Meu Padrinho

Acordei pela madrugada e senti na

pele o vento frio que a janela aberta trazia, o relógio estava marcando exatamente 04h:00 da madrugada e praguejei baixinho pelo acontecido.

Sentei cansado na ponta da cama sem vontade de me levantar, me espreguicei bem devagar gostosamente, até sentir todos os ossos do meu corpo estalar!

Mais uma noite perdida por causa dessa droga de insônia! Doutor Marlon, novamente repassou aquele maldito remédio que não faz efeito nenhum e já comentei que só não quebro seus dentes de medico perfeitos por que ele é meu amigo de anos e por ele mostrar grande respeito pelos meus problemas que no momento ele é o único que sabe e me entende.

Olho para o lado e Clara como sempre dorme tranquilamente observo a mulher que por anos foi objeto dos meus maiores desejos e fantasias. Seus cabelos cacheados da cor âmbar, cintura bem definida, pele morena e dona de um par de pernas de dar inveja a qualquer outra mulher. Nos conhecemos quando dei palestra na faculdade de Princeton, ela dava aulas e foi ai que eu me apaixonei no mesmo instante que a vi e na biblioteca, atrás do auditório bem no escuro entre vários livros de artes a fiz gritar meu nome inúmeras vezes enquanto ela gozava.

Nosso casamento foi precipitado demais, achávamos que por sermos compatíveis no sexo, todo resto combinaria.

Que grande merda eu acabei fazendo!

Resolvo sair da cama bem devagar para não acorda-la, afinal de contas, amanhã sairemos cedo pra voltar para casa e não quero incomoda-la. Vou ao banheiro e lavo meu rosto e para piorar tudo de uma vez, a água me faz perder totalmente meu sono que eu tanto presava a minutos atrás. Me olho no espelho e fico satisfeito com o que vejo: Pra um homem com minha idade estou muito bem!

Bem psicologicamente e principalmente fisicamente, sei que devia estar cheio de rugas, gordo e até mesmo flácido mais eu adoro me cuidar e tenho um ótimo retorno em relação a isso, tenho 35 Anos e estou no auge da minha vida. Controlo muito bem minha alimentação, faço exercícios físicos regularmente e controlo a bebida.

Só quando é realmente necessário, Claro! Visto uma camiseta e minha calça de moletom, pego meu notebook e vou para sala acendo a luz do pequeno abajur e sento no espaçoso sofá. Olho a vista de Londres e Me sinto em casa eu pretendo voltar aqui sempre, essa cidade tem sua luz própria e isso é admirável, aqui seria um ótimo lugar para se ter uma família, a ideia me faz sorrir mas logo afasto esses pensamentos e volto minha atenção a tela do notebook.

Conta de banco, mensagens dos contadores, investidores me solicitando para uma reunião e uma em particular que me chama bastante atenção!

Mensagem:

Pedro

Meu amigo quanto tempo?! Não liga não escreve e nem da sinal de vida, estamos com saudades. Robert, não sei se você ainda se lembra, mas a sua afilhada vai fazer aniversario esse final de semana e como você é o padrinho oficial dela eu espero sinceramente que você compareça a festa, precisamos nos ver, você some e não da nem notícias, espero pela sua presença.

Estarei te esperando meu grande amigo

Abraços Pedro!

Realmente por essa eu não esperava! desde quando eu tenho afilhada? Isso me faz um péssimo amigo e um péssimo padrinho eu não me lembro muito da família do Pedro

Realmente por essa eu não esperava! desde quando eu tenho afilhada? Isso me faz um péssimo amigo e um péssimo padrinho eu não me lembro muito da família do Pedro. Lembro vagamente que ele tinha uma filha de nove anos de idade que grudava nas minhas pernas querendo pirulito.

Nossa aquilo me irritava muito e de pirraça eu até dei apelido para ela na época que agora eu nem me lembro.

Vou na cozinha tomar café e já vejo os primeiros raios de sol nascerem no céu, abro a pequena passagem de vidro que tem para a varanda e me sento vendo aquele espetáculo esplêndido se levantar lentamente entre cores avermelhadas e laranja. Observo a cidade em silencio e assim ela fica ainda melhor, as casas coloridas e pequenas parecem de bonecas, os pequenos jardins em cada bosque com suas rosas grandes e com seus cheiros únicos anunciando a primavera. Aqui é tudo calmo e sereno, por isso eu prefiro a aglomeração da minha cidade, as ondas da praia batendo nas grandes pedras e o ar gelado que o vento traz. A noite as belas mulheres e se duvidar o transito caótico e infernal.

Sinto um calor nos meus braços e nem preciso olhar para traz pra saber quem é! Clara usa um perfume doce que só ela tem.

Antes só pelo seu simples toque minha pele se arrepiava e um sorriso idiota nascia em meus lábios, mais tudo mudou depois de sua nobre traição. O que sobrou de nós dois foi apenas a parceria, vestígios da amizade que nutrimos durante o casamento o afeto e talvez a consideração. Olho para traz e encaro sua íris cor de mel e seus lábios carnudos, dou um sorriso torto, e suspiro alto. Ela me abraça e viro o pescoço fugindo do seu contato, sua voz ainda é sonolenta.

_ Vejo que ainda nem dormiu! Seus remédios não fizeram efeito?

Meus olhos ainda estão naquela paisagem, dou um gole singelo no meu café e já o sinto frio, ela ainda continua me observando, ignoro sua observação e resolvo dar o primeiro passo.

_ Até quando vamos fingir que ainda nos amamos Clara? Isso tudo aqui é uma grande perda de tempo!

Minha voz sai fria e seca

Não quero continuar com isso, mais ela deve perceber que levar essa droga adiante só vai machuca-la ainda mais.

_ Robert eu ainda te amo, por favor vamos tentar de novo! _Sussurrou chorosa e eu acabei rindo.

_ TA DE SACANAGEM COMIGO NÉ SÓ PODE !!!!

Eu me levantei saindo de perto dela e resolvi tomar um banho bem frio para acordar de verdade. O vôo não sairia pela manha então eu teria tempo de sobra, ouço passou atrás de mim e sou virado com total força, tento me equilibrar pra não cair e ela esta bem na minha frente vestindo minha camisa social.

Seus olhos estão vermelho e seu rosto esta manchado de maquiagem que escorre devido as suas lagrimas, descabelada e totalmente descontrolada ela vem em minha direção me batendo, sinto seus murros em meu peito mais não dói. Alias na verdade não sinto nada.

Sei que ela esta com raiva de mim então há deixo extravasar.

_ Você prometeu que seria pra sempre, você prometeu que tinha me perdoado, foi um erro eu não queria fazer aquilo. Você estava viajando e eu me sentia muito sozinha naquela casa então aconteceu, não foi planejado eu juro, por favor não significou nada além de uma transa qualquer me perdoe eu sinto muito... _ Explicou enquanto gritava alto, sua voz estava alterada e ela ainda continuava batendo no meu peitoral.

Sai do meu normal e segurei seus pulsos com força pra que ela parasse com aquela birra ridícula, ela acabou ficando de joelhos e eu também me abaixei para não derruba-la. Ela chorava desconsoladamente, mais eu naquele momento só queria distancia. Tudo que eu sentia por ela era pena, nada além disso.

_ Eu te perdoei Clara eu juro _ Gritei alto olhando em seus olhos. _Mais eu não mando no meu coração e ele não te quer mas! Chega, vamos acabar com isso antes que alguém saia verdadeiramente machucado dessa palhaçada!

Larguei suas mãos e ela desabou a chorar no chão. Se abaixou no tapete amarelo da sala e lá mesmo ficou. Posso ser insensível ou egoísta mais meu pai sempre me ensinou que traição não é um simples erro, é uma escolha; ninguém te força a trair. Se você quer você faz e foi isso que ela fez, sou maduro suficiente pra entender quando é hora de sair do jogo e aqui com ela nada mas me favorece.

_Quando voltarmos, você vai conta aos seus pais o motivo da nossa separação, não quero ter que contar sua sujeira, eles teriam vergonha de você! _ Exigi e ela me olhou como se eu falasse alguma coisa anormal de outro mundo.

_ Espera até depois do natal porfavor, minha mãe gosta muito de você e não quero passar o natal sozinha pelo menos vamos nos despedir. _ Suplicou me encarando e eu até achei graça. Seu Natal sempre foi em família e amigos e eu sentado em uma cadeira escorado no canto de sua bela sala bebendo um Dominim 20 anos.

_ Quando voltarmos comesse a procurar outra casa pra morar, depois do natal entrarei com o pedido de divorcio e... _ Fui interrompido.

_ Já sei não precisa ficar repetindo o que vai fazer _ Queixou-se brava me interrompendo.

_ Boa menina_ Zombei e ela apenas me olhou se encolhendo novamente no chão!

Resolvi sair para correr eu precisava extravasar e como eu não tinha mais esposa para isso, outra coisa iria ter que servir. O sol já tinha se estalado no céu e ainda era bem cedo, coloquei um short, meus tênis e fui sem camisa, peguei meu celular coloquei no meu braço com a ajuda do suporte e cheguei da porta ela me apareceu de shorts de malha curto e um top transparente mordeu os lábios e me encarou.

_ Aonde você vai Robert? _ Fez voz sensual e eu apenas balancei a cabeça indiferente.

_ Você já perdeu o direito de saber da minha vida faz um bom tempo!

Abri a porta e sai, desci as escadas que levavam as ruas e comecei a correr o vento quente que Londres trazia era gostoso mais eu realmente estava sentindo falta da minha casa e da minha cidade infernal. Corro ate chegar ao relógio Big Ben e o sino que fica pendurado na torre do relógio do parlamento britânico a beira do rio Tâmisa. Tem também a roda gigante London Eye que da pra ver toda Londres de cima dela e muitos outros lugares maravilhosos para se visitar, mais eu virei aqui novamente em breve.

Corro de volta para o hotel e meu relógio bate 2 horas para o voou como tenho que fazer o check List antes tenho realmente que correr. Abro a porta e vejo que Clara e as malas já estão prontas, trouxe pouca coisa por que sabia que essa palhaçada não iria durar tanto tempo. Tomo meu banho demorado, visto minha roupa e saímos em direção a recepção. entrego as chaves, agradeço a bela recepcionista que sorri pra mim e vou embora. O caminho pra casa acontece em perfeita paz e total tranquilidade ela não insistiu e eu não precisei ser grosso, sorte pra nós dois!

Cheguei no aeroporto da Califórnia e me lembro do aniversario da guria, entro numa loja qualquer de criança e resolvo comprar algo, que diabos uma criança gosta? brinquedos, doces, chocolates?

Clara me olha com alguma expectativa e sorri.

_ É aniversario da minha afilhada e lembrei de comprar o presente dela, pode ir pra casa e se acomode, não tenho hora para voltar e por favor use o quarto de hóspedes. _ Avisei indiferente sem olha-la mais sei que ela esta vermelha de raiva, a conheço melhor que ela mesma.

_ Você nunca me falou que tinha uma afilhada Robert _ Exclamou curiosa levantando sua sobrancelha perfeitamente desenhada.

_ O minha querida, eu também não sabia até hoje de manhã, mais acho que isso não é mais da sua conta certo? _ Levantei uma sobrancelha a encarando enquanto ela sorria sem graça.

Ela saiu batendo o pé e provavelmente derrubando tudo ao seu caminho eu vejo um ursinho e peço para embrulhar de presente. Saio da loja resolvendo parar em uma lanchonete pra comer algo e ligar para o Pedro se eu ainda estiver com o numero dele na minha agenda.

_ Eu não acredito em ressurreição mais no seu caso eu até abro uma exceção! _ Atendeu brincando, e eu acabei sorrindo alegre.

Esse era meu amigo.

_Boa tarde pra você também, só liguei pra avisar que já cheguei à Califórnia e comprei algo pra guria... quis dizer, sua filha. _ Me expliquei sem jeito por ter esquecido e ele bufou no telefone afinal tinha tempo que eu não o via.

_ Para sua informação, sua afilhada se chama Lola e não é mais uma criança, venha estamos te esperando pra cantar o parabéns não demore.

Explicou rindo e eu bebi todo o meu suco de melancia!

_ Daqui a 10 minutos eu estou ai!_ Desliguei paguei a conta e entrei no táxi.