Quatro
Por Bella Torres
Chegamos no hotel aonde estou hospedada e encontramos as meninas do jeito que já esperávamos e do jeito que eu queria estar. Dormindo.
Larguei minha bolsa, tirei os sapatos e caí na cama.
Foi difícil me manter acordada durante a viagem até aqui. Somente 5 minutos, mas 5 minutos que pareceram 2 horas. Eu nem estou com cabeça para pensar nos problemas em que me meti.
O sono é maior. O cansaço é maior ainda.
— ACORDEM, suas vagadias! — Cass arremessou alguma coisa nas meninas. Vagadias = vagabundas vadias. Ela sempre chama minhas amigas assim.
— O que foi? — Becky perguntou com a cara enfiada no travesseiro, assim como a Ronda.
— Tô no inferno e a Cass tá me espetando ou é só um pesadelo?
— Vocês deixaram a Bella sozinha e agora ela entrou numa furada! — resmungou.
Como se eu fosse criança...
— O que minha cria fez? — Becky perguntou com a voz menos abafada.
— Casou. Só isso. — O barulho da buzanfa da Cass sentando na poltrona me fez abrir os olhos.
Ainda não acredito que fiz essa merda mesmo. Casamentos em Vegas são válidos judicialmente?
— Bella, diz que essa história é mentira. — Ronda olhou pra mim. Eu nem sabia que cadáver falava. Ronda parecia morta de bêbada.
— Sei lá. — Respondi tentando pegar no sono, mas agora esse assunto tá me impedindo.
— Filha de uma mãe... — Becky sentou na cama, toda descabelada e com uma maquiagem tão borrada, que levei até um susto quando abri os olhos. — Ficou tanto tempo sem macho que quando achou um resolveu casar logo, sua kenga de merda!? — me encarou com os olhos arregalados e depois riu da minha cara.
— Cala a boca. — cobri minha cabeça. Agora uma bela enxaqueca está me possuindo.
— Não me manda calar! — ela me bateu com o travesseiro.
— Tô com enxaqueca. — Continuei enrolada com os olhos fechados.
— Sabe quem é o maridinho dela? — Cass voltou a me atazanar.
Por ela eu nunca arranjo ninguém. Foi até bom casar desse jeito. Porque se fosse pra me programar só ia dar merda.
— Peter M. — ela disse e eu lembrei da tatuagem e do rosto dele.
Qual o problema dele? Ele é tão lindo e aquele sorriso... Me lembro da gente dançando, conversando. Ele é tão gentil. Não sei o que assusta no nome dele. Se esse cara fosse famoso eu saberia.
— AH NÃO! PUTA MERDA, BELLA! — Becky parece que tomou uma injeção de ânimo e seu sono e ressaca foram pro inferno, ou não, eles foram para dentro de mim, junto com uma puta martelada que ela deu na minha cabeça, com esse grito. Que dor!
— Isabella, com 7 bilhões de pessoas no mundo, você foi casar logo com esse cretino?! — Ronda deve ter levantado também.
— O que ele fez pra causar tanto espanto? — tirei o cobertor de cima de mim. — Ele é algum político investigado pela Lava Jato? É do Estado Islâmico? É um tirano? É a reencarnação de Sadan Hussein?
Porque não tem lógica uma reação dessas. Elas deviam se espantam pelo simples fato de eu ter casado sem nem conhecer o cara.
— tu nem conhece a fama do cara... — Becky abaixou a cabeça, balançando em negação.
Não demoraram pra pesquisar no celular. Mas Ronda foi rápida e me arremessou duas das revistas que estavam encima da mesa do quarto. Eu nem tinha visto essas revistas antes. Quando olhei as capas, não segurei meu queixo e meus olhos se arregalaram. Falando que ele é o playboy do momento, entrevistas com eles... testes para saber se teria chance com ele...
— OOH MERDA! — exclamei, pasma. Eu não acredito que ele é assim. Não acredito mesmo.
Será que ele não tem irmão gêmeo não?
Ele é um playboy galinha! Eu não posso passar por isso de novo. Não, não.
— Agora você entendeu? — Cass perguntou convencida. Que decepção. Quando finalmente me caso, é bem com o cara mais desqualificado pra ser um marido.
— Fica assim não. Pelo menos não foi com o Scott, o melhor amigo dele. Porque se o Peter é um cretino, o Scott é o mestre dele. — Ronda não parou de zombar. Como todo mundo os conhece, menos eu? Porque eu nunca soube do Peter?
Estiquei o braço e entreguei as revistas à Ronda.
— Não vai querer fazer o teste pra ver se você é o par compatível dele, não? — Becky também fez piada. Eu mereço.
— Hey! O que é isso?! — Ronda percebeu o curativo da tatuagem no meu punho e sorriu. — É uma tatuagem?
Tratei de esconder o mais rápido possível. — Não. Eu me machuquei. — Menti.
— Um suicídio social chamado Peter, tatuado no seu punho. — Cass revelou.
— Caralho, Cass! que fofoqueira você é! — deitei de novo e me enrolei o coberto. Elas ficaram rindo de mim.
— A paixão tá brava, hein.
Eu vou dormir e quando acordar tudo isso vai ter passado. É só um pesadelo ocasionado pelo alto teor de álcool no meu sangue.
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— Acorda, Bella! — Cass me cutucou. Abri os olhos com dificuldade, por causa da claridade e a enxerguei toda arrumada.
— Que hora é essa? — me virei na cama.
— Hora de levantar e arrumar suas coisas.
— Por que?
— Você vai ficar no hotel do Peter, com ele.
— Que? — levantei minha cabeça espantada. O pesadelo é real?!
— Isso mesmo que você ouviu. Todo mundo sabe que vocês estão juntos e logo um monte de paparazzi vai aparecer pra tirar fotos de vocês.
— Fodam-se eles.
— Não tô brincando, Isabella. Já tem um na frente desse hotel, só de me ver por aqui.
— Você quem chamou? — estreitei o olhar pra ela. Cadê minha paz?
— Eu?
— Eu não duvido disso. É bem a sua cara. — Continuei deitada, mas olhei pra sua cara de vítima. — Como eu vou sair daqui com essas malas, sem ninguém desconfiar que estou hospedada aqui, Cass? Missão impossível.
— Eu pensei em tudo. — Ela tirou várias sacolas de marca de dentro de uma maior. — Vamos colocar suas roupas nas sacolas e fingir compras. Todo mundo já viu as vagadias saindo e entrando daqui com sacolas de compras. Eles vão acreditar.
Fiquei a encarando por um tempo. Que ideia!
— Você é doida. — concluí.
— Peter está te esperando. Sua sogra quer falar com você... Ande rápido.
Esperando? Sogra?
Onde está a janela mais próxima? Vou saltar dela.
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Quando eu passei pela porta do quarto e vi aquele lobo em pele de cordeiro me encarando, quis no mesmo instante dar meia volta. Que decepção ter casado com esse cretino... Meu coração até acelerou.
— Oi. — Ele sorriu pra mim e Adam revirou os olhos e riu. Ele já deve estar acostumado com as investidas do Peter.
Eu não respondi. Me fiz de surda, porque não quero trocar muitas palavras com ele.
— Fique aí, casalzinho, e entrem num consenso. Parece que vai levar uns dois meses para o divórcio sair. — Adam levantou da cadeira e andou até a saída. — Amanhã eu venho aqui.
2 meses?!
Ele deve ser o assessor do Peter, porque é igual a Cass, só fica no pé e age como um pai ou uma mãe.
Ela também não saiu sem passar as orientações. —Ah, e nem pensem em responder esses comentários nas redes sociais. Aliás, é melhor vocês nem acessarem nada. — Balançou o indicador e acompanhou Adam, deixando minhas sacolas no chão. — Qualquer palavra boba pode ser interpretada de mil maneiras.
Agora essa. Não posso nem usar meu celular!
Eles saíram e trancaram a porta.
Me deixaram com esse estranho.
— As compras foram boas, hein. — sentou da cama, encarando minhas bolsas com um sorriso.
— Nada que já não fosse meu. — As soltei num canto da sala.
— Tá tudo bem?
— Poderia estar melhor, se não fosse isso tudo. — Procurei meu celular dentro das bolsas.
— Já vi que você não quer papo comigo...
— Aham. Parece que você é tão esperto quanto dizem. — Encontrei o aparelho e guardei no bolso, depois andei até a janela e me apoiei no batente.
Talvez eu fique aqui o dia todo.
— Andou pesquisando sobre mim, né? — sugeriu continuando sentado.
— Não foi preciso. — Admirei a paisagem da cidade. (Mentira, não consigo me concentrar em nada agora).
— Eu não sou tudo o que dizem por aí.
— Humm. É mesmo? — fingi dúvida.
— Sim, é verdade. — Ele levantou da cama e parou perto de mim. — Desculpa, eu não lembro de nada de ontem, mas se eu tivesse em sã consciência isso não teria acontecido.
Ata. Porque Peter M. nunca vai casar.
— Eu não vou fazer nada pra te prejudicar. Prometo. — Continuou falando. Ah, que bonitinho, se não fosse um cretino. — Minha mãe quer que a gente vá direto pra casa dela quando sairmos daqui.
— Não vou. Vou pra minha casa. — Me virei pra ele. Era só o que faltava ir pra casa desse estranho.
— E como eu vou chegar em casa sem a minha esposa?! — cruzou os braços.
Que conversa estranha.
— Não sei. — Dei de ombros e sentei na cama.
— Nossa... Você é difícil, hein! — ele sentou novamente na cama, ao meu lado e eu levantei.
Se ele não fosse quem ele é, talvez as coisas fossem diferentes. — E você fala demais. — Me afastei.
— Ontem você gostou de me ouvir falando...
— Ontem eu não sabia quem você era de verdade. — Dei de ombros.
— E se ainda não soubesse?
— Provavelmente estaria sendo a maior idiota do país.
Sim. Eu seria. Não, pior, pra todo mundo eu estou sendo.
— Bella, você... — ele respirou fundo. —... Ah, quer saber, tô nem aí. — levantou. — Vou sair um pouco pra tomar um ar.
Já era hora.