Capítulo 1 - Elena
- Pai, eu não quero me casar! – Gritei.
- Elena, você tem que entender que é uma ótima oportunidade para os negócios. – Falou meu pai. Richard poderia ser um ótimo empresário, mas jamais conseguiria ser um pai tão bom. Ainda mais com essa mania cretina de dizer o que eu devo fazer. Não era como se ainda fosse aquela garotinha mimada de antes. Não. Agora eu era pior do que antes. Esses casamento era só uma forma de punição pela última que eu tinha aprontado.
Suspirei. Não adiantaria ir contra a sua vontade, ele estava irredutível.
- Você só está me punindo, não é? – Perguntei. – Por aquilo que aconteceu semana passada. Eu já disse que não foi minha culpa! – Eu estava me referindo ao episódio onde acabei sendo detida na delegacia por ter dado um soco em um policial. Mas a culpa não era minha, foi legítima defesa! Aquele maricas assanhado tentou passar a mão em mim! Obviamente ele não estava fardado e, portanto, eu não sabia que era um policial e que acabaria na cadeia.
- Você não entende, querida. Precisa amadurecer. O casamento fará isso com você, e em troca, poderei expandir os meus negócios.
- Ele já é seu sócio nos negócios, pai. Se quer uma fusão, só o convença de que será mais vantajoso para ambos, não precisa me obrigar a casar com ele! Além disso, ele é muito velho para mim.
- Você nem se lembra dele, como pode saber que é velho?
- Por ser seu amigo e sócio imagino que deve ter pelo menos uns 40 anos.
Ele riu da minha cara. Será que seria muito mais velho? Tive vontade de vomitar só de imaginar em me entregar para um cara que não conseguiria nem ter uma ereção. Mas, por outro lado, se não tivesse ereção eu não poderia me preocupar.
- Papai, se esse velho não conseguir deixar o pau duro, você poderia mandar colocar uma cláusula no contrato dizendo que eu posso ter amantes?
- ELENA! – Dessa vez foi um grito de verdade. O significava que eu havia passado dos limites. – Em primeiro lugar, seu noivo só tem 30 anos. Em segundo lugar, não haverá um contrato pré-nupcial. Será mais como um contrato normal, onde serão tratados somente o referente às empresas e não os aspectos do casamento, isso quem tem que decidir são vocês, mas que fique bem claro, eu não quero uma filha adúltera!
Trinta anos? Era sério isso? Imaginei que ser velho fosse um dos requisitos para comandar uma empresa. Parece que não... Mas mesmo assim, não queria casar com ele, mal o conhecia!
Meu pai não mudaria de ideia. Teria que reunir quantas informações pudesse. Sentei novamente na cadeira do escritório de meu pai.
- Quando vou conhecê-lo? – Perguntei.
- Não precisa conhecê-lo. Em uma semana o casamento se realizará e vocês estarão casados. Poderão se conhecer depois do casamento. Conhecê-lo antes só atrasaria as coisas.
- Tão pouco tempo! – Me queixei. Mas eu sabia da necessidade do meu pai em não perder tempo, afinal foi assim que se tornou um dos maiores empresários da Europa.
Me levantei. Desistindo de manter uma conversa com meu pai, sabendo que, no fim, as coisas seriam do jeito dele.
Saí do seu escritório, pegando o telefone e ligando para a minha melhor amiga. Tínhamos uma despedida de solteira para planejar.
O dia do meu casamento chegou, e eu ainda estava com uma puta ressaca da noite anterior, da minha despedida de solteira. Ninguém sabia como se divertir mais do que Melanie.
Tínhamos ido a uma boate nova. O lugar em si não tinha nada de especial, mas eu precisava relaxar.
Estavam todos muito eufóricos com o casamento. E eu não pude deixar de pensar se seriam tão cruéis assim para estarem se divertindo com a minha infelicidade. Será que ninguém via que eu não o amava? Que não estava feliz com aquela situação? Que nem o conhecia?
Não. As empregadas que me ajudaram a me arrumar só conseguiam dizer quão lindo o noivo era. Jovem. Sarado. Entre outros adjetivos. E, enquanto isso, pensando sarcasticamente, imaginava que, já que era tão perfeito assim, seu defeito deveria ser um pau pequeno. Será que quando a hora chegasse deveria estimulá-lo com uma pinça? Fiz uma anotação mental de não esquecer de levar uma pinça, então me lembrei que Mary, a empregada mais antiga da mansão, foi a encarregada de arrumar a minha mala. Partiríamos ainda hoje em lua de mel.
- Mary – A chamei. Ela estava acabando de fechar minhas malas. Todas as minhas coisas já haviam sido empacotadas e a maioria já tinha sido levada até minha nova casa, seja onde fosse.
Ela se virou, me olhando. Sorriu. Mary sempre havia sido como uma segunda mãe, fazendo tantos doces quanto eu quisesse.
- Poderia colocar uma pinça na mala? – continuei.
- Uma pinça? – Ela estranhou.
- Sim, todas me dizem quão perfeito meu noivo é, que já começo a ter certeza que o seu problema se esconde nas calças. Deve ter um pau minúsculo. A pinça virá a calhar se eu tiver razão.
Gargalhamos juntas. Eu sentiria saudades de Mary, talvez mais do que sentiria de meu próprio pai. Suspirei. A verdade é que eu sentiria falta de tudo.
Chegou a hora de descer. O casamento seria ali mesmo, na mansão de meu pai. Ele insistiu que fosse celebrado ali, e também redobrou a segurança. Mais do que ter medo que alguém de for entrasse, ele tinha medo que eu escapasse. Eu não tinha uma boa reputação nem com meu próprio pai. E provavelmente meu noivo pensaria a mesma coisa a meu respeito, já que convivia com meu pai todos os dias.
As pessoas já estavam reunidas do lado de fora, no jardim. Eu deveria pensar que o dia estava perfeito para se realizar um casamento, que era o dia ideal para o meu casamento. Mas nem de longe poderia pensar isso. Até Deus parecia concordar que era uma péssima ideia, ainda mais um casamento ao ar livre. O céu estava escuro, prevendo a tempestade do século, o vento estava furiosamente violento, e nós estávamos lá, no jardim, sem uma única cobertura sobre nossas cabeças.
Olhei para cima e xinguei o animal que tinha visto uma tempestade daquelas se formando e não tinha pensado em colocar nem um guarda chuva em cima da cabeça das pessoas.
Quando adentrei o jardim, as pessoas pararam para me olhar. Involuntariamente, procurei meu noivo em cima do altar. Pensando, ironicamente, que meu pai não gostaria que eu me casasse com a pessoa errada ainda por cima. Isso seria a minha cara.
O meu pai estava se aproximando, mas ele estava muito longe e eu queria apressar as coisas, antes que a chuva pegasse todos nós de calças justas, ou vestidos justos.
Não que eu não gostasse de chuva. Na verdade era o melhor tempo, na minha opinião. Quando pequena, adorava sair na chuva para dançar.
Andei pelo tapete vermelho à minha frente, encontrando meu pai no meio do caminho.
- Volte, Elena. Vamos fazer nossa entrada em direção ao altar. – Richard me disse.
- Pai, pelo amor de Deus, olha a chuva que está chegando. Podemos pular a parte da entrada, que é tão clichê. Agora me diga, qual deles é o noivo? – Perguntei.
- Visto que só tem dois homens no altar e que um deles está vestido de padre, imagino que o seu noivo seja o outro. – Ele me disse, cheio de ironias.
Idiota. Pensei. Obviamente que a idiota era eu, por não perceber que o outro era o padre. Estava tão nervosa que nem tinha reparado que só havia um homem em pé perto do padre.
Violando algum tipo de regra sobre entradas no dia do casamento, larguei meu pai sobre o tapete vermelho e segui em frente, o mais rápido que eu pude. Sem me importar com nada. Afinal, aquele casamento não tinha nada além de interesse. Não precisava de romantismo, poderíamos pular toda aquela parte em que o pai da noiva entrega sua filha, com os olhos marejados, para o seu futuro marido, fazendo-o prometer que cuidaria dela e blá-blá-blá.
Enquanto me aproximava do altar, e durante toda a cerimônia, não pude deixar de notar que tudo o que as empregadas me diziam sobre meu noivo era verdade. Ele era charmoso, e eu não conseguia parar de olhá-lo. Havia outra coisa que me chamou a atenção também. Eu o conhecia. Não sabia onde o tinha visto, mas seu rosto era familiar.
Onde eu o havia encontrado? Não poderíamos ter nenhum amigo em comum. Ele era muito mais velho para ter tido amigos em comuns. Era difícil me lembrar dele quando tudo o que eu via era o seu rosto de lado, já que estávamos lado a lado.
Na hora de trocar as alianças, eu estava tão constrangida que não ousei nem levantar os olhos, sabendo que ele me analisava minuciosamente. A forma que ele me olhava, me fazia sentir desconfortável. Seus olhos eram penetrantes e escuros, me fazendo sentir uma vulnerabilidade a qual eu não estava acostumada.
No meio dos meus devaneios, mal reparei que a chuva já estava forte e que estávamos todos ensopados.
-... Pode beijar a noiva. – O padre disse. Foi o que me arrancou do meu transe.
Thiago então me virou, de frente para ele e pude ver seu rosto por completo, o que trouxe novamente aquela onda de familiaridade, e o pensamento “onde foi que eu já vi esse rosto?”.
Então ele me pegou pela cintura e colou meu corpo ao seu. Antes que pudesse pensar no que fazer, se deveria deixar ou não, seus lábios dominaram os meus e foi uma surpresa aquela fraqueza nas pernas que nunca tinha sentido com ninguém antes, aquele arrepio que desceu pela minha espinha. Antes que pudesse passar vergonha e cair no chão, agarrei-me em seus ombros, sentindo toda aquela força me rodear.
Ele me puxou par mais perto, me erguendo do chão enquanto seus lábios não desgrudavam dos meus. Eu era alta, mas me sentia pequena perto dele.
Então sua língua tentou invadir minha boca, mas não permiti tamanha intimidade na frente de todas aquelas pessoas. Travamos uma guerra, onde ele tentava enfiar sua língua em minha boca e eu não permitia. Foi só quando sua mão tocou meu seio que eu reagi. Arfei. E essa foi a deixa para que enfiasse a língua em minha boca da forma que tanto queria fazer.
E a batalha estava ganha.