Capítulo 01
CAPÍTULO 01
Isis Melo
Desde pequena minha mãe dizia que eu era uma princesa, sua princesinha. Eu como toda princesa queria viver um conto de fadas, mas na adolescência descobrir que a minha vida nunca foi um conto. Minha mãe sempre trabalhou como doméstica para pagar o aluguel da nossa pequena casa, pequena mesmo. Tinha apenas dois cômodos, um cômodo era a sala, cozinha e quarto, e o outro, era o banheiro. Minha mãe e eu dormíamos na cama que é de casal, mas desde o acidente que ela teve que eu durmo sozinha. Tem três meses que minha mãe teve acidente vascular cerebral hemorrágico, e pelo comprometimento da doença ela teve algumas sequelas que são irreparáveis. Ela necessita de assistência de fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem e terapia ocupacional. Tudo isso é muito caro para o que eu posso pagar. Trabalhei como garçonete por duas semanas, mas não consegui pagar o aluguel deste quartinho, que chamo de casa. Consegui um emprego em uma boate, para ser dançarina de Pole Dance, claro que não foi da noite para o dia. Fiz um curso intensivo de dançarina por duas semanas, e foi assim que gastei o único dinheiro que tinha ganhado como garçonete. Vou fazer dois meses trabalhando como dançarina na boate Skin, que quer dizer "Pele".
Lembro-me como ontem, a maior loucura que fiz na minha vida. Em uma noite de trabalho ganhei o que eu ganharia em três meses, fui contratada para dançar em um aniversário. Saí dançando de dentro de um bolo e dei um verdadeiro show, o aniversariante era um tesudo. No final da festa ele me quis como presente, eu estava muito atraída por ele, não vou negar. Loiro, alto, olhos verde e forte. O que mais eu poderia querer? O cara além de ser gostoso me fez gemer o nome dele a noite inteira, Conrad... Até hoje não me esqueci desse nome. Quando eu acordei tinha uma quantia absurda de dinheiro na cama, onde ele se deitou. Nesse dia me sentir horrível, usada, humilhada, um lixo. Chorei o dia inteiro. Eu já tinha recebido o dinheiro para ir dançar, aquele dinheiro ele deixou pela noite que passou comigo. Porém, apesar de ter ficado magoada e com raiva dele, peguei o dinheiro e fui para minha casa. Com esse valor quitei os meses atrasados da clinica de reabilitação que minha mãe está internada e paguei o aluguel da casa, também conseguir adiantar dois meses.
Cheguei a clinica onde minha mãe está. Ela teve paralisia, afasia que é a perda da comunicação, ela entende o que eu falo, mas não consegue falar nada, também como, lesões no tronco cerebral, essa última lesão quase à leva para longe de mim, isso eu não suportaria. Graças ao meu trabalho estou conseguindo pagar o seu tratamento, mesmo que ela não volte a ter uma vida normal eu a quero do meu lado para sempre. Todos os dias antes de ir para o trabalho faço questão de vê-la. Converso com ela todos os dias, digo que estou indo muito bem na faculdade e que o trabalho na concessionária está indo muito bem. Não tive coragem de contar que trabalho em uma boate de Stripper, disse que trabalho em uma concessionária. Ela não pode falar nada, mas vejo que se orgulha de mim, e não quero tirar isso dela. Minha mãe sempre foi uma guerreira, me criou sozinha desde meus cinco anos que foi quando meu pai nos abandonou. Ela não falava muito dele, apenas que veio do Brasil com ele para Nova York e ele fugiu com outra mulher quando eu fiz cinco anos. Não tenho muitas lembranças dele.
Despeço-me dela e sigo para boate. Eu começo oito da noite e saio quatro da manhã, mas só trabalho sexta, sábado e domingo que são os dias que a boate lota. Quando estou com vontade faço alguns bicos por fora, como ir à despedida de solteiro, aniversários e algumas festas que sou paga para dançar. Pois é, me transformei em tudo isso em apenas dois meses. Para que fique claro, algo que não faço nunca é me envolver com homens casados, ou os que estão prestes a casar, como em despedida de solteira. Detesto esse tipo de atitude, enquanto as noivas estão sonhando com o dia seguinte o imbecil do noivo está querendo dar a última transada antes do casamento, fala sério!
Cheguei à boate e fui para o meu camarim, onde tinha uma estrela na porta e escrito Afrodite. Não era nada vagabundo, pois a boate Skin é frequentada pelos homens mais ricos e poderosos de Nova York. Aqui na boate todas têm nomes de deusas gregas, ninguém tem obrigação de dar o nome real, ao menos, que queira. Meu nome grego, quer dizer a deusa da beleza e do amor. Apesar de ter pouco tempo na boate conquistei um espaço que muitas querem conquistar. Os homens ficam fascinados com a minha dança e com a minha beleza, que sem modéstia, não é pouca.
Aqui na boate fica com algum homem quem quer, seja para saciar o desejo ou por dinheiro. Nunca me interessei por nenhum cliente daqui, e depois do que aconteceu na festa de aniversário de Conrad, prometi a mim mesma que jamais transaria com um homem por dinheiro. Não tenho nada contra as meninas que fazem isso, mas comigo sei que isso nunca vai funcionar. Não penso que um príncipe encantado vai aparecer e me levar para viver no seu castelo, essas coisas não acontecem com meninas como eu.
Perdi minha virgindade com dezoito anos, namorava um cara que fazia faculdade de engenharia, achava que ele era o homem da minha vida, mas o ciúme que ele sentia o deixou cego. Tivemos uma briga porque ele não queria que eu tivesse amizade com o gênero masculino, mas eu nunca deixei que ele mandasse na minha vida e nas minhas amizades. Ele ficou louco quando fui ao cinema com um amigo e me bateu. Isso mesmo que você leu, o cara me deixou com o rosto igual o de Rihanna. Minha mãe ficou desesperada, e me arrastou para delegacia.
Depois de fazer o exame do corpo de delito, Tony foi intimado para prestar depoimento. No fundo sabia que isso não ia resolver muita coisa, o pai do cara é advogado. Ele prestou serviço social, e logo em seguida o pai fez com que ele viajasse. Mesmo depois da queixa que prestei contra ele, e da surra que me deu ele queria fica comigo. Um doente! Aquilo foi o fim para mim, me sentir péssima por deixar que um homem fizesse aquilo comigo. Tenho medo e trauma dele até hoje, não é algo que possa esquecer.
Ouvir batidas na minha porta fazendo-me sai dos meus pensamentos.
- Preparada? Telma a dona da boate perguntou colocando a cabeça no meu camarim. Ela é a única que não tinha apelido de Deusa Grega. Telma sempre me deu a maior força, acho que ela é a única pessoa que posso considerar como amiga nesta boate. As outras meninas querem ser sempre melhor que a outra, e por eu ser a mais desejada, faz com as outras tenham raiva de mim. No início isso me intimidava, mas já aprendi a lidar com as víboras.
- Sempre. – Murmurei sem saber a grande surpresa que teria naquela noite. Será que eu estava mesmo preparada para o que me aguardava.