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06

Mas como isso não é possível agora, então eu faço como venho fazendo, vou empurrando com a barriga.

Continuo juntando meu dinheiro, e trabalhando muito.

Ele me largou na agência e meu chefe me chamou na sala dele...

__ Oi Clara, boa tarde como passou o final de semana?

__ Oi Gustavo eu passei bem e você?

__ Muito bem, eu te chamei aqui, porque uma construtora quer uma menina das nossas para fazer um pós obra, e sei que você é boa nisso, eles pagam trezentos à tarde. Você quer pegar a vaga?

__ Tudo bem, mas e os escritórios que tenho?

__ Eu mando a Janice lá, acho que em duas semanas você termina o que acha?

__ Não sei, preciso ver o local...

__ Tudo bem, então vamos! Eu te levo hoje, mas amanhã você vai direto da sua casa, é bem perto dali.

__ Tá bom então... Obrigada por pensar em mim Gustavo!

__ De nada, sabe que sempre dou preferência pra você por que é a nossa melhor funcionária aqui. Só recebo elogios seus. – ele diz e sorri, e que sorriso bonito. Mas não olho muito. Não posso!

__ Ahhh que bom! Eu fico bem feliz.

Saímos da sala dele e fomos para o estacionamento do prédio com o elevador.

Ele já aproveita e leva mais duas funcionárias com ele, porque elas pediram carona.

Depois que ele larga as meninas só fica eu e ele no carro, até que ele diz:

__ Nessas duas semanas você pode tirar até 4.500,00. Sabe que é cinco dias corrido, mas então são três semanas de cinco dias né?

__ Sim, eu sei... Mas o valor total vai ser meu ou tem desconto?

__ Eles vão pagar 350,00 à tarde, então desse valor 750,00 é nosso. Sabe que não fico mais do que vocês né? É injusto vocês fazerem todo o trabalho e eu só receber sem fazer esforço.

__ Mas a empresa é sua...

__ Sim, ela é, e estamos tendo muito lucro assim, então pra que mudar? – ele responde e fico olhando a boca dele enquanto fala... O que estou fazendo?

__ Tudo bem o senhor quem sabe. – desvio o olhar na direção da janela.

__ Já pedi para não me chamar de senhor Clara, temos quase a mesma idade não é?

__ Não sei, que idade o senhor acha que tenho?

__ Eu não acho, eu sei que tem 23 anos.

__ E você? - pergunto.

__ Eu tenho 25.

__ Ahh, é que não parece, o senhor é bem sério, então aparenta ter mais. Desculpe!

__ Tudo bem, eu já ouvi isso muitas vezes.

__ OK.

__ E as crianças como estão Clara? E seu marido?

__ Todos bem graças a Deus.

__ Que bom então.

Ficamos em silêncio porque chegamos na construtora.

Falamos com o responsável pela contratação de funcionários e assinei uns documentos antes de entrar para a vistoria da obra.

Ao entrar percebo que está tudo muito sujo.

Vou precisar de muitos produtos pra me ajudar nesse processo.

Logo que trouxeram tudo o que eu pedi. Liguei o meu radinho e comecei a trabalhar...

Perto das 17:00 eu já tinha limpado dois apartamentos de três dormitórios.

Nesse ritmo eu vou terminar bem à tempo.

Desliguei meu som que tocava Gusttavo Lima, e comecei a arrumar as coisas pra ir embora.

Saí na rua e liguei para o Vitor.

__ Oi...

__ Oi amor, tá onde?

__ Eu estou na frente da construtora D&G, aquela que tem perto da nossa casa sabe?

__ Ah sei, não sai daí.

__ Tudo bem... – desligo a chamada e me sento no banco que tem aqui na frente. Acho que essa é a primeira vez que me sento para descansar desde que acordei hoje.

Alguns minutos se passaram e logo o Vitor chegou com a Saveiro dele.

__ Oi, demorei? – ele pergunta todo solicito.

__ Não, está tranquilo, obrigada por me buscar hoje, estou tão cansada.

__ Ah de nada, vamos, entra logo, eu já sei onde nós vamos ir agora.

__ Onde? – pergunto desanimada, eu estou esgotada e tudo que eu queria agora era um banho e cama.

__ Eu procurei na internet um lugar que vendia iogurte natural, e achei um que é sorvete e iogurte juntos. Acho que vai ser legal, está afim de ir? – ele pergunta todo animado, e não quero ser desmancha prazeres e não aceitar a oferta.

__ Pode ser...

__ Mas me diz, porque estava na frente da construtora? Seu trabalho não é pra esses lados? – pergunta todo curioso.

__ É um trabalho novo! Paga muito bem!

__ Bem quanto?

__ 200,00 à tarde. – minto porque o resto eu vou guardar na minha conta.

__ Ahh e quanto tempo vai trabalhar aqui?

__ Acho que 15 dias.

__ Isso é muito bom! Esses três mil que vai receber dá pra mim tá? Eu preciso pagar umas contas atrasadas...

__ Conta do quê? – pergunto olhando nos olhos dele.

__ Uns boletos, tá lá em casa depois você olha. Agora vamos comer o nosso sorvete de iogurte? Ou sei lá como se chama. – ele abre a porta pra mim e me ajuda a sair. Parecendo um legítimo cavalheiro, quem olhar na rua, vai ver o quanto ele é prestativo e atencioso... Só eu sei que isso não passa de fingimento. Adoraria que não fosse, porque assim poderia ser feliz com o homem que eu escolhi pra me casar, por quem eu me apaixonei perdidamente, pelo pai dos meus filhos.

Ainda me lembro, a nossa primeira vez que saímos. Ele me convidou pra tomar um sorvete também. Ele foi tão carinhoso, o perfeito galanteador apaixonado. Sabe, eu acho que ele me ama mesmo, mas a forma que ele demonstra isso, é estranha, ele não sabe administrar os ciúmes que sente por mim, ele não me elogia muito pra eu não ficar convencida eu acho, ele não me valoriza pra eu achar que só ele me enxerga nesse mundo, quando ele me humilha dizendo que estou gorda, ele talvez pense que está fazendo para o meu bem, pra eu não engordar mais. Sendo que eu sei que talvez, eu pudesse não comer tanto se caso tivesse apoio. Em casa com as crianças, com os afazeres domésticos, com coisas tão simples. Mas que infelizmente eu preciso me calar pra isso. Não posso nem pedir ajuda, não posso reclamar pra ele, pois ele sempre me joga na cara, que a culpa é minha de engravidar. Que se eu não tivesse esquecido o anticoncepcional nada disso estaria acontecendo hoje. Eu sou tão regrada com os remédios, porque eu sempre imaginava que iria cursar a minha faculdade e começar a minha carreira de engenheira civil, pra depois ter meus filhos. Eu realmente não entendi como eu engravidei. Claro que hoje eu uso DIU e ainda tomo anticoncepcional, pois tenho um medo absurdo de acontecer novamente uma gravidez não planejada Quando penso nisso me bate um desânimo da vida, porque poderia ser tudo tão diferente agora.

Me lembro que antes de engravidar da Sophia, eu ele estávamos brigando direto, e ele não aceitava que eu queria terminar... Onde veio o primeiro tapa. Nós já morávamos juntos em um apartamento porque meus pais moram no Rio grande do Sul agora, e eu continuei no Rio de janeiro cursando a minha faculdade na UFRJ. Eu tirei nota boa no Enem e pude escolher o local que iria cursar. Eu sou natural daqui, mas meus pais moram no RS porque meu pai tem a empresa dele de casas pré moldadas lá. E como não tinha alojamento gratuito, então aluguei esse apto. Mas então as meninas que moravam comigo me deixaram pagando o aluguel sozinha, porque elas também foram morar com rapazes que elas estavam saindo. E eu estava namorando o Vitor já. E pra não ficar pesado pra mim pagar sozinha, convidei ele para dividir o aluguel. E ele veio imediatamente. Nós nos demos muito bem no início. Eu já vendia os lanches, só que na faculdade. Ele era todo prestativo e me ajudava. Tanto a fazer como vender, e qual menina ou mulher, não se apaixona perdidamente por um cara assim? E ainda por cima lindo de morrer.

Pois é, eu fui a iludida.

Acreditei em tudo, sendo que as minhas amigas sempre diziam: “Nem tudo que reluz é ouro” . Na época eu não entendi é claro. Só fui entender depois que tudo aconteceu... Ou seja, depois do primeiro tapa.

Na hora que ele bateu no meu rosto, eu fiquei sem reação. E ele mais que depressa correu pra pedir desculpas e se ajoelhar chorando, dizendo que nunca ia fazer novamente. Que me amava muito e que foi na hora da raiva e que não pensou direito. E o que eu fiz? Pedi um tempo pra pensar e saí de casa, posei nas meninas. Claro, eu não contei a elas o que havia acontecido, mas elas perceberam que eu não estava bem, pois eu fiquei calada praticamente o tempo todo que estava com elas. As duas garotas que moravam comigo, uma se chama Raquel e a outra, Kelly. Eram as minhas melhores amigas. Eu costumava contar tudo a elas. Até aquele dia. Depois desse tapa, eu fiquei com vergonha. Não contei a ninguém. E esse foi o meu erro. Porque eu achei que ele não iria fazer mais, e que se e desse uma chance a ele, tudo mudaria.

Eu fiz isso, eu dei uma segunda chance, e ele cumpriu o que prometeu. Inclusive nunca mais levantou a mão pra mim enquanto namorávamos. Até que descobri a minha gravidez duas semanas depois de perdoar ele. Ele ficou todo bobo e feliz, me tratou feito uma princesa, e admito que eu estava muito feliz com a forma que ele me mimava. Às vezes tínhamos brigas feias, por causa de ciúmes, porém ele não levantou a mão pra mim, mas ele quebrava as coisas dentro de casa. Tudo isso pra não me bater. Na minha inocência eu pensava que era melhor ele descontar a raiva nas coisas. Mas não percebia que estava errado. Que aquela não era a atitude de uma pessoa normal.

Eu nunca pensei, e se não tivesse aquela janela ali? Ou o celular? O copo? Quem seria o alvo?

Nunca pensei nisso. E hoje estou pagando o preço pela minha burrice. Ele já dava vários sinais, mas eu era cega o suficiente pra não enxergar.

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