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Capítulo 2

A aula terminou e eu chamei a Sam para almoçarmos no refeitório da própria universidade, mas não demorou muito até o meu celular começar a tocar, eu olhei pra tela e decidi atender logo antes que os cães de guarda decidissem me procurar.

— Onde você está? A aula já acabou.

— Eu vou ficar mais um pouco aqui, eu estou no refeitório com uma amiga, vamos almoçar juntas.

— O seu pai não nos passou essa informação.

— Eu estou passando agora, até mais.

Eu desliguei o celular para que nenhum deles voltasse a me perturbar.

— Quem era?

— Era o motorista.

—  As vezes eu tenho a impressão de que você esconde coisas de mim, eu praticamente não sei nada da sua vida.

Eu abaixei a minha cabeça e tentei segurar a enorme vontade de falar a verdade.

— Eu estou certa, não estou?

— Você vai acreditar se eu disser que está errada?

— Sinceramente? Não!

— Então não adianta a gente conversar sobre isso.

— Tudo bem Ana, eu não vou insistir nesse assunto, mas saiba que eu estou aqui pra qualquer coisa que você precisar.

— A única coisa que eu desejo, Sam, é que você lembre dessas palavras quando todas as suas dúvidas forem esclarecidas.

— Então o que você está escondendo é algo muito ruim?

— Você disse que não iria insistir.

— Me responde só uma única coisa, pode ser?

— Eu preciso ouvir a sua pergunta pra eu saber se poderei responder.

— Eu estou correndo risco de vida?

Eu olhei em volta pra saber se existia alguém por perto ouvindo a nossa conversa, e notei que as poucas pessoas que estavam no refeitório não podiam ouvir nada por conta da distância.

— Se você não tentar descobrir nada sobre a minha vida e sobre a minha família, você estará segura.

— Ah meu Deus, então é mais sério do que eu pensei.

— Você pode se afastar de mim, se achar que o risco é grande demais pra você.

— Não, acho que aqui dentro nós estamos seguras, mas não me peça pra andar com você na rua.

Eu achei divertido o nervosismo dela e comecei a rir pra quebrar o clima, e ela começou a rir também, não existia nada a ser feito além de deixar a vida nos levar.

Enquanto comiamos, um dos seguranças apareceu e caminhou em nossa direção, eu me levantei assustada e a Sam olhou pra trás, eu olhei pra ela desconfiada com medo dela fazer mais perguntas, porém ela não perguntou nada.

— Tudo bem Ana, acho que você precisa ir agora, não é mesmo?

— Sim, eu preciso ir.

Eu peguei as minhas coisas, me despedi dela e caminhei em direção ao capanga que parecia bem decidido a me levar embora.

— Você não sabe respeitar o horário de almoço de ninguém?

— Eu respeitaria se você não tivesse desligado o seu celular.

— Um dia eu me livro desse inferno.

— Enquanto isso não acontece, tente deixar o celular ligado.

— Acho que se eu matar você o meu pai consegue aliviar a minha barra.

— Se você me matar o seu pai irá colocar outro no meu lugar, talvez alguém com menos pacicência que eu.

Eu tentei não parecer atingida com o que ele disse, embora eu soubesse que ele tinha razão.

Eu caminhei rápido até a parte externa da universidade pra não levantar suspeitas de outros alunos e depois entrei no carro sentindo o sangue ferver nas minhas veias, na mesma hora eu peguei o meu celular e liguei pro meu pai, mas não foi ele quem atendeu, a voz grossa do outro lado da linha me fez sentir calafrios.

— O seu pai está muito ocupado no momento mocinha, ele irá retornar pra você em outro horário.

— Quem está falando?

— Com certeza não é o seu pai.

Eu tentei não deixar o meu gênio ruim falar por mim, mas a tentativa foi vão, afinal aquele cara estava sendo irônico e eu não aguentava a ironia de qualquer pessoa. 

— Você é um dos cães de guarda do meu pai, ou é o tal mafioso que ninguém nunca viu a cara e que costuma botar a vida de todos em risco?

— Risco você vai correr se continuar falando comigo desse jeito.

— Que interessante, eu feri o seu ego Senhor Kall Bellini?

— Ferida vai ficar a sua língua quando eu arrancar ela da sua boca. 

— Eu estou morrendo de medo.

Eu ouvi ele xingar e me dei por satisfeita, e sem nenhum medo do que ele podia fazer, eu desliguei a ligação.

Eu olhei pro lado e os capangas estavam me encarando com perplexidade.

— O que foi? Eu liguei pro meu pai, eu não tenho culpa se o chefe de vocês é intrometido, na próxima é só ele deixar o celular tocar e não atender uma ligação que ele sabe que não é pra ele.

Eu virei o rosto pra não ter mais que encarar aqueles olhares julgadores e me mantive em silêncio até chegarmos em casa.

Eu desci do carro, entrei em casa, fechei todas as portas e janelas e tentei aproveitar pelo menos a privacidade da minha própria casa.

Eu liguei o som, coloquei no último volume e entrei no banheiro pra tomar um banho relaxante, mas quando entrei na água o som desligou, eu saí da banheira, enrolei a toalha no meu corpo e caminhei até o meu quarto, mas logo eu gritei de susto.

Um cara alto, branco, com uma camisa de manga longa estava de costas pra mim e com a mão em cima do som.

— Quem é você? Como foi que entrou aqui? A casa está cheia de seguranças, você não irá sair vivo daqui.

Ele se virou e me encarou, e eu me vi diante do homem mais lindo e do olhar mais penetrante do mundo, a aparência dele era de uns 28 anos, e o corpo dele era algo fora do comum, os cabelos claros e o brinco em uma das orelhas passavam a impressão que ele era um mauricinho metido a besta.

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