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♱ Capítulo • 2 ♱

♱ •⋅ 1750 A.C ⋅• ♱

Eu precisava de tempo, precisava de certeza e por mais que fosse apenas um sonho extremamente vívido, precisava ter certeza de que não alteraria as coisas demais ou tudo sairia do controle.

Pisquei algumas vezes em frente ao espelho, ainda era surpreendente o quão atraente Asra era; eu a havia invejado quando li o livro a primeira vez, mas agora, vendo seu rosto delicado, seus lábios naturalmente rosados e a forma como ela parecia ter sido cuidadosamente desenhada... tudo isso me fazia inveja-la ainda mais.

Asra podia ter tido qualquer homem, demônio ou anjo, ela apenas precisava querer e ainda assim preferiu a morte a perder algo que nunca teve. O amor de Calisto.

Suspirei e as empregadas que entraram no quarto as pressas, me vestiram sem demora.

Era óbvio que estava assustadas, afinal Asra nunca foi conhecida por sua bondade e caridade, muito menos por sua paciência e gentileza.

— P-perdão senhora — uma delas gaguejou enquanto tentava arrumar a barra do meu vestido após ter pisado sem que eu notasse.

Suspirei outra vez.

— Não se preocupe — falei simplesmente — apenas me deixe o mais bonita possível e nao exagere — era tudo que podia pedir, porque quando Calisto chegasse a catedral, ele veria Elaine e ela estaria a própria visão da beleza angelical.

Os cabelos loiros caindo por seus ombros, os olhos amendoados, azuis como o céu claro. Sua pele branca e imaculada, assim como suas vestes que por mais simples que fossem, acentuavam sua beleza.

Elaine era a mais bela fosse no céu ou no inferno. Não havia competição, mas ao menos tentaria manter a atenção de Calisto em mim.

— O senhor já está a carruagem, senhora — uma delas murmurou como se tivesse medo de ser repreendida e olhando para o lado no espelho, me deparei com uma das jovens tentando prender meus cabelos.

— Os deixe solto — falei sem rodeios e levantei da cadeira — não posso deixar o rei esperando.

A opinião daquelas pessoas não me importava, não quando Calisto me esperava lá embaixo, não quando eu podia mudar algo e não quando estava deslumbrante em meus trajes de passeio.

A calça justa acentuando meus quadris e coxas, o corset delineando minha cintura e as mangas delicadas da camisa preta deixando em ênfase a beleza da minha pele absurdamente pálida.

— Ela irá demorar horas! Vamos de uma vez, você sempre pode se desculpa depois — Azrael dizia na porta da carruagem — senhor, isso é realmente urgente... Pode causar tumultos e sabe que a senhorita...

Eu não queria terminar de ouvir, porque sabia que ele diria algo estúpido de novo, então me apressei em pigarrear o mais alto que pude, cortando a fala de Azrael pela frente.

— Me desculpe por fazê-lo esperar — eu disse impedindo Azrael de continuar a tentar me atrapalhar.

Calisto por sua vez me olhava com surpresa e algo que me pareceu satisfação.

— Venha — ele me estendeu a mão e pude ver brevemente um sorriso em seus lábios — você realmente está linda, embora não me lembre da última vez que se vestiu assim.

Sorri.

Asra nunca usava roupas como aquelas, ainda mais em frente ao rei. Ela preferia vestidos caros e sedas delicadas, bordadas a prata e ouro, decotes ousados, fendas gigantes e modelos sedurores.

Não eram feios, logicamente que não e como o seu corpo era algo que atraia Calisto, ele não desgostava do que ela usava com frequência, mas a primeira vez que ele viu roupas como aquelas em Elaine, ele perdeu o fôlego e pensou que nada jamais havia tornado uma mulher tão atraente quando uma vestimenta tão simples e prática.

Eu não deixaria essa chance passar.

— Estou testando novos estilos — menti e Calisto me puxou para perto, para me sentar ao seu lado, próximo o suficiente para que sua mão segurasse em meu quadril com certa força.

— Acho que seu novo estilo é perigoso — ele ronronou — talvez eu queira testar como destruir essas peças, uma por uma, após terminar de lidar com esse incômodo.

Sorri.

Eu queria acreditar que seria isso que faríamos ao fim daquele dia, mas sabia que estava longe da realidade.

Quando ele a visse pela primeira vez, ele sentiria seu peito pesar e se recordaria de sua falecida esposa, do único ser que verdadeiramente amou. A única que conseguiu seu coração.

— Eu jamais diria não para você — respondi aconchegando-me a ele. O cheiro de Calisto era bom demais para se recuar e seu toque era quente.

Eu havia sonhado com esse toque tantas vezes, então apenas me permiti aproveitar.

Para meu azar e descontentamento, não durou muito. Logo a maldita carruagem parou em frente a catedral e os lábios quentes de Calisto se afastaram do meu pescoço.

Mordi o lábio com força, não podia ser mimada e pedir para que ele continuasse, então apenas o puxei levemente pelo colarinho da camisa que ele usava e o beijei.

Um beijo longo, envolvente. Um beijo onde minha língua invadia sua boca e ditava cada movimento, um beijo para que ele não ousasse pensar em algo além de mim, ao menos até descer e ver Elaine.

— Pronto — sussurrei — agora pode ir.

Ele grunhiu.

— Quando se tornou tão injusta?

Eu não tive tempo de responder. Azrael batia a porta com um rosto impaciente.

Estavamos lá.

Calisto o fuzilou com os olhos, mas ainda assim abriu a porta com força para sair.

— Vamos senhor — o caído disse ignorando a minha presença. Talvez ele houvesse levado minha ameaça um pouco a sério demais.

Eu deveria esperar na carruagem, deveria ficar longe, mas me arrisquei outra vez. A pior resposta que iria obter era um não.

— Se não for atrapalhar — murmurei — eu poderia assistir?

Era óbvio que Azreal negaria. Era óbvio que Calisto negaria, mas ainda assim, eu tive a esperança de que não o fizessem e quando o caído abriu a boca, ouvi Calisto rir.

— Claro — sua resposta me pegou de surpresa — mas deve ficar atrás, não gostaria que acabasse se machucando.

Sorri.

As vezes o demônio a minha frente se esquecia que Asra na verdade era não somente uma infernal, como uma bruxa de linhagen ancestral.

⋅• ♱ Continua... ♱ •⋅

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