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3

Nina.

Nascer em um berço mafioso nunca foi um desejo meu e sim, uma fatalidade na minha vida. De três irmãos, sendo duas irmãs e um irmão mais velho, eu sou a única que não aceito as regras desse submundo. Um mundo violento, ilícito e dominado pelos homens, onde as mulheres, mesmo nascida nesse berço é tratada como uma simples mercadoria. Foi assim com a Jude, ela foi forçada a casar-se com um banqueiro corrupto e com a Maya, que foi praticamente vendida para os russos. Tudo para manter o poder na íntegra da família Guerra. Eu jamais aceitarei esse triste fim, prefiro mil vezes deslizar uma lâmina afiada nos meus pulsos, a me render a qualquer outro mafioso e ser tratada como sua marionete particular do seu mundinho egoísta e tragicamente poderoso.

— Iremos nos reunir na biblioteca em alguns minutos. — Mamãe avisa colocando a sua cabeça na brecha da porta que acabara de abrir. Mais uma reunião em família? Bufo mentalmente. A última levou a minha irmã caçula para longe de casa. Perceberam que Darlan pulou a sequência das irmãs? É que eu sempre tive um temperamento difícil e sempre deixei bem claro os meus ideais, e acredito que por isso sempre pensei que estaria salva dos casamentos por acordos abusivos. Contudo, o fato de Darlan estar feliz demais e festivo demais por esses dias, e ainda essa reunião de reunião de última hora me diz que estou literalmente fodida. No entanto, pode ter certeza de uma coisa, eu não vou facilitar a sua vida e nem mesmo desse traficantezinho de merda que se candidatou ao marido do ano.

— Eu preciso mesmo participar? A Júlia está vindo para irmos ao shopping.

__ Você sabe como o seu irmão é.

— Sei sim, ele é a porra de um tirano.

— Não fale bobagens, filha. Ele tem cuidado de todas desde que o seu pai se foi.

— Sei, casando as irmãs dele em busca de mais dinheiro e poder.

— Ele está fazendo o seu melhor, Nina e você sabe que esse é o nosso destino.

— O seu destino e não o meu, mamãe! — rosno. — Mamãe, eu só quero escolher o meu marido, casar-me por amor. Pelo amor de Deus, em que século estamos?

— Você é mulher e é uma Guerra, sabe muito bem dos seus direitos e deveres nessa família, foi para isso que eu te criei. Agora deixe de lamentações e desça.  — Rolo os olhos. Enfim, se é para ir a um sacrifício, irei no meu melhor estilo. Penso e após ela fechar a porta, vou até o meu closet e pego algumas correntes grossas, e uma corda e saio do quarto em seguida. Na biblioteca como era esperado, encontro alguns grandões do narcotráfico sentado em suas cadeiras como se fossem os cavaleiros da tabula redonda, o me irmão está em sua cadeira imponente como se ele fosse um grande rei e do lado dele, está Lolita Guerra, a rainha. A minha entrada no cômodo deixa a todos perplexos, porém, continuo com o meu protesto silencioso.

— Que porra é essa, Nina? — Darlan rosna encarando a corda grossa no meu pescoço e as correntes nos meus pulsos. A minha roupa está suja de sangue, digo, de Ketchup, mas eles não precisam saber disso e para completar estou descalça, os meus cabelos desalinhados e a maquiagem antes perfeita agora está toda borrada. Em resposta ao seu súbito, apenas dou de ombros e adentro ainda mais a biblioteca, parando bem no meio dos homens. — O que você pensa que está fazendo?

— Não está claro? Eu sei que você está planejando me casar e essa é a minha resposta para você. — Ergo as mãos com as pesadas correntes. Ele se levanta do seu trono e parece se agigantar diante de mim, porém, mantenho-me firme e o olho bem dentro dos seus olhos.

— Para o inferno o que você pensa ou deixa de pensar! Que se foda a sua ideologia de vida! Você é uma Guerra, Nina e a sua função aqui é servir a nossa família. E nesse momento a sua serventia é se entregar para o Thor, realizar os seus desejos e garantir que o nosso acordo dê certo.

— Isso não é justo! — ralho entre dentes.

— Que se foda a justiça, porra! Você está aqui apenas para ouvir. E em poucos dias teremos um jantar de noivado. Eu quero que o receba com simpatia, que seja a mulher que deve ser e tudo ficará bem.

— Eu prefiro morrer a me casar com esse, ou qualquer homem imposto por você! — Darlan começa rir e eu me sinto confusa. — Não acredita nas minhas palavras? Eu me mato, Darlan! — O infeliz faz um gesto de desdém. É como se a minha vida não tivesse valor algum.

— Ótimo! Faça isso após o casamento, durante a lua de mel ou escolha o melhor dia para fazer isso, não me importa. Agora quero que compre um lindo vestido e faça a sua parte nesse jantar, minha irmã, é tudo que eu preciso. Está dispensada, saia daqui com essa palhaçada.

— Eu te odeio, Darlan Guerra!

— Você não é a única, minha querida irmã. Agora vai!

Meus deveres. E minhas vontades não existem? As minhas escolhas e os meus desejos não importam? O que eu sou para ele, um saco de batata vendido na feira? Pois bem, se o meu protesto não deu certo, irei bancar a garota mimada e mal-educada, e mostrarei para eles que Nina Guerra não será vencida assim tão fácil. Penso determinada e entro no meu quarto, batendo a porta com mais força do que o necessário. Bufo bem alto e me jogo na cama, encarando o teto em seguida. Uma ideia se passa na minha cabeça e eu rio debochadamente. Esse Thor não perde por esperar. Ele terá um jantar de noivado inesquecível, ah sim vai.

***  

Alguns dias...

Loiro, alto, forte e lindo. Constato. Devo admitir que ele é bem diferente do que eu esperava. Bem diferente mesmo. O detalhe do coque malfeito quase no topo da sua cabeça revela as lindas argolas em suas orelhas e um pedacinho de uma tatuagem enramando em seu pescoço. E apesar do meio em que vive, Thor anda muito bem-vestido, até parece um CEO. Um jeans escuro que realça o contorno das coxas grossas, uma camisa branca com os primeiros botões abertos revelando a corrente grossa de ouro e um medalhão com uma enorme estrela no centro dele e ainda um terno azul marinho aberto por cima da camisa, deixando o seu look bem despojado. Assim que ele adentrou a sala de visitas da minha casa, seus olhos cor de mel de um tom claro me avaliaram sem esconder o seu interesse e embora eu tenha gostado da figura, não posso me esquecer do meu objetivo. Eu quero ser livre e depois que eu aprontar o que tenho em mente com certeza esse homem desistirá desse maldito casamento, isso fará o Darlan de me odiar em vida e consequentemente ele me expulsará de casa.

— Ter certeza de que quer fazer isso? — Júlia pergunta com um tom de confidencia para não chamar a atenção assim que os homens saem para o escritório.

— É claro que tenho. Por que achou que eu desistiria?

— Já olhou para o seu pretendente? Jesus! Eu me casaria com ele até debaixo d’água. — Bufo audível. Que comentário é esse?

— Pois para mim nada mudou. Thor é do mesmo jeito que o meu irmão e eu não pretendo me submeter a ele e nem a ninguém. — Ela faz um gesto com os ombros.

— Então tá!

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