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Capítulo 8

- Vá se foder, Alisson! - Mostro a ela meu dedo médio e ela retribui mostrando a língua.

Depois de remover a bala, ela limpa o ferimento e faz um curativo.

- Ok, você precisa limpar e trocar o curativo todos os dias, entendeu? - Ela fala como se fosse minha mãe, uma mãe que eu nunca tive, por assim dizer.

- Sim, mamãe. - Reviro os olhos e recebo um tapa no lado não ferido.

- É sério, Axel - ela enfia a mão na bolsa que trouxe e tira dois frascos de remédio. - Este é um antibiótico, para que não infeccione, e este é o anti-inflamatório que ajudará a aliviar a dor. - Ali coloca os dois frascos sobre a mesa. - Você pode tomar cada um deles a cada poucas horas, entendeu?

- Entendo, não sou mais uma criança. - Respondi com o pouco de paciência que me restava.

- A julgar pelo seu comportamento nas últimas horas, isso é questionável. - Ele disse enquanto empacotava tudo o que havia trazido com ele.

- O que você queria que eu fizesse, hein? Se eu não a tivesse salvado... novamente, ela seria abusada e depois morta, ou pior. Como você quer que eu assista a isso sem fazer nada? - Alisson me olhou atentamente, mas não disse nada, porque ela já sabia, ela sabia pelo que eu passei, e não fazer nada me mataria por dentro.

Como já havia me matado uma vez.

- Olha, quem diria que Axel Dom se tornaria o salvador de garotas indefesas. - Ele respondeu ironicamente e com um leve brilho nos olhos. - Bem, apenas certifique-se de não fazer nenhuma outra besteira, se é que me entende. - Em seu tom de voz duvidoso, eu sabia o que ela queria dizer. Balancei a cabeça e a segui até a porta.

- Mais uma vez, obrigado, Alisson. - Ela me deu um breve abraço antes de sair.

Voltei à mesa e peguei o remédio que Ali deixou, mas vou deixá-lo para começar a tomar amanhã. Hoje vou tomar um analgésico natural ou não. Peguei uma garrafa de uísque, um copo e me sentei no balcão da cozinha. Enchi o primeiro copo e o engoli, sentindo o gosto amargo e o líquido queimando em minha garganta.

O que estou fazendo com minha vida?

Um, dois, três... seis, oito, dez...

Nem sei quantas doses já tomei, mas foram tantas que peguei o frasco para ver quantas ainda restavam... Já tomei mais da metade. Sorrio para mim mesmo com a cabeça encostada na parede, uma perna esticada e a outra apoiada no balcão. Ótimo, pelo menos meu ombro não está mais doendo, na verdade, não sinto nada, estou muito, muito bêbado.

Enquanto continuo bebendo - agora direto da garrafa - com a intenção de querer secar a garrafa inteira, no silêncio e na luz fraca da cozinha, ouço pequenos passos vindos da escada.

Agora não.

Summer apareceu diante de mim, vestindo uma camiseta minha que eu havia dado a ela mais cedo. Suas roupas estavam muito sujas e ela não tinha outra roupa para vestir. Preferi que você usasse uma das minhas, em vez de ficar nua. Mesmo que eu estivesse nu, não faria mal algum.

Fechei os olhos com força e balancei a cabeça, tentando tirar as obscenidades dos meus pensamentos. Como se vê-la com uma das minhas camisetas brancas, que ficavam enormes em seu corpo, e uma cueca, também minha, fosse ajudar.

Ela era tão pequena, estava usando minhas roupas que ficavam tão folgadas em seu corpo... Merda, Axel! Pare de pensar bobagens!

- Oi, eu só queria saber como você está - ela caminhou em minha direção, mas a cada passo eu podia sentir seu medo de se aproximar.

Summer mantinha os braços colados na frente do corpo, enquanto mexia incessantemente com os dedos. Seus pés estavam descalços no chão frio e seu cabelo estava meio puxado para trás com um elástico atrás da cabeça e o resto de suas mechas castanhas cobria seus ombros.

- Já tive coisas piores... - Tomei outro gole enquanto ela se aproximava mais e mais.

- Você está bêbado? - perguntou Summer, observando-me com curiosidade.

- Talvez...", respondi, repensando toda a minha vida e se eu deveria ou não fazer as coisas que estavam invadindo meus pensamentos com ela agora. - É por isso que eu o aconselho a ficar longe dela. - Ela abriu bem os lindos olhos azuis e congelou no lugar.

- Por quê? - Sua voz é tão doce e baixa que eu poderia ouvi-la por horas, mas acho que é o álcool que fala mais alto.

- Porque... - Saí do balcão e me aproximei dela, praticamente mantendo nossos corpos pressionados um contra o outro. Assim tão perto, eu podia sentir seu cheiro e só isso foi suficiente para me tirar da escuridão. - ...estou bêbado e você está usando minhas roupas, andando pela minha casa e olhando para mim desse jeito, me dá muitas ideias... - Levei minha mão ao seu rosto, ela recuou por alguns segundos até sentir minha mão em seu rosto. Seu rosto ainda tem as marcas de onde ela levou o tapa, eu acaricio a área gentilmente. - Essas ideias não seriam bem aceitas, considerando minha situação atual.

- Que ideias seriam essas? - Seu peito estava arfando e sua voz estava baixa e rachada.

- Acredite em mim, boneca, você não vai querer saber...", eu disse perto de seu rosto, tão perto que senti o toque de seus lábios contra os meus. Evitar beijá-la era muito difícil. Minha mente diz que é errado, mas meu corpo arde de desejo. Respiro fundo e me afasto antes que acabe fazendo alguma besteira. - Goodnight doll, see you tomorrow....

Acordo de manhã com o som irritante do despertador. Sinto que minha cabeça vai explodir.

Maldito uísque.

Levantei-me com dificuldade, pois além da dor de cabeça, meu ombro estava me matando. Peguei os remédios que a Alisson me deu ontem e tomei os dois a seco. A luz que entrava pela janela do quarto fazia meus olhos doerem, eu mal conseguia andar de forma coordenada até o banheiro.

Liguei o chuveiro e nem ajustei a água para ficar morna, vai ficar fria, quem sabe o choque térmico me faça sentir melhor, talvez não.

Depois do banho, coloco uma calça de moletom e desço as escadas com a camiseta na mão. Antes de vesti-la, preciso limpar o ferimento e trocar o curativo, mas primeiro ligo a cafeteira, para que o café possa ser preparado enquanto cuido do dano ao meu corpo, meu ombro.

Com o kit de primeiros socorros em mãos, vou até a mesa da cozinha e coloco tudo em cima dela. Quando estou prestes a começar, Summer aparece quase como um fantasma bem atrás de mim, fazendo-me pular de medo.

- Bom dia. - Ela me deu um sorriso contido, aproximou-se e começou a mexer no kit que estava sobre a mesa, - por favor, deixe-me ajudá-lo. - Summer pegou uma compressa de gaze, um pouco de soro fisiológico e olhou para mim com aqueles olhos de cachorrinho ansioso. Agora acho que tudo o que é necessário é minha permissão, mas isso não é uma boa ideia.

- Bom dia e não, estou por minha conta. - Quando tentei pegar os objetos de suas mãos, ela se esquivou, não deixando que eu os pegasse.

Com os olhos semicerrados, fiquei olhando e pensando no que se passava na cabeça dessa garota. Seus olhos oscilavam entre meu rosto e meu abdômen. Ela me olhava com curiosidade. Por alguns segundos, ela segura o lábio inferior e o solta, deixando a boca entreaberta. Se ela quer me livrar do gancho desde o início, ela está fazendo isso.

- De graça, boneca, me dê isso. - Tentei novamente e ela me evitou de novo. Ela estava me fazendo perder a paciência desde o início.

Por que, meu Deus?

Coloquei uma das mãos sobre a mesa e olhei para o teto, respirando fundo e contando mentalmente até, para não fazer algo estúpido, mas não era qualquer coisa estúpida.

- Por favor, deixe-me ajudá-la. - Ela olhou para mim com seus olhos brilhantes e ansiosos. - Você está magoado por minha causa, por favor.... - No final, sua voz estava baixa, com um tom de súplica e pedido de desculpas ao mesmo tempo.

- Está tudo bem! - Levantei minhas mãos em sinal de rendição. - Só tome cuidado.

Eu me apoiei na mesa, Summer olhou para mim, primeiro removendo cuidadosamente o curativo antigo. Suas mãos são tão leves e delicadas que são quase imperceptíveis sob minha pele. Em seguida, ela umedece a gaze com soro fisiológico e começa a aplicá-la no ferimento. A dor é suportável, considerando a situação, mas prefiro me concentrar no que está diante de mim. Summer morde o lábio inferior novamente enquanto se concentra em meu ferimento.

Oh, Deus! Ver sua boca rosada assim me dá vontade de fazer o mesmo, de morder.

- Está doendo? - Depois de não sei quanto tempo, sua voz baixa me acorda.

- Você quer saber agora, ou quer saber se dói levar um tiro? - Ele passa o olhar entre o ferimento e meu rosto.

-Ambos...", ele respondeu calmamente.

- Dói, dói muito. Tanto o tiro quanto o depois, mas você se acostuma. - Agora, além do ferimento, sinto seus dedos indo mais longe do que deveriam.

- Como você pode se acostumar com isso, com a dor? - A morena levantou a cabeça, olhando para mim com seus grandes olhos azuis.

- Quando você vive essa vida por muito tempo, fazendo o que eu faço... eventualmente a dor física diminui. Tudo o que resta é uma alma despedaçada. - Mas por que estou dizendo isso a ela? Parece que, de alguma forma, ela me hipnotizou. - Chega disso, já está terminando?

- Quase. - Sentir suas mãos me tocando fez minha respiração ficar pesada. Inclinei a cabeça para trás na tentativa de dispersar meus pensamentos, mas sentir seu corpo perto do meu, seu cheiro inconfundível entrando em minhas narinas, sua mão pequena e delicada me tocando além do que deveria, fez o volume entre minhas pernas aumentar.

- Não consigo me concentrar com você me tocando assim, boneca! - Agarrei seu pulso antes que ela caísse mais, não é que eu não quisesse, o problema é que vou querer mais do que posso ter.

Summer olhou para baixo e depois de volta para mim, engoliu o cuspe, mas ainda não se afastou, não como antes. Na verdade, seus olhos tinham um brilho diferente.

Respirei fundo várias vezes na tentativa de acalmar meus nervos.

- Terminei. - Summer anunciou que havia terminado de se vestir.

Soltei seu pulso e ela se afastou. Coloquei minha camiseta com um pouco de dificuldade e tentei me afastar para evitar ainda mais tensão.

- Está com fome? - Fui até a cozinha, tirei coisas do armário e da geladeira para fazer omeletes.

- Sim, muito, na verdade. - Summer me dá um sorriso fraco, caminha até onde estou e apoia os cotovelos no balcão, olhando para mim, o que me deixa um pouco desconfortável. - Então... pode me dizer o que está acontecendo?

- Vou dizer a mesma coisa que lhe disse ontem. Os caras que querem sequestrar você vão continuar tentando. E mesmo que eu não goste tanto quanto você, você estará mais seguro aqui do que em casa. - Coloquei a frigideira no fogo com um pouco de azeite de oliva e esperei que ela cozinhasse.

-Mas por que você quer me sequestrar? Eu não fiz nada a ninguém. - Seu olhar é ingênuo e o medo se insinua em sua voz. Para mim, isso parece muito simples, mas para ela é tudo muito novo e assustador.

- Acho que tem algo a ver com seu pai, Kendrics Bartlett. - Eu só queria saber quem teria coragem.

- Por quê? Por que ele tem dinheiro? Eles querem um resgate?

- Vá com calma com as perguntas, boneca. - Eu tinha uma ideia do motivo pelo qual eles queriam pegá-la, mas tenho certeza de que ela não faz ideia das atividades ilegais do pai e acho que é melhor manter as coisas assim.

Assim que terminei de fazer o café, comecei a levar tudo para a mesa e Summer rapidamente me ajudou. Enquanto comemos, tento explicar a situação da maneira mais básica e simples possível, sem dar mais detalhes do que o necessário.

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