Dívidas e Desespero
Sarah
Depois de alguns dias, a realidade se abateu sobre nós de fato, porque o prazo para sair de casa estava chegando e a gente não fazia ideia do que fazer. Eu não conseguia acreditar como meu próprio pai foi tão egoísta ao gastar toda nossa herança com seus vícios.
Descobrimos que nosso pai, Patrick Mitchell, era viciado em jogos e estava perdendo muito dinheiro há anos. Ele pegava empréstimos e renovava, até chegar ao ponto de ter que vender a empresa para pagar as dívidas com pessoas perigosas que o ameaçavam.
— Não consigo aceitar isso de jeito nenhum. É absurdo termos que sair da nossa casa por causa da burrice do nosso pai. – Rachel falou alto durante um dos últimos cafés da manhã na nossa antiga casa.
— Você não pode falar assim do nosso pai, Rachel. Ele está morto.
— Eu posso e estou falando. Como ele conseguiu perder milhões em dívidas de jogo?
— Também houve alguns negócios que deram errado...
— Isso só piora tudo! Um homem experiente não deveria cair na lábia de aproveitadores. E olha só onde estamos agora. Éramos suas filhas, não merecíamos isso.
Pensei sobre o acidente de carro que matou nosso pai e me perguntei se foi provocado, talvez por vingança. Mas afastei esses pensamentos, pois só complicaria ainda mais nossa situação já difícil, e voltei ao presente.
— Temos que sair de casa até segunda-feira. — Comentei, tentando trazer Rachel para a realidade.
— E pra onde vamos? — Ela perguntou tristemente.
Na real, não tínhamos nada em nosso nome, só uns trocados nas nossas contas, o suficiente pra pagar aluguel e despesas por algumas semanas, se a gente fosse bem otimista. Precisávamos arrumar um emprego o mais rápido possível.
— Já tô procurando emprego.
— E você acha que vai ser fácil assim? – Foi aí que percebi como a Rachel era pessimista. – Mesmo que arranje, vai ser num trampo qualquer, e como vamos viver com o seu salário?
— Você também precisa arrumar um emprego, Rachel. — Falei o óbvio. — Se todo mundo consegue se virar assim, a gente também vai conseguir.
Ela me olhou chateada, levantou da mesa jogando o guardanapo em qualquer lugar e saiu da sala batendo o pé, sem dizer mais nada. Se ela saiu de um jeito que não teve a última palavra, é porque ela tava mesmo bolada.
Eu terminei de comer e fui pro meu quarto pegar meu notebook, procurar vagas de emprego e mandar meu currículo pra qualquer coisa que aparecesse. Sabia que não ia ser fácil achar algo tão rápido, ainda mais sem experiência nenhuma. Mas também não ia conseguir nada se não tentasse.
Não fiz faculdade, mesmo tendo pensado em começar desde que terminei o ensino médio. Nos últimos quatro anos, acabei seguindo a Rachel em várias viagens e deixando isso de lado. Nem acredito que deixei tanto tempo passar sem fazer nada além de gastar dinheiro.
Agora estou com vinte e dois anos, sem grana, sem estudo e sem experiência, então arrumar um emprego será bem difícil, já sabia disso. Mas precisava correr atrás e era exatamente o que eu estava fazendo quando a Rachel entrou no meu quarto toda apressada, umas horas depois.
— Descobri um jeito de ganhar uma grana alta, o suficiente pra gente comprar um apartamento e se sustentar até você conseguir arrumar um emprego decente — ela disse.
— Como assim!? — perguntei empolgada.
Eu estava sentada na minha mesa, na frente do computador, e Rachel veio até mim, segurando meu braço e me levando até a cama, onde a gente sentou. Ela me olhava com um sorrisão nos lábios, o mesmo que ela sempre mostrava quando estava prestes a fazer algo que eu não ia gostar.
— Vou leiloar a minha virgindade.
Agradeci por estar sentada, porque se estivesse em pé naquele momento, teria caído dura no chão.
— Isso só pode ser uma brincadeira sem graça, Rachel — falei de mau humor, quando finalmente me recuperei do susto. — Não é possível que uma coisa dessas ainda exista nos dias de hoje.
— Acredita quando eu digo que existe, e eu vou fazer isso!
Ela usou o mesmo tom de voz que eu já conhecia, o que me alertava para não tentar convencê-la a não fazer alguma coisa que ela já estava decidida a fazer.
— Você não pode simplesmente leiloar a sua virgindade desse jeito. É uma loucura!
Rachel sempre foi muito ousada e já teve vários namorados, mas a lembrança de que ela sempre dizia que só ia perder a virgindade se fosse algo que trouxesse benefícios, tipo casar com um homem rico, me fez acreditar que ela estava falando sério, mesmo que o que ela estava pensando em fazer fosse algo abominável. Não era tão diferente do que ela já tinha em mente antes.
— É uma solução, ao menos temporária, Sarah. — Rachel pronunciou com calma, como se aquilo fosse algo comum. — Shirley afirmou que uma amiga dela angariou uma fortuna de um milhão de dólares dessa maneira.
— Eu sei que você ainda ser virgem nesse ponto da vida não tem nada a ver com encontrar seu verdadeiro amor, como sempre desejei para mim. Mas você está indo longe demais, Rachel!
Ela desdenhou das minhas palavras e se aproximou da minha escrivaninha, onde apoderou-se do notebook ali presente e digitou um endereço na barra de pesquisa, encarando-me com um sorriso malicioso, igual aos que usava para executar suas artimanhas durante nossa infância.
— Você poderia me ajudar a criar um perfil nesse aplicativo e selecionar as minhas melhores fotografias?
— Não compactuo com essa insanidade que planeja realizar.
Levantei-me abruptamente e elevei meu tom de voz para minha irmã, algo inédito em toda minha existência.
— Não precisa se preocupar tanto, Sarah. Estou buscando a forma mais adequada para resolver nossos problemas.
— Tenho certeza de que esse não é o caminho adequado, Rachel. Poderíamos simplesmente trabalhar para viver, assim como tantas outras pessoas fazem.
— Trabalhar para se manter vivo, é isso que você quer dizer — Ela insistiu — Mas não precisa ficar tão preocupada, irmã. É um aplicativo seguro, e eu nem mesmo vou revelar minha identidade, só vou colocar fotos reais do meu corpo, e posso usar uma máscara no rosto. Os homens vão pagar para ter o privilégio de serem os primeiros a conhecer os meus “atributos”.