Capítulo 3 - Determinada
Chiara
Pressionei a campainha do apartamento de Rafael, sentindo um nervosismo inquietante. Embora estivéssemos noivos, nunca compartilhamos a mesma cama. O fato de eu estar ali com uma mala indicava que esse cenário estava prestes a mudar, e a simples ideia me deixava com um frio na barriga.
— Meu amor! — Rafael exclamou com entusiasmo enquanto abria a porta e me envolvia num abraço forte — Entra!
Me afastei dos seus braços e apontei para a mala ao meu lado.
— Você pode pegar isso para mim? — pedi, seguindo em direção ao interior do pequeno apartamento — Estou exausta. Tive que carregar essa mala até aqui.
Escolhi uma mala grande, pois, honestamente, não tenho ideia do que o futuro me reserva. A única certeza que eu tenho é de que não podia mais ficar em um lugar onde estavam tentando controlar meus desejos. Sou adulta e tenho o direito de fazer minhas próprias escolhas. Vittorio está muito enganado se pensa que pode ditar minha vida.
— O que está acontecendo? — Rafael indagou, deixando a mala no meio da apertada sala — Porque trouxe uma mala?
Me joguei nos braços de Rafael, sentindo um alívio ao estar no calor reconfortante dele. Contei tudo sobre a discussão acalorada que tive com Vittorio a respeito das minhas escolhas e da nossa decisão de nos casar.
Rafael me envolveu com ternura, acariciando meus cabelos enquanto ouvia atentamente minha história. Sua expressão se fechou quando mencionei que Vittorio havia ameaçado cortar todos os meus benefícios financeiros, deixando-me em uma situação difícil.
— Não posso acreditar que ele faria algo assim — disse, com uma mistura de preocupação e indignação. — Isso é injusto, Chiara. Você tem o direito de tomar suas próprias decisões e viver a sua vida da maneira que escolher.
Era reconfortante ouvir suas palavras de apoio. Rafael era meu porto seguro, alguém em quem eu podia confiar plenamente.
— Rafael, eu não sei de onde vem o dinheiro que mantém todas as contas e despesas em dia — eu admiti, franzindo a testa. — Nunca questionei, pois sempre foi assim desde que me lembro.
Ele franziu o cenho, pensativo.
— Isso é estranho. Você precisa saber de onde vem esse dinheiro, Chiara.
Rafael segurou meu rosto com carinho, seus olhos fixos nos meus.
— Vamos investigar isso melhor. Talvez seja hora de contratar um advogado e descobrir o que está acontecendo. Você merece ter controle sobre a sua vida e o seu futuro.
Balancei a cabeça, ainda tentando assimilar todas as informações e opções. Era um passo ousado, mas senti que era a hora de tomar as rédeas da minha própria história.
— Você tem razão, Rafael. Não vou permitir que Vittorio ou qualquer outra pessoa me impeça.
Rafael sorriu, orgulhoso, e segurou minha mão com firmeza.
— Conte comigo, meu amor. Vamos descobrir a verdade e fazer o que for necessário para garantir que você tenha o controle que merece.
Naquele momento, senti uma determinação renovada crescer dentro de mim. Nós permanecemos abraçados, sentindo o calor reconfortante um do outro enquanto o sol começava a se pôr, pintando o céu com tons alaranjados e dourados.
Rafael olhou nos meus olhos e sorriu.
— Que tal irmos ao cinema esta noite? — ele sugeriu, com um brilho travesso nos olhos.
Eu retribuí o sorriso e assenti.
— Claro, adoraria.
A noite no cinema foi maravilhosa. Rimos, nos envolvemos na trama do filme e compartilhamos um balde gigante de pipoca. O tempo voou e logo estávamos voltando para casa, mãos dadas e corações leves.
Ao chegarmos ao apartamento, Rafael me abraçou pela cintura, puxando-me para perto. Nossos lábios se encontraram em um beijo doce e apaixonado, enchendo o ambiente com eletricidade.
No entanto, enquanto o beijo se aprofundava, Rafael começou a ousar nas carícias, suas mãos explorando áreas mais íntimas do meu corpo. Senti um leve desconforto e me afastei delicadamente.
— Rafael, eu... — comecei, buscando as palavras certas.
Ele me olhou, um tanto surpreso com minha reação.
— O que houve, Chiara?
Respirei fundo, tentando expressar meus sentimentos da melhor maneira possível.
— Rafael, eu te amo. E sei que estamos noivos, pensando em nos casar. Mas, essa é uma etapa importante, e eu ainda não me sinto pronta para dar esse passo. Precisamos respeitar o meu tempo.
Rafael pareceu frustrado e soltou um suspiro.
— Chiara, nós já estamos noivos, e isso significa que estamos comprometidos em todos os sentidos. Eu pensei que você estivesse pronta para isso.
Balancei a cabeça, com a compreensão de que ele estava desapontado.
— Eu entendo, Rafael, mas é uma decisão que eu preciso tomar quando me sentir confortável. Não podemos apressar as coisas.
Ele se afastou um pouco, cruzando os braços.
— Parece que você ainda tem medo de confiar em mim completamente.
Minha expressão suavizou enquanto eu segurava suas mãos.
— Não é uma questão de confiança, é uma questão de respeito pelo meu próprio ritmo. Eu te amo, Rafael, mas preciso que você entenda isso.
Ele olhou para mim por um momento, seu olhar oscilando entre frustração e compreensão.
— Tudo bem, Chiara. Vamos fazer do jeito que você achar melhor.
Eu sorri, aliviada por sua compreensão.
— Obrigada, Rafael. Isso significa muito para mim.
Embora um clima de tensão pairava no ar por um momento, eu sorri e o beijei levemente, tentando manter as coisas mais leves.
— Vamos dormir? — O convidei, pois agora estava realmente cansada.
Foram tantos os acontecimentos daquele dia, que era como se o meu confronto com Vittorio já fizesse bastante tempo e não apenas algumas horas.
— Melhor eu dormir no sofá — Rafael me surpreendeu ao dizer — Não acho uma boa ideia dormir na mesma cama que você. Ao menos, não por enquanto.
O restante da frase ficou subentendido e confesso que isso me deixou um tanto quanto desapontada com Rafael. Sorri, fingindo compreensão.
— Está bem. Até amanhã, Rafael.
Eu fiquei ali por um momento, observando Rafael se afastar e se acomodar no sofá. Uma sensação de desânimo tomou conta de mim, mas eu sabia que precisava respeitar o espaço dele também. Ainda assim, não pude deixar de me sentir um pouco magoada com a decisão que ele tinha acabado de tomar.
Caminhei até o quarto e me deitei sobre a cama larga, encarando o teto por um tempo. Meus pensamentos estavam confusos e tumultuados. Eu realmente amava Rafael, mas esta noite tinha mostrado que temos diferentes perspectivas sobre a intimidade e a velocidade em que nossa relação estava evoluindo.
A situação toda voltou a minha mente e a imagem de Vittorio se sobrepõe a todo o restante. Eu o odeio, mas a atração que sinto por ele ainda está aqui. Toquei os meus lábios com as pontas dos dedos, recordando a forma como ele falava e o quanto a sua boca despertava em mim emoções e desejos proibidos.
“Eu só estou tentando protegê-la, mesmo que você não compreenda isso agora” Essas palavras despertaram a minha atenção. Ele quer me proteger? Ele está tentando me privar da felicidade que posso encontrar ao lado do homem que amo e isso não é proteção.
“você é jovem, impulsiva e inexperiente…”
Se as minhas fantasias fossem levadas em consideração, eu não seria tão inexperiente assim, pensei com malícia e logo me repreendi. Vittorio é meu inimigo e não posso pensar nele dessa forma.
Lentamente, fechei os olhos e tentei acalmar minha mente. Uma garota como eu jamais iria despertar o interesse de um homem como Vittorio e a maior prova disso é que mesmo sendo o meu tutor, ele me abandonou sozinha em São Paulo durante anos e isso eu jamais vou perdoar.
Eventualmente, a exaustão da noite emocionalmente intensa começou a me dominar, e eu me vi caindo no sono.