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Capítulo 1 - O Emprego

Carolina

- Carolina Dubois Souza, certo? – a mulher morena bem vestida diz.

- Sim – eu respondo.

- Vinte anos, solteira, sem filhos, sem experiência comprovada em carteira – ela fez uma cara feia – Como pretende cuidar dos meus filhos se não tem experiência, sabe de quem eles são filhos, da importância dessas crianças na sociedade?

- Cuidarei da melhor forma possível senhora – tento ser educada, mas não deu muito certo pois a cara dela muda na hora.

- Não me chame de senhora novamente – ela trás o corpo magro para a frente - Ou nem mesmo terá oportunidade no emprego.

- Me desculpe sen...

- Thamara – ela encheu a boca para dizer seu nome – Ou melhor, me chame de Senhora Carvalho.

- Sim, Senhora Carvalho.

- Desta forma não criamos intimidades, odeio intimidades com empregados – ela gesticulou – E não teremos problemas futuros.

Ela me analisa, olha nos pés e vai subindo o olhar arrogante até chegar em meu rosto.

- Vou fazer um teste com você, por dois dias, pois meu marido insistiu muito – ela olhou no relógio – Você pode começar agora, tenho um jantar com o senhor Carvalho e não tenho com quem deixar as crianças, já que demiti a última babá.

- Agora?

- Você diz aqui ter disponibilidade de horário, caso não tenha essa disponibilidade é só se retirar.

- Eu tenho sim – na minha situação não posso recusar o emprego - Eu cuido das crianças agora – respondo prontamente para não perder a oportunidade.

- Ótimo, sabia que ficaria – ela se levanta e vai até a porta – Você não vem ou vai ficar sentada aí o resto do dia? Afinal veio aqui para trabalhar ou estou enganada?

- Eu estou indo – me levanto e corro atrás dela que anda rápido demais com suas pernas longas.

E foi assim que conheci a família Carvalho. O pai estava com o pequeno Thomas nos braços quando entramos no quarto e a garotinha de cabelos negros e olhos azuis como os da mãe que estava sentada na beirada da cama com a cara emburrada.

- Esse é o senhor Carvalho – o homem que eu deveria ficar longe como Ivone me instruiu e nem olhei só balbuciei uma boa tarde, estávamos no fim da tarde – Espero que não tenhamos problemas.

A última babá foi demitida, pois a Senhora Carvalho cismou que a moça estava dando em cima do marido, então tia Isabel disse para evitá-lo ao máximo. Que ele era um homem bom e generoso, mas Thamara não gostava que ninguém se aproximasse dele e que ele era a galinha dos ovos de ouro dela, eu deveria manter a maior distância possível dele.

Tia Ivone dizia que ele era um homem muito bom e generoso e que só tinha olhos para a esposa que o levava em banho Maria e mandava em tudo, minha tia dizia que ele fazia tudo que ela queria e era apaixonado pela esposa, mas todos na casa, quando digo todos digo os empregados, desconfiavam que ela tinha um caso com um homem misterioso. Mas isso não é da nossa conta e que estamos aqui para trabalhar e só.

O senhor Carvalho entregou Thomas em meu colo e a pequena Luna continuou emburrada sentada na cama. O pai foi até ela e beijou seu rosto que rolou uma lágrima, mas continuou firme.

- Vamos logo Pedro, vamos perder o horário – ela já tinha saído do quarto – Se tivéssemos optado pelo helicóptero como eu disse não tinha que sair tão cedo.

- Qualquer coisa me ligue – me entregou um cartão – O meu número está aí ou vá até a cozinha e peça que me ligue. Boa noite.

O pai das crianças era um homem educado e gentil e ao contrário da mãe que parecia não gostar muito dos filhos. Luna não se moveu, Thomas achou interessante os meus óculos e queria pegá-los, como ainda era um bebezinho de colo não entendia o que estava acontecendo, mas a pequena Luna já sabia o que era amor e carinho e por isso estava tão chateada.

- Olá Luna – eu disse a ela que continuou do mesmo jeito – Eu quero te ajudar, posso me sentar aqui com Thomas perto de você.

- Não quero sua ajuda – ela estava magoada com os pais.

- Que tal darmos uma volta pela casa? – eu queria agradá-la, tive pena da garota.

- Não podemos sair do quarto à noite – e baixou o olhar.

- Eu sinto muito – ela continuou imóvel - Que pena, mas nós podemos brincar aqui, o que acha?

- Não quero.

E então a deixei à vontade, o que eu poderia fazer? Logo uma das cozinheiras trouxe a mamadeira do Thomas que adormeceu depois de mamar. Coloquei ele em seu berço e Luna já estava cochilando na beirada da cama, olhei no relógio e já se passava das nove da noite. Peguei Luna no colo que acordou e chorou, provavelmente algum sonho ruim, a abracei e ela se agarrou a mim e deitei-me com ela na cama e deixei que ela me abraçasse. Isso me lembrou de mamãe, quando sentia medo e corria para a cama dela e ela me abraçava e cantava para que eu pudesse dormir. E assim fiz com Luna e adormeci ao seu lado com ela agarrada em mim.

Estava sonhando com a mesma coisa de sempre no mesmo campo verde, enquanto eu galopava com um cavalo branco. Desde criança o mesmo sonho tomava algumas de minhas noites, o galope do cavalo, o meu cabelo ao vento, enquanto eu olhava para trás e sorria para alguém que eu nunca sabia quem era. O meu cavalo continuava a correr e o sentimento de felicidade que percorria meu corpo.

- Carolina – sinto uma mão segurar meu braço – Carolina, nós já chegamos.

- Humm, eu estou feliz, me deixe.

- Que bom que está feliz, mas você precisa se levantar ou vai ficar com dor no corpo essa cama é muito pequena para você.

A voz chegou no meu cérebro. No meu sonho. E falava de cama. Então relutei a sair dali, daquele mundo que eu inventava para fugir da minha realidade, que era tão dura, depois de tudo que passei na vida.

Ao abrir os olhos vejo o homem à minha frente e que me parece conhecido, mas ao mesmo tempo não conheço. Estou confusa, imagine abrir os olhos e dar de frente com um homem estranho, ou será que não é estranho? Que confusão.

- Quem é você? – eu me levanto e pego o primeiro objeto que encontro, a mamadeira que vai parar na testa do meu novo patrão.

- Ai – ele coloca a mão no local onde a mamadeira bateu - Sou eu Pedro, você está trabalhando em minha casa, você se lembra? – ele diz ai mais uma vez e vejo que a testa dele está vermelha e então caio na realidade de onde estou.

- Seu Pedro me desculpe, eu me assustei com o senhor.

- Não foi nada Carolina eu deveria ter te chamado de longe o erro foi meu, claramente que você iria se assustar – ele passava a mão na testa.

- Eu que peço desculpas – olho no rosto dele – Eu te machuquei, você não vai me demitir por isso? Vai? – neste momento já me tremo toda – Eu preciso muito do emprego.

- Não, não vou demiti-la, fique tranqüila – ele segurou em meu braço e eu olhei para sua mão.

- Você terá um quarto lá embaixo e terá que dormir aqui – então olhei ao redor onde será que eu iria dormir – Digo aqui na casa durante a semana eu imagino que Thamara tenha conversado com você mais cedo.

- Não ela não me disse nada, eu tava até preocupada como iria voltar para casa, por que já é de madrugada – então ajeito meus óculos.

- Eu preciso que você fique com as crianças durante a semana em tempo integral, eu imaginei que Thamara tinha dito – eu nego com a cabeça – Você precisa voltar para sua casa hoje? Tem alguém te esperando em casa?

- Não, eu não tenho – abaixei a cabeça e isso me deixava triste, eu era sozinha no mundo – Eu posso ficar, mas se puder amanhã ir em casa pegar algumas coisas.

- Claro que pode – ele passou a mão na testa, acho que estava doendo - No período da tarde peça ao motorista para te levar, pegue suas coisas e volte antes de anoitecer e peça a Ivone que fique com as crianças.

E então ele olhou os filhos que dormiam como anjos e foi saindo do quarto e me chamou para ir junto com ele e que me levaria ao quarto. Descemos pelas escadas e seguimos pela cozinha, onde tia Ivone trabalhava como cozinheira e seguimos por um corredor e paramos em frente a uma escada e o senhor Pedro abriu a porta e disse que eu dormiria ali. Eu entrei no quarto e me deparei um quarto melhor que o meu, a cama de casal com edredom branco que parecia tão macio. Uma cômoda e um pequeno guarda roupa, tapete branco e dois criados com um vaso de flores em cada um.

- Você terá uma folga na semana e terá uma outra pessoa que vai lhe auxiliar e cobrir sua folga, Ivone deu boas referências de você e espero que dê tudo certo.

- Eu também – respondi prontamente.

- Thamara pode ser um pouco geniosa às vezes – ele ficou sem graça e eu pensei com meus botões às vezes ele foi bem gentil com ela – Mas tenha paciência com ela e cuide bem dos meus filhos, por favor.

- Pode deixar seu Pedro, eu vou ter paciência – pelo menos eu acho que terei foi o que meu cérebro gritou – E vou cuidar dos seus filhos direitinho.

- Então eu vou – ele mostrou para a porta – Qualquer dúvida fale comigo ou com Thamara, ou melhor com Isabel, é melhor evitar minha esposa – ele deu um riso sem graça - Tenha uma boa noite.

- Boa noite, seu Pedro.

E então ele fechou a porta e se foi e eu pude respirar tranqüila, olhei no meu celular e já se passava das três da manhã, corri tomar um banho rápido e deitei-me na cama demorei um pouco a pegar no sono, mas quando ele veio dormi como um pedra, o dia foi muito estressante. Essa dona Thamara vai acabar comigo, mas quando precisamos de um emprego temos que saber lidar com a situação e ligar o monge da tranqüilidade que existe em nosso interior.

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