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07 - Thalan Roux

Thalan Roux

Mais um dia na matilha e a raiva me consumia de uma forma que queira apenas sair daquela sala ignorando os anciões que insistem que me pai deva se afastar e deixar que faça a disputa para provar o meu valor como o Alfa que a nossa alcateia necessita.

— Não vou destituir o meu pai! — brado irritado.

— Esse momento vai acontecer em algum momento, Thalan! — Um dos anciões fala.

Viro lentamente para o homem com meu pescoço tenso com o sentimento de raiva que estou sentindo, a vibração em meu peito começa a ficar sem controle e tento manter pelo menos a minha sanidade.

“Cretino”

Meu lobo diz rosnando em minha cabeça, faz com que as veias em meu pescoço inflem e feche minhas mãos em punhos para tentar controlar o que estou sentindo. O cheiro do meu pai começa a ficar mais próximo de mim e sinto a sua mão em meu ombro apertando com delicadeza.

O que faz com que a minha atenção e meu foco saiam desse velho, que para mim está planejando em se ver livre do meu pai.

— Concordo com meu filho, ele já está pronto para participar da disputa. Mas acredito que ainda falta algo para que ele esteja pronto para assumir… — Meu pai começa a dizer e se afasta.

Estávamos no prédio que meu pai gosta de chamar de prefeitura, é onde centralizamos o que pode ser considerado o nosso governo. Não é porque nos transformamos em animais enormes que não temos um pouco de civilidade.

Tentamos sempre incorporar coisas do mundo humano a nossa sociedade lupina e secreta. O grande salão onde é feito os casamentos entre os lobos e as mais diversas cerimonias em nossa alcateia servia também como um lugar para as reuniões com o conselho de anciões. O que estava começando a me tirar a paciência.

“Podemos matá-los”

Meu lobo fala com sarcasmo, e mesmo que a ideia seja bastante atraente por sentir que esses velhos estejam aprontando algo. Não posso simplesmente me transformar e matá-los sem uma justificativa bem plausível, ou serei exilado da ilha e não posso sair daqui…

A lembrança da mistura de perfumes florais, a imagem de uma certa loba branca com seus olhos como duas labaredas de fogo, faz o meu lobo se acalmar dentro de mim. Posso senti-lo se deitar sobre as quatro patas e ignorar o que era falando dentro daquela sala.

Me afasto do meio do salão indo em direção a uma das paredes e fico próximo ao grande janelão que dava uma linda vista para o mar.

Sou grato a deusa Selene que nos abençoou com sentidos mais aguçados que dos humanos, o fato de poder enxergar a quilômetros, ouvir os muitos sons e principalmente o que mais gosto…

Sentir o cheiro que mais me atrai apenas por ver a sua silhueta enquanto corre pela margem do lago em Valldemossa. Olho novamente para o meu pai que insistia em falar com os anciões sobre a doença que está se espalhando em nossa alcateia. Ele acredita que alguém está nos envenenado e os anciões acreditam que meu pai não tem mais capacidade de lidar com isso depois de mais de trinta anos sendo o alfa de nossa alcateia.

Decido sair da reunião soltando uma lufada de ar por estar irritado com a dificuldade de aceitar que para fazer o que for, seja para o bem ou até mesmo para entrar em uma disputa precisemos ouvir os mais velhos.

Caminho pelos corredores do prédio que mais parece um palácio e cumprimento alguns lupinos que circulavam por ali. Todos sorriam para mim e pediam que mandassem lembranças a Greta.

Greta…

A loba albina que meus pais adotaram um dia que surgiu misteriosamente na porta de nossa casa. Estava com três anos na época e lembro que a novidade de ter uma irmã era legal.

Gostava de saber que seria o irmão mais velho e que a minha função seria protegê-la seja lá de quem quer que fosse. Com os anos meus pais foram nos explicando que não eramos irmãos e que não deveríamos pensar assim.

“A deusa tem seus mistérios e se Greta surgiu aqui descobriremos com o tempo o real motivo”

Essa sempre foi a fala de meu pai para mim e para Greta, que vem a cada nova lua me deixando muito mais enfeitiçado por ela. Como passo muito mais tempo em minha própria toca do que na casa de meus pais, não tenho a visto com frequência.

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