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Confiança

Era um sábado bem ensolarado antes mesmo do café da manhã.

— Bom dia meu amor, como se sente? — Perguntou Marcela acariciando os cabelos de Danilo.

— Minha barriga ainda dói, me sinto estranho. E a Megan está melhor?

— Não, ela está um pouco febril. — Marcela respirou fundo, conhecia bem o filho e teria que intervir nos planos dele. — Meu filho, sei que não gosta que eu diga, mas é uma criança e eu tenho que cuidar de você e de sua irmã. Hoje você ficará na cama. Eu vou providenciar o que precisamos, confia em mim?

— Claro que sim, mas tome cuidado, aquele soldado te olha de um jeito estranho e eu não gosto.

Marcela se levantou e deixou as crianças na cama, Megan ainda dormia. Marcela bateu na porta algumas vezes e abriu, chamou por Argos, mas ninguém apareceu.

— Vou sair Danilo, mas vou ficar bem.

Marcela saiu do quarto antes que o menino respondesse. Foi andando pela casa a procura do soldado, pôde perceber que realmente faltava ali um toque feminino, ou de cuidado, a casa não era bagunçada, mas estava longe de um padrão de limpeza. Chegou a sala e não viu ninguém, passou pela cozinha e também estava vazia além de um pouco suja, com embalagens na mesa e na pia. Caminhou até a porta de entrada, quando abriu o soldado estava de costas ao telefone. Reparou que ele estava com roupas mais leves, apenas de regata e bermuda, teve segundos para analisar seus músculos e a tatuagem no braço esquerdo, realmente era um homem forte e bonito ela pensou.

Ele falava em inglês, mas ela sabia muito bem a língua, Marcela tocou seu ombro. Argos se virou e desligou o telefone.

— Desculpe, queria falar contigo.

— Ah! Falar comigo longe das crianças, gostei da ideia. — Argos sorriu maliciosamente e se aproximou dela.

Argos a puxou pela cintura, deu uma boa olhada no vestido roxo florido, o mesmo que ela usava quando foi levada do Brasil. Ele a pressionou contra seu corpo, colocou o nariz em seu pescoço e sentiu seu cheiro.

— Oh, your perfume is sweet and hot (Seu perfume é doce e quente).

— Por favor me solte! — Marcela disse e seus olhos brilharam de medo.

— Se controle Argos, ela é linda, mas não é pro seu bico. — Disse Carlos surgindo do outro lado da sala.

Argos a soltou, e Marcela ficou vermelha de vergonha, abaixou a cabeça. Carlos se aproximou levantando seu rosto e colocou seu cabelo atrás da orelha.

— Diga, por que está fora do quarto? O que quer com meu soldado? — Carlos vestia uma calça escura e uma camisa polo preta, normalmente ele usava essa cor, ele sorriu, isso sim era incomum. Sorriu pensando em como seria tê-la por uma noite, além de pensar se o soldado já teria conseguido algo. Ele se virou para Argos com o sorriso cínico. — Antes responda Argos, como é beijá-la?

Marcela fechou a cara, realmente ficou com raiva do comentário.— Não me ofenda senhor, estou aqui pelos meus filhos, não tenho nenhum envolvimento com seu soldado, se pudesse eu estaria bem longe com eles.

— Eles não são seus filhos. O quanto antes aceitar isso, menos sofrerá, mas fale logo, o que quer?

— Não vou discutir, preciso de alimentos adequados para as crianças, se puder comprar preparo uma sopa, também preciso de remédios Danilo e Megan não estão bem.

— Como assim não estão bem? — Surgiu uma ruga de preocupação em Carlos, ele realmente não sabia lidar com crianças e ainda mais doentes.

— Temos nos alimentado mal, os dois estão com dor na barriga e a Megan está até com febre.

— Argos meu amigo, compre o que ela precisa, não importa o que. Marcela, me desculpe, não sei lidar com crianças, quais suas necessidades, ainda bem que está aqui, tenho que admitir. Marcela piscou várias vezes confusa, Carlos estava sendo gentil e atencioso, não parecia o homem arrogante do dia anterior.

Marcela fez uma lista com legumes, verduras, temperos, carne e remédios, passou para o soldado e se virou para retornar ao quarto.

— Marcela!

— Oi. — Ela parou sem se virar.

— Posso vê-los?

— Por que me pergunta? São seus filhos, estamos presos em sua casa, e eu então, nem do quarto posso sair, tenho poder de negar algo?

— Desculpa por isso, mas queria os meus filhos comigo. Te dou liberdade para andar pela casa, fazer o que é necessário para que as crianças se sintam bem e o que precisar peça a Argos, dou carta branca para gastar com tudo que quiser.

— Obrigada! — Marcela sorriu discretamente, ela pensou que mesmo presa poderia oferecer um pouco mais se conforto aos filhos.

Marcela voltou para o quarto e se aconchegou próxima a Danilo que dormia abraçado a irmã. Carlos a seguiu e deitou-se timidamente do outro lado, próximo a Megan, que chegava a falar algo, mas não tinha como entender, era a febre falando.

— Mamãe, você está bem? — Quero ir pra casa .

— Danilo estamos bem, estou aqui com você, mas vou me levantar e preparar aquela sopa de legumes que você odeia.

— Poxa mamãe... Quer me deixar pior? — Danilo falava sem abrir os olhos, mas com um leve sorriso de deboche.

— Seu pai está aqui, ele cuidará de vocês enquanto eu cozinho.

Neste momento Megan se mexeu como quem procura aconchego e ficou ainda mais próxima de Carlos. Ele sorriu, beijou sua testa e passou a acariciar os cabelos dela e de Danilo. Na segunda passada de mão o menino retirou a mão dele de sua cabeça.

— Não sou um bebê, só minha mãe mexe nos meus cabelos.

Marcela da porta riu baixo e foi para a cozinha. Antes de começar tentou arrumar um pouco o local, lavou as louças e limpou o chão.

Ela estava distraída cortando os legumes quando Argos entrou e a viu de costas, analisou novamente suas curvas e suas pernas. Naquele vestido feminino ela ficava ainda mais bela, o vestido era até quase os joelhos, não era colado, mas evidênciava suas coxas grossas e desenhadas.

Argos se aproximou por trás e colocou a mão em sua cintura de forma suave e encostou o rosto em seus cabelos, inalando seu perfume.

— Marcela, não lembro de ter trazido perfume, como pode você estar tão cheirosa?

Marcela se assustou e cortou a mão.

— Ai! Que droga, olha o que me fez fazer. Se afaste de mim, está me assustando!

— Desculpe Marcela, deixe-me ver sua mão.

Ela estendeu a mão e virou o rosto, estava envergonhada, e ao mesmo tempo gostou de ouvir seu nome na voz do soldado.

— Não foi profundo, vou pegar um bandaid.

Ele cuidou de sua mão e beijou a mão dela depois que terminou.

—Obrigada, vou levar sopa para as crianças, se quiser se servir fique a vontade.

— Ficarei mal acostumado, nessa casa faz muito tempo que não temos uma refeição preparada por uma mulher.

Marcela saiu sem falar mais nada, apenas com um leve sorriso. Entrou no quarto com uma bandeja, nela estavam os medicamentos e a sopa em duas tigelas.

— Precisarei de ajuda para alimentar as crianças. — Ela disse e sorriu timidamente.

— Tudo bem, eu cuido da menina, Danilo não quer que eu o toque.

— Danilo não gosta de contato físico, conto nos dedos as vezes que o Rafael conseguiu abraçá-lo sem ele se incomodar, comigo sempre foi diferente, ainda mais depois da morte do Rafael, esse me ajudou muito nesses 6 meses.

Carlos entendeu, que o marido de Marcela havia falecido fazia apenas 6 meses, já que o menino disse que moravam juntos á apenas um ano e entendeu também que Danilo foi quem a consolou.

Marcela despertou o filho e o colocou sentado encostado em seu ombro, ia chamando por ele e colocando a sopa em sua boca. Carlos tentou fazer o mesmo com Megan, mas ela era muito pequena e ainda não acordou de jeito nenhum.

— Tudo bem Carlos, já estou quase terminando aqui com Danilo. — Marcela disse com um sorriso amigável.

— Gostaria que me ajudasse, quero aprender a cuidar dos meus filhos.

Marcela deu o remédio para Danilo e o deitou. Passou para o lado de Carlos, pegou a filha e a sentou no colo dele, pegou a sopa e deu ela mesma á menina. Depois a medicou, e Carlos a colocou deitada na cama e a cobriu.

— Meu filho confia em você, farei o mesmo. — Carlos sorriu, gostou de cuidar dos filhos e ainda mais da companhia de Marcela.

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