Capítulo 6
- Eu quero que você diga, você entende? - Parado no lugar e com os olhos cheios de lágrimas, sinto a umidade em minha mão quando uma lágrima escorre por seu belo rosto. Ainda assim, minha expressão permanece impassível diante do desconforto da garota.
Sou um grande filho da puta.
- Eu entendi - assim que ela pronunciou as palavras, sua voz baixa e ofegante, voltei à minha realidade. Soltei seu rosto imediatamente e dei as costas para ela.
Subi as escadas e fui para o meu quarto o mais rápido que pude. É um problema atrás do outro. Fechei a porta atrás de mim e, sem pensar direito, bati na parede. Sentei-me na cama, respirando fundo e tentando controlar meus nervos. Passaram-se alguns minutos até que me levantei, fui até o guarda-roupa e escolhi o que vestiria hoje, como se tivesse muita escolha. Camiseta preta, jaqueta de couro da mesma cor, calça de lavagem escura. Vesti-me, calcei botas de combate e peguei minha mala, onde guardaria tudo de que precisaria para cumprir a missão. Desci as escadas e encontrei Summer sentada no sofá.
Agora não olhe para ela. Tirei a chave do bolso da minha escrivaninha/guarda-roupa, abri a porta, entrei e a tranquei novamente. Fui até as prateleiras e peguei algumas armas, incluindo uma pistola e um rifle de longo alcance, que só uso em último caso, pois gosto de fazer meu trabalho de perto. Também comprei algumas lâminas, de diferentes tipos: são as minhas favoritas.
Tudo pronto e arrumado, saí do escritório, trancando-o para não correr o risco de uma certa pessoa ver algo que não deveria.
Quando estava prestes a sair, sua voz doce encheu meus ouvidos. Ele quer saber sobre seu celular, mas ele não estava com ele ontem, não sei se o perdeu ou se saiu de casa sem ele.
- Você pode assistir até eu voltar. - Peguei o controle remoto que estava na prateleira onde ficava a TV, girei o suficiente e virei o controle remoto na direção dele. Por incrível que pareça, ele conseguiu pegá-lo em pleno ar. - Há comida na cozinha, se você estiver com fome.
Não sei qual foi a resposta dele, pois saí antes de ouvi-la.
Detroit, Michigan, quinta-feira :h
Distraído pelo trânsito e por um milhão de pensamentos, voltei à realidade quando estacionei o carro em frente ao Grant's Bar. Eu precisava falar com a Alisson, o bar estava fechado no momento, mas ela mora no apartamento de cima. Tenho certeza de que vou receber uma enxurrada de insultos, porque ela dorme até tarde por causa do bar, mas a verdade é que, foda-se, eu não tenho ninguém além dela e precisava de ajuda, não com o trabalho, mas com essa morena. -Bati na porta três vezes.
Bati na porta três vezes com meu punho. Esperei, esperei... e nada. Repeti a ação novamente, gritando seu nome junto com ela.
- Abra logo essa porta, Ali! - Passaram-se pouco mais de dois minutos até que ela viesse abrir a porta.
Parecendo sonolento, ele estava vestindo uma camiseta regata branca desgastada e cueca boxer preta. Ele esfregou os olhos, ajeitou o cabelo bagunçado e olhou para mim com mais raiva do que o normal.
- Mas que merda! - Antes calmo, agora possuído. -O que é tão importante para você que está me acordando a essa hora?
- Oh, pare com isso! Nem é tão cedo assim, já passou :h. - Dou um passo à frente... - Você vai me deixar entrar ou não?
Apesar de si mesmo, Alisson deu passagem para mim. Entrei no apartamento que conheço muito bem. Antes, quando eu não tinha onde ficar, essa era minha casa, e foi assim por muito tempo.
- Já que você me acordou e eu provavelmente não vou conseguir dormir, quer um café? - Concordei, então ela se virou e ficou atrás do pequeno balcão da cozinha. - Então, qual é a razão de estar aqui?
- Oh, Alison! - Passei as duas mãos com força no rosto, se pudesse, arrancaria meus olhos. - Em menos de horas aquela garota já havia conseguido me tirar do sério.
A morena liga a água e depois volta sua atenção para mim.
- O que aconteceu? - Com ar cansado, ela apoiou os cotovelos no balcão e eu me sentei na banqueta.
- Não sei como explicar direito... só sei que, se ela ficar ali, vou acabar fazendo alguma besteira.
- Eu sei... mas por quanto tempo você pretende mantê-la em sua casa? - Boa pergunta, eu nem sei.
- Eu não sei, Alisson! Não faça perguntas difíceis. - Ela balançou a cabeça em sinal de desaprovação.
- Ela é filha de um dos caras mais ricos da cidade, que também é o maior traficante de armas do estado. - Alisson estava certa, se eu não encontrar uma solução para essa situação logo, serei eu quem acabará com uma bala na testa.
A morena terminou de servir o café e colocou uma xícara fumegante na minha frente. Não sei por que ela não compra uma cafeteira, é muito mais prático.
Tomo o primeiro e o último gole e quase cuspo o café, que mais parece água da chuva.
- Que merda, Alisson! Ainda bem que você tem um bar, porque se tivesse uma cafeteria você passaria fome, que coisa horrível!
- Nossa! Além de me acordar cedo e me irritar, ele ainda reclama. - Alisson tomou um gole generoso, mas depois cuspiu tudo na pia. - Meu Deus! Isso parece água da chuva misturada com sujeira. - Ele pegou as duas xícaras e despejou todo o conteúdo na pia. - É melhor não bebermos isso, pois podemos nos envenenar.
- Eu disse..." Ele apontou o dedo médio para mim, fazendo uma cara feia.
- OK! Voltando ao assunto em questão, acho que você deveria levá-la para casa. Isso não é da sua conta, Dom. Você vai acabar se machucando por causa dela. - Escutei o que ela estava dizendo e considerei cada ponto em questão levantado. Tenho que concordar com ela, mas ainda há algo nela e na história que me atrai.
- Sabe, Alisson, eu concordo com tudo... mas não sei, há algo nela e....
- Você não está falando sobre seu desejo por mulheres pequenas, que parecem frágeis e ingênuas.
- Vá se foder, Alisson. - Agora é minha vez de apontar o dedo do meio para ela. - Estou falando sério, idiota.
- Muito bem! Então, o que você acha que ela tem de diferente? - Ele inclinou a cabeça para um lado, esperando minha resposta, que eu realmente não sei como explicar. Eu apenas sei e é isso.
Dou de ombros, não sei como explicar direito. É minha intuição e, quando isso acontece, eu sempre a obedeço.
Enquanto conversamos por mais alguns minutos, um estrondo e até gritos começam a vir do apartamento ao lado.
-Mas o que foi isso? - O barulho ficou cada vez mais alto.
- Não sei, já faz alguns dias que eles se mudaram. - Alisson desapareceu pela porta do quarto, mas logo voltou com uma calça de malha. - Pelo que sei, é o tio e sua sobrinha de um ano.
- Isso já aconteceu antes? - Nós dois saímos pela porta da frente e ficamos no corredor quando o tumulto parou.
- Essa é a terceira vez desde que eles se mudaram para cá. - sussurrou a morena ao meu lado.
Depois de alguns segundos de silêncio, o tumulto recomeçou, podia-se ouvir um homem mais velho gritando, coisas quebrando... e pior, a voz chorosa de uma garotinha implorando para que o que estava acontecendo parasse.
Alisson e eu corremos para a porta do apartamento em questão, agarrei o trinco, mas ele estava trancado. A menina gritava cada vez mais por socorro. Dei um passo para trás, corri e bati meu ombro contra a porta. Com a porta escancarada, entramos, passamos pela sala de estar e pela cozinha, seguindo por um corredor estreito em direção aos ruídos até chegarmos ao quarto, que acredito ser o da menina por causa dos tons de lilás e branco.
- Ai, meu Deus! - Alisson gritou e levou a mão à boca.
A cena em questão chocaria qualquer um. A garota estava nua, debatendo-se sob o corpo repulsivo de seu suposto tio. O quarto estava todo revirado e metade das coisas estava quebrada.
- Ei! - Por instinto, puxei a arma que estava em minha cintura e a apontei para o homem mais velho. - Largue isso rápido! Agora!
- Quem você pensa que é para... - Quando ele se virou, viu que eu estava apontando a arma em sua direção.
- Alisson, tire-a daqui. - A morena pega um cobertor e cobre o corpo da garota, que estava apavorada.
Assim que os dois não estavam mais presentes, virei a arma e acertei o cara praticamente nu na minha frente com a coronha da arma, fazendo-o cair no chão inconsciente.
- Filho da puta imundo!
Depois de muito trabalho para fazê-lo se sentar na cadeira, também peguei uma cadeira e me sentei à sua frente. Ainda desmaiado, joguei um copo d'água em seu rosto para acordá-lo. Lentamente, ele voltou à vida, parecendo estar grogue.
- Vamos, Bela Adormecida, acorde... - Assim que ele me vê, sentado à sua frente, com luvas de couro e uma faca nas mãos, o desespero toma conta de seu rosto. - ...é hora de seu teste. - Eu lhe dou um sorriso sarcástico enquanto brinco com a espada em minhas mãos.
-Quem é você?
- Isso não é mais relevante... - Peguei o documento que encontrei para descobrir com quem estava lidando. - ...Sr. Turner.
- O que você quer de mim?! - O medo de antes parece estar passando, preciso mostrar a esse velho quem está no controle aqui.
Levantei-me com os punhos cerrados e comecei a dar vários socos em seu rosto. O sangue começa a jorrar de seu nariz, ele teve que cuspir alguns dentes e um lado de seu rosto não pode mais ser visto devido ao inchaço. Continuei socando, até que ouvi o som de sua voz rouca implorando por misericórdia.
- Ei? Desculpe, não ouvi...", eu disse zombeteiramente, levando a mão ao ouvido e me inclinando para frente. - O que você disse?
"Por favor, pare", ele gaguejou. Eu mal conseguia pronunciar as palavras, cada uma delas saindo com dificuldade.
- Parar? Engraçado, hoje, quando sua sobrinha lhe pediu para parar de estuprá-la, você não deu a mínima! - Eu lhe dei outro soco na mandíbula, com força, tão forte que acho que ele a quebrou. Perfeito, quanto mais dor, melhor. - Estou apenas começando com você...
Esse não era o trabalho que eu deveria fazer hoje, mas também não me arrependo de ter mudado meus planos. Depois de deixar o garoto com alguns dedos faltando e cortes por todo o corpo, para não fazer mais bagunça do que eu já havia feito, usei um saco plástico para terminar o trabalho.
Alisson conhecia algumas pessoas que ajudariam Melanie, a sobrinha do monstro em questão. Meu trabalho original teria que esperar por outro dia, então decidi ir para casa.
Quando abri a porta da frente, o silêncio do lugar me intrigou. Olhei ao redor da casa, mas não encontrei ninguém, ela estava vazia.
- Que merda! - Peguei a primeira coisa que vi e joguei o objeto contra a parede.
Você poderia deixá-lo ir, Dom, mas não...
Antes que eu percebesse, já estava no carro procurando a garota mimada. Não era muito longe, especialmente porque onde eu moro não há muito o que fazer, o estabelecimento mais próximo ficava a quilômetros de distância e, a pé, com aqueles sapatos que eu estava usando, tenho certeza de que ela estava lá.
Como minha intuição nunca falha, eu estava certo, mas já era tarde demais.
Estacionei o carro do outro lado da rua do restaurante, mas, antes de sair, vi Summer sendo arrastada em direção a uma van preta.