele.

Não era um sonho.

Nada daquilo era um sonho e eu não era a Asra.

— Bom dia — ele respondeu beijando atrás da minha orelha e em seguida meu maxilar — eu vou precisar sair... hoje... — disse pausadamente entre um beijo e outro — Azrael não me deixa em paz, aquele maldito caído...

Era algo do qual eu me lembrava. Calisto estava sempre tentando escapar de suas responsabilidades e Azrael - meu pobre caidinho -, estava sempre o arrastando para cumprir os seus deveres como senhor absoluto do submundo.

— É o seu trabalho... — murmurei e senti os dedos de Calisto apertarem-se contra o meu quadril.

Mesmo sem me virar, pude sentir os olhos dele fixos em mim.

— Por que está do lado dele, agora? — Ele perguntou e se não soubesse que aquele em minha cama era o rei de todo o inferno, eu me perguntava se tinha bebido o suficiente para dormir com um garotinho do ensino médio.

— Ele está certo... — falei praticamente no automático e logo que as palavras saíram eu soube que não tinha sido a coisa certa a se responder, porque Calisto agora tinha se levantado da cama.

Seu rosto nem mesmo estava tentando conter a expressão que me parecia ser uma mistura de irritação e ciúmes.

— O que está fazendo? — Perguntei mesmo que soubesse a resposta e vi Calisto virar em minha direção com uma expressão de pura indignação.

— Eu estou indo embora!

Mordi a parte interna da boca para conter a risada. Não podia deixá-lo mais irritado, mas aquilo era literalmente a coisa mais fofa que já havia presenciado. Para uma leitora como eu, era como ganhar na loteria, porque agora eu sabia de onde tinha vindo aquele lado mimado e fofo do pequeno príncipe.

— Por que está indo embora? Ainda está cedo... — falei estendendo a mão em sua direção e vi uma leve dúvida brilhar em seus olhos.

— Porque eu estou me esforçando pra vir aqui e você... — ele virou o rosto — você fala como se não fizesse diferença! Como se eu tivesse que trabalhar mesmo que isso me tirasse todo o tempo que posso passar contigo... — resmungou terminando de abotoar a camisa.

Isso era mais atraente do que eu me lembrava de ter achado, será que tudo isso era culpa dele ser tão gostoso? Isso definitivamente deveria ser um crime.

— Darling... — o chamei, minha voz parecia tão doce quanto a de uma amante que implora por mais atenção — não seja assim...

Ele bufou.

— Você disse que Azrael tem razão!

Mordi o lábio.

O que estava acontecendo com aquele homem? Asra sempre dizia que Calisto não lhe dava atenção o suficiente, que passava horas trancado em seu escritório e que sempre quebrava suas promessas. Então por que? Por que agora eu estava tendo que convencer Calisto, o grande rei negro a voltar ao trabalho no lugar de envolver-se em meus braços e aquecer minha cama? Isso parecia tudo, menos certo.

— Azrael está certo — falei dando de ombros — no fim, você é um governante e deveria arcar com suas responsabilidades.

Ele me olhou, obviamente incrédulo.

— Mas... antes... — ele baixou o olhar — você sempre dizia que eu não tinha tempo e não...

Ah...

Ele estava tentando... compensar? Isso era por conta do ocorrido com Elaine? Essa foi minha principal mudança... então certamente deveria ser.

Meu peito pesou.

Talvez... Calisto ainda se apaixonasse por Elaine, talvez ele ainda se envolvesse no romance que deveria entrar quando estivesse ao lado de Elaine. Porque provavelmente tudo que tinha acontecido entre nós, era apenas graças ao fato de que eu havia intervido.

Fechei minhas mãos em punhos.

Calisto não vai se apaixonar por Elaine. Eu não irei deixar.

Nem que para isso, eu tenha que mudar todo o roteiro da maldita história. Nem que para isso eu - Asra -, tenha que morrer como a cruel vilão.

Sorri.

— Eu disse para trabalhar — falei enquanto me levantava da cama, meu corpo esguio e delicado sendo banhado pelas sombras que saiam do sol negro, envolvido como se as sombras e eu fossemos um só — mas nunca disse para ir sozinho.

Eu parei em frente a ele e quando os olhos de Calisto fixaram-se em mim, deslizei minhas mãos por seu peito e enlacei seu quadri.

— Eu irei com você.

⋅• ♱ Continua... ♱ •⋅

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