Me desculpe
Ouvimos uma leve batida na porta e Babi entrou, incerta sobre o que fazer ao me ver com Theo pelo colarinho.
— Larga o seu irmão agora, Malu — ela disse seriamente.
Soltei Theo, que caiu, com a cabeça no travesseiro.
— Ele me provocou, mãe!
— Ela disse que você me achou na lata de lixo, mãe... Eu ouvi isso a vida inteira. Não é justo voltar depois de anos e essa louca insistir nisso.
— É tão bom ver vocês dois brigando... — Babi jogou-se na cama, nos abraçando.
Dentre as coisas boas da vida, o abraço da minha mãe era uma delas. E o cheiro de Theo era a segunda... Ou talvez a inversão da ordem fosse o que realmente eu achasse. Quando fomos nos soltar, os dedos dele enlearam nos meus cabelos e nossa mãe teve que intervir, enquanto eu reclamava de dor.
— Você ainda enrola os cabelos quando está nervosa? — Theo me perguntou, quando enfim conseguiu se soltar dos fios.
— Não! — menti.
— Sim — Babi confirmou.
— Então estava bem nervosa hoje. — Theo riu.
— Bem, vim avisá-los para dormirem cedo. Pedi para o café da manhã ser servido às 8 horas. Anon e Ben virão comer com a gente. Faz tempo que não conseguimos reunir toda a família.
— E tio Sebastian vem?
— Não. Eles já têm um compromisso. Aliás, conversou com seus tios e primos?
— Sim... Aliás, Jordana está linda! — Ele observou.
— Sim, ela é muito parecia com meu irmão. E como Sebastian é um pedaço de mal caminho, claro que a filha também seria.
— Assim como Dimi. — Olhei para Theo.
— “Dimi”? Desde quando o chama de “Dimi”?
— Desde que você foi embora. — Fui sincera.
— Malu tem um bom relacionamento com Dimitry... O que incrivelmente não acontece com Jordana — Babi revelou, rindo.
Levantei e espreguicei-me:
— Foi um dia cheio... Vou dormir.
Babi deu um beijo em Theo e outro em mim e saiu.
— Boa noite, imbecil. — Pisquei, saindo pela porta.
— Raio de sol?
Virei o olhei-o:
— Você ficou linda loira e com as mechas rosas nos cabelos.
Sorri, fechando a porta.
Sonhei a noite inteira com Dimitry me fodendo na sala do meu pai. E não foi um sonho erótico. Estava mais para filme de terror.
Pus o relógio para despertar as 7 horas da manhã, para não me atrasar para o café da manhã em família. Assim que botei a mão no celular, vi a mensagem dele.
“Não consigo dormir. Seu cheiro ainda está impregnado em mim.”
Respirei fundo e olhei a hora que ele havia mandado a mensagem: 2 horas da manhã. Digitei:
“Me arrependo amargamente do que fiz. Se pudesse voltar no tempo, não teria transado com você ontem. Fui uma pessoa horrível. E eu não quero ser assim, Dimi. Me ajuda a ser melhor. E não me procure mais para isso.”
Tomei um longo banho e deixei meus cabelos úmidos, não usando o secador. Caprichei num delineador rosa neon e usei calça jeans e camiseta estampada, com nó na cintura. Completei com um coturno branco e fui para a varanda, pois tinha quase certeza de que o café da manhã seria lá, o lugar preferido do Theo.
E não estava enganada. Senti o cheiro de café passado no ar e reclamei, sentando à mesa:
— Café passado é só quando Theo está nesta casa? Isso é injusto.
Babi riu e não demorou um minuto para Theo e Heitor aparecerem, conversando animadamente. Meu pai deu um beijo no topo da minha cabeça:
— Bom dia, minha linda.
— Bom dia, pai! — Aspirei o cheiro do café mais uma vez.
— Ela não é mais o seu raio de sol, pai? — Theo debochou, sentando ao meu lado.
— Sua irmã não gosta mais de ser chamada assim... Agora ela quer ser Malu, porque Maria Lua também não é bom o suficiente para ela — Heitor falou.
— Bom dia, raio de sol! — Theo me empurrou com o ombro, em tom de brincadeira.
Como eu senti saudade daquilo: nós quatro juntos. Desde que Theo foi embora, aos 18 anos, nada mais teve graça. E ainda me intrigava o fato de ele ter abandonado a faculdade em Noriah Norte e ter decidido viver em outro país, concluindo o curso de Engenharia Química longe de nós.
E não foi pelo fato de Heitor ter achado uma puta sacanagem ele não querer tomar conta dos negócios da família, deixando tudo nas minhas costas.
Raio de sol me lembrava a infância. E eu já não era mais criança. E apesar das merdas que fazia, queria que me vissem como uma mulher. E chamar-me daquele apelido bobo e ao mesmo tempo tão carinhoso me fazia ainda ser uma menina aos olhos deles. E eu não era um raio de sol... Principalmente de Theo Casanova.
Servi-me de café puro e um pedaço de bolo de amendoim com cobertura de leite condensado.
— Ainda come a sobremesa antes da refeição principal? — Theo me perguntou.
— Sim, ela ainda faz isso. — Babi riu.
— E Ben e Anon? — Theo questionou.
— Ben avisou que se atrasariam. Dormiram mais que a cama.
O celular de Heitor dava alerta sonoro o tempo inteiro. Olhamos para ele, que disse:
— Não se preocupem... Não vou atender. — Tocou na tela, certamente tirando o volume.
Meu telefone começou a vibrar no bolso e o de Heitor também. Retirei o meu do bolso e abri a mensagem de Ben:
“Não desça para o café da manhã. Aliás, finja que está com uma doença grave, para que não a matem.”
Olhei para todos, que continuavam se alimentando tranquilamente.
— Largue o celular, Malu, por favor — Babi pediu.
Guardei o celular no bolso, empurrando o prato.
— Achei que fosse alérgica a amendoim — Theo lembrou.
— Não... Não mais... — falei, nervosamente, tentando entender o que tinha acontecido.
A governanta entrou na varanda e disse:
— Senhor Casanova... O senhor Perrone ligou para a casa... E pediu que olhe seu celular... Imediatamente.
Ela saiu e Heitor pegou o celular: