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Capítulo Dois - 3

Parte 3...

— Eu já disse que vou ficar bem, não tem que se preocupar comigo e não pode me impedir de ir embora - disse de forma até mal criada — Eu tenho direito de ir e vir como queira.

— Eu sei disso - ele inclinou a cabeça para a frente — Mas acho que sair assim, pode acabar causando algum prejuízo maior depois. Você está tremendo - olhou para suas mãos — Como vai controlar um carro assim?

Ele tinha razão. Talvez ela nem fosse muito longe, apenas saísse do prédio para respirar melhor.

— Vamos fazer assim - ele empurrou a porta de volta e voltou a travar, segurando a chave — Eu tenho água no meu carro. Ele está logo ali - apontou para o carro mais adiante, em uma das vagas de presidência — Vamos até lá, você bebe um pouco de água, senta e relaxa - abriu as mãos — Aí depois, se quiser ir embora dirigindo, eu a libero. Ok?

Juliana olhou para o carro adiante. Era uma SUV enorme e alta. Claro, só podia ser. Engoliu em seco e apertou as mãos. Até que não seria ruim molhar a garganta. Estava mesmo precisando.

Olhou para ele. Parecia mais uma parede de tão alto e largo que era. A encarava de modo firme e mostrava que não aceitaria que negasse sua oferta. Ela se sentia miúda perto dele. E de certa forma, ela gostava dessa diferença entre eles.

O olhar dele agora já não estava sarcástico e nem parecia ter crítica em sua postura. Parecia mais que estava preocupado mesmo com ela. Estava em um modo protetor.

E isso era muito bom. Há muito tempo ela vinha sentindo falta de alguém que se importasse mesmo com ela. Principalmente sentia falta de um companheiro que a cuidasse. Com Gutto não era assim. Ele quase nem mesmo perguntava sobre seu dia ou seu trabalho. Era uma relação de pouco calor humano, pensando bem. Ele mais falava do que ela.

Onde ela tinha errado? Estava se sentindo tão carente a ponto de entrar em uma relação com um homem que se sentia o dono do mundo e ainda teve a inocência de achar que mudaria por causa dela? Ilusão.

Lorenzo gostava desse jeito dela o olhar. Juliana tinha o rosto muito expressivo e em quase todas as vezes, ele conseguia saber o que ela estava pensando. Agora por exemplo, ela parecia muito carente, em dúvida sobre o que fazer com a verdade que tinha sido jogada diante de seus olhos.

Seu noivo era um canalha. Em vários sentidos.

E ela sempre o enfrentava de um modo particular. Algumas vezes apenas lhe dava um sorriso irônico e apenas se afastava dele, outras vezes dizia com o olhar que reprovava seu comportamento e não se importava em lhe dizer isso com todas as letras também. E ele apreciava essa honestidade e coragem dela, embora algumas vezes isso o deixasse irritado, já que ele tinha a estranha ideia de fazer com que ela o apreciasse.

— Podemos ir? - ele insistiu.

Juliana tinha um jeito que o intrigava. Desde a primeira vez em que a conheceu, ali mesmo na empresa, já ficou curioso pela pessoa reservada e educada, de modos gentis e comedidos que andava pelos corredores carregando pastas e documentos nas mãos, sempre atenta ao trabalho.

Algum tempo depois, ele se surpreendeu ao chegar na casa dos pais e a encontrar sentada no sofá, conversando com a mãe e de mão dada com Gutto. Ao saber que tinham ficado noivos, ele logo pensou que fosse uma brincadeira do irmão, mas depois viu que era sério. Só não entendia o motivo dessa união.

Ela suspirou e foi andando devagar ao lado dele, a cara fechada, fazendo um bico contrariada e os olhos piscando muito para conter as lágrimas que queriam escapar. De forma alguma ela iria dar a Lorenzo a chance de vê-la sofrendo por causa de seu irmão safado.

Ele abriu o carro e pegou uma garrafinha de água de dentro de um compartimento refrigerado. Estava ótima. Gelada como precisava para resfriar um pouco seu corpo que estava quente pela raiva e vergonha. Bebeu um gole grande o encarando.

— Sabe, eu sei que você é cismada comigo - ele enfiou as mãos nos bolsos da calça — Mas não precisa achar que eu a deixaria sozinha em um momento desagradável como esse.

— E não é sua vontade? - secou o canto da boca com a costa da mão.

— Até que foi... De início - fez um gesto com a boca — Mas eu tenho boas maneiras, ainda que pareça que não pelo meu modo um pouco rude às vezes.

— Um pouco rude? - ela ergueu a sobrancelha.

— Eu nunca a tratei mal - ele mexeu o ombro.

Realmente. Tratar mal ele nunca a tratara, porém sabia que tinha várias críticas para jogar em cima de seu colo. Mesmo tendo a educação que ele demonstrava, ela entendia que ele não tinha muita paciência.

Lorenzo sentia que ela estava se fazendo de forte. Mas suas mãos ainda tremiam um pouco enquanto segurava a garrafa de água e seu rosto ainda estava corado. Ela não estava de todo recuperada do susto, embora quisesse que ele pensasse isso para deixá-la ir embora sozinha.

E nesse breve momento de observação, ele notou mais detalhes nela que não tinha dado a devida atenção antes. Juliana era mais atraente do que achava. Agora via o quanto era linda. Não era só sua aparência física, mas seu jeitinho também. Até mesmo quando era teimosa e o enfrentava.

Eles ficaram um momento parados, apenas se analisando em silêncio. De cada lado havia uma observação sobre o outro. E uma energia suave passava em seus corpos. Havia uma admiração mútua e silenciosa.

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