Prólogo - 5
Parte 5...
Sentiu um gosto amargo na boca.
E o pior disso foi que ele mesmo fez questão de que ela o acompanhasse. Cora estava trabalhando como assistente dele em sua empresa quando a conheceu.
Logo de cara ficou encantado com ela e até estarem na cama não demorou muito. Ele ficou tão obcecado por ela que até lhe disse que parasse de trabalhar e se mudasse para seu apartamento, assim estariam sempre juntos. Claro que ela aceitou sem pensar e ainda ficou feliz.
Burro. Ele a havia levado para onde queria.
Recebeu a ligação de Taurus mais cedo, relatando que ela tinha sumido do centro médico e que ele a procurara por quase uma hora sem encontrá-la. Ela tinha desaparecido do local.
Óbvio. Ela tinha usado essa desculpa para se encontrar com outra pessoa e lhe passar os planos, mas não deve ter tido tempo ou algo a atrapalhou. Os papéis ainda estavam ali.
Ele tinha ficado aborrecido com Taurus por ter sido relapso e preocupado com ela por andar por aí sozinha. Sendo conhecida como sua amante, ela não podia andar sem guarda-costas.
Muitas pessoas poderiam querer se aproximar para saber sobre sua vida ou até mesmo lhe causar dano.
Que tonto. Ela não precisava disso, sabia se virar bem.
Pegou o maço de dinheiro. Aquilo deveria ser o pagamento por algum segredo que ela deve ter passado e ainda não tinah recebido do atual, que não sabia era tudo um blefe para descobrir o espião.
Mas isso não ficaria assim. Ela não iria se aproveitar mais dele.
Ia voltar para o quarto quando ela apareceu na sala. Seus olhos estavam marejados, mas isso não o comoveu. Estava com muita raiva, possesso quase. Tinha descoberto que ela o manipulara facilmente.
— Quero você fora da minha casa - disse seco.
Ela franziu a testa e parou, olhando para ele meio perdida.
— O que... Não entendi?
— O que não entendeu? - falou alto — Quero você fora daqui.
Sua voz estava tão fria que ela ficou surpresa. Ele nunca tinha falado assim com ela.
— Fellipe, eu não...
— Lhe dou vinte minutos para catar suas coisas e sair - se aproximou com ódio nos olhos — Mentirosa, bandida.
Ela ficou tão perplexa com o que ouviu que chegou a cambalear para trás, seu coração disparando. Começou a tremer.
Não é possível que ele iria mandá-la embora apenas porque ela quis falar sobre o futuro dos dois. Não, ele não seria assim cruel.
— Não sei porque está falando assim, mas eu não fiz...
— Cale-se! - gritou — Não vai me manipular mais, não vou cair no seu truque de boa garota duas vezes.
Ele jogou o envelope com dinheiro em cima dela, acertando seu ombro e depois os papéis da empresa, que caíram e se espalharam pelo tapete. Cora não sabia o que era aquilo e apenas olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas. Estava travada, sem saber o que falar. Mas ele sabia.
— Você me roubou descaradamente, mentiu para roubar os planos de minha empresa e vender ao concorrente.
Ele andava em sua direção e ela recuava, se sentindo nervosa e ainda sem entender o que estava acontecendo ali. Suas mãos tremiam e suas pernas ficaram fracas.
Ele parecia com ódio dela. Mas porque motivo?
— Eu... Eu não sei o que é isso... - olhou para os papéis — Eu nunca roubei você - abriu as mãos gesticulando — Nunca faria isso.
Ele deu uma gargalhada que gelou seu coração.
— Vagabunda, mentirosa - disse entre dentes com raiva — Eu deixei uma isca e você pegou - apontou para os papéis — Há quanto tempo vem fazendo isso? - ela balançou a cabeça e começou a chorar.
— Eu juro... Eu não sei o que você está falando, Fellipe...
— Não fale meu nome - ergueu o dedo — Eu quero você fora daqui agora, seu tempo acabou - pegou em seu braço com força.
— Ai... Fellipe, está me machucando.
— Minha vontade era partir sua cara cínica, sua vadia, vendida. E fique feliz que eu não vou chamar a polícia para prender você. Não quero o nome de minha empresa em um escândalo nos jornais.
Ele a empurrou e quase caiu, mas se segurou no encosto do sofá. Não sabia como agir e nem o que falar.
— Não pode estar falando sério. Eu nunca faria nada contra você - estava lívida, trêmula.
— Tic toc... Seu tempo está acabando mentirosa - disse quase cuspindo de ódio e revolta — Pegue o que é seu antes que eu jogue tudo pela janela. Saia!
Seu grito a fez se encolher. Estava atônita. Não entendia o que se passava e nem acreditava que ele pudesse achar que ela o roubaria. Jamais. Sentiu a cabeça doer com uma pontada fina. Pensou em seu filho, segurou a barriga e deu dois passos para longe dele, com medo.
— Como você pode achar que eu te roubaria?
Ele deu um sorriso frio e desdenhoso. Esfregou a testa e apertou a nuca. Sua postura era agressiva.
— Saia agora enquanto eu ainda sinto um pingo de pena por você, mas nunca mais quero ver sua cara mentirosa na frente - respirou fundo se segurando — Se eu a vir de novo, aí sim vai sentir o quanto eu a desprezo agora. Eu odeio traidores.
Ele andou até a mesa, pegou o copo de suco e com toda raiva jogou contra a parede, espalhando cacos de vidro e suco de laranja pelo chão e pela parede. Ela até pulou de susto.
Cora arregalou os olhos, nada estava fazendo sentido. Parecia que tinha entrado em uma dimensão alternativa.
Do nada isso tinha surgido. Ele a olhava com desprezo e sua atitude extremamente grosseira a fez sentir medo, como nunca sentiu antes. Não esperava que Fillipe fosse assim.
Sentia um aperto no peito, precisava se afastar e depois poderia pensar no que fazer. Só não podia ficar ali com ele agora. Correu para a porta sem olhar para trás e nem esperou o elevador. Desceu apressada as escadas até lá embaixo e passou como uma desvairada pela portaria, deixando o senhor do turno espantado.
Ela saiu chorando como se fosse uma maluca, sua cabeça não estava boa. Ouviu a voz do porteiro a chamando, mas não quis olhar para trás e continuou caminhando em frente, sem nem saber para onde iria.
Por sorte pelo menos estava usando os chinelos, senão teria saído descalça mesmo, só queria se afastar dele. Virou na esquina e quase bateu com um rapaz que vinha na direção oposta.
Ela iria voltar mais tarde. Fellipe teria que ouvir o que tinha a dizer e também teria que lhe explicar detalhadamente do que ele a acusava. Até agora não tinha captado de onde isso teria saído.
Ela jamais faria algo contra ele, muito menos roubar.
Andava tão perdida com a atenção longe, que não notou dois homens que a seguiam e um carro próximo a ela. Parou na esquina para olhar o farol e teve sua boca e nariz cobertos com um pano, com um cheiro ruim que a fez sentir-se tonta e nauseada.
Sentiu braços a puxando para trás e tentou resistir, mas foi em vão. Ela não tinha forças contra os braços que a agarraram e sentiu que outras mãos seguravam suas pernas e a erguiam.
Tentou gritar, mas seus gritos foram abafados pelo pano em sua boca e sentiu que iria desmaiar. Ficou muito zonza.
Ouviu a porta de um carro se abrir e depois foi empurrada para dentro. Foi deitada de barriga para baixo e suas mãos puxadas para trás e gemeu quando sentiu um forte aperto em seus pulsos.
O som do carro sendo acelerado, vozes masculinas falando algo que ela não entendia e seus olhos foram se fechando. Seu corpo ficou mole e seus sentidos escureceram.
Tudo em volta desapareceu e ela teve só o tempo mínimo de ainda pensar em Fellipe e em seu filho.
Autora Ninha Cardoso.
Obrigada por ler este romance. Está completo.