Capítulo Dois - 1
Parte 1...
O estômago de Juliana revirou. Sua cabeça ficou tão cheia com as imagens que via que sentiu uma pontada no lado esquerdo da testa e seu coração ficou pesado.
Era muita coisa para suportar assim, de repente. Sentiu sua nuca enrijecer. Ela precisava sair dali. Era ridículo demais. Não ia ficar ali olhando enquanto eles tentavam se vestir de uma forma desajeitada e apressada.
Ela se virou e saiu apressada, quase tropeçando quando passou pela porta com desespero de se afastar dali o quanto antes. Estava sentindo coisas que não gostava. E dentro elas, uma grande vergonha de Lorenzo também estar ali nesse momento.
Lorenzo ficou sem saber se ficava e brigava com os dois amantes descarados ou se corria atrás dela para ajudar. Em um impulso ele decidiu ir atrás dela.
— Você não muda nunca, Gutto - disse com voz enraivecida e antes de sair, olhou feio para Anete — Você não tem caráter, garota? Que comportamento nojento.
— Lorenzo, você não pode...
Gutto tentou contestar, mas calou a boca quando viu a cara séria e assustadora que o irmão fez, quando se voltou para ele.
— Eu posso o que eu quiser - ele disse entre dentes — E você não pense que isso vai ficar assim. Saia daqui e leve essa vagabunda junto com você. Agora!
Quando ele saiu, novamente puxou a porta com força, batendo e reverberando um som pesado da pancada, que acabou assustando a alguns funcionários que estavam por perto.
Andou apressado para tentar alcançar Juliana que desaparecia pelo corredor. Tinha sido uma situação péssima, mas ao mesmo tempo, seu irmão acabara de lhe dar mais uma justificativa grave para retirá-lo de sua vida e da empresa.
Infelizmente, ele não conseguiu alcançá-la antes que ela entrasse no elevador. Bateu forte no botão, mas isso iria demorar. Praguejou e empurrou a porta de acesso às escadas e foi descendo rapidamente, pulando degraus para poder chegar ao mesmo tempo que o elevador. Passou por um funcionário que subia a escada devagar e nem respondeu quando o homem lhe deu bom dia. Estava correndo para alcançar Juliana.
Apesar dela nunca ter realmente lhe dado atenção, também nunca deixou de atiçar sua curiosidade, quando ele a flagrava olhando o que estava fazendo e virava o rosto depressa para outro lado, fingindo que não estava ligada nele.
Com certeza ela estaria indo em direção ao estacionamento para pegar o carro e ir embora. Mas ele não poderia deixar que saísse assim, desnorteada. Poderia acabar se envolvendo em um acidente. E se não fosse por ele estar sempre se exercitando e mantendo a forma, não teria pique para descer todos aqueles degraus dessa forma.
Por dentro ele estava revoltado com tudo. Aquele dia tinha começado bem carregado e pelo jeito isso continuaria por um tempo ainda. Sua cabeça estava cheia e seu corpo estava elétrico.
Ele chegava a tremer as mãos de ansiedade e nervoso com o que viria acontecer dali em diante depois disso. Deu um pulo por cima dos últimos quatro degraus e quase se jogou por cima da porta que abria para a garagem do subsolo.
Parou respirando fundo, já sentindo o suor descer em uma gota por sua testa. Olhou em volta a procurando. Ela tinha que estar ali. O carro dela sempre ocupava a mesma vaga. Foi andando pelo meio dos carros, em busca do carro dela e a viu, parada de costas, a cabeça baixa.
Andou rápido. Não podia deixar que ela saísse dirigindo por aí. Esticou a mão e segurou seu ombro.
— Juliana...
Ela estava com os nervos à flor da pele e quando sentiu seu toque, lhe deu um tapa na mão e gritou enraivecida.
— Não me toque seu nojento!
Ele franziu a testa.
— Ei, eu não sou o canalha do Gutto e nem você é a vagabunda da sua irmã. Os dois não mere...
Lorenzo não terminou a frase. Não esperava o que veio a seguir. Juliana se virou rápido e sem pensar, estalou um tapa em cheio no rosto dele, com toda força que ainda tinha. E o som do tapa fez eco no estacionamento vazio.
Lorenzo deu um passo para trás e tocou o local onde ela o acertou, sentindo o calor da pele machucada. Juliana ficou tremendo, as mãos segurando o rosto, olhando para ele que esfregava o rosto. Ela nunca tinha sido tão grosseira com alguém.
E menos ainda com o dono de tudo. Apesar de Gutto também ser da família e ser um dos herdeiros, todo mundo sabia que o grande mandachuva de tudo era Lorenzo.
E ela o havia esbofeteado. Que bom!
— Nossa... Desculpe... Eu não...
— Tudo bem - ele ergueu a mão — Diante do ocorrido, eu consigo entender - esfregou o rosto de novo — Até que você tem a mão pesada pra alguém tão pequena.
Juliana ficou com vergonha. Não era dada a violência, mas estava muito nervosa e nem mesmo sabia porque estava. De fato, não estava assim tão surpresa, ainda mais depois de tantas mensagens falando sobre seu noivo.
O que ela não esperava era que a irmã estaria do outro lado, ainda mais daquele modo. Isso sim a surpreendeu mais.
Enquanto ele se recompunha, Juliana ficava tentando achar uma resposta para o que tinha visto lá em cima. Como os dois poderiam estar juntos? Como sua própria irmã foi capaz de fazer algo tão baixo com ela?