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1

Malu narrando

Eu me olho no espelho vendo as marcas que Perigo tinha deixado em meu corpo e eu não consigo acreditar que a minha vida tenha virado um inferno.

Ele me mantém aqui porque sabe que eu sei muita coisa sobre ele, por ser filha de um dos seus braços direito, por isso ele não me deixava ir. Tudo que eu queria era fugir desse lugar, mas ele me encontraria aonde eu fosse.

Quando eu comecei a frequentar o morro depois de ir embora daqui com a minha mãe, eu acabei conhecendo Perigo, ele ainda não era dono do morro, se tornou alguns meses depois após a morte do seu pai. Eu me mudei para cá e logo depois meu pai faleceu, até então a nossa relação era saudável, depois tudo começou a subir a sua cabeça e se tornou tudo um inferno.

Eu não frequentava as reuniões da sua família e amigos, ele me mantinha longe de todos, quando ele saia do morro ele saia sozinho e eu não tinha permissão de colocar os meus pés nem para fora do lado, meu corpo era todo marcado por causa de suas agressões, ele chegava em casa de noite, cheirando o perfume de outras mulheres, bêbado e drogado e a maioria das vezes descontava em mim.

Eu desço as escadas e encontro ele limpando as suas armas, fuzil e revolver em cima da sala.

- Porque está com braço enfaixado? – ele pergunta

- Você me machucou, esqueceu? – eu pergunto

- Não me lembro – ele fala

- Memória curta a sua – eu respondo

- Eu só me lembro de você arrumar barraco no meio do morro – ele fala se levantando e vindo atrás de mim e me jogando contra a parede e beijando meu pescoço – você não deveria se importar com quem eu pego da porta para fora, porque aqui dentro é você que está, é você que tem minha proteção.

- E você vai se importar se eu sair pegando todo mundo? – eu falo – seus amigos, os vapores, quem mais? Deixa-me ver – ele tampa a minha boca.

- Você me tira do sério Maria Luiza, estou de boa contigo agora caralho – ele fala e eu o encaro – não me faça te machucar - eu o encaro.

- Me larga Miguel – eu falo implorando

- Você precisa me obedecer – ele fala

- Um dia você disse que me amava, é esse amor que sente por mim? – eu pergunto e ele me encara com raiva – eu jamais vou te obedecer em nada.

- Você vai me obedecer – ele fala.

- Sabe quantos amigos seus querem ficar comigo? Um monte. Sabe quantos inimigos seus te matar por mim? Muitos – ele me encara.

- Você quer virar x9 sua desgraçada? – ele pergunta com raiva.

- Você não me valoriza, você me troca pelas outras – eu falo para ele – você realmente acha que eu quero ficar com você ainda? Qualquer um daria a vida para me ter ao lado dele porque só não enxerga a mulher foda que você tem do seu lado.

- Você vai se arrepender por dizer isso – ele fala e eu me defendo do seu tapa.

- Me machuca mais uma vez, é só isso que um bosta que nem você sabe fazer – eu falo.

- Cala boca – ele fala e eu dou um chute e o empurro contra a mesa e saio correndo.

Ele consegue me alcançar e eu jogo o abajur nele, ele estava com raiva e eu precisava sair daqui o quanto antes.

Eu subo as escadas e quando ele ia subir atrás a casa é invadida por policiais, eu consigo subir todos os degraus e me esconder no andar de cima.

- Perigo, abaixa a arma – o policial fala – deita porra! – eles jogam Perigo no chão. – vasculhem a casa para ver se tem mais alguém.

Eu corro para o nosso quarto, pego a mala de dinheiro que Perigo tinha guardado e os meus documentos e pulo a janela, o morro está um caos tinha policial para tudo que era lado e vários vapores e chef de boca ajoelhados no meio da quadra. Eu começo andar pelas vielas do morro, se algum policial me pegasse eu seria reconhecida na hora e seria levada junto, eu era fiel de Perigo, eu sei de muita coisa e se eu ficasse, com certeza Perigo iria mandar eles calarem a minha boca com medo de que eu falasse demais e se fosse pega a mesma coisa, o meu destino era ser morta.

Eu jogo a mala para dentro de um buraco quando vejo dois policiais vindo em minha direção.

- Seu nome – o policial fala apontando a arma para mim.

- Luana – eu respondo rapidamente.

- Documento – ele pede.

- Eu estava na rua quando vocês invadiram aqui, eu não tenho documento comigo – eu falo. – eu sou moradora, estava apenas escondida com medo de um tiroteio maior.

Eles se encaram.

- Vai para sua casa – ele fala – agora!

Eu apenas assinto com a cabeça e desço as escadarias, olho para trás vendo que os policiais já tinha virado o beco e volto para pegar a mala.

Eu consigo sair do morro pelo matagal e começo a correr o mais rápido possível, eu não poderia ser pega de forma nenhuma por ninguém, nem pelos parceiros de Perigo e nem mesmo pela polícia.

- Para onde moça? – o taxista pergunta quando entro no carro.

- Rodoviaria, por favor – eu falo.

Eu não faço idéia para onde eu iria, eu iria apenas pegar o primeiro ônibus e sair do Rio de Janeiro, eu sou fiel de Perigo a muitos anos e comigo guardo tantos segredos e tantas conversas naquela casa que poderia acabar com muitos traficantes, eu era como se fosse a peça que falta em um quebra cabeça de 3mil peças, a peça mais importante que contém muita informação, eu poderia usar para acabar com ele, só que eu acabaria morta e eu não queria isso.

- Para onde? – A moça pergunta.

- Qual é o proximo ônibus que sai? – eu pergunto

- Para o pará – ela fala.

- Pode ser – eu respondo e ela me encara arqueando as sobrancelhas, eu abro a bolsa e pego o dinheiro entregando para ela.

- Boa viagem – ela fala me entregando o bilhete da passagem.

Eu descarto meu celular com muita dor no coração no lixo da rodoviária, alguém poderia me rastrear, até mesmo a policia. Eu olho para todos os lados com medo, todo mundo era suspeito, eu entro dentro do onibus e sinto um alivio grande quando ele começa a sair do Rio de Janeiro.

Eu estava livre do Perigo!

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