Capítulo 8
Não sei exatamente quanto tempo ficamos trancados no guarda-roupa, mas com ela parece que nunca há tempo suficiente.
Sem muito entusiasmo, nós nos vestimos e entramos no quarto. Nancy se deita na cama e mexe no celular. Seus lábios estão inchados e seu cabelo está despenteado. Nunca vi nada tão espetacular em minha vida.
O computador ao pé da cama começa a apitar. Ela rola sobre a colcha e se ajoelha. Ela aperta alguns botões e sorri. -Ei, Scar. Diga-me que você encontrou minhas botas, não sei o que faria se as perdesse.
Eu me sento ao lado dela e me inclino para a webcam. - O carro dela.
Seu amigo sorri levemente. -Olá, Aaron.
- Esqueci de pedir para você procurar minha jaqueta de couro verde-escura", Nancy murmura, ”Você se lembra de qual eu comprei para a festa do Carter? - .
Scar morde o lábio. -Jay ... - .
Nancy não dá atenção a ele. - Acho que o esqueci no chão do quarto dele quando ele o tirou de mim..... - ela percebe minha carranca e recua - ...Não, quero dizer, quando eu mesma o tirei porque estava muito quente - . Quem diabos é Carter?
Scarlett levanta a voz. -Jay.
-Você os encontrou? - ela pergunta apreensiva.
Scar olha para mim com hesitação. - Podemos conversar a sós? - .
Começo a me levantar, mas Jay coloca a mão em minha perna. - Não há nada que você não possa dizer na frente dele.
Acaricio seus dedos. - Talvez ela queira falar com você sobre algo importante para ela.
Scar toca em suas franjas. - É... não se trata de mim... - .
Nancy se enrijece nos travesseiros e pega minha mão. - Fique - . Entrelaço meus dedos com os dela, tentando acalmá-la. - O que é o Scar? O papai disse algo a você? Se ele estava em um de seus momentos artísticos, peço desculpas. Às vezes, ele pode ser um pouco estranho.
Nunca nos aprofundamos na história dos momentos artísticos do Sr. Roux. Não sei exatamente o que você quer dizer.
Scar mexe na pulseira enquanto pesa mentalmente as palavras. - I... - .
- Scar - ele a incentiva - Vá em frente - .
- Eu fui à sua casa para pegar as botas que você pediu e quando bati na porta do seu antigo apartamento, seu pai não estava lá - .
Nancy dá de ombros. -Talvez ele tenha ido dar uma volta.
Uma sensação horrível toma conta do meu estômago. Scar inclina a cabeça. - Não, Jay, uma senhora abriu a porta para mim e me disse que a casa agora é dela - .
- O quê? -Nancy grita.
- Falei com o proprietário e ele me disse que seu pai não mora mais aqui - respira fundo - Ele me disse que foi embora há cerca de quinze dias - .
Nancy olha para a tela com os lábios entreabertos. Posso sentir a raiva e a confusão endurecendo-a e afastando a bela expressão relaxada que ela havia conseguido fazer aparecer em seu rosto. - Eu não . - .
- Ele vendeu o apartamento e levou tudo o que havia nele, então não consegui encontrar suas botas. Acho que esse não é o maior problema no momento.
Nancy empurra o laptop para o fundo do colchão e se levanta. Você sai correndo do quarto, antes que eu tenha tempo de perceber.
-Jay! Espere - a cicatriz range - Vá com ela, Aaron - .
Eu certamente não vou deixar que eles me digam duas vezes. Saio correndo do quarto e desço as escadas. Nancy passa as mãos pelos cabelos enquanto olha com raiva para a mãe sentada no sofá. - Quando você ia me contar? Você achou que eu nunca descobriria? - .
April se levanta. -Julie...
- Não! - ela grita - Não, Julie. Onde você o colocou? O que você disse a ele? Por que ele não está mais em nossa casa? - .
Meu pai tenta atrapalhar. - Nancy, não acho que seja apropriado... - Cale-se - ele rosna.
- Cale a boca - ele rosna - Não se envolva, não é da sua conta - . Ele cerra os dentes, mas sabiamente decide se afastar. - Onde você está? - ele grita para April.
Pressentindo problemas, Cole agarra Olivia e a arrasta para a cozinha. Henry se levanta de sua cadeira e agarra sua irmã pelo braço. -Julio ... - .
Ela se vira para olhá-lo nos olhos e depois se afasta lentamente. - Você sabia disso? -
- Jules, ela geme.
- Você sabia e não me contou - ele solta o braço dela com um puxão - Você mentiu para mim.
- Você mentiu para mim. Eu pedi para ela fazer isso", diz April. Isso não melhora a situação, na verdade, aumenta a raiva que arde nos olhos de Nancy.
Vejo Lip parado na porta da cozinha. Ele me olha preocupado, mas permanece em silêncio.
- Onde você está? - Nancy geme. Seu tom magoado me faz arder no meio do peito.
April ajusta o suéter com dedos trêmulos. - O pai de vocês voltou para a França.
Nancy cerra os punhos. - Quando você decidiu isso? - .
- Recentemente. - .
- Mamãe", Henry suspira, ‘diga a verdade a ela’.
Nancy olha para o irmão e depois volta sua atenção para a mãe. - Mamãe.... - .
April se senta cansada no braço do sofá. - Ela decidiu isso depois de sua hospitalização. Ofereceram a ele uma vaga de prestígio na Academia de Belas Artes e ele aceitou.
- Isso aconteceu há cinco meses, por que você não me contou antes? - . April olha para o chão, culpada. - É claro que eu contei. Porque eu queria ir morar com ele e não com você...
-Julie...
- A essa altura, eu poderia estar com papai e minha avó em Paris, em vez de estar nesse buraco esquecido por Deus com você - ela aperta a cabeça com as duas mãos - Você me arrastou para cá sem me dar escolha, porque achou que nos encontraríamos lá? Que voltaríamos a ser como éramos antes? - ele ri sem hilaridade - Você é mais estúpida do que eu pensava - .
- Nancy", meu pai rosna.
Ela o ignora e continua a massacrar a mãe. - Toda vez que eu lhe perguntava se poderia voltar para a casa do papai no Natal, para ver Scarlett novamente, você me dizia que pensaria no assunto, que se eu me comportasse impecavelmente, poderia ir. Mas você estava mentindo, estava me traindo.
- Julie - Eu não sabia como lhe contar, você está sempre tão longe e eu tinha medo da sua reação.
- Então a culpa é minha, você mentiu para mim e a culpa é minha? - . April soluça alto e esconde o rosto nas mãos. Também estou surpreso com o tom brusco com que ela se dirige à mãe. Nada tão frio deveria vir de uma pessoa tão maravilhosa.
Henry se espreme entre sua mãe e sua irmã. - Jules, pare - .
Ela aponta o dedo para ele. -Tenho um pouco para você também, não se preocupe.
Ele pega a mão dela. - Não é culpa dela. A necessidade de intervir faz minhas mãos coçarem.
- Você sempre a defende. Para você, ele nunca é culpado de nada.
-Porque ele não é. Ele solta a irmã, olha para a mãe e então solta a bomba. -Papai não nos queria com ele.
April funga. -Enrique, você não...”.
- Isso não é verdade", diz Nancy.
- Ele queria voltar para a França sozinho - ela franze os lábios - Mas não de verdade, com a nova namorada dele - .
Nancy dá um passo para trás como se o irmão tivesse lhe dado um tapa. Ela treme e coloca os braços no peito. - Eu não acredito, você está mentindo - .
- Não, Jules, eu não estou mentindo para você - ele estende a mão e tenta tocá-la - Eu sinto muito.
Ele afasta o irmão com um tapa nos dedos. - Não! Ele corre para a porta, pega as chaves do carro e sai.
Sua fuga deixa todos boquiabertos e o silêncio cai opressivamente na sala. April se levanta, torturando suas mãos. -Tenho que ir falar com ela. Precisamos esclarecer as coisas.
Henry suspira. - Não, ela nem vai querer ver você agora. Deixe-a processar a situação.
-Você tinha mesmo que falar com ela daquele jeito sobre o pai dela? - .
Henry franze a testa. - O que eu deveria ter feito? Ela estava descontando em você por algo que você não fez. Não é justo você ficar com todo esse ódio por nada - ele esfrega a mandíbula - Eu tinha que lhe contar tudo - .
- Não!", April grita, ”Não se atreva!
Papai pega a mão dela gentilmente. - Henry tem razão, querida. Ela acha que a culpa é sua por deixar as coisas assim. Você deveria dizer a ela que o pai dela... - .
- Não!", ela o interrompe, ”eu não vou deixar isso acontecer. Ela ama seu pai mais do que qualquer outra pessoa no mundo, não vou deixar que isso comprometa o relacionamento deles. Papai coloca o braço em volta dos ombros dela e a puxa para si.
Eles ainda estão mentindo para ele. Mesmo sabendo que Nancy odeia mentiras, eles ainda estão escondendo a verdade dela. Não quero saber do que eles estão falando, não vou acabar na lista de mentirosos com eles.
Lip aparece ao meu lado com uma expressão muito estranha no rosto. Uma mistura de preocupação e espanto. Nunca vi essa mistura em seus olhos antes. - Vamos procurá-la, o que você acha? - .
Eu aceno com a cabeça e vamos em direção à porta. Não anunciamos para onde estamos indo, parece bastante claro para todos.
Não preciso viajar por toda a cidade para encontrá-la, sei exatamente onde ela está. Lip pára o carro a alguns metros da mãe de Nancy e desliga o motor.
- Você fica aqui.
Ele acena com a cabeça. - Sim, senhor.
Abro a porta e vou até o carro. Nancy se senta encolhida no capô e bate convulsivamente na tela do celular. - Vamos lá... atenda - ela geme - Por favor... atenda - .
-Jay? - .