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Capítulo 7 - Acordo com a fera

Elizabeth ouviu as pessoas gritando do lado de fora e saiu correndo para ver o que estava acontecendo. Thor estava puxando uma criatura grotesca pelos braços, todos estavam sujos e cheiravam a carne podre. Anthony e os outros caçadores vinham logo atrás deles.

— Por que trouxeram essa coisa? — Perguntou ela, afastando-se.

— Você está ótima, Elizabeth!

— Como ela sabe o meu nome?

— Porque ela é Jane. — Anthony respondeu, e tudo fez sentido. Tantos anos ela tinha sido levada, e Elizabeth pensou que já estivesse morta e devorada.

Lembrou-se do sofrimento do pobre Gustave que quase enlouqueceu quando a levaram e partiu pelo mundo, nunca souberam o que aconteceu com ele.

— Mas ela é um monstro, não podem deixá-la entre nós! — Avisou Elizabeth.

— Precisamos dela. Jane andou em Sangria por muitos anos. Ela domina a magia, e ela vai ficar! — Anthony a defendia, mesmo tendo se transformado em algo que eu não se atreviam a entender. Ele se importava com ela, como fazia no passado e Elizabeth ficou furiosa. Achava que os olhares dele eram sempre para ela e que mentia todas as noites, jurando-lhe amor eterno.

Thor não estava errado em entender o temor de sua mãe diante da presença da criatura entre eles. No entanto, Anthony tinha suas próprias razões para permitir que Jane permanecesse. Ele levou a besta até a cabana, enquanto os cães da vila latiam enlouquecidos e ela mostrava suas presas para silenciá-los. Eles entraram na casa, e Jane olhava ao redor com curiosidade, embora estivesse apenas revisitando o passado.

— Vou conseguir carne para você, está dando para contar suas costelas uma a uma! — Anthony disse, pegou a criatura e saiu para caçar.

— Sua mãe não vai me aceitar aqui, garoto. Você devia ter me levado para outro lugar.

— Aqui você ficará sob nossa vigilância. Não sei o que aconteceu no passado, mas o que mais me importa agora é tirar minha irmã daquele lugar!

Jane farejou Thor com força e balançou a cabeça negando. Para ele, essa criatura sabia demais.

Jane de volta à vila, quantas surpresas mais o passado iria enviar? Tudo o que Anthony desejava era ter sua filha viva e de volta em seus braços. Saber que pelo menos ela estava viva lhe dava a força necessária para prosseguir com sua busca. O confronto que Thor iniciara parecia ser ainda mais intenso do que os desafios que já haviam enfrentado ao longo dos anos. Anthony ponderava sobre o que Walter faria ao retornar da expedição com os outros homens da vila, onde buscavam sementes para o próximo plantio.

Ele havia secretamente dado a mão de Eugênia a Walter. Sabia que não deveria ter tomado essa decisão sozinho, mas via em Walter um bom rapaz e um exímio caçador. Fez isso sem consultar Elizabeth, acreditando que garantiria a segurança de sua filha. No entanto, reconhecia que havia falhado, e não sabia como explicar a Walter tudo o que havia acontecido, incluindo o roubo de seu futuro.

Via a história se repetindo em um ciclo aparentemente interminável. Thor ainda o culpava por não ter o mesmo sangue. Thor constantemente julgava a forma como era tratado e se comparava com a irmã. Anthony sabia o quanto havia sido difícil para ele aceitar o filho de um homem cuja identidade sequer conhecia.

— Se ele a ama de verdade, aceitará ficar com ela mesmo depois de tudo. Assim como realizei por Elizabeth, mesmo tendo desperdiçado a minha vida amando uma mulher que nunca foi de verdade, minha! Valeu a pena?

Após questionar-se, Anthony viu um lince por trás dos arbustos, mirou com destreza a besta em sua direção. Prendeu a respiração e liberou a flecha, infelizmente o perdeu por entre a floresta. Permaneceu mais algumas horas esperando por outra oportunidade, até que conseguiu acertar um chacal desavisado.

— Você vai servir, espero que Jane goste de uma carne mais adocicada!

Retirou cuidadosamente a pele do animal que os serviria para muitas coisas e limpou a carne para levá-la até a cabana.

Eugênia dormiu sentindo os braços fortes do Alfa aquecerem seu corpo e sua respiração rente ao ouvido, ela não sabia o que fazer depois do que houve entre eles. Cogitou que se conseguisse o amor dele, poderia conseguir que cumprisse a promessa. Quanto a Zayon,  ela não o julgava merecer o poder que tem e o controle de tantas vidas em suas garras.

A jovem se levantou devagar, tirando o braço pesado do Alfa de cima de seu corpo, olhou para ele, tão belo ao dormir que nem parecia ser aquele monstro. Tomou um banho, a porta estava aberta e foi para o quarto de hóspedes que a haviam dado, alguns vestidos haviam ficado por lá e ela os havia experimentado antes do baile, escolheu o mais simples deles. Com certeza era bem melhor do que seguir usando aquele que o Alfa rasgou.

— De pé assim tão cedo? Pelo jeito, você e o mestre não devem ter tido uma, boa noite. — Dana, era sempre sorrateira e estava de olho em todos os passos que Eugênia dava.

— Está enganada, ou quer seguir assim fingindo não ver. Tenho certeza de que seus apurados ouvidos constataram quanto prazer dei a ele essa noite!

Dana suspirou, estava irada e suas bochechas coraram.

— Por que não volta para o seu povo? Achei que você fosse mais valente do que está demonstrando ser Eugênia...

— Não vou voltar Dana, pelo menos até que ele me dê a certeza de que estamos seguros.

— Ele está te iludindo, assim como fez a todas nós. Promessas de cama são levadas pelo vento, assim que se cansar de você irá procurar outra, quem sabe até uma humana. Já que ele tomou gosto pela sua espécie.

— Não perca seu tempo dizendo coisas que eu já sei, não estou aqui por amor a ele e sim, pelo meu povo. E se aceita um conselho Dana, pare de ouvir atrás das portas. — Eugênia saiu, deixando-a ainda mais brava, mas pensou que o pior é de tudo é que ela disse uma verdade.

Eugênia pensou que cedo ou tarde ele se cansará dela, irá buscar outras para saciar o seu apetite por carne fresca.

Longe dali...

Anthony voltou carregando a caça para alimentar Jane. Enquanto passava pelas pessoas, sentia o olhar carregado de hostilidade. Desde o incidente causado por Thor, eles enfrentavam hostilidades crescentes, agravadas agora pela presença da criatura entre eles. Adentrou a cabana, à procura de Elizabeth, que ainda não retornara da igreja e parecia estar irritada, revivendo elementos do passado que apenas os afastavam.

Ele se aproximou cautelosamente de Jane. Thor a havia amarrado com força excessiva. Jane estava adormecida, e Anthony lentamente afrouxou o nó das amarras. Subitamente, ela se lançou sobre ele, suas presas passando a meros centímetros do seu rosto.

— Me perdoe, Anthony, por favor!

— Se você tentar algo assim novamente, vou precisar amordaçá-la.

— Não faça isso. Você não sabe o que é viver esse pesadelo. Esconder uma fera dentro de si o tempo todo, consumindo a alma e transformando tudo o que era bom em uma escuridão profunda. — Jane expressou suas emoções, suas palavras foram carregadas de angústia, e ele enxugou uma de suas lágrimas.

Elizabeth retornou para casa após suas preces e encontrou Anthony acariciando Jane, ou o que restava dela.

— Eu não quero essa criatura em minha casa! Leve-a para onde preferir. Estou vendo o quanto você está cuidando bem dela. — Elizabeth disse com irritação, e os dois a olharam.

— Elizabeth tem razão. Assim como estou, posso perder o controle a qualquer momento. Mas se eu puder voltar a fazer meus feitiços, posso nos beneficiar bastante.

Jane expressou o desejo de permanecer solta entre todos, o que parecia ser uma ideia completamente insana. A hostilidade da vila já era grande o suficiente, e o único que os apoiava era o padre Jonas, que Deus o tenha!

— Ela nos ajudará a trazer Eugênia de volta, parece que você desistiu de nossa filha. — As emoções de Elizabeth se desequilibraram em questão de segundos, pois para ela Anthony parecia não estar ouvindo as próprias palavras.

— Eugênia é minha vida. Como pode me acusar de aceitar que a tenham levado, Anthony?

— Então, aceite a ajuda de Jane. Não importa o que ela seja agora. Só quero trazer nossa menina de volta para casa.

Aceitar ajuda de uma criatura assassina parecia equivaler a fazer um pacto com o diabo ou algo pior.

— Se realmente desejam minha ajuda, precisam confiar em mim. — Jane, embora irreconhecível, ainda mantinha aquele olhar familiar, aprisionado dentro de suas pupilas amareladas e assustadoras.

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