Sem Volta
Kael
Ela se levantou em um salto, derrubando até mesmo a cadeira às suas costas e me olhou com verdadeiro horror, algo que, mais uma vez, não iria ganhar a minha simpatia.
— O seu dinheiro ainda está depositado na conta. Você não vai perder nada! Pode até mesmo usá-lo para fazer o que você quiser e, se assim desejar, conseguir outra garota no aplicativo da mesma forma que conseguiu a mim.
— Eu não desejo outra — Falei, sem me exaltar com sua explosão.
— Eu não entendo!
— Você não precisa entender nada agora. O que está feito, já está feito e não há mais chance de voltar atrás.
Ela fez uma expressão de imenso pesar e acredito que conseguiu até mesmo verter uma lágrima solitária. Eu sabia que aquilo eram lágrimas de puro fingimento. Deveria ter ensaiado ao menos um pranto que fosse um pouco mais comovente.
— Você já terminou? — Perguntei, olhando para o prato intocado sobre a mesa, mas estava me referindo ao seu show de amadorismo também.
— Como eu posso conseguir comer, diante do que vai acontecer logo em breve?
— Vamos entrar agora. É totalmente desnecessário continuar insistindo nesse assunto.
Levantei-me e ela me seguiu, apesar de sua expressão de dúvida. Sua encenação começou a abalar minha determinação, pois era desagradável estar com alguém que claramente não queria estar ali. No entanto, ela fez tudo por conta própria. Criou um perfil no aplicativo falso, colocou suas melhores fotos e se descreveu como alguém disposta a fazer qualquer coisa para conseguir dinheiro vendendo sua virgindade. Ela caiu na minha armadilha mais rápido do que eu esperava.
Não satisfeita, ela também se deixou levar pela ideia de um apartamento em um bairro nobre para fingir um status que não tem mais. Em vez de investir o dinheiro em algo que pudesse ajudá-la no futuro, como um negócio próprio, escolheu um apartamento que não poderia nem pagar o condomínio sem um emprego bem remunerado.
Dois milhões de dólares eram tentadores para alguém que havia perdido tudo, mas os princípios deveriam prevalecer. Rachel não hesitou e seguiu em frente. Agora era hora de enfrentar as consequências. Shirley teve a ideia do aplicativo e eu aproveitei a artimanha e mandei criar especialmente para essa armadilha.
Após percorrer longos corredores, chegamos à cabine luxuosa que eu havia preparado especialmente para aquela noite. Era uma ostentação para a ambiciosa Rachel, acostumada com riqueza em sua criação. Aguardei sua reação ao abrir a porta.
Para minha surpresa, ela não se importou com o ambiente ao redor. Sua postura era derrotada, algo estranho para alguém como Rachel. Se não soubesse de sua manipulação, poderia acreditar em sua tentativa de parecer humilde, embora ela não conhecesse o verdadeiro significado dessa palavra.
Ao fechar a porta, percebi que ela estremeceu, o que me deixou intrigado.
— Para uma pessoa que teve a coragem de vender a virgindade em um aplicativo, você parece bastante nervosa. Deveria saber que quando vendemos algo, precisamos ter aquilo para entregar
— Independente do meu nervosismo, estou aqui para arcar com as consequências do que decidi fazer. - Enfim, ela estava reagindo e mostrando a sua verdadeira personalidade.
— Mas não parece nem um pouco disposta.
— A única coisa que importa é que eu entregue o que vendi e não à disposição com que eu faço isso.
Sarah
Após minha tentativa de diálogo com o homem arrogante, percebi sua mesquinhez e crueldade, revelando seu prazer em maltratar os outros. Ele estava completamente equivocado sobre minha falta de vontade em cumprir o acordo. Eu não havia vendido nada e era compreensível que não quisesse prosseguir, embora ele não soubesse disso.
De qualquer maneira, decidi me colocar no lugar de Rachel. Mesmo sem conseguir convencê-lo a desistir daquela insanidade, sabia que precisava seguir em frente, mesmo que relutante, como ele apontou. Olhei ao redor, me sentindo ainda mais desconfortável com a obrigação de me submeter a um homem que sequer teve a cortesia de criar um nome fictício, optando por permanecer anônimo.
Eu entendia sua vontade de permanecer incógnito, mas não compreendia sua aversão a estar comigo e, ainda assim, desejar prosseguir. Quando ele fechou a porta, percebi que era o momento de enfrentar as consequências dos atos precipitados de Rachel. Prometi a mim mesma que não assumiria mais a responsabilidade por suas ações.
Aquela seria a última vez.
— Tire toda a roupa. — Ele disse em tom de comando e de uma maneira bastante fria, como se estivesse falando de algo simples e banal.
— Agora? — Perguntei alarmada.
Eu havia preferido não pensar no momento em que eu estivesse entre quatro paredes com o homem com o qual eu precisaria fazer sexo, mas jamais teria passado por minha cabeça que ele iria simplesmente me pedir para tirar a roupa, de maneira tão mecânica e sem ao menos algumas… preliminares.
— Acredito que este seja o momento adequado. Não concorda? — Ele interrogou com a voz carregada de ironia.
Senti a insegurança me tomar, pois, jamais havia ficado completamente nua na frente de outras pessoas e, nem mesmo da minha irmã gêmea aquilo seria fácil, quanto mais de um estranho frio e insensível como aquele homem se mostrava ser.
— Acreditou que eu poderia tirar a sua virgindade com você vestida mesmo?
— Não pensei nisso. — Neguei com veemência.
— Então, o que está esperando para fazer o que te mandei? — Sua voz estava dura como aço.
— Eu pensei que… — Não consegui concluir a frase, pois sabia que ele seria ainda mais duro, caso eu dissesse o que quase escapou de meus lábios.
— Pensou que seria um ato cheio de amor? Que eu seria carinhoso? — Ele soltou uma risada de escárnio que me fez sentir asco daquele homem horrível. — Você escolheu a personagem errada para vir até aqui essa noite, garota.
— Não entendo o que quer dizer.
— Tenho certeza de que sabe muito bem sobre o que eu estou falando. Já chegou a hora de mostrar a sua verdadeira face.
— Eu não estou encenando nada aqui! — Falei indignada.
— Se você prefere ir por esse caminho, então, que assim seja.