01
Embora eu seja uma pessoa feliz, nunca fui madrugadora até me tornar mãe. Não era muito organizada também, mas acabei pegando uma rotina como se fosse uma ciência. Naquele dia não foi diferente. Às seis da manhã, eu estava fora da cama com café quente esperando por mim, então fui direto para a cozinha para minha dose de cafeína matinal. Tomei o primeiro gole enquanto admirava meu primeiro trabalho. A cozinha foi o primeiro projeto que fiz quando organizei o aluguel da casa da minha irmã e do meu cunhado. A construção do início do século 20 tinha uma moldura maravilhosa, mas precisava de muito carinho. Não diferente de mim, às vezes.
Apenas contemplei minha casa e o que restava consertar, peguei minha xícara enorme de café quente, feito com grãos de um torrador local de Berkeley, e fui para meu único banheiro tomar banho. Os ladrilhos pretos e brancos do chão eram originais, assim como a banheira. O cômodo era lindo, ou ficaria, assim que eu pintasse, tapasse as rachaduras no azulejo da parede e substituísse a lâmpada.
Tomei um banho rápido para economizar tempo e água, pois é muito caro na Califórnia porque não chove muito. Coloquei um roupão de banho, enrolei meu cabelo castanho em uma toalha e, com uma xícara de café em uma mão, fui para o quarto de meu filho AJ.
Eu o observei dormir por um minuto e meu coração se encheu de amor e gratidão. A imensidão do meu amor por ele sempre foi capaz de superar a tristeza que sentia por seu pai. Até aquele dia, eu ainda não sabia por que Alex encerrou as coisas com uma mensagem de texto. O fim do relacionamento foi tão inesperado e abrupto que fez minha cabeça girar.
Na época, não tive tempo de processar o que aconteceu, porque uma semana antes meus pais haviam morrido em um acidente de carro, e uma semana depois descobri que estava grávida. Tentei contar a Alex sobre o bebê, mas ele já havia bloqueado meu número de telefone.
Mesmo depois de cinco anos, ele não foi capaz de me dar uma explicação. Aceitei que ele estava mentindo sobre o quanto me amava ou, uma vez longe de mim, os sentimentos se dissiparam, muito depressa. Ou talvez fosse por causa da linda mulher com quem ele foi morar.
Aterrorizada, mas determinada, reconstruí minha vida, terminei meus estudos de graduação, fiz meu MBA e tive meu filho. Meu querido bebê já tinha quatro anos e, no outono, iria para a creche. Apesar de quão difícil minha vida tinha sido quando ele nasceu, naquele momento eu não conseguia imaginar minha vida sem ele. Por isso, eu era eternamente grata a Alex.
Por um segundo, me perguntei o que ele estava fazendo. Eu não sabia se tinha ficado em Nova York depois da faculdade, se era casado, se teve outros filhos... que conhecia, amava e cuidava...
Coloquei esses pensamentos de lado e passei minha mão pelo cabelo escuro de AJ.
— Bom dia, bom dia, é hora de começar o dia. — Eu cantei a música do filme Cantando na chuva, assim como minha mãe fazia comigo e minha irmã quando éramos crianças.
Ele gemeu e se virou. Seus olhos verdes, os do seu pai, se abriram e ele sorriu.
— Mamãe.
Eu sorri de volta.
— Bom dia, querido. É hora de se levantar.
Ele acenou com a cabeça e começou a se preparar para o dia.
Eu me perguntei quanto tempo demoraria para que as manhãs se tornassem difíceis, como eu tinha ouvido tantas vezes com outras mães. Ele e eu já havíamos escolhido suas roupas na noite anterior e embalado uma mochila com suas coisas favoritas para levar para minha irmã, que cuidava dele enquanto eu trabalhava.
Outra onda de gratidão tomou conta de mim por ter uma irmã e um cunhado tão maravilhosos. Sem eles, não sei se teria conseguido fazer um mestrado ou me tornar vice-presidente de marketing de uma importadora de vinhos. Eles permitiram que AJ e eu morássemos com eles até terminar meus estudos e conseguir um emprego de tempo integral.
Eles também cuidaram dele gratuitamente durante esse tempo.
Agora, minha situação havia melhorado, eu estava alugando uma casa que eles possuíam como propriedade de investimento e também pagando pelos cuidados de AJ, mesmo sabendo que estava sendo cobrado muito menos do que se tivesse que encontrar uma creche em outro lugar.
Entrei em meu quartinho simples, que também precisava de conserto, e me vesti. Normalmente eu não estava muito preocupada com o que usava para trabalhar, mas naquele dia o novo chefe da Altieri Wine Imports estava nos visitando.
Eu grunhi de frustração, já que queria aquela posição há muito tempo. Eu sabia que era capaz, mas Giorgio Altieri, o proprietário, decidiu trazer outra pessoa. Alguém de fora.
Defendi minha causa e ele foi compreensivo, mas no final deu seguimento ao seu plano. Não pude discutir muito porque, assim como minha irmã, Giorgio também foi muito legal comigo. Eu tinha feito um estágio para ele na universidade, quando estava grávida e tentando terminar o curso, ele me contratou em meio período. Então, quando terminei a pós-graduação, ele me contratou em tempo integral.
Portanto, aguentei firme, talvez o estranho que veio de Nova York odiasse a Costa Oeste. São Francisco, onde ficava o negócio, era uma cidade diferente e eu amava, mas para alguns era muito eclética ou com visão de futuro. Eu ri. Se eles achavam que São Francisco era liberal, teriam que visitar Berkeley, onde eu morava do outro lado da baía.
Pensei em me vestir de preto ou cinza, como era o estilo em Nova York, mas optei por um vestido de negócios azul petróleo que acentuava meu cabelo ruivo. Ele se agarrava em minhas curvas, embora sendo curvilínea acontecia com todas as minhas roupas; portanto, não era exagerado nem arriscado.
Apliquei maquiagem, não muito, mas o suficiente para realçar minha pele clara e olhos azuis, e escovei o cabelo, deixando-o secar em seu estado natural ondulado.
Coloquei o café da manhã de AJ na mesa assim que ele entrou na sala.
— Você escovou os dentes?
— Sim. — Ele subiu em sua cadeira.
— Todos eles? Ou pelo menos os que você deseja manter?
Ele revirou os olhos enquanto pegava a colher e engolia o cereal.
Eu me servi de outra xícara de café, enquanto o pão torrava. Quando saiu da torradeira, acrescentei manteiga de amendoim e senteime com AJ à mesa.
— Quais são seus planos para hoje, pequenino?
Encolheu os ombros.
— Não sei.
— Ah, vamos, você e Kyle vão construir uma cidade de Lego? — Eu perguntei, referindo-me ao meu sobrinho, que era alguns meses mais velho que AJ.
Claro, ao contrário de mim, minha irmã era casada e feliz quando concebeu, ainda era casada e feliz e tinha dois filhos, Kyle e uma filha de dois anos chamada Sacha.
Se meus planos tivessem corrido bem, eu também poderia ter dois
filhos.
— Talvez. — Seus olhos brilharam. — Você sabia que eles têm Legos para fazer dinossauros?
— Não sabia.
Ele acenou com a cabeça enquanto lutava para manter o pedaço enorme de cereal na boca. Ele fez isso com os cereais, mas um pouco de leite escapou.
— Eu quero.
— Compreendo. — Limpei sua boca com um guardanapo e fiz uma nota mental para adicionar seu pedido à lista de presentes que eu tinha no meu telefone.
Ser mãe significava escrever tudo, porque do contrário, haveria muito para memorizar.
Terminamos o café da manhã e demos a volta no quarteirão até à casa da minha irmã, onde o deixei com um beijo. Mais tarde, fui até ao ponto de ônibus da esquina para ir até à estação ferroviária e chegar à baía. Eu tinha um carro, mas não gostava de lidar com o deslocamento e o estacionamento. Como o trem era confortável e eu podia ler ou trabalhar durante o trajeto, era uma opção melhor.
Cheguei cinco minutos mais cedo, como sempre. Alguns funcionários já estavam lá. A maioria era amigável, mas outros eram frios, como se pensassem que eu tinha conseguido o emprego e as promoções por causa da minha amizade íntima com Giorgio. É verdade que comecei na empresa porque minha família o conhecia há muitos anos, desde que meu pai trabalhava para ele, e depois porque Giorgio e sua esposa se tornaram pais substitutos quando o meu morreu. Mas ganhei minhas promoções e era muito boa no meu trabalho.
— Oi Michaela. — Clara, ex-assistente de Giorgio, cumprimentoume quando passei por sua mesa.
— Bom dia, Clara. O novo cara chegou? — Eu balancei a cabeça em direção ao antigo escritório de Giorgio.
— Ainda não. Mas aqui estão algumas coisas que o Sr. Altieri deixou para ajudá-lo a se instalar. — Ela me deu um sorriso compreensivo.
— Sinto muito que não seja você. Eu acho que você teria sido ótima.
— Obrigada. — Ela era uma das poucas colegas que pensava assim, e provavelmente foi por isso que Giorgio contratou outra pessoa. O trabalho era muito exigente e alguns funcionários que achavam que eu não merecia poderiam transformar em impossível. — Estarei no meu escritório. Me avise quando chegar.
— O farei.
Entrei em meu escritório e dei uma olhada no que Giorgio queria que eu revisse com o novo cara. Eu o coloquei de lado e liguei meu computador para ver o que havia sido postado nas redes sociais nas últimas doze horas. Memes sobre vinho podem ser muito inteligentes e populares.
— Michaela?
Olhei para Clara que estava na minha porta. Ela tinha uma aparência interessante.
— Sim.
— Está aqui.
— Você está bem? — Eu me levantei e arrumei meu vestido.
— Eu acho que acabei de ter um orgasmo. — Eu ri alto. No geral era uma declaração engraçada, mas Clara estava na casa dos sessenta anos, então, por algum motivo, foi mais engraçado. — Já faz muito tempo, não tenho certeza.
— Isso é triste, — afirmei, juntando-me a ela na porta.
A verdade é que eu também não tinha há muito tempo, pelo menos um dado por um homem.
— Ele é... ele é... ele é simplesmente... uau!
Eu não tinha estado com um homem desde Alex. Não que não tivesse tido oportunidades, pelo menos nos últimos anos, embora soubesse apreciar um homem bonito, mesmo que não estivesse interessada nele.
Com base na reação de Clara, fiquei muito curiosa sobre o chefe.
— Estou ansiosa para conhecê-lo. — Fui até ao antigo escritório de Giorgio e olhei dentro. O homem estava de costas para mim e olhava pela janela.
Algo sobre ele fez meu cabelo se arrepiar.
Ele se virou e eu vi olhos verdes que combinavam com os de AJ.
Encarei o rosto do pai do meu filho, Alex Landon.