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Capítulo 03

Bruna Maria

Não queria ter encontrado novamente aquele hóspede novo. Ele era rabugento, eu não duvidava nada que ele poderia reclamar do que havia feito quando fazia a limpeza do banheiro do quarto dele. Homens como ele eram muito imbecis que não sabiam aproveitar nada de bom.

Eu não tinha reparado que ele estava no quarto naquele horário, quando resolvi fazer a limpeza. Às vezes eu gostava de cantar por pura diversão. Ele não precisava ser grosseiro ao falar do meu dom para música. Eu sabia que não era a mais talentosa do mundo, cantava porque gostava, não para ter plateia.

Não gostei nenhum pouco das coisas que me falara. Ele era muito metido, assim como os outros hóspedes em sua maioria. Não que eu esperasse encontrar um príncipe que me tratasse bem naquele quarto que esbanjava luxúria, entende? Porém, ele poderia ter sido mais gentil.

Cuidar de Gabriela estava se tornando rotineiro. Eu queria que a vida dela mudasse. Infelizmente eu teria que me intrometer ainda mais na sua vida, mas era para o bem dela. Um dia, talvez ela me agradecesse.

— Agora que a senhora está recomposta. Retornarei para as minhas tarefas. Por favor, não faça mais esse tipo de coisa. Não estou dizendo isso porque estou criticando a senhora, mas é porque eu quero vê-la bem!

— Espere! Tenho uma proposta para te fazer! — parei para ouvir o que ela tinha para dizer. — Reservei uma mesa em um restaurante e gostaria de companhia. Sabe querida, estar sozinha deixa-me ainda mais deprimida. Você poderia me acompanhar? É que se você fosse, eu não precisaria da companhia do álcool!

Um convite bem inesperado diria. O regulamento do hotel não falava nada sobre não sair com hóspedes após o horário de trabalho, portanto, sabia exatamente o que deveria responder.

— Eu aceito sim, mas só porque não quero que a senhora volte alcoolizada! Se bem que sair para um restaurante diferente, será bom pra mim. Diga-me o horário que estarei lá e também o endereço, pois adorei o convite para jantar!

— Querida, você vem para o hotel e daqui saímos juntas. Pedirei para o gerente que disponibilize um dos funcionários daqui para dirigir o meu carro. Vamos nos divertir muito, sei disso, ainda mais, por sua companhia ser maravilhosa! Sabe Bruna Maria, você merece muitas coisas boas. Você é uma menina doce e generosa.

Nada do que costumava fazer era esperando alguma gratificação em troca, era porque realmente eu me importava com as pessoas ao meu redor, como ela, por exemplo, ela era tão sozinha, se eu poderia lhe dar momentos de alegria e paz era isso que faria!

— Escolherei uma das minhas melhores roupas para sair com a senhora. Com certeza, vamos nos divertir dona Gabriela! Uma comida quentinha e muita fofoca entre nós duas, hein!

— Estou mesmo precisando de momentos assim descontraídos. Não paro de pensar nos meus filhos e do desgosto que recebo deles. Queria saber onde errei na criação deles, sabe? Sempre fiz o melhor que pude. Nem mesmo os meus netos vem me visitar porque os pais não os deixam vir. Desculpe, devo estar sendo chata por reclamar assim. Não quero mais falar de coisas tristes. Não vou fazer você perder mais o seu tempo comigo aqui. Pode terminar o seu serviço, mas tarde nos encontramos!

— Se a senhora quiser pode fingir que sou sua neta ou sua filha. Não fique triste com o que sua família faz, muitas vezes é livramento! Nos veremos novamente mais tarde. Estou ansiosa para sair em sua companhia. Lá pelas sete da noite eu chego. Espero não envergonhá-la com as minhas roupas simples...

— Não se preocupe com o que vestirá, seja você mesma! Se eu tivesse uma filha ou neta como você diria que minha família não foi em vão, todavia, minha realidade é outra. Aguardarei você, querida, e obrigada por tudo que tem feito por mim.

— Dona Gabriela, não precisa agradecer. Faço porque a senhora merece! Até mais tarde, para o nosso jantar.

Despedi-me dela e voltei para as minhas obrigações com o trabalho. Continuei limpando os quartos, trocando as cobertas entre outras coisas. Após terminar tudo, no final do expediente, todas as funcionárias foram chamadas para uma reunião com a supervisora.

Quando entrei na sala onde nos reunimos, vi pela cara da supervisora que ela não estava nada amigável, na verdade, nunca vira aquela mulher ser amigável com ninguém. Ela era uma megera, isso sim!

— Recebi uma reclamação de uma de vocês. Vocês sabem a gravidade disso, não é? Não gostei de ser chamada atenção devido a isso! Por isso chamei todas vocês para essa reunião de última hora. Não quero que sigam o exemplo desta funcionária estúpida.

Comecei a suar frio, pois temia que ela estivesse falando de mim. Não conseguia pensar em nenhuma outra camareira que não fosse eu para aquelas palavras duras. Respirei fundo, e continuei ouvindo em silêncio tudo que ela dissera.

Quando ela revelou o nome de quem ela recebeu reclamação, acabei rindo de alívio porque não se tratava de mim, mas sim de outra das meninas. Ela não gostou nem um pouco da minha reação exagerada de alegria.

— Bruna Maria, não ria da sua colega assim! Deveria sentir vergonha de se divertir com a desgraça dos outros!

Ela entendeu tudo errado e me bateu aflição.

— Não é isso, supervisora, a senhora entendeu errado! Me desculpe pelo Inconveniente. Não queria causar esse mal-entendido. Todas nós sabemos os nossos lugares, e que devemos obedecer, para nada dar errado, como, por exemplo, a gente receber nossa carta de demissão.

— Espero mesmo que você entenda as regras! Estou acima de todas vocês, porém, se vocês vacilam, eu também pago o preço! Ou vocês supõem que sou a toda poderosa? Eu não sou ninguém aqui como vocês, mas a diferença entre nós é que estou em um cargo superior. Tenho mais importância do que vocês todas juntas! Agora vocês estão dispensadas, vejo todas amanhã.

Como odiava a soberba daquela mulher, esperava que um dia ela mudasse de verdade. Ter aquele mau-humor poderia fazer mal à saúde. Ela saiu da sala de reunião nos deixando a sós.

— Não gosto dela, deveríamos nos juntar para fazer uma reclamação dessa supervisora. Ela é uma cobra-cascavel!

Uma das minhas colegas comentou e as outras concordaram. Eu sabia que ninguém gostava da supervisora, entretanto, não queria me intrometer, pois, não sabia da realidade dela. Talvez ela precisasse daquele emprego tanto quanto nós todas.

— Meninas, estou indo embora agora porque logo mais tenho que retornar ao hotel. Tenho um compromisso com uma das hóspedes. Parem de me olhar assim com curiosidade. Não contarei com quem nem insistam! Tchauzinho!

Precisava deixar claro que não contaria com quem tinha um compromisso ou não. Naquele hotel elas eram muito fofoqueiras, no dia seguinte, com certeza, o hotel inteiro saberia do meu passeio com a senhora Gabriela. Não queria que isso acontecesse porque a supervisora poderia me pressionar ainda mais do que costumava fazer se soubesse.

O jantar daquela noite seria o começo da recuperação daquela senhora. Eu queria acreditar muito nisso, mostraria para ela que a vida tinha muito a oferecer para ela ainda. Nada melhor que um ótimo jantar em novas companhias. Quem sabe ela não conheceria um senhor distinto que despertasse uma paixão nela. Não custava nada sonhar alto, não é mesmo? 

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