Capítulo 4
— Passei!
Arthur aparenta estar realmente surpreso. Já eu, não estou. Felizmente, as duas turmas, da terceira série, desse ano, são bem estudiosas e todos os alunos conseguiram concluir o ensino médio com louvor.
Como é uma escola particular, a maioria dos alunos tem uma família com dinheiro suficiente para banca-los, enquanto estudam em outros países. E é o que a maioria vai fazer; estudar fora.
Eu poderia ter ficado feliz, em ter passado na universidade de Nova York, mas eu sempre soube que não sairia do Brasil por um bom tempo. Mesmo sabendo que, entre todos da escola, tenho as melhores notas e mais condições financeiras para isso.
É nessas horas que eu penso, que deveria ter escolhido outra profissão, ou sei lá. Acho que eu não conseguiria. Moda é minha paixão, sonho com isso desde sempre. Não é porquê minha mãe não me deixa estudar fora que eu vou desistir.
— Parabéns, Thu! — Fico na ponta dos pés e abraço meu namorado.
Que por acaso é da mesma altura que o Lucas. É, aquele cara que eu beijei à duas semanas atrás, lá em casa. E que eu disse que amo, e que eu sonho todas às noites. Que está à alguns metros de onde estamos, recebendo seu boletim na secretaria.
— A festa de formatura de hoje vai ser o máximo! — Thu se afasta um passo, mas deixa as mãos apoiadas em meus ombros.
— Eu realmente tenho que ir? — Resmungo.
— Sim! Qual é, Aura? Já preparamos nossas fantasias e tudo. Tem quanto tempo que estamos esperando e organizando esse baile?!
— Uns seis meses... — cruzo os braços e faço bico. — Mas agora estou desanimada. — e não vou dizer que a culpa é do Lucas, que vai embora para a Inglaterra.
— Ah, não! Não está nada! Vamos, será melhor que aqueles musicais que você assiste.
Reviro os olhos, mas acabo cedendo. O que Arthur tem de gato, tem de insistente, e bobão. Mas está certo. Já nos preparamos e esperamos por tempo demais. Vou ter que ir, querendo ou não. Mesmo não querendo nada além da minha cama, meus livros e o filho do meu padrasto.
Ops! Eu não disse nada!
***
Thu insistiu para que fôssemos de fada e feiticeiro; eu a fada e ele o feiticeiro. Então eu comprei uma saia longa, gorda, fofa e rosinha de tuli. Um top com alça larga, da mesma cor, e um tênis all star branco. A asa, cor-de-rosa, claro, Thu arranjou para mim.
Já a fantasia do Arthur, é mais conde Drácula do que feiticeiro. Ele está com uma roupa toda social e completamente preta. Ele comprou aquelas pulseiras com flores, mas eu peguei e agora estou no meu quarto, fazendo um outro penteado, o qual eu consiga colocar as flores no cabelo.
Pego algumas mechas de meus cabelos ruivos e os prendo na parte de trás da cabeça com as flores. Se não fosse algumas mechas soltas e a franja, o penteado seria parecido com o da Ariana Grande.
Desço como um jato, de volta para a sala, onde Eliza, Arthur e mamãe me esperam. Minha mãe e minha irmã também estão de fadas, só que cada uma com uma cor diferente; uma de azul e outra de vermelho. Certamente a roupa ficou bem melhor nelas, com seus corpos esculturais, bem ao contrário do meu.
— Vamos? — Pergunto à eles.
Arthur parece um pouco admirado, demais, comigo. Ele não para de me encarar, daquele seu jeito bobão. Mas conseguimos ir à casa de festas, sem que ele tropece ou bata com a cara no chão.
Chegamos na festa de formatura super atrasados, o que me faz queimar, de tão corada que fico, quando entramos e, ao que parece, todos os olhares se voltam para nós.
Tomara que estejam olhando para Elizabeth, porque ela está realmente uma fada, calçando pela segunda vez na vida um salto alto. Não sei como ela consegue.
Uma moça nos leva para uma mesa no canto, onde está Gabriel, meu padrasto, e seus dois filhos. Meu corpo resolve me envergonhar e acabo corando, novamente, agora por causa de Lucas, que me observa intensamente. Na minha época, isso é traduzido como secar. É. Lucas está total me secando, e talvez eu não esteja tão ruim assim.
Nos sentamos à mesa, menos Arthur, que se senta com sua família, do outro lado do salão. Mamãe já vai logo puxando assunto e dando vida à mesa, e à nossa festa. Já que a música está super chata e a comida super pesada. Infelizmente vou ter que comer pouco, porque quando tiver música boa vou querer me acabar na pista de dança.
— O que vocês são? — Abby me pergunta, quando surge uma brecha na conversa.
— Fadas. — Eliza responde. — E você?
— Princesa. — ela dá de ombros. Metade das garotas estão de princesas ou fadas. Não somos nada originais. — Papai é rei, e Lucas príncipe. Conheçam a família real. — Ironiza.
Rio e tomou um gole de suco de uva, para encobrir a risada.
— De quem foi a ideia? — Minha mãe pergunta.
— Luna, a namorada do Lucas. Acho que já te falei dela, não é, amor? — Gabriel se dirige à minha mãe.
Coloco o suco todo para dentro, depois olho em volta, em busca de um garçom. Quero mais suco. E tomara que esteja batizado com vodka, ou cachaça mesmo, para eu conseguir passar a noite .
— Ah, sim! Acho que já a vi algumas vezes. Ela veio no mesmo tema que vocês, também? — Mamãe faz questão de continuar. Argh!
— Sim! — Abby diz animada. — Tanto ela quanto a família.
— Nossa... — Agora quem fala é Eliza. — Mais outra família real... A realeza está toda aqui?! Que chique.
Finalmente começam a tocar uma música boa, vulgo Demi Lovato, então me levanto para ir dançar. Cansei dessa baboseira.
— Vou ali. — digo só para minha mãe, e vou na direção da pista.
Não tem ninguém dançando, nem parece que vão parar de comer para vir. Mas o dj está dando uns passinhos para lá e para cá em sua cabine. É para lá mesmo que eu vou.
O cara me recebe muito bem e em segundos já estamos dançando. Não estamos agarrados nem nada, deve ter 1,5 metro de distância entre nós.
Estamos nos divertindo nessa festa horrível, que foi criada milhares de expectativas e...
— Aurora! — Ouço alguém me chamar e viro na direção. Arthur. Desço da cabine e o encontro na beira da pista vazia. — O que está fazendo lá, com aquele DJ?
— Dançando.
— Dançando?! Por que, em vez de me chamar, você estava dançando com um cara que nunca viu na vida?
— Porque eu já sabia que você não viria dançar.
Ele fica meio sem jeito, mas não nega. Eu sempre tenho razão, não que eu me orgulhe disso.
— Vou chamar o pessoal, assim você não dança sozinha. — Thu faz menção de se mexer, mas o seguro pelo braço. Ele para e me olha.
— Qual é o problema, Thu?
— Eu... — Ele engole em seco. — Não quero você com aquele DJ.
— O que...?
— Estou inseguro, tá legal?! Você tá maravilhosa, super confiante e roubou todos os olhares da festa. Você é minha namorada, e eu estou tentando zelar pelo nosso relacionamento.
— Se for para zelar desse jeito então eu não quero. Eu sou livre, Thu, já basta minha mãe me prendendo.
— O que...? Você está terminando comigo? Aqui? Agora?
— Se você continuar com essa ideia do século retrasado, então sim! — dou de ombros, como se tudo fosse simples. E está sendo. Estou tirando um peso das costas.
— Ótimo! — Arthur empina o queixo, demonstrando não ligar. — Porque se for para ficar num relacionamento em que minha namorada não me entende, prefiro nem ficar.
— Então acabou, Thu. E dessa vez é para sempre. — Faço menção de tantas outras vezes que terminamos e voltamos nesses três anos de namoro ioiô.
Ele assente, se vira e volta para a mesa onde está sua família.