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Capítulo 5

Parada em frente ao espelho, pouco depois das seis da tarde, procurava algum vestígio de gravidez em meu corpo. Só que não havia nada visível.

Minha barriga e meus seios continuavam da mesma forma. E a não ser pela minha aparência abatida, tudo estava normal.

Passo as mãos pelo tecido fino do vestido azul-escuro, com as mangas rentes ao meus ombros, suspirando profundamente, antes de caminhar para fora do meu quarto.

Havia tido praticamente o dia inteiro para pensar no que fazer e acabou que terminei o dia como comecei. Sem ter ideia do que fazer.

Uma parte de mim, precisava saber que ele estava do meu lado, que me apoiaria até o final, não importa o quê acontecesse. Queria ele do meu lado.

Não queria passar por uma gravidez sozinha, sem apoio do principal responsável por estar grávida.

Puxo o freio de mão ao estacionar no estacionamento do prédio em que minha mãe morava, travando todas as portas e ligando o alarme ao sair do veículo.

Antes que me afastasse do carro, sou encurralada.

- O quê tem de tão importante para falar comigo?

Respiro pela boca, completamente pega de surpresa, tentando acalmar meu coração que batia descompensado.

- Quase me matou de susto - reclamo com uma mão no pescoço.

- Karina, vamos direto ao ponto. Não temos muito tempo - Ele olha ao redor.

E agora, Karina, só precisa dizer.

Baixo meu olhar, encarando os sapatos que ele calçava.

- Estou grávida.

Silêncio. Um longo silêncio.

- Como assim, você está grávida? - repete perplexo.

- Nós dois sabemos muito bem, como é que se engravida.

- Não me faz de idiota, Karina.

- Não estou fazendo você de idiota. Só estou dizendo que estou grávida!

Ele passa as mãos pelos cabelos.

- Como isso aconteceu?

Reviro os olhos, inclinando a cabeça para o lado.

- Sério? É isso que vai me perguntar?

- Quero saber como isso acontecer, já que você disse uma vez que usava pílula há anos.

Ergo o queixo, sustentando seu olhar.

- A pílula falhou por causa de uns antibióticos que tomei.

- E você não sabia disso?! Sendo médica, não sabia que corria o risco de engravidar!

Olho para ele incrédula.

- Está colocando a culpa de ter engravidado em mim?

- Estou! Em quem mais colocaria?! - Ele eleva a voz.

Mordo meu lábio inferior com força, tentando evitar que as palavras presas em minha garganta fossem ditas. Mas não consegui segurar.

- Sem um homem sou incapaz de fazer um filho!

- Eu sei disso - diz ele entre dentes - Só não estava esperando por isso hoje - Ele dá alguns passos na minha frente, parando de repente - Você vai abortar.

- O quê?!

Ele ergue o braço, apontando o indicador para mim.

- Você vai abortar - repete - Não podemos ter um filho.

- Por quê não?

Os olhos dele vagam pelo estacionamento.

- Você sabe por quê.

- Você disse que resolveria tudo - murmuro.

- Eu sei o quê eu disse mas, não é tão fácil quanto parece.

- É o quê você sempre diz - digo baixando a cabeça.

Ele se aproxima, segurando meu rosto entre suas mãos suadas e gélidas.

- Só estou pedindo mais um pouco de paciência, Karina - diz com os olhos fixos nos meus -Eu amo você, mas preciso que tenha mais um pouco de paciência.

Por míseros segundos, quis lhe dizer que teria mais paciência, só que havia uma parte em mim que não aguentava mais ser tão impaciente.

- Vou contar tudo para minha mãe - digo com a voz firme, o assustando pela minha decisão.

- Você...? Não, Karina.

- Eu vou e não vou abortar - Tiro as mãos dele do meu rosto. Mais do que qualquer outra pessoa, conhecia os riscos de um aborto para a mãe e o sofrimento para o feto. Não era justo com aquele bebê, que não tinha culpa de nada.

- Karina, você não está pensando direito - Passo por ele, dando alguns passos, parando, me virando para ele.

- Já esperei demais e já que você não toma uma decisão, eu tomo, por nós dois - Os olhos dele se tornam vazio, como se estivesse imaginando o quê aconteceria.

Sem dizer mais nada, entro no elevador, apertando o botão do vigésimo andar, sentindo que havia tirado um peso das minhas costas, apesar de estar com vontade de chorar por ele ter optado um aborto invés de ter aquele bebê comigo.

Mas sabia que com este ultimato, pensaria melhor e voltaria atrás. Este era meu plano, fazer ele ver qual era a prioridade naquele momento.

Diante da porta do apartamento dos meus pais, respiro fundo, apertando o botão da campainha.

A porta não demora para ser aberta por Bete, uma das empregadas que minha mãe tinha.

Lhe lanço um leve sorriso, passando por ela, vendo dona Laura andar na minha direção com os braços abertos.

- Meu bebê número 1 - diz me abraçando. Inspiro seu perfume, fechando os olhos por alguns segundos.

Ela era e sempre seria meu porto seguro.

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