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Capítulo 1 O dia em que meu namorado me traiu

Hoje completava dezoito primaveras o meu namorado Lucian. Levei tiramisu e um tinto encorpado até seu apartamento para a surpresa - planejara tudo em segredo, sem avisar. A data também marcava nosso marco: após seis meses de romance clandestino, ele finalmente revelaria nosso relacionamento no Instagram naquela noite! Já não seríamos amantes ocultos. Só de imaginar, senti palpitações aceleradas.

Com a chave reserva que Lucian havia me dado, abri suavemente a porta. Mal entrei, já visualizava a cena: saltaria como lebre animada para lhe desejar felicitações. Certamente ficaria radiante ao me ver, especialmente com meu visual inédito. Por baixo de uma blusa justa e shorts jeans, um sutiã de renda preta, novinho em folha, me cobria. Até passei maquiagem: batom vermelho-sangue, sombra marrom-escura fumê e até roubei o perfume importado de Evelyn, minha colega de quarto. Queria ser tentação ambulante.

Estranheza me invadiu ao caminhar. Nunca me exibia tão ousada, sendo minha essência mais casual. Mas por ele, qualquer esforço valia. Me preparava não só para celebrar, mas para lhe presentear com uma noite de prazeres - merecia sexo divino após tanto tempo.

Seu apartamento compacto tinha a cozinha e banheiro na entrada, seguidos pela sala com cama de lençóis azul-claros, aqueles que eu mesma havia escolhido e estendido. Ele sempre dizia amar aquela tonalidade.

Quando me aproximei, notei que a porta do quarto estava aberta. Vozes ecoaram do quarto. Ele estava falando com alguém. Respirei fundo, afiando o sorriso radiante. Contudo, quando entrei no quarto, o riso me congelou os lábios.

Lá estava ele, de dorsos musculares tensos - aquela silhueta atlética que sempre me hipnotizava. Sobre os lençóis que eu mesma escolhia, porém, se movia outra figura: Vivienne, a líder de torcida, com seios generosos oscilando ritmicamente sob as investidas dele.

— Oh, Vivienne, você é incrível! Você é perfeita! — rugiu Lucian entre gemidos roucos, o suor lhe escorrendo pelas costas.

— Você também, amor... Mais forte! Você consegue? Mostra que é homem! — retorquiu ela ofegante, unhas se cravando em seus ombros.

Que diabos eu estava vendo? Meu namorado estava fazendo sexo com outra mulher em seu aniversário?

De repente, ela virou o rosto. Em vez de pânico, exibiu sorriso lascivo antes de puxá-lo para um beijo molhado.

Ferroadas de ira e desespero me atravessaram o peito. Tentei gritar, mas a garganta emudeceu. Enquanto eles se contorciam suados, um frio polar me invadia as veias. Coração me martelava o esterno, mas meus pés permaneciam enraizados, estátua de sal em meio ao inferno tropical.

— Querido, temos visita? — ronronou Vivienne após o último arremesso de Lucian.

Recuperando o fôlego aos poucos, Lucian seguiu a direção do olhar dela até finalmente me avistar no recinto.

— Seraph? — Retirou-se ele, o pênis ainda encharcado dos fluidos repugnantes. O som úmido de corpos se separando me fez sentir nojenta.

Lucian riu, se recostando na cama como se isso fosse um espetáculo cômico.

— Seraph, o que você está fazendo aqui? Por que não avisou da visita?

— É seu aniversário — forcei as palavras através da garganta cerrada, exigindo esforço sobre-humano para vocalizar.

Vivienne, enquanto penteava os cabelos e recolhia os pincéis de maquiagem, comentou:

— Ah, Lucian, esta é sua namorada? Curiosa escolha... Jamais imaginei que fosse fã deste estilo. Pensava que preferisse a Anna, aquela com o traseiro divino.

Fiquei atônita ante tamanha ousadia.

Ela prosseguiu, direcionando críticas ao Lucian:

— Seu namorado até tem bons atributos físicos, mas no quesito desempenho? Nem de longe se equipa ao meu ex.

— Vivienne! — protestou Lucian ruborizado, se voltando para mim em desespero para justificar. — Seraph, escuta... A Vivienne sabia que era meu aniversário e você se lembra do meu último jogo? Ela veio até aqui para comemorar...

— Comemorar? Entre lençóis? Que se dane suas desculpas esfarrapadas, Lucian! Malditos sejam ambos! — Agarrei o bolo e desferi-o contra os amantes.

— Seraph! — Lucian se esquivou aos berros.

Vivienne saltou da cama aos gritos. Nua como veio ao mundo, se enrolou apressadamente nos lençóis enquanto eu esmagava o bolo contra os dois. A garrafa de vinho seguiu o mesmo destino - se estilhaçou contra a parede, tingindo o ambiente de rubro.

— Está louca! Basta!

Eeles se esquivavam dos meus ataques frenéticos enquanto eu arremessava roupas, cabides, luminárias - tudo que encontrasse pelas mãos. Até os troféus reluzentes e medalhas de Lucian foram lançados ao chão.

Os gritos de Vivienne misturavam humilhação e fúria.

A fúria me consumiu por completo, sufocando qualquer resquício de racionalidade. Cada músculo se tensionou, dominado por impulsos destrutivos.

Como ousava fazer isso comigo? Como?!

Todos os homens amavam Vivienne. Eu achava que Lucian era diferente. Eu jurava que ele era diferente!

Terminada a devastação do apartamento, lhes virei as costas. Minha surpresa meticulosamente planejada se transformara em cinzas. Sonhava com uma noite perfeita - bolo compartilhado, vinho derramado, amor consumado e ciúmes alheios. A realidade, porém, me esbofeteava com crueza, despedaçando ilusões.

Disparei pelas ruas sem rumo, apenas ansiosa por distância daquela cena. As imagens de Lucian e Vivienne se repetiam em loop mental. Corri até os pulmões arderem, tentando deixar para trás os fantasmas do quarto.

Por um triz escapei de um atropelamento.

— Você é cega?! — berrou o motorista.

Caí no asfalto com o pé latejante, a bolsa vomitando seu conteúdo. Ali permaneci, sentada no meio da calçada, enquanto lágrimas ardentes escorriam pelo rosto em rios silenciosos.

Eu havia tirado o dia de folga, embora meu chefe já estivesse de pavio curto pelas faltas constantes por causa do Lucian. Sabia que não havia retorno possível. Que ridícula me sentia! Sonhar com amor verdadeiro ou felicidade - que tolice minha.

Quando a tempestade interior acalmou, me vi num canto do Dive Bar. Recompus a maquiagem, apliquei tatuagens temporárias e me reinventei como bad girl. Esse era o bar onde eu trabalhava meio período. Me instalei no balcão, engolindo shot atrás de shot de vodca. O líquido de fogo descia abrasador, anestesiando nervos à flor da pele.

Álcool nunca fora meu vício, mas naquela noite só ele poderia oferecer o efêmero alívio.

Ali perto, risadas e conversas enchiam o ar, mas pareciam vir de outro mundo.

— Ei, Seraphina! — chamou Jack, o barman, com um piscar de olhos, esfregando um copo. — Tem certeza de que não quer se juntar à galera do Clube Eagles? Eles estão comemorando a vitória.

Jack era meu porto seguro. Ele havia me ajudado muito quando comecei a trabalhar ali. Vinte anos mais velho, mas amigo de alma.

— Não, não. — Balancei a cabeça.

O Clube Eagles era um clube de luta cheio de homens bonitos e musculosos. Eles eram os caras mais populares da cidade, mas não tinham nada a ver comigo.

Eu odiava lugares lotados e barulhentos. Só ia se me arrastassem.

Jack deu uma risadinha e me serviu outro drink.

Ao esvaziar o copo, cambaleei até o banheiro, com a cabeça girando. Na porta, quase colidi com uma figura emergindo.

Ele era incrivelmente bonito: cabelo preto e denso, olhos castanhos profundos, uma aura ao mesmo tempo fria e gentil. Um metro e oitenta de pura musculatura que a camiseta preta mal continha. Seus bíceps eram mais largos que meus ombros - parecia o Chris Evans, só que mais imponente.

Seu olhar se fixou em mim, e senti meu estômago se contrair.

Quando nossos olhares colidiram, um nó me apertou no estômago.

Reconheci-o instantaneamente: Kael Emberwood. Capitão do Eagles. Boxeador invicto desde a estreia. Aos vinte, já lenda urbana - ídolo das garotas, inclusive da Vivienne. Os sussurros diziam que rolaram lençóis, que ele era seu favorito.

De repente, a imagem de Vivienne e Lucian explodiu em minha mente. Olhando para Kael, o coração disparou novamente, sangue fervendo nas veias.

— Banheiro errado? — provocou ele, arqueando uma sobrancelha perfeita.

Ele era a estrela da cidade e um notório mulherengo. Sempre nos bares, sempre com novas conquistas. Certamente não me rejeitaria, pensei.

Afinal, minha autoestima se mantinha intacta. Pior que aquela Vivienne? Jamais.

— Que lindo você está — sussurrei, passando a língua nos lábios enquanto me aproximava de Kael, a mão deslizando lenta sobre seu peito. Através do tecido diáfano da camisa, não apenas senti os músculos tensos sob minha palma, mas o calor que irradiava de seu corpo - mais intenso que qualquer outro que já tocara. Ele devia estar em chamas, e com razão: toda aquela festa no bar existia por sua causa.

Há pouco tempo, Kael havia derrotado o campeão de boxe da cidade vizinha.. O clube foi à loucura e agora estavam todos no bar comemorando.

Quando me aproximei, em vez de recuar, ele me fitou com olhos faiscantes de lobo faminto, pupilas dilatadas presas às minhas.

Encorajada por esse olhar predatório, deixei os dedos descerem em espirais pelo abdômen rígido. Parecia acariciar mármore aquecido - aquele tipo de corpo que faz tremer até as mais experientes.

Seus dedos cerraram meu pulso subitamente, conduzindo minha mão até a virilha onde latejava algo quente e volumoso sob o tecido. Na mesma hora senti o membro crescer ainda mais, pulsando contra a palma como animal enjaulado.

A respiração dele se tornou ofegante quando nossos olhares colidiram: nas profundezas âmbar, uma tempestade de frieza e desejo contido.

— Se continuar assim, garota, vou te comer no banheiro mesmo com gente passando — murmurou ao meu ouvido, a voz mais grave que de costume.

— Tanto faz — respondi, o álcool transformando coragem em temeridade.. Seus músculos sob meus dedos já me tinham feito derreter por dentro. A calcinha colava no corpo úmido. A ideia de sermos pegos, de ouvirem nossos gemidos... Arrepios percorreram minha espinha.

Que delíria do caralho, não?

Ele me estudou por três batidas cardíacas antes de me arrastar contra seu torso.

— Vamos para minha casa — disse ele, e eu me vi seguindo-o na névoa etílica e libidinosa.

Quando arrancou a camisa no apartamento, revelando corpo esculpido, um frio repentino varreu meu entusiasmo. Eu era a CDF da turma, a que trocara virgindade por meias-entradas no cinema com Lucian. Em seis meses, transáramos uma vez. Será que ele me deixou porque eu não era aventureira o suficiente na cama?

Que se fodam os dois!

O álcool ajudava esquecer tudo. Mas agora, daquele deus grego de carne, senti uma mistura de excitação e ansiedade.

— O quê, você está arrependida? — perguntou Kael, decifrando meu rosto.

— Não, só estou meio nervosa — admiti, mastigando o lábio.

Arrependimento? Nem no inferno.

Lembrei de Lucian e Vivienne entrelaçados. Ela havia roubado meu homem; eu roubaria o dela. Justiça poética, não?

Antes que falasse mais, Kael me levantou como pena. Ri baixo, lhe puxando o cabelo para devorar sua boca. Ele respondeu com voracidade igual, língua invadindo minha cavidade oral enquanto eu me enroscava em seu quadril como trepadeira.

Nos beijamos assim - eu pendurada, ele me carregando pelo corredor mal iluminado. O apartamento ecoava com nossos gemidos abafados, línguas dançando guerra particular.

Apertei mais os braços em seu pescoço. Seu corpo queimava agora, calor quase sobrenatural.

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