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Capítulo 2

Antes que eu possa levar meu copo à boca pela terceira vez, ouço as notícias na TV do bar.

- Hoje em: A Polícia Metropolitana de Detroit recebeu uma ligação sobre um incidente em Greektown, onde o Dr. Martin Martinês foi encontrado morto de maneira horrível.

- É isso mesmo, William, o médico foi encontrado sentado em um sofá na sala, com seu órgão sexual cortado, que foi colocado em sua boca e fechado com fita adesiva. Suas mãos também estavam quase rasgadas de uma ponta à outra.

- Meu Deus, até onde vai a maldade humana?

- A polícia acredita que o crime foi cometido para punir o médico. Vários DVDs foram encontrados dentro da casa, contendo cenas de abuso sexual de seus pacientes, prova de que eles foram drogados.

Depois de ouvir a notícia, Alisson olhou para mim com uma sobrancelha levantada e um pequeno sorriso.

- Bom trabalho, Sr. Dom. - Ela pisca para mim e eu levanto meu copo de uísque em saudação.

Alisson sorri e sai para atender os outros clientes, deixando-me sozinho, o que não dura muito tempo.

Um cara alto, moreno e musculoso senta-se ao meu lado, tirando-me do meu transe. Ele coloca um envelope de papel manilha no balcão e o empurra em minha direção.

- Dentro desse envelope há uma peça que pode mudar sua vida para sempre. - Nós dois nos sentamos em frente ao balcão, olhando para nosso reflexo em um espelho que estava atrás das prateleiras de bebidas.

Abri o envelope em questão. Dentro dele estão as informações e a idade de Summer Bartlett. Filha de Kendrics Bartlett (eu sei o nome do pai da garota), além de algumas informações irrelevantes.

- Seu trabalho é pegar a garota e levá-la ao endereço que só lhe será dado quando estiver com ela.

- Por quê? - O que eles querem com uma menina de um ano de idade, que aparentemente não tem motivos para isso.

- Isso não é da sua conta! - Seu tom de voz elevado não me agrada nem um pouco, olhei para ele de lado. - Se você fizer o trabalho, vai conseguir...

- Não estou interessado. - Continuei bebendo meu copo de uísque enquanto ele me olhava com incredulidade.

- Você não é grande coisa, como dizem, recusar um trabalho é tão fácil quanto tirar um doce de um bebê. - Soltei um longo suspiro, coloquei meu copo de volta no balcão e me virei para o rapaz ao meu lado.

- Primeiro, nunca presto um serviço sem saber o motivo. Em segundo lugar, essa garota me parece inocente e eu não machuco pessoas inocentes.

- Você não vai machucá-la, só vai levá-la até onde dissermos para ela ir. - Minha felicidade por ter acabado com um estuprador está se esgotando junto com minha paciência.

-Então, é claro. - Eu dou uma risada irônica. - Vou levá-la sabe-se lá para onde, e agora? Você vai brincar de casinha com ela?

- Você está cometendo um grande erro ao recusar. - Ele estufou o peito, olhando para cima, ficando duro na minha frente.

Grande erro.

- Seu erro é achar que pode se impor a mim. - Cerro os punhos, cerro a mandíbula com tanta força que chega a doer. - Serei educado, só hoje, porque estou de bom humor. Saia da minha frente, antes que tenham que usar uma pá para recolher o que sobrou de você e dessa sua cara feia.

Quando abri a porta do bar, a campainha anunciou minha entrada, chamando a atenção da Alisson. Ela olhou para mim com surpresa, pois nunca havia chegado tão cedo e dois dias seguidos antes. No entanto, como sempre, ela não diz nada, ou quase nada, e nunca faz muitas perguntas.

- Boa noite, gata. - Ela me cumprimenta enquanto seca alguns copos e depois os coloca em seus lugares - Você chegou cedo hoje. - A Alisson pode não fazer perguntas, mas ela sempre encontrou uma maneira de me incentivar a dizer o que ela queria saber.

- Boa noite, Gata. - A morena sorri e eu retribuo o sorriso. Sentei-me em meu lugar habitual. - Hoje só estou aqui para fazer negócios, então não vou querer nada. - O rosto feliz de Alisson muda completamente, sua expressão muda para séria e preocupada.

- Axel... - Ela deixou tudo o que estava fazendo no balcão e se aproximou de mim. Para que ninguém a ouvisse, ela sussurrou: "Você sabe que eu não quero problemas no meu bar.

- Eu conheço a Alisson, não se preocupe. - Eu nunca faria nada para machucá-la. A Alisson é a única coisa boa que me resta e não posso perdê-la também. Ela assentiu e voltou ao que estava fazendo antes.

- Você tem sido muito requisitado ultimamente. - Ela levantou uma das sobrancelhas e fez beicinho ao mesmo tempo. Bonitinho.

- É verdade que Detroit está mais violenta do que o normal.

- E quando foi que essa cidade teve normalidade? - Assenti com a cabeça, Detroit nunca teve uma situação normal, desde que me lembro, sempre foi assim e, com a corrupção, não vai mudar tão cedo.

Alisson e eu conversamos por um tempo, trocando gentilezas, risadas e até mesmo algumas piadas ruins. Nós duas somos muito parecidas, tanto ela quanto eu temos um senso de humor muito ácido em relação a certas coisas. A maioria das pessoas acharia isso bastante ofensivo, enquanto nós rimos.

- Nossa, você é realmente estúpido. - Alisson começou a rir, enquanto eu jogava cascas de amendoim nela, de vez em quando ela fazia o mesmo.

-E você é muito estúpido. - Eu retribuo o elogio. As duas ficam com os olhos cheios de lágrimas de tanto rir.

- OK! Está chegando. - Ele faz uma pausa, respira fundo e limpa os olhos. -Tenho que trabalhar, Axel, me ligue se precisar de alguma coisa.

Eu assenti e Alisson saiu para atender os clientes que tinham acabado de chegar. Quanto mais tarde fica, mais pessoas chegam. Olhei para o meu celular para ver a hora, estava quase na hora do meu contato chegar. Espero que este seja mais pontual do que ontem.

Quando o relógio bateu a hora marcada, um homem de terno e calça sentou-se ao meu lado. Como de costume, é só mais um pau. Ele não disse nada, apenas deixou uma pasta no balcão. Abri a pasta, dentro há uma foto de um garoto, ele deve ter a minha idade. Logo atrás, há um arquivo com nome, informações básicas e, o mais importante para mim, ofensas e contravenções. O alvo na época era um playboy que gostava de exibir o carro de seu pai pelas ruas da cidade, bêbado e ferindo várias pessoas à sua frente. Não é preciso dizer que esse tipo de coisa não leva a nada, especialmente quando se tem um pai na política que limpa o passado toda vez que seu filho comete um erro. Eu nunca questiono o motivo real (a menos que eu ache que a pessoa é inocente, o que não é o caso) para queimar um arquivo, mas eles certamente sempre fazem alguma merda muito grande para fazer com que as pessoas de seu próprio círculo queiram acabar com eles. .

Resolvi todos os detalhes com o homem ao meu lado. Esse trabalho será um pouco mais complicado do que o outro, pois o alvo em questão sempre tem seguranças e raramente está sozinho, embora isso nunca tenha me impedido. Depois que tudo está devidamente organizado, ele se levanta e sai.

- Outro trabalho? - A morena caminha em minha direção, afastando-se do balcão.

- Fazer o quê... - dou de ombros. - Preciso sobreviver. - Alisson balança a cabeça, nunca gostando desse estilo de vida, embora tenha feito parte dele.

- Você se arrisca demais, Axel, um dia vai encontrar alguém mais esperto que você. - A morena sentou-se no banco ao meu lado, onde antes estava meu contato.

- Isso é impossível - dei uma piscadela para ela - sou bom demais para isso. - A morena começa a rir.

-Que autoestima, hein", respondeu ela, sorrindo. - Então, já que o negócio está feito e parece que você não vai trabalhar hoje... que tal um drinque?

Sinalizando que sabe o que é, Alisson voltou para trás do balcão, pegou um copo, colocou-o em cima do armário escuro e o encheu com um líquido de cor âmbar. Engoli-o, o líquido desceu queimando, mas foi uma sensação agradável.

- Mais um Dom? - Fiz sinal de sim e repeti o processo que ele havia feito antes.

Quando levei o copo à boca para beber a segunda dose, ouvi uma voz doce e irritada ao mesmo tempo, algo bastante incomum em um lugar como este. O copo ainda cheio em minha mão voltou para o balcão. Olhei ao redor do bar para descobrir de onde vinha a voz. Examinei o local com cuidado, até encontrar os olhos mais azuis que já tinha visto do outro lado do bar, contrastando com sua pele branca cheia de sardas no rosto e seus cabelos castanhos. Enquanto meu cérebro processava a informação, lembrei-me do homem que veio me ver ontem.

- Acho que não... - murmurei para mim mesmo.

Será que era mesmo ela?

Fiquei olhando por mais alguns segundos, até que me dei conta. Sim, era mesmo ela, Summer Bartlett. Olhei em volta e percebi que ela estava sozinha. Suas feições eram de raiva e descontentamento.

O que uma garota como ela estava fazendo aqui? Ainda mais quando há pessoas que querem sequestrá-la.

Por alguma razão, não consigo parar de olhar para ela. Ela pede uma bebida e Alisson a serve rapidamente. Eu apenas observo de longe enquanto ela faz gestos e meu amigo lhe serve mais e mais bebidas. A garota faz uma cara feia a cada gole, mas bebe mesmo assim. Ainda estou com meu segundo copo de uísque, depois que ela entrou, não consegui nem tomar um gole.

- Você deveria parar de olhar para a garota desse jeito - disse Alisson para mim, levantando as sobrancelhas. Eu nem percebi sua aproximação.

-Pare de ser idiota, não é nada disso. - Não vou mentir e dizer que não a achei bonita, mas isso não significa que eu não possa parar de ficar olhando para ela.

- Sério? Então, se eu for falar com ela, você não vai se importar? - Ele sorri, esperando minha resposta.

- Uau, então eu sou o idiota. - Pego um punhado de cascas de amendoim e as atiro em sua direção. - Não é isso que você está pensando?

- Então o que é?

- Ontem, quando eu estava aqui, um garoto veio falar comigo...

- Sim, eu vi. E? - Ali apoiou um cotovelo no balcão e se virou para a garota triste e já um pouco bêbada do outro lado do bar.

- Ela queria me contratar para um emprego... - Faço uma pausa, respirando fundo.

- OK! O que há de novo nisso? - Ela me deu um olhar preocupado.

- O trabalho... era ela. - Soltei a respiração que estava prendendo e minha amiga me olhou incrédula. Ela olhou para mim e para a garota do outro lado.

- O que você quer dizer com ela?

- Ela queria que eu a sequestrasse. - Agora peguei o copo à minha frente e tomei um gole.

- E o que você disse?

-Não, Alisson! - Falei mais alto do que deveria, fazendo com que alguns olhos se voltassem para mim por um momento. Aproximei-me dela e falei o mais suavemente que pude. - Você sabe muito bem que eu não faria esse tipo de coisa.

- Eu sei, Axel, não duvido disso. - Alisson olhou por cima do ombro. Seu empregado estava servindo outra bebida para a morena de olhos azuis. -Mas o que ela está fazendo aqui?

- Sinceramente, não faço ideia. É por isso que não consigo parar de olhar. Você está vendendo para aqueles caras ali? - Apontei sutilmente para dois homens do lado esquerdo de Summer. Alisson assentiu com a cabeça. - Então eles também não vão parar de olhar para ela. Os dois entraram logo depois dela, mal tomaram um drinque e não tiraram os olhos dela. Aposto que estão esperando que ela fique bêbada para poderem se apresentar, assim será mais fácil.

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