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Capítulo 1 Dia Ruim

Diana Rodrigues

O ônibus lotado me faz lembrar todos os dias de como é difícil ser pobre - claro que estou sendo irônica. Hoje, por sorte, consegui um lugar para sentar, o que nem sempre acontece, especialmente em uma sexta-feira. Estou feliz e grata por isso, olhando a paisagem e rezando para que ninguém precise do meu assento, pois estou exausta. Trabalhei a semana inteira e minha folga só será na quarta-feira. Quando nascemos pobres, parece que moramos no trabalho e visitamos nossa casa.

José costuma pegar o ônibus dois pontos depois do meu, e estou guardando um lugar para ele ao meu lado. Quem anda de ônibus sabe o quão difícil é segurar um lugar sem arrumar confusão. José, o meu melhor amigo e que eu amo muito, entra pela porta e já acena para mim, e eu solto um sorriso, mostrando que o lugar dele está guardado. Mas uma mulher, que aparenta ter uns trinta e cinco anos, entra primeiro que ele e observa atentamente o banco ao meu lado. Travamos uma batalha de olhares entre eu, a mulher, o José e o banco. Ela está na frente, provavelmente chegará antes dele, e José parece estar numa maratona, disputando o lugar com a mulher. O prêmio será o banco ao meu lado.

Para nossa sorte, um moço com uma mochila nas costas se levanta e cede o seu lugar à mulher, que prontamente aceita. Os dois parecem ser conhecidos, pois começam uma conversa.

"Aff Diana, quase que perco o meu assento", diz José, enquanto me dá um beijo no rosto. "E ia ter que ir em pé o resto do caminho."

"Eu falo para você ficar no começo da fila", respondo.

"Que fila, sua louca?", pergunta José. "Na hora que o ônibus para, vira uma confusão de pessoas querendo subir e descer do veículo", ele aponta com a cabeça. "A mulher conseguiu passar primeiro."

"Ainda bem que o cara levantou e deu o lugar para ela", falo para José.

"Acho que ele está interessado nela", sussurra José. "Já é a terceira vez que ele dá o lugar para ela, e esses dias fiquei ouvindo a conversa dos dois."

"Você não tem vergonha de ouvir a conversa dos dois?", questiono.

"Eu não. Neste momento tem alguém aqui dentro ouvindo a nossa conversa", ele gesticula. "O pior é quando você tem que descer e não consegue ouvir até o fim."

"Isso é verdade, eu também fico curiosa", concordo.

"Que dia é sua folga? Me deram folga na terça, aff" - José reclama.

"A minha é na quarta-feira. Queria tanto que fosse no mesmo dia."

"Queria ir no pagode, rebolar um pouco, mas como vou sem você?"

"Você sempre vai sem mim. Não sei por que está reclamando?"

"Eu vou sozinho quando quero pegar algum moreno, mas dessa vez queria que você fosse comigo. Você quase nunca sai."

"Eu não tenho muita grana, José. Meu salário vai quase todo para casa", disse eu a José.

"Eu sei, minha amiga. Mas sabe que eu posso te ajudar. Não tenho muito, mas podemos dividir o meu", respondeu ele.

"José, não precisa. E estou muito cansada para sair depois do trabalho. No sábado, parece que é o dia que mais trabalho", expliquei a José.

Eu e José trabalhamos no Green Plaza Hotel, um dos mais sofisticados de São Paulo. Neste hotel, hospedam-se pessoas muito importantes do mundo todo, inclusive artistas e celebridades que vêm ao Brasil para visitar ou fazer shows, bem como empresários de renome. Apesar de ser um trabalho corrido e cansativo, meu salário ajuda muito em casa. Mesmo com algumas advertências, o trabalho no hotel é bom, mas o horário e a distância da minha casa dificultam um pouco.

" Nossa, o que deu nesse povo hoje? Tá cheio de gente aqui fora", comentou José, observando a multidão em frente ao hotel.

"Provavelmente alguma celebridade está chegando. Sempre é assim quando se hospedam aqui", eu disse a ele.

"Estou tão curioso para saber quem é", falei para José, esticando a cabeça para tentar ver melhor.

"Eu estou muito curioso também. Tomara que seja um homem bem lindo", disse ele, com um sorriso safado no rosto.

"Eu não vejo nenhum deles. Tenho tanto trabalho para fazer", lamentei. Infelizmente, não tenho muito tempo para ficar observando.

Nosso turno começa agitado, com muitas pessoas por toda parte e uma grande correria. Como sempre, nossa chefe grita para que troquemos de roupa logo e corramos para os quartos para arrumá-los, pois o dono do hotel estará no Brasil e tudo precisa estar em perfeito estado. Lá vou eu para mais um dia de trabalho. Coloco meu uniforme, pego meu carrinho de limpeza e verifico minha escala para saber em qual andar estarei trabalhando hoje. Infelizmente, a cobertura está me esperando. O hotel tem duas coberturas, e elas são bastante grandes para serem limpas sozinhas. Então, nossa gerente sempre designa duas funcionárias para limpar as suítes, e o trabalho é dividido. Trabalhar em dupla é ótimo quando sua parceira também está trabalhando, mas quando ela prefere tirar fotos como se fosse uma hóspede e esquece completamente do trabalho, essa é a Sirlene, minha parceira, e eu sou a outra parte que trabalha mais.

Segundo minha gerente, precisamos correr com a limpeza desta suíte, pois o todo-poderoso "chefe dos chefes" ficará nela. E tudo precisa estar em perfeita ordem quando ele chegar, pois dizem que ele é um homem muito observador e exigente. Eu limpei todo o banheiro, esfreguei cada canto e deixei tudo cheirando fresco e muito limpo para o dono do hotel. E eu pensando que minha amiga Sirlene estava fazendo a parte dela, que era terminar de limpar a suíte, arrumar a cama e deixar as roupas de cama bem esticadas, mas Sirlene estava tirando fotos na sacada da cobertura.

"Sirlene, você ainda não terminou essa parte?"

"Estou tirando uma selfie para minhas redes sociais, não sei quando voltarei aqui novamente, tenho que aproveitar. Ou pode ser que o dono do hotel me ache linda, o que não é mentira, e me convide para ficar com ele."

Sirlene era uma moça bonita e chamava muita atenção em todo o hotel. Os homens sempre estavam querendo convidá-la para sair, e sua rede social era bem agitada. Respirei fundo e corri para fazer o que estava faltando, deixando-a lá fazendo suas fotos, já que eu não podia perder meu emprego. A parte do closet foi a última que limpei. Quando saí, Sirlene não estava mais lá, nem o meu carrinho de limpeza. Eu estava com a vassoura na mão e um pano que tinha levado para limpar os móveis. Estava toda suada, pois não podíamos ligar o ar enquanto estávamos limpando as suítes.

Passei as costas da mão no rosto para limpar o suor e fechei a porta do closet. Havia um relógio na mesinha que não estava ali há minutos atrás, eu tinha certeza disso. Ainda de costas, ouvi um barulho e virei rapidamente. Quando olhei, um homem alto estava parado na minha frente. Levantei a cabeça até que meus olhos chegassem aos dele. Eram olhos negros que me fitavam, o rosto bem desenhado, barba bem aparada e cabelo preto e liso que caía em sua testa quando olhou para baixo e para mim. O relógio caiu da minha mão e quebrou, e eu não podia acreditar no que estava acontecendo.

"O que está fazendo aqui?" - ele falava português com um sotaque estranho.

"Me desculpe, senhor. Estava terminando de limpar o closet e acabei me atrasando."

"Isso sempre acontece? Quando os hóspedes chegam aqui, você fica dentro do quarto quebrando as coisas?" - ele estava bravo.

"Não, senhor. Eu só acabei me perdendo no horário quando fui limpar o closet - e eu já estava querendo chorar."

"Não pode haver erros no meu hotel e os hóspedes não estão aqui para encontrar funcionários dentro dos quartos. Ninguém quer chegar aqui cansado de uma viagem e encontrá-la aqui, entendido?" - O dono do hotel parecia ser o cara mais mal educado que já conheci.

"Sim, entendi. Peço desculpas. Eu posso pagar pelo relógio, vou avisar meu gerente. Com licença."

"Você não vai sair daqui." - Eu me assustei. "Sabe quanto ele custa? Como uma camareira vai saber o valor de um dos relógios da minha coleção, e um dos mais caros do mundo?"

Fiquei paralisada e olhei para baixo. Pude ver os sapatos elegantes dele, provavelmente italianos ou de algum outro lugar do mundo. A calça estava perfeitamente passada, e as coxas grossas dele chamaram minha atenção, assim como os cacos de vidro do relógio. Fechei meus olhos e pensei em como estava encrencada.

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